As fotografias raras de Robert Capa na Guerra Civil Espanhola estão em
São Paulo
Exposição do mestre do fotojornalismo de
guerra registra um conflito dramático do século XX
Robert Capa em um de seus retratos mais
difundidos.
O grande mestre do fotojornalismo de
guerra, o húngaro Robert Capa (1913-1954), um
revolucionário da fotografia contemporânea, ganhou pela primeira vez (só) cinco
anos atrás uma ampla exposição de seu trabalho original. Durante esse tempo,
ela viajou por cinco países, sempre com um sucesso tremendo, e, agora,
finalmente aterrissa no Brasil. A Valise Mexicana: a redescoberta dos negativos da Guerra
Civil Espanhola de Capa, Taro e Chim, em cartaz na Caixa
Cultural de São Paulo de 23 de julho a 2 de outubro, traz aos olhos paulistanos
as imagens que Capa fez do conflito espanhol (1936-39) ao lado de seus
parceiros Gerda Taro (1910-1937) e David ‘Chim’ Seymour (1911-1956). São
fotografias únicas: históricas, artísticas e raras de ser vistas em seu
contexto original.
Por isso, quem estiver na cidade deve aproveitar. São 4.500 negativos,
que formam a tal Valise mexicana e que
permaneceram desaparecidos por décadas, até serem recuperados na década de 1990
no México e, anos depois, arquivados com toda a importância merecida peloInternational Center of
Photography (ICP) – fundado em Nova York pelo irmão de Capa,
Cornell, que os recebeu em 2007 depois de uma busca incansável.
A história é que Capa mantinha um estúdio em Paris, para onde foi com
Gerda, sua esposa, seguindo o rastro de Chim, o primeiro do grupo (todos judeus
esquerdistas e exilados) a tentar a vida na França como fotógrafo, já que na
Alemanha o nazismo estava em ascensão. Os três viram na Guerra Civil Espanhola uma oportunidade
de trabalhar e ter destaque profissional. Em 1939, ano em que termina o
conflito espanhol, estoura a Segunda Guerra Mundial, e Paris está na iminência
de ser invadida pelo exército alemão. A pessoa responsável pelo estúdio naquele
então embala o material e o entrega alguém de quem não se teve notícias por
tempos. Até que Cornell os recuperou.
Refugiados andando na praia. Campo de
internação francês para exilados republicanos, Le Barcarès, França. Março de
1939. ROBERT
CAPA INTERNATIONAL CENTER OF PHOTOGRAPHY / MAGNUM
Nas fotos enfim resgatadas e agora expostas na Caixa Cultural, o que se
vê é Capa e seus companheiros experimentando o estilo pelo qual ficariam consagrados,
com fotos levemente tremidas, mais verossímeis que as nítidas no caso de
conflitos, e tiradas quase sempre junto às cenas, como explica umareportagem da Ilustríssima sobre
o mestre lançado à fama graças a um perfil publicado pela revista Picture Post.
Mulher amamentando e escutando um
discurso político perto de Badajoz, Espanha, maio de 1936. CHIMESTATE OF DAVID
SEYMOUR / MAGNUM
Vivendo essa vida imersa no perigo, os três fotógrafos, cujos nomes
verdadeiros eram outros (Capa se chamava, na realidade, Endre Friedmann, Gerda
era Gerta Phorylle e David, Dawid Szymin), morreram em ação. Gerda foi
atropelada por um tanque na Espanha em 1937, Capa pisou em uma mina na
Indochina em 1954 e Chim levou um tiro quando cobria a Guerra do Suez, em 1956.
Talvez não sobre dizer que seus legados vivem eternamente.
A Guerra Civil Espanhola teve início em
1936 após a sublevação de parte do Exército contra contra o Governo da época.
Durou quase quatro anos e terminou com a vitória dos militares que levou o
ditador Francisco Franco ao poder. Foi um dos
momentos mais dramáticos do século XX. Em 2016, completa 80 anos.