Bolívia, o próximo
Afeganistão?
O país
andino tornou-se um centro do crime organizado e um porto seguro para
terroristas
Por Mary Anastasia O'Grady
The Wall Street Journal, 4 de novembro de 2013
Nos anos que se seguiram à
brutal ocupação soviética, que durou dez anos, o Afeganistão se transformou
numa incubadora do crime organizado, da radicalização política e do
fundamentalismo religioso, um lugar tão propício que Osama bin Laden instalou
lá suas operações.
Agora, algo parecido pode
estar ocorrendo na Bolívia. O governo é um defensor dos produtores de cocaína.
A presença iraniana está crescendo. E relatos que chegam do país sugerem que
extremistas africanos também estão se juntando à luta.
O presidente boliviano, Evo
Morales, que também é o presidente eleito da confederação de produtores de
coca, e seu vice-presidente, Álvaro García Linera, um ex-militante do Exército
Guerrilheiro Túpac Katari, começaram a construir um narco-Estado repressivo
quando chegaram ao poder em 2006.
O primeiro passo foi a
criação de uma cultura do medo. Vários grupos de intelectuais, tecnocratas e
ex-funcionários do governo foram hostilizados e muitos fugiram. José María
Bakovic, de 75 anos e ex-especialista em infraestrutura do Banco Mundial, foi
um dos que foram atacados, mas que se negou a ceder. Como presidente da
Comissão de Rodovias, entre 2001 e 2006, ele havia criado um sistema de leilões
de concessões concebidos para reduzir a corrupção na construção de estradas.
Isso frustrou Morales. Bakovic foi preso duas vezes e teve que comparecer a
tribunais mais de 250 vezes, acusado de "delitos administrativos",
segundo fontes a par do caso. Nunca nada foi provado.
No começo de outubro,
promotores públicos convocaram Bakovic para mais um interrogatório em La Paz.
Cardiologistas disseram que a altitude iria matá-lo. O governo não quis ouvir
as objeções médicas, efetivamente decretando sua sentença de morte. Bakovic foi
a La Paz em 11 de outubro, sofreu um ataque cardíaco e morreu no dia seguinte
em Cochabamba.
Com a oposição intimidada,
Morales tem transformado a Bolívia num centro internacional do crime organizado
e num refúgio seguro para os terroristas. A agência para o controle de drogas
dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês) foi expulsa do país. Dados da ONU
mostram que a produção de cocaína aumentou na Bolívia desde 2006 e há relatos
não confirmados de que delinquentes mexicanos, russos e colombianos têm viajado
ao país para conquistar uma parte do negócio. O mesmo ocorre com os militantes
que querem arrecadar fundos e operar no Hemisfério Ocidental.
A conexão com Teerã não é
segredo algum. O Irã é membro sem direito a voto da ALBA (Aliança Bolivariana
das Américas). Os membros com direito a voto são Cuba, Bolívia, Equador,
Nicarágua e Venezuela.
Em seu testemunho perante à
Comissão de Segurança Nacional da Câmara de Deputados dos EUA, em julho
passado, o especialista em assuntos de segurança global Joseph Humire descreveu
o interesse do Irã na ALBA: "O Irã compreendeu que a onda de populismo
autoritário conhecido como 'Socialismo do Século XXI' que vinha se expandindo
pela região oferecia à República Islâmica um ambiente permissivo para ela levar
a cabo sua agenda global contra o Ocidente." A Bolívia é terreno fértil.
O Irã pode ter financiado
total ou parcialmente a construção de uma nova base de treinamento militar da
ALBA na região de Santa Cruz. De acordo com Humire, a embaixada do Irã em La
Paz supostamente "tem pelo menos 145 funcionários iranianos
registrados". Há também apoio boliviano a radicais convertidos ao
islamismo, como o argentino Santiago Paz Bullrich, um discípulo do imã iraniano
Mohsen Rabbani e cofundador da primeira Associação Islâmica Xiita em La Paz.
O Irã pode estar usando sua
rede boliviana para contrabandear minerais estratégicos como o tântalo (que é
usado no revestimento de mísseis), Humire disse ao Congresso americano. Pode,
inclusive, estar contrabandeado pessoas. Informações não confirmadas, mas
vindas de fontes confiáveis, descrevem altos funcionários ordenando a emissão
de documentos de identidade e passaportes para numerosos jovens
"turcos", uma maneira informal de descrever pessoas do Oriente Médio
na América Latina. Uma testemunha disse a uma de minhas fontes na Bolívia (que
pediu para ficar no anonimato por motivos de segurança), que os estrangeiros
eram iranianos, mas não eram diplomatas.
O jornal boliviano "La
Razón" informou que o potencial cônsul boliviano no Líbano foi preso pelas
autoridades bolivianas por supostamente tentar contrabandear 392 kg de cocaína
para Gana.
Graças a uma demanda
estável de cocaína, a economia boliviana está inundada de dinheiro. A África
está na principal rota do tráfico de cocaína para Europa. Isso pode explicar a
presença cada vez maior de somalianos, etíopes e sul-africanos em Santa Cruz,
que não é um destino comum para a imigração africana. Em abril deste ano, o
corpo parcialmente queimado e mutilado de um homem negro foi encontrado perto
da fronteira com o Brasil, o que pode sugerir um negócio com drogas que deu
errado. Uma marca inusitada foi feita na coxa direita da vítima, como se os
vilões quisessem crédito pela brutalidade.
Poucos dias depois, o
jornal espanhol "ABC" reportou o caso de um espanhol que também foi
torturado com uma inscrição em sua perna e que foi encontrado na mesma área.
Uma fonte que não quis ser identificada me informou que a vítima tinha dito à
polícia que o homem negro assassinado era seu amigo e africano. Segundo minha
fonte, uma testemunha também disse que quando estava morrendo o homem teria
murmurado as palavras "al-Shabaab", o nome do grupo terrorista somaliano.
Um boliviano que conheço
diz ter visto na cerimônia de posse de Evo Morales, em 2006, Mohamed Abdelaziz,
o secretário geral do grupo separatista "Frente Polisario", que tem
liderado um longo conflito com o Marrocos.
A África do Norte está se
convertendo numa incubadora para a violência. Circulam rumores de insurgência e
de alianças terroristas. Caso Abdelaziz tenha realmente visitado La Paz, surgem
novas questões sobre política externa da Bolívia.
3 comentários:
Professor,
Depois de Maduro ter encontrado a face de Chávez na parede de um túnel... Agora veio também a Feira Natalina Socialista 2013...
http://oglobo.globo.com/mundo/maduro-decreta-natal-antecipado-na-venezuela-10678222
Grande abraço,
A resposta a essa senhora, o jornalista Mauro Santayana já deu no Jornal do BGrasil e no blog dele:
http://www.maurosantayana.com/2013/11/carta-um-jornal-de-wall-street.html
Ô Anonimo Envergonhado,
Você não assina por que tem vergonha, tem medo de que algo lhe aconteça, ou porque pertence à tropa dos mercenários à soldo, que fica percorrendo a internet para buscar e retrucar coisas de que o Partido da Suprema Felicidade da Nação não gosta, como tampouco devem gostar seus amigos e donos?
Você pertence a um grupo de vigilantes cibernéticos, que adora escrever anonimamente, ou faz isso por prazer e distração?
Li e não vi nenhuma resposta do citado jornalista a sua colega do WSJ, mas apenas um conjunto de invectivas, ofensas, xingamentos, que não honram a profissão, nem o sentido do jornalismo.
Se você tiver algo de inteligente a responder à jornalista em questão, pode escrever que eu publico, mas não anonimamente.
Este blog é para pessoas inteligentes, não para mercenários a soldo e outros membros daquela coisa que já foi chamada de esgotosfera...
Paulo Roberto de Almeida
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