O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Perón. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Perón. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Peron, o primeiro e unico, o demagogo, e suas contrafacoes - Cesar Maia

Cesar Maia, ex-prefeito do Rio, usa as informações disponíveis, e uma recente entrevista a um jornal brasileiro do filho de Tomas Eloy Martinez, que fez um documentário a partir da entrevista gravada que seu pai fez com Perón, exilado em Madrid, antes de retornar à Argentina, para tecer algumas considerações e selecionar alguns trechos dos dizeres de Perón naquela gravação.
Perón foi o homem, o demagogo político, o populista econômico, o líder carismático, essencialmente fascista, que afundou a Argentina, que construiu uma "decadência programada", se ouso dizer, e os argentinos continuam até hoje reféns de um cadáver insepulto, o de Perón e o de sua esposa mítica e mistificada.
Perón foi o líder destruidor que construiu uma única coisa: a República Sindical, mas o fez com uma doutrina justificadora, embora mentirosa: o Justicialismo, que aliás rima com fascismo. A República Sindical destruiu a Argentina, como ela está destruindo o Brasil, com seu patrimonialismo de tipo gangsterista, com seu corporativismo prebendalista, fisiológico, nepotista, rentista, expropriatório, concentrador, até mafioso.
A grande diferença entre a "nossa" República Sindical -- tentada em 1963-64, e desmantelada pelos militares, mas renascida com as hostes lulopetistas e cutistas de 2003 em diante -- e a dos hermanos é que a essa "nossa" não tem nenhuma doutrina, nenhuma conceituação política, mas pura demagogia e puro oportunismo, quando não roubalheira desenfreada. Trata-se de um peronismo de botequim, uma contrafação do original, um rentismo sem qualquer sentido nacional, atividades quadrilheiras no mais alto grau.
Vejamos aqui uma das avaliações finais de Cesar Maia sobre o resultado do peronismo:
"Erro maior dos peronistas: a Volta de Perón em 1973 não foi para construir um futuro, mas para repetir o passado, dos anos de glória entre 1946 e 1955."
No nosso caso, a contrafação também tentou repetir a era Geisel, aquela que, em meio aos grandes projetos de desenvolvimento econômico, acabou por ser um processo amplamente fracassado, aumentando a inflação e a dívida externa, sendo diretamente responsável pelas década e meia perdida, em sua sequência. O lulopetismo, geiseliano em intenção, mas corrupto por vocação e fundamentalmente inepto, levou o Brasil à Grande Destruição que atravessamos atualmente, à margem de (e sem qualquer conexão com) qualquer conjuntura externa de crise ou recessão.
Transcrevo abaixo a coluna de Cesar Maia desta quinta-feira, 4 de maio de 2017.
Paulo Roberto de Almeida 

PERÓN, NA ÉPOCA, COM 75 ANOS! ENTREVISTA: ENSINAMENTOS QUE SERVEM AOS NOSSOS POLÍTICOS DE HOJE!

1. O consagrado escritor argentino Tomás Eloy Martínez, em 1970, com 36 anos, conseguiu que Perón -75 anos e já com 15 anos de exílio- concedesse em sua casa em Madrid (Puerta de Hierro) uma entrevista gravada. Foram 4 dias de gravações. Em base a essa entrevista, Eloy Martinez escreveu dezenas e dezenas de artigos e dois livros de grande sucesso: Santa Evita e A Novela de Perón.

2. Essas fitas, mantidas em caixas, ficaram guardadas até agora. Nos últimos meses foram transformadas em filme e documentário. Dias atrás, antecipando o lançamento, foram divulgadas 5 partes deste documentário, que vão desde a sua infância até sua morte. As respostas de Perón a Eloy Martinez são comentadas por politólogos, historiadores, políticos sêniores e até publicitários.

3. Deveriam ser vistas e revistas por nossos políticos de hoje, pois contêm experiências acumuladas até a sua maturidade. Seguem trechos que este Ex-Blog selecionou.

4. “O líder, primeiro, se faz ver, para que o conheçam. Depois se faz obedecer espontânea e naturalmente para passar a ser percebido como infalível. O que conduz deve ser percebido como infalível. Isso tudo é uma arte.

5. Não sou um político: sou um condutor. Carisma é o produto de um processo técnico de condução.

6. Condução é unificar as ideias dispersas em direção a um objetivo que conhece o condutor.

7. Ao se chegar ao poder se tem 2 objetivos: fazer a felicidade do Povo e a grandeza da Nação. Se se excede em um, se sacrifica o outro. Deve-se conseguir um equilíbrio entre os dois.

8. A política deve ser pendular entre o sindicalismo que está sempre a direita e a esquerda que está na política.

9. A Condução política é sui generis. As pessoas estão acostumadas à gestão da ordem (que de fato é uma gestão militar). Mas em política jamais existe ordem. Há que se preparar e se acostumar a gerir a desordem.

10. A política não pode ser um corpo rígido. Tem que ser flexível.

11. Fui criado com os animais; adoro os animais. Na política há 10% de idealistas e 90% de opiniões dispersas. Estes 10% são como os cães (tenho 4) e 90% como os gatos. Os cães são fiéis e acompanham silenciosamente. Os gatos são dispersos. Saem para caçar à noite. Quando são contrariados preferem ficar num canto e até se ocultar. Mas quando se veem cercados, reagem atacando. São felinos. 

12. Estar longe dos fatos é melhor que se estar perto. De longe se vê a totalidade.

13. Comentários finais. Perón sempre teve o controle do movimento peronista. Só perdeu o controle quando voltou do exílio ao governo em 1973. / Erro maior dos peronistas: a Volta de Perón em 1973 não foi para construir um futuro, mas para repetir o passado, dos anos de glória entre 1946 e 1955.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Chavismo nao se parece com peronismo, so na superficie

Esta matéria de conhecida jornalista do WSJ, Mary Anastasia O'Grady, está correta na sua parte informativa, mas acredito totalmente equivocada na parte opinativa, ou especulativa.
Ela acha que o chavismo seria uma espécie de peronismo, quando a situação, por mais semelhanças superficiais que possa haver entre os dois casos, é muito diferente.
Perón concebeu uma doutrina e presidiu uma fase de relativa prosperidade na Argentina, ainda que destruindo sua economia, mas não ao ponto falimentar como Chávez (quando a Venezuela tem de importar toneladas de produtos alimentícios, pois sua economia já funciona em bases semi-socialistas).
Chávez vai deixar uma terra arrasada atrás de si, e o mais provável que ocorra, em caso de morte, seja uma luta terrível pelo poder e o afundamento ainda maior do país, o que não ocorreu na Argentina, pois os militares ainda conseguiram controlar o país, que não tinha uma riqueza maldita como o petróleo para contaminar toda a economia do país.
Infelizmente, as perspectivas para a Venezuela pós-Chávez são muito piores, mais sombrias, do que foi a situação da Argentina pós-Perón, ainda que o culto quase religioso por ele, e sua mítica Eva Perón seja bem mais esquizofrênico do que se vê em qualquer outro país. O peronismo sequestrou todo um país até hoje, o que não acredito que o chavismo seja capaz de fazer.
Paulo Roberto de Almeida


The Wall Street Journal, April 9, 2012
Opinion: Venezuela After Chávez
 Mary Anastasia O'Grady

Analysts now talk of the possibility of a power struggle between the military and armed civilian factions.

Hugo Chávez's battle against cancer could serve as a learning experience for admirers of the Cuban health-care system, held up by the likes of American filmmaker Michael Moore as a model for the U.S. Apparently it's not all it's cracked up to be.

There are other lessons too. If the day soon comes that he can no longer govern, it will not necessarily be good news for Venezuelans. Indeed, the country's long-term decline is likely to continue. That's because his early demise could make chavismo a near religion in Venezuela, much as the death of Eva Perón gave birth to her messianic image and the Argentine worship of peronismo . Pity the nation that falls prey to a demagogue.

Mr. Chávez's health is a state secret, albeit one that a lot of people seem to know about. When he first had surgery in June 2011, he did not readily admit that doctors had removed a large cancerous tumor from his pelvic area. The government still hasn't said what type of cancer he has.

In February he revealed that a new "lesion" had been discovered. Since then he has traveled twice to Cuba for radiation therapy. He returned to Venezuela briefly last week amid rumors that he would go to São Paulo in search of a better outcome. But on Saturday he instead returned to Cuba for a third round of radiation.

It may be that by the time Cuban doctors got a good look at Mr. Chávez last year and removed his tumor, the disease was already too advanced for successful treatment. But according to Dr. José Rafael Marquina, a Venezuelan doctor living in Florida who claims to have inside knowledge, Mr. Chávez was gravely mistaken if he thought the Cuban medical system could at least buy him some time.

Dr. Marquina has told Spain's ABC newspaper that when Mr. Chávez returned to Havana for radiation therapy this year, the Cubans botched the job. To be effective, radiation requires that the patient adhere to a strict schedule of applications. Yet according to Dr. Marquina, Cuba "suspended" the treatment when Colombian President Juan Manuel Santos visited the island, presumably so the Venezuelan could attend the meetings. He also claims the areas where the radiation was applied were not properly marked, something he says is important to ensure efficacy. He told ABC that the Cuban medics thought it was unnecessary but that a Brazilian doctor later recommended it.

Dr. Marquina told ABC that Mr. Chávez's cancer has metastasized into the liver, the adrenal glands and the bladder, and that Cuban doctors did not want to operate again for fear of complications. That leaves radiation the last hope. If he responds well to further treatments, the Venezuelan doctor told ABC, he might live until next spring. Otherwise, he may not last the year.

Forecasting such things is not easy even when the medical records of the patient are available. So it is important to recognize that at this point independent analysis has to be treated as speculation.

Mr. Chávez insists that his Cuban treatments are working and that he is ready to govern the country for another six years should he win the presidential election in October. But at Holy Thursday services in his home state of Barinas he let slip that things might be otherwise. "Give me your crown, Jesus. Give me your cross, your thorns so that I may bleed. But give me life, because I have more to do for this country and these people. Do not take me yet," a teary eyed Mr. Chávez pleaded.

In a country run by one man for the past 13 years, it is impossible to overestimate the popular hunger for information on Mr. Chávez's condition. Even the many who dislike the strongman are worried about what might happen if he fails to prepare for his demise by naming a successor.

Increased violence is one likely outcome. The United Venezuelan Socialist Party (PSUV) and Mr. Chávez's government are almost one and the same and both have become radicalized. Dissent is expressly forbidden, as evidenced by last month's expulsion from the party of the governor of Monagas for his audacious questioning of the safety of drinking water from a local river after an oil spill.

Analysts now talk of the possibility of a struggle between the military and civilian factions that are armed. Independent of the military, the National Guard runs narcotics-trafficking routes through the country and the lucrative gasoline-smuggling businesses at the Colombian border. It also has a financial stake in who succeeds Mr. Chávez.

Mr. Chávez manages to keep the factions in line, but his death without a will is likely to provoke a free-for-all. The winner could seize the mantle of the sainted revolutionary and use it to put a new lock on power. Mr. Chávez would be gone but chavismo would live on.