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quarta-feira, 1 de setembro de 2021

General Santos Cruz: defesa da democracia - O Estado de S. Paulo

 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

O governo, a população e as Forças Armadas

O general Carlos Alberto dos Santos Cruz é um dos militares brasileiros mais respeitados, sendo um dos poucos que realmente tem experiência de combate. Em todas as suas missões desempenhou-se com os padrões mais altos de excelência sendo um exemplo para todos os seus pares.


Da Wikipédia, as referências abaixo:
Diverge de Bolsonaro e tem sido uma das vozes mais ativas na defesa do papel institucional e constitucional das Forças Armadas.

No artigo abaixo, publicado no Estadão no dia 29/08, domingo, mostra o seu pensamento claro em defesa do Estado Democrático de Direito, exatamente no momento em que Bolsonaro convoca para o dia 7 de setembro manifestações com o claro objetivo de tentar arrastar as Forças Armadas para uma aventura golpista.


General Carlos Alberto dos Santos Cruz (*)

O Estado de S.Paulo, Opinião

29 de agosto de 2021 

O presidente da República, senadores, deputados, prefeitos e vereadores são eleitos para assumirem suas responsabilidades e fazer o que é possível dentro da lei. O governo é eleito para governar e reforçar o regime democrático por meio do aperfeiçoamento das instituições, promover a paz social e o respeito pessoal, funcional e institucional.

Nenhuma autoridade pode ser agente de desmoralização e de enfraquecimento das estruturas existentes, promover fanfarronices, factoides, passeios com dinheiro público e alegar que não o deixam trabalhar. O populismo, a demagogia e a agitação social não podem ser praticados por autoridades.

A população, pelo voto, elege a pessoa e legitima a autoridade. Na democracia, o equilíbrio existe por uma dinâmica de forças entre os Poderes e outros núcleos de influência. As disputas e os conflitos são resolvidos dentro da legislação vigente. Também podem ser propostas modificações nas leis, dentro das normas e dos procedimentos que devem ser respeitados. Quando o equilíbrio é instável ou rompido, ele tem de ser restabelecido também de acordo com a lei.

Todas as manifestações públicas dentro da lei são válidas e importantes. Elas fazem parte do ambiente democrático, da liberdade de expressão e do jogo de pressões. O estímulo a soluções de força, fora da lei, com risco de violência, é criminoso e covarde. Aqueles que se perdem em suas ações têm de arcar com as consequências legais. Normalmente os extremistas, os incitadores da violência, desaparecem e ficam impunes, pois são covardes na sua essência. As pessoas, na sua luta por aquilo em que acreditam, seja qual for a linha, não devem cair na armadilha dos covardes, dos irresponsáveis e dos inconsequentes.

A convocação de manifestações não pode ser para transferir responsabilidades para a população, para outros Poderes, instituições, e para as Forças Armadas. Isso é falta de coragem funcional. A responsabilidade é intransferível.

É difícil definir democracia. É mais fácil observar algumas de suas características, como o respeito, a liberdade, as eleições periódicas, a igualdade, a dignidade, etc. Uma das expressões mais famosas é a de que a democracia é o “governo do povo, pelo povo, para o povo”. Isso é fundamento conceitual. Na prática, a responsabilidade governamental é transformar essa abstração em realidade com ações dentro da lei, que foi feita pelo povo, por intermédio de seus representantes, ao longo do tempo. As leis sempre podem ser melhoradas, aperfeiçoadas e ajustadas aos tempos atuais, dentro da ordem legal. Fora disso é fuga da responsabilidade, demagogia, populismo, assembleísmo.

Uma manifestação, mesmo que numerosa, com toda a sua validade, não representa a vontade de um povo inteiro. O que representa a vontade de um povo, na democracia, é o voto, que pressupõe, de antemão, o respeito à decisão da maioria.

É desrespeito às instituições militares inventar falsas justificativas e interpretações de conveniência para empurrar seguidores a pedirem intervenção de Forças Armadas (FAs), usar o prestígio e o poder militar como instrumento de intimidação e pressão política, para atingir objetivos de poder pessoal e de grupos. As FAs não podem ser exploradas e desgastadas por interesse político.

Deturpar o artigo 142 da Constituição federal é artimanha e demagogia. Não é verdade que as FAs sejam garantidoras da independência e da harmonia entre os Poderes. Não é isso o que diz a Carta Magna. Não existe nenhuma pista no artigo 142 que ampare essa interpretação. Também não existe nenhuma legitimidade em considerar as FAs “poder moderador” por conta de qualquer narrativa de conveniência. As FAs existem para a defesa da Pátria, para a garantia dos Poderes constitucionais, da lei e da ordem. Não cabe no Brasil atual a ideia de interferência de FAs no funcionamento e exercício dos Poderes da República.

Não estamos na guerra fria, no pós-2.ª Guerra Mundial. Estamos em 2021. O Brasil não vive uma opção única entre a ameaça de caos e um “salvador da pátria”, uma disputa entre amigos e inimigos, direita x esquerda. Isso é manipulação da opinião pública e a redução do nosso país à mediocridade da divisão social binária. Os problemas reais de nosso povo são a corrupção persistente, a fome, o desemprego, a falta de saúde pública, de educação, de segurança pública, de aplicação da lei, a desigualdade social e os privilégios imorais.

Extremos de qualquer matiz não podem impor suas agendas. Aventureiros não podem ser tolerados.

A Constituição e a legislação têm todos os recursos para encaminhar soluções legais. A manutenção ininterrupta de campanha política, de conflito permanente, causa prejuízo à paz social e insegurança, com consequências negativas principalmente para as atividades econômicas e para a vida dos mais necessitados. O governo precisa é transmitir equilíbrio, paz social, cumprir as leis, dar atenção aos principais problemas e exercitar a habilidade política nas disputas.

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(*) GENERAL DA RESERVA, FOI MINISTRO DA SECRETARIA DE GOVERNO

sexta-feira, 27 de março de 2020

Mensagem do General Carlos Alberto dos Santos Cruz: Corona Vírus, Liderança e Coordenação

Mensagem do General Carlos Alberto dos Santos Cruz, sobre o momento presente.
Paulo Roberto de Almeida

General Santos Cruz
5 h
CORONA VÍRUS – LIDERANÇA E COORDENAÇÃO
Pandemia do corona vírus - a responsabilidade é de todos e não só dos governos (federal, estaduais e municipais). As opções são difíceis e complexas. Elas exigem participação individual e coletiva. A crise é mundial. Recai sobre todos uma grande responsabilidade, principalmente sobre os governos, que precisam coordenar, orientar e regular todas as áreas. O ministério da saúde, desde o início, vem mantendo uma linha confiável, transmitindo tranquilidade, realismo e conhecimento. O pessoal dos setores público e privado da área de saúde têm sido exemplares.
Existe uma infinidade de opiniões pessoais, já que o problema é novo há muitas informações divergentes e até algumas falsas na mídia. Isso exige clareza, preparo e segurança nas informações oficiais. A vida das pessoas e a normalidade da vida do país estão afetadas e em risco. Nesse contexto é preciso liderança, coordenação, equilíbrio, flexibilidade e método decisório.
O apoio político à área técnica é fundamental. É hora de estar acima das disputas partidárias, ideológicas, eleitoreiras e de unir os governadores, prefeitos, poderes Executivo, Legislativo, Judiciário, empresariado, população. É importante confiar na área técnica, discutir as opções internamente na área governamental e, após decidir, preservando a flexibilidade, prestigiar as recomendações, ter uma coordenação de governo, transmitir tranquilidade, equilíbrio, coerência e exemplo.
Discussões públicas e contradições mostram falta de coordenação e não trazem a tranquilidade e a paz necessárias para a população enfrentar este período difícil. É na dificuldade que a liderança emerge. O líder tem que transmitir uma orientação segura, serena, exemplar e tem de prestigiar seus assessores, tem que assumir a responsabilidade de todo o processo. As mudanças e adaptações que a dinâmica impõe precisam ser dirigidas com mão segura pelo líder. A hora é crítica, pois afeta a vida das pessoas e todos os campos da vida nacional. A liderança, nesse momento crítico, exige percepção, calma e sensibilidade. Tem que ter bom senso, autoconfiança e humildade para tentar recuperar o tempo perdido.
Carlos Alberto dos Santos Cruz

domingo, 5 de janeiro de 2020

Conflito EUA-Irã: generais Santos Cruz e Santa Rosa contra a adesão aos EUA

Generais Santos Cruz e Santa Rosa: Brasil deve ficar neutro em conflito

Depois do general Sérgio Etchegoyen comentar ao jornalista Tales Faria o ataque americano que matou o iraniano Qassim Suleimani, dois outros generais falaram à coluna sobre o assunto. Maynard Santa Rosa e Carlos Alberto dos Santos Cruz, ambos ex-integrantes do governo do presidente Jair Bolsonaro, defendem que o Brasil deve manter a neutralidade em relação ao conflito entre Estados Unidos e Irã.
Ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência, Santos Cruz afirma, em texto enviado à coluna (leia a íntegra abaixo), que estimular a resolução pacífica dos confrontos é uma tradição brasileira. "Qualquer posicionamento, nesse caso, fora da neutralidade e imparcialidade é falta de noção de consequência e irresponsabilidade", escreveu ele.
Em breve entrevista (leia a integra abaixo), o general Santa Rosa, que até o início de novembro era o responsável pela Secretaria de Assuntos Estratégicos do governo Bolsonaro, diz não enxergar risco direto para o Brasil, por ser um país que tem boa relação com as duas partes. A atual postura de proximidade ao governo americano não seria um problema. "Esse alinhamento é mais um discurso do que uma práxis", analisa Santa Rosa.
Os dois generais da reserva, que estão entre os mais experientes e respeitados do Exército Brasileiro, também analisaram o contexto politico-econômico do ataque.
A seguir, a entrevista de Santa Rosa e o texto de Santos Cruz:

ENTREVISTA DO GENERAL MAYNARD SANTA ROSA
UOL - Como o sr. interpreta o ataque americano que matou o general iraniano Suleimani em solo iraquiano?
General Santa Rosa - Do ponto de vista estratégico, vejo o incidente como uma forma de os Estados Unidos voltarem a exercer protagonismo e a ocupar um espaço midiático na região, perdido para a Rússia e a China, após o revés sofrido na Síria e o fiasco político no Iraque.
Quais os riscos para o Brasil?
Não há risco direto para o Brasil. Temos bom relacionamento com ambas as partes.
Mesmo com nosso atual alinhamento diplomático com os Estados Unidos?
Esse alinhamento é mais um discurso do que uma práxis.
O efeito será global, pela desestabilização causada. Pode haver reflexos no preço do petróleo, afetando o interesse chinês. Pode refletir-se na Turquia, colocando Erdogan em cheque. Mas, favorece a Arábia Saudita e seus aliados sunitas.
Qual a avaliação do posicionamento do governo Bolsonaro sobre o assunto, até aqui?
A melhor estratégia deveria ser o silêncio.
O melhor termômetro para medir a crise será a posição de Putin. Até o momento, permanece enigmática.

TEXTO DO GENERAL CARLOS ALBERTO DOS SANTOS CRUZ
Esse ataque dos Estados Unidos que matou o general Suleimani, sem dúvida deve gerar reações da parte iraniana, que não precisam necessariamente ser imediatas. As animosidades entre os dois países já são antigas e esse tipo de escalada de conflito sempre tem consequências ruins.
Para o Brasil, as reações imediatas em bolsas de valores e preço do petróleo por exemplo, são absolutamente normais e possíveis de administração sem nenhum problema mais significativo. Normalmente essas alterações são passageiras e perfeitamente administráveis. Também não acredito que os dois países vão entrar numa guerra clássica de alta intensidade. A comunidade internacional toda está empenhada em solicitar cautela.
Os atritos e os conflitos entre EUA e Irã já têm uma longa história, que começa depois da Revolução Islâmica em 1979 quando foi retirado do poder o Mohammed Reza Palhavi. O Brasil jamais tomou partido nessa animosidade. Não tem razões para isso.
O nosso país tem excelentes relações com EUA e Irã e o melhor caminho é a neutralidade e a imparcialidade no caso. A participação do Brasil é importante para somar sua voz à comunidade internacional que se manifesta pelo equilíbrio, pelo bom senso e pela desescalada do conflito.
Isso não é pela preservação de relações comerciais do Brasil. As manifestações por uma solução pacífica devem ser genuinamente pelo desejo do Brasil de sempre colaborar com a paz mundial e de estimular a resolução pacífica de conflitos. Essa é a nossa tradição e característica. Qualquer posicionamento, nesse caso, fora da neutralidade e da imparcialidade é falta de noção de consequência e irresponsabilidade.