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sábado, 18 de abril de 2015

A corrupcao engole, literalmente, o Brasil - Mary Anastasia O'Grady (WSJ)

A corrupção que sacode o Brasil - a visão dos estrangeiros
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O candidato derrotado à presidência do Brasil, Aécio Neves, parece falar em nome de muitos dos seus compatriotas quando diz que o PT e a presidente Dilma Rousseff utilizaram dinheiro roubado para derrotá-lo nas eleições presidenciais ocorridas no país em outubro de 2014.

No mês passado, em uma entrevista concedida a mim, em Lima, perguntei ao senhor Neves — que é presidente do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) — se ele atribuía sua derrota nas eleições ao fato de o socialismo proposto pela senhora Rousseff, que é da esquerda linha-dura, possuir maior apelo entre os brasileiros do que o programa do PSDB, que era um pouco mais amigável ao mercado.
Ele negou essa possibilidade.  Segundo ele próprio, ele perdeu por causa de um "crime organizado".
O senhor Neves, ex-governador do estado de Minas Gerais, não estava se referindo à máfia.  Ele estava falando sobre um esquema de corrupção implantado no núcleo da Petrobras, a empresa estatal de petróleo do país.  Promotores afirmam que empreiteiras contratadas pela Petrobras participaram de um esquema de superfaturamento envolvendo a diretoria da empresa e partidos políticos da base aliada do governo (no Brasil, os partidos da base aliada indicam políticos para a diretoria de operações da empresa). 

Nesse esquema, as empreiteiras superfaturavam os preços de suas obras, a Petrobras pagava o valor superfaturado para as empreiteiras, e estas, em troca, remetiam uma fatia desse dinheiro superfaturado — cujo valor total, estima-se, chega a 30 bilhões de dólares — para políticos de partidos da base aliada do governo, entre eles o PT, como forma de agradecimento pelo superfaturamento.  Isso destruiu o capital da Petrobras.

O PT gastou uma assombrosa quantia de dinheiro na campanha eleitoral para vencer as eleições, e parece estar cada vez mais claro que ele só conseguiu fazer essa gastança por causa dos milhões que recebeu ilegalmente desse esquema de corrupção na Petrobras.  Se isso se comprovar verdade, isso foi de fato um crime, e muito bem organizado.

E os escândalos continuam surgindo a uma velocidade arrepiante.  É como se a cada fiapo que você puxasse em um cobertor, ele se levantasse e revelasse não somente um, mas vários esquemas ilícitos que estavam escondidos. 

E o grande risco é que, mesmo com novos esquemas de corrupção sendo revelados quase que semanalmente, a população brasileira não aprenda a mais importante das lições: sim, a justiça deve punir os corruptos, mas o que realmente gerou toda essa bagunça foi o tamanho do estado brasileiro, cujo poder e gigantismo abrangem todos os setores da economia brasileira.
Com um estado que intervém em todos os setores da economia, e que controla diretamente várias empresas, de nada adianta você apenas trocar indivíduos corruptos por indivíduos "mais honestos".  Isso não irá eliminar as causas da corrupção.

No Brasil, empresas estatais são controladas por políticos.  Consequentemente, a tentação de utilizar a dinheirama que passa por essas estatais — principalmente nos momentos em que os preços das commodities estão em ascensão e o dinheiro se torna farto — sempre será irrefreável.  Esperar que políticos não se aproveitem desses recursos é como imaginar que a raposa gerenciará sensatamente um galinheiro repleto de galinhas gordas.

Mas esse esquema entre estatais e empreiteiras, envolvendo superfaturamento, fraudes em licitações e desvio de recursos das estatais para o pagamento de propina a políticos é tão antigo e tão básico, que é impressionante que apenas agora as pessoas demonstrem surpresa com ele.
Toda a esquisitice já começa em um ponto: por que os políticos disputam acirradamente o comando das estatais?  Por que políticos reivindicam a diretoria de operações de uma estatal?  Que políticos comandem ministérios, vá lá.  Mas a diretoria de operações de estatais é um corpo teoricamente técnico.  Por que políticos?  Qual a justificativa?

Quem acompanha o jornalismo político já deve ter percebido que os partidos políticos que compõem o governo federal não se engalfinham tanto na disputa de ministérios quanto se engalfinham na disputa para a diretoria de estatais.  É óbvio.  É nas estatais que está o butim.  As obras contratadas por estatais são mais vultosas do que obras contratadas por ministérios.  O dinheiro de uma estatal é muito mais farto.  E, quanto mais farto, maior a facilidade para se fazer "pequenos" desvios.
Isso, e apenas isso, já é o suficiente para entender por que políticos e sindicalistas são contra a privatização de estatais.  Estatais fornecem uma mamata nababesca. 

Quando políticos e sindicalistas gritam "o petróleo é nosso", "o minério de ferro é nosso", "a telefonia é nossa", "a Caixa é nossa", eles estão sendo particularmente honestos: aquele pronome possessivo "nosso" se refere exclusivamente a "eles", os únicos que ganham com todo esse arranjo.
Mas a necessidade de privatização das estatais não está apenas no campo ético.  Há também argumentos técnicos e econômicos.

Em primeiro lugar, em qualquer empresa que tenha como seu maior acionista o Tesouro nacional, a rede de incentivos funciona de maneiras um tanto distintas.  Eventuais maus negócios e seus subsequentes prejuízos ou descapitalizações serão prontamente cobertos pela viúva — ou seja, por nós, pagadores de impostos, ainda que de modos rocambolescos e indiretos.

Os problemas de haver empresas nas mãos do estado são óbvios demais: além de o arranjo gerar muito dinheiro para políticos, burocratas, empreiteiras ligadas a políticos, sindicatos e demais apaniguados, uma empresa ser gerida pelo governo significa apenas que ela opera sem precisar se sujeitar ao mecanismo de lucros e prejuízos.

Todos os déficits operacionais serão cobertos pelo Tesouro, que vai utilizar o dinheiro confiscado via impostos dos desafortunados cidadãos. Uma estatal não precisa de incentivos, pois não sofre concorrência financeira — seus fundos, oriundos do Tesouro, em tese são infinitos.
Por que se esforçar para ser eficiente se você sabe que, se algo der errado, o Tesouro irá fazer aportes?

O interesse do consumidor — e até mesmo de seus acionistas, caso a estatal tenha capital aberto — é a última variável a ser considerada.]
Se a senhora Rousseff está sendo honesta ou não quando diz que não sabia de nada sobre esse esquema de corrupção na Petrobras, é o de menos.  Seu maior problema, como o senhor Neves deixou implícito, é que as acusações colocaram em cheque a legitimidade de sua apertada vitória nas eleições (por uma margem de aproximadamente 3%).  Enquanto seu partido luta para rebater as acusações, e alguns de seus mais importantes membros estão sendo presos, a senhora Rousseff já está sem moral para governar.

No dia 15 de março, um número estimado em 1,5 milhão de brasileiros foi à ruas, em todo o país, para protestar contra o governo.  Uma recente pesquisa do Datafolha mostra que 60% da população consideram o governo da senhora Rousseff "ruim" ou "péssimo".
Se a economia estivesse pujante, a reação pública a essas revelações de corrupção poderia ser diferente.  Só que essa crise política não poderia ter vindo em pior momento para o bolso dos brasileiros.  A inflação de preços acumulada em 12 meses está em 8,13%, a moeda se desvalorizou acentuadamente no mercado mundial, a economia ficou parada em 2014, e estima-se que, em 2015, ela encolherá mais de 1%.

A senhora Rousseff nomeou para o Ministério da Fazenda o economista Joaquim Levy, formado em Chicago e com boa reputação no mercado financeiro.  Até o momento, seu plano de governo se resume a um retorno à disciplina fiscal.  Só que ele precisará da ajuda dos aliados do PT — dentre eles o poderoso Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) — no Congresso.  Por ora, eles têm se mostrado relutantes; e, quando aceitam ajudar, a senhora Rousseff tem de arcar com o custo político do ajuste.  Logo, mesmo que o senhor Levy seja bem-sucedido em ajustar as contas do governo, a popularidade da senhora Rousseff pode não se recuperar.

Os escândalos de corrupção tendem a se arrastar por causa de seu tamanho e complexidade.  No mês passado, o tesoureiro do PT, João Vaccari, foi acusado de solicitar as "doações" das empreiteiras — com o dinheiro da Petrobras — para o partido.  Em um depoimento perante um comitê há duas semanas, o senhor Vaccari negou qualquer transgressão. [Nota do IMB: e hoje ele foi preso].
Um dos principais problemas para a Petrobras foi o fato de o governo ter proibido a participação de empresas estrangeiras nos processos de licitação.  Isso incentivou um cartel das empreiteiras nacionais, todas elas protegidas pelo governo.  O Ministério Público já acusou três ex-presidentes da Petrobras [José Eduardo Dutra, Sergio Gabrielli e Maria das Graças Foster] e mais vários outros presidentes de grandes empreiteiras brasileiras [Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, UTC, Queiroz Galvão, Engevix, Mendes Júnior, Galvão Engenharia e IESA Óleo & Gás] pelo crime de corrupção e lavagem de dinheiro.  Há também quase 50 políticos pertencentes a vários partidos sob investigação.

Os protestos contra a corrupção são um indicador da vitalidade da sociedade civil brasileira.  A independência do judiciário também é uma boa notícia.  O pequeno time de promotores é bem treinado.  Um trabalho investigativo de alta qualidade vem sendo feito não obstante os poderosos indivíduos envolvidos.  Em um país que vem sofrendo para acabar com a impunidade, isso é um grande feito.

Mas não é o bastante.  A questão premente ainda segue intocada: quando a classe política se envolve na gerência de empresas, a corrupção se torna institucionalizada.  Punir os escroques é necessário, mas ainda insuficiente.  O grande problema a ser atacado, e que é a causa de tudo, é o fato de o governo ser o dono de empresas.

Mary Anastasia O’Grady é editora do The Wall Street Journal e faz a cobertura de eventos da América Latina.
Fonte: Instituto ludwig von Mises Brasil

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Brasil: o estatismo ganhou - Mary Anastasia O'Grady (Instituto Mises)

O Brasil optou por mais estatismo - a visão dos estrangeiros
por , Instituto Mises Brasil, terça-feira, 28 de outubro de 2014



militontos.jpgRecessão econômica, inflação de preços acumulada em 6,7% nos últimos 12 meses, e um audacioso esquema de corrupção na estatal Petrobras não foram suficientes para negar à presidente Dilma Rousseff, do PT, a reeleição para um segundo mandato.  Ela derrotou seu desafiante Aécio Neves, do Partido da Social Democracia Brasileira, por 51,63% a 48,36%. A campanha de Dilma baseou-se em uma plataforma anti-mercado e pró-assistencialismo, o que ajuda a explicar por que ela se saiu muito melhor nas regiões mais pobres e dependentes de auxílios do governo do que nas regiões prósperas voltadas para o agronegócio, como o sul e o centro-oeste, e na maior cidade brasileira, onde a economia se baseia majoritariamente no setor de serviços e em indústrias de alto valor agregado.
Assim como nos EUA, o Brasil também possui uma classe alta formada por eleitores urbanos de esquerda, que se sentem virtuosos em defender a intervenção estatal na vida de outras pessoas e em ajudar a ditadura cubana.  Porém, existe também um Brasil mais ambicioso, o qual é formado por empreendedores que se arriscam, por agropecuaristas competitivos globalmente e por uma ascendente classe média que anseia enormemente por uma maior integração com o resto do mundo.  Esses brasileiros queriam desesperadamente uma mudança para mais mercado e mais capitalismo, e viram no candidato Aécio Neves um representante mais próximo dessa mudança.  Foram esses brasileiros que fizeram com que as eleições presidenciais do último domingo fossem a mais apertada da história do Brasil.
Com esse resultado apertado, Dilma tem agora de descobrir o que fará com seus próximos quatro anos.  De um lado, ela pode imaginar ser possível consolidar o poder do PT — seu objetivo supremo — dando continuidade às políticas que utilizou até agora, não importa os custos para a economia.  Alternativamente, ela pode optar por fazer ajustes econômicos pragmáticos com o objetivo de restaurar a confiança e o crescimento.
Essa última opção é até possível, mas é bem improvável, pois os militantes do seu partido, que ganharam poderes e engordaram suas contas bancárias durante os governos do PT, querem ainda mais poder, e não menos.  Dilma pode até fazer algumas declarações aparentemente conciliatórias e, no curto prazo, implantar algumas medidas em prol de um pouco mais de liberdade econômica, como fez seu mentor Lula nos primeiros anos de seu governo, quando ele tinha o objetivo de acalmar os mercados que estavam em queda por temor de seu novo governo.  Uma vez alcançado esse objetivo, no entanto, Lula voltou para a esquerda.
As chances são de que Dilma fará o mesmo, assegurando por mais quatro anos a já tradicional reputação do Brasil para a mediocridade.  Somente se uma investigação criminal comprovar que Dilma e Lula sabiam sobre o esquema de corrupção na Petrobras é que as coisas podem se alterar substantivamente.
A grande ironia da campanha eleitoral é que, enquanto Dilma e Lula reivindicavam todo o crédito pelo crescimento econômico que o Brasil vivenciou na década de 2000, ambos se opuseram às reformas estruturais ocorridas na década de 1990.  A privatização de empresas estatais, a abertura (ainda que limitada) da economia brasileira à concorrência estrangeira, e a reforma monetária de 1994, que criou o real e acabou com a hiperinflação — todas essas medidas estimularam o desenvolvimento e, devido a essa geração de riqueza, possibilitaram a criação de programas assistencialistas mais generosos, os quais são a marca registrada do PT. 
Não fossem essas reformas da década de 1990 — às quais o PT se opôs —, não haveria chances de sucesso para os subsequentes governos do PT na década de 2000.
O problema é que o PT não quis aprofundar essas reformas, e a consequência é que o "milagre brasileiro" morreu no berço.  Na mais generosa das avaliações, o país é visto hoje como apenas mais um entre vários países em desenvolvimento; já na maioria das vezes, ele é visto lá no fim da fila.
Nem Lula e nem Dilma parecem se preocupar com desenvolvimento econômico.  De acordo com um relatório do Goldman Sachs, de 2004 a 2013, os gastos do governo cresceram a um ritmo de 8% ao ano, em termos reais, o que representou um crescimento mais de duas vezes maior do que o crescimento do PIB.  A inflação de preços está hoje em quase 7% ao ano para aqueles bens e serviços cujos preços não são controlados pelo governo.  E quando se considera apenas o setor de serviços, a inflação de preços está em 8,6% ao ano.  Para piorar, as expectativas quanto à inflação futura estão se deteriorando.
Dilma imaginou que poderia conter a carestia congelando o preço da gasolina, a qual é ofertada pela Petrobras, e o preço do etanol, o qual é ofertado por usineiros locais e utilizado por carros flexíveis em combustível.  No entanto, dado que os custos de produção continuaram aumentando (por causa da inflação crescente), a Petrobras e o setor sucroalcooleiro estão incorrendo em severos prejuízos.  Várias usinas de álcool já faliram e várias outras estão por falir.  Elas não sobreviverão caso essa política de congelamento de preços continue.
O PT se gaba de ajudar os pobres com políticas assistencialistas, mas a mesma mão que dá é aquela que tira — e a mão que tira é a mais pesada.  O aumento do protecionismo, os pesados encargos sociais e trabalhistas que oneram a folha de pagamento das empresas, os altos impostos sobre o consumo, uma infraestrutura em frangalhos, e as inflexíveis leis trabalhistas geram custos que impedem o aumento dos salários e que fazem com que o padrão de vida dos brasileiros esteja muito aquém do seu potencial.
Ainda mais preocupante é o estrago que o PT pode fazer com as instituições e com o estado de direito ao longo dos próximos 48 meses.  A sociedade civil brasileira é uma forte defensora das liberdades civis e do pluralismo.  No entanto, como um sagaz empresário me confidenciou, "Estamos vivenciando, passo a passo, uma tendência rumo à Argentina, à Bolívia e ao Equador".  Um exemplo é o decreto de maio, assinado por Dilma, que cria os "conselhos populares", os quais criariam um modelo semelhante ao que já existe na Venezuela.  Até o momento, o Congresso vem oferecendo resistência.  Porém, se o tradicional esquema de compra de votos ocorrer, ele pode capitular.
Trata-se de uma perspectiva pavorosa para qualquer pessoa que conheça um pouco de história.  Como já havia observado no século XVIII o filósofo David Hume: "A liberdade não é abolida de uma só vez; o processo ocorre em etapas." 
Hoje, Dilma é apenas uma política que ganhou uma eleição.  No futuro, os brasileiros podem aprender que o governo de um partido só e regras indefinidas são os verdadeiros projetos de longo prazo do PT.

Mary Anastasia O’Grady é editora do The Wall Street Journal e faz a cobertura de eventos da América Latina.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Bolivia, no caminho do Afeganistao - Mary Anastasia O'Grady (WSJ)

Bolívia, o próximo Afeganistão?
O país andino tornou-se um centro do crime organizado e um porto seguro para terroristas
Por Mary Anastasia O'Grady
The Wall Street Journal, 4 de novembro de 2013

Nos anos que se seguiram à brutal ocupação soviética, que durou dez anos, o Afeganistão se transformou numa incubadora do crime organizado, da radicalização política e do fundamentalismo religioso, um lugar tão propício que Osama bin Laden instalou lá suas operações.
Agora, algo parecido pode estar ocorrendo na Bolívia. O governo é um defensor dos produtores de cocaína. A presença iraniana está crescendo. E relatos que chegam do país sugerem que extremistas africanos também estão se juntando à luta.
O presidente boliviano, Evo Morales, que também é o presidente eleito da confederação de produtores de coca, e seu vice-presidente, Álvaro García Linera, um ex-militante do Exército Guerrilheiro Túpac Katari, começaram a construir um narco-Estado repressivo quando chegaram ao poder em 2006.
O primeiro passo foi a criação de uma cultura do medo. Vários grupos de intelectuais, tecnocratas e ex-funcionários do governo foram hostilizados e muitos fugiram. José María Bakovic, de 75 anos e ex-especialista em infraestrutura do Banco Mundial, foi um dos que foram atacados, mas que se negou a ceder. Como presidente da Comissão de Rodovias, entre 2001 e 2006, ele havia criado um sistema de leilões de concessões concebidos para reduzir a corrupção na construção de estradas. Isso frustrou Morales. Bakovic foi preso duas vezes e teve que comparecer a tribunais mais de 250 vezes, acusado de "delitos administrativos", segundo fontes a par do caso. Nunca nada foi provado.
No começo de outubro, promotores públicos convocaram Bakovic para mais um interrogatório em La Paz. Cardiologistas disseram que a altitude iria matá-lo. O governo não quis ouvir as objeções médicas, efetivamente decretando sua sentença de morte. Bakovic foi a La Paz em 11 de outubro, sofreu um ataque cardíaco e morreu no dia seguinte em Cochabamba.
Com a oposição intimidada, Morales tem transformado a Bolívia num centro internacional do crime organizado e num refúgio seguro para os terroristas. A agência para o controle de drogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês) foi expulsa do país. Dados da ONU mostram que a produção de cocaína aumentou na Bolívia desde 2006 e há relatos não confirmados de que delinquentes mexicanos, russos e colombianos têm viajado ao país para conquistar uma parte do negócio. O mesmo ocorre com os militantes que querem arrecadar fundos e operar no Hemisfério Ocidental.
A conexão com Teerã não é segredo algum. O Irã é membro sem direito a voto da ALBA (Aliança Bolivariana das Américas). Os membros com direito a voto são Cuba, Bolívia, Equador, Nicarágua e Venezuela.
Em seu testemunho perante à Comissão de Segurança Nacional da Câmara de Deputados dos EUA, em julho passado, o especialista em assuntos de segurança global Joseph Humire descreveu o interesse do Irã na ALBA: "O Irã compreendeu que a onda de populismo autoritário conhecido como 'Socialismo do Século XXI' que vinha se expandindo pela região oferecia à República Islâmica um ambiente permissivo para ela levar a cabo sua agenda global contra o Ocidente." A Bolívia é terreno fértil.
O Irã pode ter financiado total ou parcialmente a construção de uma nova base de treinamento militar da ALBA na região de Santa Cruz. De acordo com Humire, a embaixada do Irã em La Paz supostamente "tem pelo menos 145 funcionários iranianos registrados". Há também apoio boliviano a radicais convertidos ao islamismo, como o argentino Santiago Paz Bullrich, um discípulo do imã iraniano Mohsen Rabbani e cofundador da primeira Associação Islâmica Xiita em La Paz.
O Irã pode estar usando sua rede boliviana para contrabandear minerais estratégicos como o tântalo (que é usado no revestimento de mísseis), Humire disse ao Congresso americano. Pode, inclusive, estar contrabandeado pessoas. Informações não confirmadas, mas vindas de fontes confiáveis, descrevem altos funcionários ordenando a emissão de documentos de identidade e passaportes para numerosos jovens "turcos", uma maneira informal de descrever pessoas do Oriente Médio na América Latina. Uma testemunha disse a uma de minhas fontes na Bolívia (que pediu para ficar no anonimato por motivos de segurança), que os estrangeiros eram iranianos, mas não eram diplomatas.
O jornal boliviano "La Razón" informou que o potencial cônsul boliviano no Líbano foi preso pelas autoridades bolivianas por supostamente tentar contrabandear 392 kg de cocaína para Gana.
Graças a uma demanda estável de cocaína, a economia boliviana está inundada de dinheiro. A África está na principal rota do tráfico de cocaína para Europa. Isso pode explicar a presença cada vez maior de somalianos, etíopes e sul-africanos em Santa Cruz, que não é um destino comum para a imigração africana. Em abril deste ano, o corpo parcialmente queimado e mutilado de um homem negro foi encontrado perto da fronteira com o Brasil, o que pode sugerir um negócio com drogas que deu errado. Uma marca inusitada foi feita na coxa direita da vítima, como se os vilões quisessem crédito pela brutalidade.
Poucos dias depois, o jornal espanhol "ABC" reportou o caso de um espanhol que também foi torturado com uma inscrição em sua perna e que foi encontrado na mesma área. Uma fonte que não quis ser identificada me informou que a vítima tinha dito à polícia que o homem negro assassinado era seu amigo e africano. Segundo minha fonte, uma testemunha também disse que quando estava morrendo o homem teria murmurado as palavras "al-Shabaab", o nome do grupo terrorista somaliano.
Um boliviano que conheço diz ter visto na cerimônia de posse de Evo Morales, em 2006, Mohamed Abdelaziz, o secretário geral do grupo separatista "Frente Polisario", que tem liderado um longo conflito com o Marrocos.
A África do Norte está se convertendo numa incubadora para a violência. Circulam rumores de insurgência e de alianças terroristas. Caso Abdelaziz tenha realmente visitado La Paz, surgem novas questões sobre política externa da Bolívia.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Chavismo nao se parece com peronismo, so na superficie

Esta matéria de conhecida jornalista do WSJ, Mary Anastasia O'Grady, está correta na sua parte informativa, mas acredito totalmente equivocada na parte opinativa, ou especulativa.
Ela acha que o chavismo seria uma espécie de peronismo, quando a situação, por mais semelhanças superficiais que possa haver entre os dois casos, é muito diferente.
Perón concebeu uma doutrina e presidiu uma fase de relativa prosperidade na Argentina, ainda que destruindo sua economia, mas não ao ponto falimentar como Chávez (quando a Venezuela tem de importar toneladas de produtos alimentícios, pois sua economia já funciona em bases semi-socialistas).
Chávez vai deixar uma terra arrasada atrás de si, e o mais provável que ocorra, em caso de morte, seja uma luta terrível pelo poder e o afundamento ainda maior do país, o que não ocorreu na Argentina, pois os militares ainda conseguiram controlar o país, que não tinha uma riqueza maldita como o petróleo para contaminar toda a economia do país.
Infelizmente, as perspectivas para a Venezuela pós-Chávez são muito piores, mais sombrias, do que foi a situação da Argentina pós-Perón, ainda que o culto quase religioso por ele, e sua mítica Eva Perón seja bem mais esquizofrênico do que se vê em qualquer outro país. O peronismo sequestrou todo um país até hoje, o que não acredito que o chavismo seja capaz de fazer.
Paulo Roberto de Almeida


The Wall Street Journal, April 9, 2012
Opinion: Venezuela After Chávez
 Mary Anastasia O'Grady

Analysts now talk of the possibility of a power struggle between the military and armed civilian factions.

Hugo Chávez's battle against cancer could serve as a learning experience for admirers of the Cuban health-care system, held up by the likes of American filmmaker Michael Moore as a model for the U.S. Apparently it's not all it's cracked up to be.

There are other lessons too. If the day soon comes that he can no longer govern, it will not necessarily be good news for Venezuelans. Indeed, the country's long-term decline is likely to continue. That's because his early demise could make chavismo a near religion in Venezuela, much as the death of Eva Perón gave birth to her messianic image and the Argentine worship of peronismo . Pity the nation that falls prey to a demagogue.

Mr. Chávez's health is a state secret, albeit one that a lot of people seem to know about. When he first had surgery in June 2011, he did not readily admit that doctors had removed a large cancerous tumor from his pelvic area. The government still hasn't said what type of cancer he has.

In February he revealed that a new "lesion" had been discovered. Since then he has traveled twice to Cuba for radiation therapy. He returned to Venezuela briefly last week amid rumors that he would go to São Paulo in search of a better outcome. But on Saturday he instead returned to Cuba for a third round of radiation.

It may be that by the time Cuban doctors got a good look at Mr. Chávez last year and removed his tumor, the disease was already too advanced for successful treatment. But according to Dr. José Rafael Marquina, a Venezuelan doctor living in Florida who claims to have inside knowledge, Mr. Chávez was gravely mistaken if he thought the Cuban medical system could at least buy him some time.

Dr. Marquina has told Spain's ABC newspaper that when Mr. Chávez returned to Havana for radiation therapy this year, the Cubans botched the job. To be effective, radiation requires that the patient adhere to a strict schedule of applications. Yet according to Dr. Marquina, Cuba "suspended" the treatment when Colombian President Juan Manuel Santos visited the island, presumably so the Venezuelan could attend the meetings. He also claims the areas where the radiation was applied were not properly marked, something he says is important to ensure efficacy. He told ABC that the Cuban medics thought it was unnecessary but that a Brazilian doctor later recommended it.

Dr. Marquina told ABC that Mr. Chávez's cancer has metastasized into the liver, the adrenal glands and the bladder, and that Cuban doctors did not want to operate again for fear of complications. That leaves radiation the last hope. If he responds well to further treatments, the Venezuelan doctor told ABC, he might live until next spring. Otherwise, he may not last the year.

Forecasting such things is not easy even when the medical records of the patient are available. So it is important to recognize that at this point independent analysis has to be treated as speculation.

Mr. Chávez insists that his Cuban treatments are working and that he is ready to govern the country for another six years should he win the presidential election in October. But at Holy Thursday services in his home state of Barinas he let slip that things might be otherwise. "Give me your crown, Jesus. Give me your cross, your thorns so that I may bleed. But give me life, because I have more to do for this country and these people. Do not take me yet," a teary eyed Mr. Chávez pleaded.

In a country run by one man for the past 13 years, it is impossible to overestimate the popular hunger for information on Mr. Chávez's condition. Even the many who dislike the strongman are worried about what might happen if he fails to prepare for his demise by naming a successor.

Increased violence is one likely outcome. The United Venezuelan Socialist Party (PSUV) and Mr. Chávez's government are almost one and the same and both have become radicalized. Dissent is expressly forbidden, as evidenced by last month's expulsion from the party of the governor of Monagas for his audacious questioning of the safety of drinking water from a local river after an oil spill.

Analysts now talk of the possibility of a struggle between the military and civilian factions that are armed. Independent of the military, the National Guard runs narcotics-trafficking routes through the country and the lucrative gasoline-smuggling businesses at the Colombian border. It also has a financial stake in who succeeds Mr. Chávez.

Mr. Chávez manages to keep the factions in line, but his death without a will is likely to provoke a free-for-all. The winner could seize the mantle of the sainted revolutionary and use it to put a new lock on power. Mr. Chávez would be gone but chavismo would live on.