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segunda-feira, 7 de setembro de 2020

A indústria religiosa, a mais pujante do Brasil - Diego Amorim, Ricardo Bergamini e Poder 360

Primeiro a nota do jornalista Diego Amorim, do Antagonista: 


Jair Bolsonaro tem até o fim desta semana para sancionar, com ou sem vetos, um projeto de lei que regulamenta o pagamento de precatórios durante a pandemia da Covid-19.

No projeto, foi inserido um jabuti pelo deputado David Soares(DEM), filho do missionário R. R. Soares, garantindo o perdão das dívidas das igrejas com o Fisco.

Quinze dias antes, Bolsonaro havia recebido para tratar justamente desse assunto o deputado Soares e representantes da Receita.

David Soares desligou o telefone na minha cara, sem nem sequer ouvir a primeira pergunta que eu tinha a fazer sobre o tema.

Eu falei com o autor da proposta original, Marcelo Ramos (PL), que disse concordar com o perdão às igrejas. O relator na Câmara, Fábio Trad (PSD), foi contra a aprovação dessa emenda.


(7/09/2020)

Agora o contundente Ricardo Bergamini: 


A indústria da fé é a mais promissora do Brasil (Ricardo Bergamini).

Prezados Senhores

Renúncia fiscal é uma das maiores imoralidades da história econômica do Brasil, que nunca fez, faz ou fará parte das reformas dos governantes de plantões. 

Que Deus use esses recursos para multiplicar os pães e os peixes dos seus pastores, em suas mansões.

Nota: esses tributos não são das doações, mas sim dos negócios econômicos que essas instituições participam, bem como das altas remunerações dos seus pastores.

Agora a matéria do Poder 360: 


Projeto de lei aprovado perdoa R$ 1 bi em dívidas de igrejas, diz jornal

Precisará de sanção presidencial

Texto isenta as igrejas de tributos

Perdoa as dívidas com a Receita

Congresso aprova texto que isenta igrejas do pagamento de contribuições como a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) e perdoa dívidas acumulas com a União

PODER36007.set.2020 (segunda-feira) - 8h13

Texto aprovado pelo Congresso Nacional pode anular dívidas tributárias das igrejas com a Receita Federal. É o projeto de lei (PL) 1581/2020, que regulariza descontos em pagamento de precatórios (valores devidos depois de sentença definitiva na Justiça). O texto aguarda sanção do presidente Jair Bolsonaro.

O Estado de S. Paulo apurou que o valor “perdoado” caso o texto seja aprovado é de quase R$ 1 bilhão. Hoje, apesar de não estarem sujeitas ao pagamento de impostos, as igrejas ainda precisam pagar contribuições como a CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) e a contribuição previdenciária. Algumas instituições religiosas tentam driblar a legislação e são autuadas pela Receita Federal. Elas distribuírem parte da arrecadação entre os principais dirigentes e lideranças sem pagar os tributos obrigatórios.

Parte inferior do formulário
Os trechos propostos pelo deputado federal David Soares (DEM-SP) a PL 1581/2020 mudam justamente a legislação sobre a CSLL e a contribuição previdenciária. O texto estabelece o fim da obrigatoriedade do pagamento por parte das igrejas. E diz que “passam a ser nulas as autuações feitas” anteriormente. Ou seja, as dívidas acumuladas deixam de existir.

David é filho do missionário R. R. Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus. A igreja tem, segundo o Estadão, R$ 37,8 milhões inscritos na Dívida Ativa da União. Procurado, o deputado disse que não comentaria a reportagem.


Segundo o Estadão, a área econômica deve recomendar que Bolsonaro vete os trechos apresentados por David. O Ministério da Economia não quis comentar o assunto. A Secretaria-Geral da Presidência da República falou que “o projeto citado está em análise”. Bolsonaro tem até o dia 11 de setembro para sancionar ou vetar a proposta.

Gráficos de Ricardo Bergamini:




segunda-feira, 30 de março de 2020

Entrevista do chanceler sobre a Covid-19 - Fernando Rodrigues, SBT, Poder 360


Liderança de combate à covid-19 é de países, não da OMS, diz Ernesto Araújo

Isolamento total é draconiano
Não há conflitos com a China
Ministro foi ao Poder em Foco
Poder em Foco com Fernando Rodrigues em parceria editorial do Poder 360 com o SBT, entrevista ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araujo. Sérgio Lima/Poder360 17.dez.2019

30.mar.2020 (segunda-feira) - 0h01
atualizado: 30.mar.2020 (segunda-feira) - 7h46
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Henrique Fraga Araújo, 52 anos, diz ser contra a liderança da OMS (Organização Mundial da Saúde) no combate à pandemia da covid-19 –doença causada pelo novo coronavírus.
Para o chanceler, apesar de a propagação da doença ter se estabelecido como uma crise global, “isso não significa necessariamente que a solução tenha que ser única”. O ministro defende a liderança dos países. Considera que deve ser levada em conta a especificidade demográfica e econômica de cada nação.
“A liderança disso [do combate à covid-19] tem que ser dos países, pois cada governo nacional sabe qual é a sua situação e pode avaliar, sobretudo países que têm a capacidade de ação, como nós temos, que têm serviços de saúde, que têm ao mesmo tempo uma economia com as características que a gente tem”, defende Ernesto Araújo em entrevista ao jornalista Fernando Rodrigues, apresentador do programa Poder em Foco, uma parceria editorial do SBT com o jornal digital Poder360.
“Acho importante que as pessoas vejam a OMS como algo que facilita a coordenação entre os países”, diz. Para ele, o  organismo mundial não tem condições de impor políticas globais para todos os seus membros.
Assista à entrevista gravada em 27 de março de 2020 (47min01s):
O ministro defende que os órgãos internacionais atuem somente como 1 espaço para que as nações se coordenem, compartilhem estudos e facilitem a resolução dos problemas com novas ideias. No entanto, essas entidades multilaterais não devem se “sobrepor aos países”.
“Em qualquer ramo, 1 organismo internacional [que venha a] se sobrepor aos países, aos governos nacionais, que sabem o que eles precisam, não é a melhor prática. Respeitamos muito a OMS, mas talvez parte desse problema seja oriundo dessa percepção de que aquilo que a OMS diz tenha que ser uma regra mundial”, afirma.
Ernesto Araújo afirma que a OMS é uma “organização importantíssima” e está cumprindo seu papel de “chamar a atenção para o tema”, divulgando informações relevantes diariamente. Porém, segundo ele, a entidade deve ser vista como “1 intercâmbio de ideias sobre o que os países estão fazendo” e não 1 órgão que centraliza as medidas que devem ser adotadas no mundo.
“É claro que essas organizações têm prestígio, mas esse prestígio não deve levar [ao pensamento de] que se tenha essa obrigação de se ter políticas mundiais. Acho que está claro isso, [quando se percebe] que os grandes países no mundo estão com políticas diferentes. Alguns fecharam logo as fronteiras, outros não. A própria OMS, se eu não me engano, era contra [ao fechamento das fronteiras]”, diz.

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Na entrevista, o chanceler também fala sobre como o governo se posicionou em reunião do G20 –grupo das 20 maiores economias do mundo– e como as medidas adotadas pelos países em relação ao coronavírus podem servir de exemplo ao Brasil.
Segundo Ernesto Araújo, além do Brasil, apenas 6 dos 20 países do grupo adotaram o isolamento horizontal (para toda a população). O presidente Jair Bolsonaro é contrário à medida, que foi implementada pelos governos estaduais, e defende o isolamento vertical (somente para os grupos de risco).
Ao tratar sobre o processo de repatriação dos brasileiros, o ministro afirma que até o momento houve 14.000 pedidos de assistência para retorno ao país. Já foram atendidos 7.000.
O chanceler comentou as declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que culpou a China pela pandemia da covid-19. Segundo ele, a declaração do filho do presidente “não é a opinião do governo”. Indagado sobre se os chineses teriam demorado em informar ao mundo sobre a doença, o ministro disse que não adianta olhar para trás, pois o momento agora é “de evitar o colapso econômico” e se concentrar no combate ao novo coronavírus.
Ernesto Araújo afirma que a aproximação de Bolsonaro do governo dos Estados Unidos não afeta as relações comerciais com o país asiático. “Nossa aproximação dos Estados Unidos, que tem sido muito intensa e produtiva, não significa problema ou afastamento da China”, diz.
O ministro descreve ainda como é sua relação com Olavo de Carvalho e a influência que o escritor conservador brasileiro radicado nos EUA tem sobre a política externa do país. A respeito de Nicolás Maduro, afirma que o governo venezuelano tem “simbiose com o narcotráfico”.

SÓ 6 DOS 20 PAÍSES ESTÃO EM ISOLAMENTO

Ernesto Araújo diz que, além do Brasil, apenas 6 países do G20 fazem isolamento horizontal (confinamento de toda a população para conter a propagação do coronavírus): África do Sul, Argentina, Itália, Espanha, Índia e França. Os Estados Unidos e a Alemanha têm quarentena total em alguns Estados. Para o chanceler, a adoção da medida “depende da realidade de cada país”.
“Cada país sabe o que é melhor para a sua população de acordo com sua estrutura demográfica e econômica”, defende.
Ao se posicionar contra o isolamento integral no Brasil, o ministro diz que o confinamento promovido em alguns países europeus não deve ter 1 impacto econômico tão grande quanto pode haver ao realizado no Brasil em 1 mesmo período.
“Alguns países europeus em confinamento integral têm a população com a estrutura etária bem mais idosa e com todo tipo de mecanismos sociais. São países que praticamente não têm uma economia informal. Então, uma pessoa [desses países] ficar em casa 1 ou 2 meses recebendo algum tipo de subsídio é uma coisa. Outra coisa é no Brasil, com a quantidade de pessoas que são autônomas e que dependem de estar na rua, de haver uma circulação de pessoas para conseguir desempenhar sua função e conseguir renda”, argumenta.
Depois da gravação da entrevista, o ministro conversou por telefone com o Ministro de Relações Exteriores do Reino Unido, Dominic Raab, que confirmou que também adotou o isolamento compulsório total. Com isso, 7 países do G20, além do Brasil, adotam o isolamento horizontal. São eles: África do Sul, Argentina, Itália, Espanha (não faz parte do G20, mas é convidada para as reuniões do grupo), Índia, França e Reino Unido.

ISOLAMENTO TOTAL É DRACONIANO

Ernesto Araújo rebate críticas à estratégia defendida por Bolsonaro de isolar somente as pessoas que estão no grupo de risco (idosos, diabéticos, hipertensos e quem tem insuficiência cardíaca, renal ou doença respiratória crônica) da covid-19.
O posicionamento do presidente foi manifestado em pronunciamento em rede nacional de rádio e TV na última 3ª feira (24.mar.2020). Ao menos 13 governadores criticaram e lamentaram a fala do chefe do Executivo.
Para o ministro, o isolamento integral, adotado nos Estados por determinação dos governadores, é uma medida draconiana.
“De repente, começou-se a achar que todos os países começaram a determinar a quarentena integral e só o Brasil e só o presidente Jair Bolsonaro que quer uma solução diferente. Não é. A maioria dos países, dentro do G20, pelo menos, estão implementando outro tipo de medida que não essa medida tão draconiana, que digamos [que seja] a quarentena integral”, diz.
Segundo o ministro, a proposta de fazer com que a população deixe o isolamento horizontal e seja implementado o confinamento só para os mais vulneráveis à doença ainda está em estudo. “Há 1 esforço de todo o governo. Estamos fazendo 1 esforço de coordenação diária, várias reuniões por dia. Isso [o fim do isolamento horizontal] tem que ser visto”, afirma.
Na última semana, o governo lançou nas redes sociais vídeo com o slogan “O Brasil não pode parar”. O comercial reforça mensagens pregadas nos últimos dias pelo presidente Jair Bolsonaro, que critica a paralisia da economia em nome do isolamento social para prevenção à covid-19.
A Justiça mandou o Planalto suspender a campanha porque a medida propagada pelo presidente “pode violar os princípios da precaução e da prevenção”, impactando e colocando em risco “os grupos vulneráveis, notadamente os idosos e pobres”.
O governo contratou por R$ 4,8 milhões a agência iComunicação para cuidar de serviços digitais. A contratação foi classificada como “emergencial” e realizada sem licitação.
Em nota, o governo negou que a campanha fosse oficial, embora o site do próprio Planalto tenha divulgado (e depois apagado) o slogan.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Carnaval: em 1912, com a morte de Rio Branco, o Brasil teve dois - Ricardo Westin (Poder 360)

Morte do Barão do Rio Branco fez Brasil ter dois Carnavais em 1912



O primeiro foi em fevereiro
E o segundo em abril
Charge de 1912 critica brasileiros que caíram na folia apenas uma semana depois da morte do Barão do Rio Branco Reprodução/O Malho/Biblioteca Nacional

Os foliões nunca se esbaldaram tanto quanto em 1912. Naquele ano, o Brasil teve dois Carnavais. O primeiro foi em fevereiro, seguindo o calendário regulamentar. A festança se repetiria em abril, na Páscoa, com outros cinco dias de fantasia, confete e serpentina.

Paradoxalmente, o Carnaval em dobro teve origem na morte de um herói nacional: o Barão do Rio Branco, ministro das Relações Exteriores havia quase uma década. Vítima de insuficiência renal, ele morreu aos 66 anos em 10 de fevereiro, um sábado, quando faltava exatamente uma semana para os festejos.

Revista O Malho noticia morte do Barão do Rio Branco e exalta seus feitos diplomáticos Reprodução/Biblioteca Nacional

O Brasil caiu em luto. No Rio de Janeiro, a capital da República, uma multidão chorosa fez fila no Palácio do Itamaraty para ver o cadáver de Rio Branco e acompanhou o caixão até o Cemitério do Caju, onde o ministro foi enterrado com honras de chefe de Estado.
Dada a comoção generalizada, os clubes do país que organizavam bailes à fantasia, em especial os do Rio, acharam que seria desrespeitoso promover a esbórnia em pleno período de luto. Por isso, decidiram cancelar os bailes em cima da hora e remarcá-los para a semana da Páscoa.

Em sinal de luto pela morte de Rio Branco, clubes do Rio adiam bailes de Carnaval de fevereiro para abril Reprodução/O Paiz/Biblioteca Nacional

O problema é que, para os foliões mais afoitos, um mês e meio seria uma espera longa e torturante demais. Quando chegou o sábado de Carnaval, eles concluíram que uma semana de luto por Rio Branco já tinha sido mais do que suficiente. Vestiram a fantasia e foram para as ruas munidos de confete, serpentina e lança-perfume (que só seria proibido em 1961, pelo presidente Jânio Quadros).

Charge de 1912 critica brasileiros que caíram na folia apenas uma semana depois da morte do Barão do Rio Branco Reprodução/O Malho/Biblioteca Nacional

Passada a Quaresma, veio a segunda rodada de festejos. No Carnaval bônus, a gandaia foi mais diversificada do que no primeiro Carnaval. Os foliões puderam se divertir tanto nas guerras de confetes nas ruas quanto nos bailes de máscaras nos clubes.

Cariocas fantasiados se divertem no segundo Carnaval de 1912 Reprodução/O Malho/Biblioteca Nacional

Apesar de não ter funcionado, a ideia de adiar o Carnaval por causa da morte de Rio Branco não chegava a ser descabida. Documentos históricos guardados no Arquivo do Senado mostram que, de fato, o Barão do Rio Branco tinha status de herói.
Em 1904, quando ele já era ministro, os senadores e deputados aprovaram um projeto de lei que lhe concedeu uma pensão vitalícia de 2 contos de réis mensais pelo “reconhecimento aos inolvidáveis serviços prestados ao país”.
O senador Arthur de Souza Lemos (PA), num relatório de 1910 a respeito de um tratado entre o Brasil e o Uruguai negociado por Rio Branco, classificou o ministro de “legendário” e destacou o seu “tato delicadíssimo” nas negociações internacionais.
O grande feito de Rio Branco foi ter concluído o traçado das fronteiras do Brasil, que na virada do século passado ainda tinha linhas nebulosas e pendentes. Antes de ser ministro, apenas como diplomata, ele atuara nas arbitragens internacionais que garantiram ao país o oeste de Santa Catarina (disputado com a Argentina), em 1895, e a área que compreende o Amapá, Roraima e o norte do Pará e do Amazonas (disputada com a França), em 1900.

O Barão do Rio Branco se tornou o patrono da diplomacia brasileira por ter alargado as fronteiras do país Ministério das Relações Exteriores

Graças ao sucesso nas duas missões, Rio Branco se tornou ministros das Relações Exteriores em 1902. Logo veio outro êxito: em 1903, após intensas negociações, assinou com a Bolívia o Tratado de Petrópolis, que incorporou o Acre ao território nacional.
De acordo com o historiador e diplomata Luís Cláudio Villafañe G. Santos, autor da biografia Juca Paranhos, o Barão do Rio Branco (editora Companhia das Letras), não é exagero considerá-lo herói:
— Se juntarmos todas as áreas que Rio Branco ganhou para o Brasil, teremos um território equivalente a toda a Região Sul mais o estado de Pernambuco. Isso não é pouca coisa. Além disso, é preciso lembrar que, na disputa com os franceses, o pleito deles era chegar até o Rio Amazonas. Foi graças a Rio Branco que isso não aconteceu.
Dado o seu prestígio, ele foi convidado pelos caciques políticos de São Paulo para concorrer à Presidência da República em 1910, mas não aceitou. Em seu lugar, entrou Ruy Barbosa, que foi derrotado pelo marechal Hermes da Fonseca.

Jornal O Paiz dá destaque ao enterro de Rio Branco Reprodução/Biblioteca Nacional

O Barão do Rio Branco vinha de uma família influente na política do Império. Seu pai era o Visconde do Rio Branco, o primeiro-ministro de dom Pedro II que coordenou a aprovação da Lei do Ventre Livre (1871).
De acordo com documentos do Arquivo do Senado, o senador Quintino Bocayuva (RJ) fez um discurso em maio de 1912 homenageando o recém-finado ministro das Relações Exteriores:
— Rio Branco foi durante sua vida e depois de sua morte a mais alta e a mais gloriosa representação da nacionalidade brasileira e um símbolo venerado do mais puro acendrado patriotismo. Seu nome ficou indelevelmente gravado no bronze de nossa história pátria.

Telegramas de condolências que o Senado recebeu do exterior pela morte de Rio Branco Reprodução/Arquivo do Senado

Na Mensagem Presidencial que enviou ao Congresso na abertura do ano legislativo de 1912, também em maio, o marechal Hermes da Fonseca lamentou a perda.
“Todas as homenagens são devidas à memória do integrador do território pátrio. O meu governo a ele prestou, no momento dos seus funerais, toda as honras que podia, certo de que, por maiores que elas fossem, ainda seriam poucas em comparação aos excelsos serviços prestados ao país pelo incomparável extinto”, escreveu o presidente.
Meses depois, em dezembro, o Senado e a Câmara autorizaram o governo federal a gastar até 1,5 mil contos de réis na construção de um monumento em homenagem ao ministro.
No Rio, o grande ponto de concentração do primeiro Carnaval de 1912 foi a Avenida Central. No segundo Carnaval daquele ano inesquecível, a multidão voltou a se reunir na mesma via, agora rebatizada pela prefeitura de Avenida Rio Branco.

Quatro dias após a morte do ministro, decreto da prefeitura do Rio muda o nome da Avenida Central para Avenida Rio Branco Reprodução/O Paiz/Biblioteca Nacional

Nos festejos derradeiros de 1912, um grupo de cariocas gaiatos saiu com a seguinte marchinha zombeteira: “Com a morte do barão, / tivemos dois Carnavá. / Ai, que bom, / ai, que gostoso / se morresse o marechá”.
O raciocínio era bem simples: na hipótese do presidente morrer, 1912 teria três Carnavais.


Foliões aproveitam o Carnaval extra de 1912 no Rio de Janeiro Reprodução/O Malho/Biblioteca Nacional

Reportagem e edição: Ricardo Westin
Pesquisa: Arquivo do Senado
Coordenação e edição de multimídia: Cássio Costa
Edição de fotografia: Pillar Pedreira
Fonte: Agência Senado

5G: uma opinião bem informada e negativa - Hamilton Carvalho

Não dá para caracterizar a opinião deste articulista como luddita ou malthusiana, pois ele fornece os dados técnicos quanto à sua percepção negativa, em termos de energia, cabeamento, equipamentos em excesso e outros inconvenientes.
Mas o fato é que essa tecnologia virá, para o bem e para o mal.
Acredito que a tecnologia vai evoluir para minimizar ou eliminar certos efeitos negativos.
Mas eu não sou um expert.
Paulo Roberto de Almeida

5G é insanidade, escreve Hamilton Carvalho

5G é a promessa do momento
Aumentará emissões de gases
Gerará demanda por energia elétrica
Segundo a Anatel, a oferta do 5G deve ter início poucos meses após a assinatura dos contratos Anatel

O avanço da tecnologia vai fazer você trabalhar menos e ter mais tempo livre para o que importa na vida. Quantas vezes você já não ouviu isso?

A ideia de que as máquinas trabalhariam no lugar do ser humano é antiga, mas começou a decolar especialmente depois da Revolução Industrial.
Já no final do século 19, o pioneiro da geração e transmissão de energia elétrica Lucien Nunn aplaudiria os benefícios da então revolucionária tecnologia, que passou a ser aplicada em suas minas de carvão nos EUA. Finalmente, disse ele, os trabalhadores teriam tempo e recursos para cuidar de suas famílias, de seu país e de si.

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Outro exemplo conhecido é o do influente economista John Maynard Keynes, que vislumbrava um futuro com semanas de trabalho de apenas 15 horas. Para ele, o aumento na produtividade proporcionado por novas tecnologias seria capaz de dar conta de todas as necessidades humanas. O tempo livre seria usado para o lazer.
É óbvio que nada disso aconteceu. Continuamos trabalhando pelo menos 40 horas por semana e assim continuaremos, pelo menos os que ainda têm emprego. Na média, a vida melhorou bem, mas os ganhos privados com o aumento de produtividade fluíram para o bolso de poucos.
A promessa do momento é a tecnologia 5G de telefonia celular. Já não se fala mais na perspectiva de menos trabalho e mais lazer. O discurso agora é outro: teremos cidades inteligentes, carros autônomos, fábricas com robôs que conversam entre si, geladeiras que encomendam comida diretamente ao supermercado. Alguns até falam que você vai trabalhar mais comprometido, direto da sua casa. Glorioso.
O discurso mudou e, sem dúvida, tem muita coisa boa que dá para ser feita com o 5G. O problema é que a tecnologia tem um inconveniente que não dá pra esconder em um mundo que já vive em emergência climática: ela vai aumentar bastante as emissões de gases do efeito-estufa.
Não existe almoço grátis. O 5G vai gerar uma forte demanda adicional por energia elétrica. E por mais que se espere rápida disseminação das fontes renováveis nas próximas décadas, as tomadas do mundo ainda vão continuar dependendo dos combustíveis fósseis por um longo tempo.
O pessoal da indústria certamente vai argumentar que estamos indo na direção correta. Dirão eles que essa tecnologia está associada com estações de transmissão mais eficientes em termos de consumo de energia e que o 5G pode diminuir as emissões de CO2 em cidades “inteligentes”.
Mas há duas verdades inconvenientes fora dessa narrativa. A primeira tem relação com aquelas bases com antenas de celular que costumam ficar no topo de edifícios. A questão é que o 5G, na sua versão mais poderosa (de frequência mais alta), requer muito mais antenas por mastro –de 10 a 30 vezes mais. E requer muito mais dessas estruturas– um mastro a cada 100 ou 200 metros. O conjunto da obra vai consumir mais eletricidade do que o sistema atual.
A segunda verdade inconveniente –e a mais importante– é o tsunami de dados que estamos encomendando com o 5G. Na medida em que bilhões de equipamentos e quinquilharias (como fraldas e escovas de dentes) passarem a embutir chips que conversam entre si, essa tagarelice precisará ser transmitida e processada à custa de muita energia elétrica adicional (fala-se em aumento de 1.000%).
Tem ainda um outro ponto de interrogação, menos relevante para o argumento aqui apresentado. Cientistas sérios têm alertado para o salto no escuro que estamos dando com o banho adicional de radiação trazido pelo 5G. Há muita pressa para movimentar os negócios e pouca precaução.

O jogo mudou 

Devemos muito à tecnologia, que transformou a experiência humana na Terra. Na longa escala de tempo planetário, foi em um piscar de olhos que passamos a viver em pequenas cidades, inventamos a agricultura, a imprensa, chegamos à Revolução Industrial, ao telefone, aos mainframes, aos computadores pessoais, aos smartphones. E agora desembocamos no que parece ser um novo paradigma, que inclui, além do 5G, a inteligência artificial.
Essas mudanças ficaram mais aceleradas, isto é, na nossa história os paradigmas foram sendo quebrados em intervalos de tempo cada vez mais curtos. Isso é consistente com o fenômeno que a literatura chama de crescimento superexponencial.
Infelizmente, uma consequência inevitável desse fenômeno é o colapso –no caso, dos nossos sistemas socioeconômicos. É como correr em uma esteira que fica cada vez mais rápida.
Outra consequência desse aumento de velocidade é a dificuldade de perceber que as regras do jogo estão mudando. A humanidade continua jogando damas em um mundo que virou um tabuleiro de xadrez pegando fogo.
Mas nesse ponto sou otimista: acho que esta década vai marcar uma reviravolta na percepção coletiva, refletindo os efeitos cada vez mais dramáticos das mudanças climáticas. Com sorte, vamos perceber que virtualmente toda política pública ou privada, como o 5G, tem efeitos diretos no estrago que estamos fazendo no planeta.
E que nem sempre dá para acreditar em promessas utópicas.


domingo, 20 de outubro de 2019

Pesquisa Veja/Poder 360: cenários para 2022

Bolsonaro lidera intenções de votos para 2022, diz Veja/FSB

Fernando Haddad tem 17%
Huck aparece com 11%
Ciro Gomes registra 9%
Jair Bolsonaro durante seu 1º desfile num 7 de Setembro como presidente da República Sergio Lima/Poder360 - 7.set.2019

18.out.2019 (sexta-feira) - 7h46
atualizado: 18.out.2019 (sexta-feira) - 16h13
Jair Bolsonaro lidera a disputa para as eleições presidenciais de 2022 apesar de passar por 1 momento de turbulência em seu partido, o PSL. O atual presidente da República conta com 34% das intenções de voto. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) tem 17%. Em seguida aparecem o apresentador de TV Luciano Huck (sem partido), com 11%, e o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), com 9%.
João Amoêdo (Novo) fica em 5º lugar com 5% das intenções. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aparece logo em seguida com 3%.
Há ainda 10% dos eleitores que não escolheram nenhum candidato. Outros 7% não iriam votar ou dizem não saber responder. Nulos e brancos somam 5%. Leia aqui a íntegra do estudo.
Os dados foram divulgados nesta 6ª feira (18.out.2019) pela revista Veja e foram sondados pela FSB. A pesquisa foi feita por telefone com 2.000 eleitores de 11 a 14 de outubro de 2019 em todos os Estados. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.
Eis os outros 2 cenários de 1º turno:

2º TURNO

Segundo o levantamento da FSB, Bolsonaro empata na margem de erro com Huck (38% a 34%) e seu ministro da Justiça, Sergio Moro (38% para o ex-juiz da Lava Jato contra 34% para o militar).

Aprovação: segue estável

A pesquisa mostra que 33% aprovam o governo Bolsonaro, contra 30% da pesquisa anterior, em agosto. A rejeição ficou em 37%; no último levantamento era de 35%

sábado, 15 de dezembro de 2018

Agenda de Trump nao serve ao Brasil - Sandra Rios (Poder 360)

Tempos duros pela frente, entre avançar para maior prosperidade, ou continuar no pântano da mesmice. Esta economista tem a coragem de dizer o que pensa, mesmo não sendo do agrado dos novos donos do poder.
Paulo Roberto de Almeida

País não deve importar agenda de política externa de Trump, diz Sandra Rios

Distanciamento da China é ‘prejudicial’
Defende abertura econômica do país
Diretora do Cindes, Sandra Rios defende redução das tarifas de importação Acervo Pessoal 

15.dez.2018 (sábado) - 5h50
atualizado: 15.dez.2018 (sábado) - 8h45
Economista e diretora do Cindes (Centro de Estudos de Integração e Desenvolvimento), Sandra Rios, 59 anos, acredita que seria prejudicial para as relações comerciais do país embarcar na agenda de política externa do presidente dos EUA, Donald Trump.
Jair Bolsonaro (PSL) se elegeu defendendo 1 processo de abertura no mercado internacional. Declarações do militar e de membros de sua equipe, no entanto, causaram preocupações em relação a 1 possível distanciamento de parceiros comerciais como China e países árabes.
“Não faz sentido o Brasil entrar nesse movimento de transferência da embaixada em Israel para Jerusalém. Também não vale a pena entrar em disputa comercial com a China, que é o nosso principal mercado”, disse em entrevista ao Poder360.
Para ela, ir adiante com esses posicionamentos seria importar uma agenda norte-americana “sem levar em consideração que os recursos de poder e interesses dos países são muito diferentes”.
A economista criticou também a possibilidade, exposta por Bolsonaro, de o Brasil deixar o Acordo de Paris. “A agenda da sustentabilidade interessa ao país, reforça nossos interesses econômicos”, disse.
Sandra foi uma das autoras da “Carta Brasil”, documento elaborado por 112 economistas com propostas para o futuro governo. Entre os pontos destacados no texto para ampliação do comércio exterior está a redução de tarifas de importação, a busca de novos parceiros comerciais e a transformação do Mercosul em área de livre comércio.
“O Brasil deve continuar negociando acordos comerciais, mas são processos complexos e demorados (…). Em economia, não se pode esperar tanto tempo”, disse.
Para a especialista em negociações internacionais e política de comércio exterior, a incorporação do Mdic (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) ao Ministério da Economia poderá facilitar o processo de abertura. “Tem a vantagem de garantir coerência às políticas”, afirmou.
Eis o que disse a economista:
Poder360: O que acha da inclusão do Mdic no Ministério da Economia? O que deve mudar?
Sandra Rios: O lado positivo dessa mudança é que facilita a coordenação das políticas de comércio exterior. Hoje, os instrumentos de política comercial são distribuídos em diferentes ministérios, principalmente nos atuais Mdic e Fazenda. E eles costumam ter visões distintas sobre política comercial, abertura, necessidade de proteger 1 ou outro setor. É claro que é uma mudança muito grande e há riscos operacionais, mas acho que tem a vantagem de garantir coerência às políticas.
Qual o cenário hoje no Brasil em termos de comércio exterior?  
A última reforma comercial relevante foi feita na 1ª metade da década de 1990. Naquela época, abrimos a economia, negociamos o Mercosul e deixamos o país mais ou menos em linha com o que a maior parte dos países em desenvolvimento estava fazendo. A partir de 1995 não houve mais nenhum movimento de abertura e, ao contrário, a partir de 2008 1 conjunto de medidas acabou aumentando a proteção à indústria nacional. Isso teve 1 impacto importante sobre a evolução da produtividade e nossa capacidade de competir no mercado internacional.
O que é fundamental agora é atualizar a nossa política comercial para ficarmos mais em linha com outros países em desenvolvimento de grande porte, como Indonésia e México.
Quais são os principais itens dessa agenda?
O 1º elemento é a redução da tarifa de importação, levar o país a padrões de outros países em desenvolvimento. Essa reforma é muita vezes combatida com o argumento de que é melhor abrir a economia negociando acordos comerciais, porque aí você abre o mercado, mas ao mesmo tempo ganha mais acesso ao mercado exportador.
Achamos que o Brasil deve continuar negociando acordos comerciais, mas são processos complexos, demorados. Estamos negociando com a União Europeia, por exemplo, há mais de 20 anos. O acordo ainda não foi concluído e acho que não vai sair tão cedo.
Em economia, não se pode esperar tanto tempo. Ninguém está falando em eliminar tarifas de importação, mas reduzir 1 pouco os níveis para tornar a estrutura mais racional enquanto se negocia acordos comerciais.
Na Carta Brasil, vocês falam na busca de novos parceiros comerciais. O que o país deve procurar nesses acordos? De quais países deveria se aproximar? 
Um critério importante é a relevância do parceiro. Nos últimos anos, mais notadamente a partir de 2010, a gente concluiu acordos que não vão promover nenhuma mudança na nossa estrutura produtiva e capacidade de competir. O acordo com a UE, esse sim, se fosse implementado, faria com que sentíssemos uma mudança grande no futuro.
O país deve buscar parceiros relevantes, que tenham oferta complementar à nossa. Isso vale, por exemplo, para EUA, Canadá, Japão e Índia. Mas em todos esses casos são negociações complexas.
Quais mudanças defende em relação ao Mercosul?
O Mercosul foi criado como uma união aduaneira. Mas desde o início ficaram evidentes as dificuldades de se implementar o modelo que, em teoria, é superior em termos de integração comercial. Se pudesse funcionar assim, seria ótimo.
Só que os países têm estruturas produtivas diferentes, prioridades diferentes e o que aconteceu foi que se estabeleceu regimes de exceção que foram aumentando com o tempo. Além disso, os países, principalmente Brasil e Argentina, colocaram barreiras ao comércio intrabloco. Assim, não avançamos em vários pontos.
A questão é se vale a pena manter o modelo de união aduaneira, que toma muito tempo das negociações. Nossa visão é que é melhor colocar a atenção nas questões relacionadas à área de livre comércio.
Declarações de Bolsonaro em relação a Israel e China, por exemplo, causaram dúvidas sobre o futuro das relações comerciais. Há preocupação nesse sentido? 
As declarações me parecem equivocadas. Não faz sentido o Brasil entrar nesse movimento de transferência da embaixada em Israel para Jerusalém. Também não vale a pena entrar em disputa comercial com a China, que é o nosso principal mercado. É uma importação da agenda do Trump sem levar em consideração que os recursos de poder e interesses dos países são muito diferentes.
No caso da China, é claro que isso foi provocado também pela percepção de que o país está investindo em setores estratégicos do Brasil, mas mesmo que a gente se aproxime dos EUA, o que acho importante, não vamos vender para eles os produtos que vendemos para a China.
Tem também a questão da retirada do Brasil do Acordo de Paris, que vejo como outro equívoco. A agenda da sustentabilidade interessa ao país, reforça nossos interesses econômicos.
O futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, deu declarações controversas em relação a questões diplomáticas. Qual sua visão sobre a indicação?
O que preocupa são manifestações no sentido de distanciamento do Brasil de organismos multilaterais. Há críticas do governo eleito, por exemplo, à participação da OMC (Organização Mundial do Comércio) na nossa agenda de política comercial, mas a instituição é muito importante para 1 país como o Brasil, que tem pequena participação no mercado internacional e exporta produtos agrícolas, cuja regulação se dá basicamente na OMC.
Qual a sua avaliação do que foi apresentado até agora pela equipe do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, em relação ao comércio exterior?
O que vem sendo ventilado é de abertura em diversas frentes. Parece positivo, mas ainda não temos detalhes.