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domingo, 5 de janeiro de 2020

Conflito EUA-Irã: generais Santos Cruz e Santa Rosa contra a adesão aos EUA

Generais Santos Cruz e Santa Rosa: Brasil deve ficar neutro em conflito

Depois do general Sérgio Etchegoyen comentar ao jornalista Tales Faria o ataque americano que matou o iraniano Qassim Suleimani, dois outros generais falaram à coluna sobre o assunto. Maynard Santa Rosa e Carlos Alberto dos Santos Cruz, ambos ex-integrantes do governo do presidente Jair Bolsonaro, defendem que o Brasil deve manter a neutralidade em relação ao conflito entre Estados Unidos e Irã.
Ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Santos Cruz afirma, em texto enviado à coluna (leia a íntegra abaixo), que estimular a resolução pacífica dos confrontos é uma tradição brasileira. "Qualquer posicionamento, nesse caso, fora da neutralidade e imparcialidade é falta de noção de consequência e irresponsabilidade", escreveu ele.
Em breve entrevista (leia a integra abaixo), o general Santa Rosa, que até o início de novembro era o responsável pela Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Bolsonaro, diz não enxergar risco direto para o Brasil, por ser um país que tem boa relação com as duas partes. A atual postura de proximidade ao governo americano não seria um problema. "Esse alinhamento é mais um discurso do que uma práxis", analisa Santa Rosa.
Os dois generais da reserva, que estão entre os mais experientes e respeitados do Exército Brasileiro, também analisaram o contexto politico-econômico do ataque.
A seguir, a entrevista de Santa Rosa e o texto de Santos Cruz:

ENTREVISTA DO GENERAL MAYNARD SANTA ROSA
UOL - Como o sr. interpreta o ataque americano que matou o general iraniano Suleimani em solo iraquiano?
General Santa Rosa - Do ponto de vista estratégico, vejo o incidente como uma forma de os Estados Unidos voltarem a exercer protagonismo e a ocupar um espaço midiático na região, perdido para a Rússia e a China, após o revés sofrido na Síria e o fiasco político no Iraque.
Quais os riscos para o Brasil?
Não há risco direto para o Brasil. Temos bom relacionamento com ambas as partes.
Mesmo com nosso atual alinhamento diplomático com os Estados Unidos?
Esse alinhamento é mais um discurso do que uma práxis.
O efeito será global, pela desestabilização causada. Pode haver reflexos no preço do petróleo, afetando o interesse chinês. Pode refletir-se na Turquia, colocando Erdogan em cheque. Mas, favorece a Arábia Saudita e seus aliados sunitas.
Qual a avaliação do posicionamento do governo Bolsonaro sobre o assunto, até aqui?
A melhor estratégia deveria ser o silêncio.
O melhor termômetro para medir a crise será a posição de Putin. Até o momento, permanece enigmática.

TEXTO DO GENERAL CARLOS ALBERTO DOS SANTOS CRUZ
Esse ataque dos Estados Unidos que matou o general Suleimani, sem dúvida deve gerar reações da parte iraniana, que não precisam necessariamente ser imediatas. As animosidades entre os dois países já são antigas e esse tipo de escalada de conflito sempre tem consequências ruins.
Para o Brasil, as reações imediatas em bolsas de valores e preço do petróleo por exemplo, são absolutamente normais e possíveis de administração sem nenhum problema mais significativo. Normalmente essas alterações são passageiras e perfeitamente administráveis. Também não acredito que os dois países vão entrar numa guerra clássica de alta intensidade. A comunidade internacional toda está empenhada em solicitar cautela.
Os atritos e os conflitos entre EUA e Irã já têm uma longa história, que começa depois da Revolução Islâmica em 1979 quando foi retirado do poder o Mohammed Reza Palhavi. O Brasil jamais tomou partido nessa animosidade. Não tem razões para isso.
O nosso país tem excelentes relações com EUA e Irã e o melhor caminho é a neutralidade e a imparcialidade no caso. A participação do Brasil é importante para somar sua voz à comunidade internacional que se manifesta pelo equilíbrio, pelo bom senso e pela desescalada do conflito.
Isso não é pela preservação de relações comerciais do Brasil. As manifestações por uma solução pacífica devem ser genuinamente pelo desejo do Brasil de sempre colaborar com a paz mundial e de estimular a resolução pacífica de conflitos. Essa é a nossa tradição e característica. Qualquer posicionamento, nesse caso, fora da neutralidade e da imparcialidade é falta de noção de consequência e irresponsabilidade.