O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador Toronto. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Toronto. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Across the Empire, 2014 (24): Toronto: cultura e pequenos prazeres...


Across the Empire, 2014 (24): Toronto: cultura e pequenos prazeres...

Paulo Roberto de Almeida

Toronto estava em festa neste fim de semana, inclusive com a praça do Legislativo fechada para as comemorações da batalha de York, contra os americanos. Em todo caso, preferimos passar o dia no que estava programado para esta cidade: a visita ao novo museu das imediações, Aga Khan, como já antecipado.

Não vou resumir aqui a história do homem ou de sua religião, pois todos podem encontrar muita informação sobre tudo isso, e sobre o museu, na internet. Em todo caso, uma recomendação: Carmen Lícia comprou este livro, que detalha a história dos ismaelitas. Custou exatamente 85 dólares canadenses na lojinha do museu e é um livro imponente (mais 11,05 de imposto, ou seja, um total de $ 96,05).
Eu conheci um pouco da história dos ismaelitas por circunstâncias fortuitas: em 1971 ou 1972, eu estudando na Bélgica, aquele ditador de circo chamado Ido Amin Dada – uma espécie de predecessor do Hugo Chávez – para compensar sua absoluta incompetência em matéria econômica – exatamente como o Chávez, aliás – resolveu encontrar um bode expiatório a quem culpar pelos problemas econômicos que ele mesmo criou em Uganda: resolveu então expulsar todos os imigrantes da época inglesa, que em geral eram trabalhadores do subcontinente indiano, entre eles paquistaneses da seita ismaelita. Algumas dezenas, ou centenas, foram parar na Bélgica. Conheci então uma jovem ismaelita, cujo nome nunca esqueci – por uma razão muito simples, ela se chamava Ruhina – e que me relatou a história de sua família e da imigração de seus antepassados para Uganda, inclusive pormenores da seita ismaili, já com menções a Aga Khan, o benfeitor da comunidade. Muito simpática, e nos entendíamos numa mistura de inglês e de francês, o que bastava para aferir o drama imenso daquelas milhares de família que tiveram, do dia para a noite, abandonar tudo, para buscar uma nova vida em outros países. Imagino como deve ter sido a expulsão dos judeus e dos mouros da península ibérica, a de vários outros povos submetidos a ditadores sanguinários – como Hitler, Stalin e os Castros – e fico pensando como a humanidade ainda comporta seres tão primitivos quanto esses brutos. Mas voltemos ao museu Aga Khan
O museu tinha de tudo o que pessoas cultas podem desejar: exposições de alta qualidade, música ao vivo, uma lojinha muito diversificada (onde comprei uma gravata de seda manufaturada com a temática do museu, bastante cara, por sinal) e Carmen Lícia comprou vários livros, além de um par de brincos na mesma temática, aliás que combinam com um colar que compramos no museu de Detroit, também muito bonito), pessoal simpático, instalações muito confortáveis, com garagem subterrânea (totalmente indispensável num país que neva 1 metro de altura, com 40 negativos). Recomendo altamente, como aliás Carmen Lícia, que aparece nesta foto sorridente.
Endereço para os distraídos: 77 Winford Drive, Toronto, ON M3C 1K1. 
Fizemos dezenas de fotos, Carmen Lícia provavelmente mais de duas centenas, de todos os objetos interessantes fotografáveis, com plaquetas informativas bilíngues.
Eu apareço na companhia deste barbudo, que é o Fathali Shah Qajar, um governante iraniano (ou persa) do início do século 19.
Carmen Lícia preferiu ficar entre esse casal de príncipes iranianos do mesmo período.

Os iranianos, ou persas, nunca foram fundamentalistas, em matéria de religião, de arte, de música, de poesia, e até de afinidades etílicas que seriam condenadas em outras partes, pelo menos até chegar o bando de bárbaros guiados pelo Khomeiny.
Depois do museu, fomos ainda ao centro religioso, ao lado, e que aparece nesta foto escura que fiz ao cair da tarde. 

Estavam preparando uma reunião religiosa, mas ainda assim pude sentar na pequena biblioteca do local, para folhear este Atlas que fiquei com vontade de comprar, mas acabei não achando na lojinha do museu, quando voltamos a ele.

Carmen Lícia também viu frustrado seu desejo de comprar um sexto ou sétimo livro, que também folheou na biblioteca, mas que tampouco estava disponível no momento. Este aqui. Fica para encomendas na Amazon ou na Abebooks.

Depois, ainda percorremos a cidade, indo até essa imensa torre que distingue a cidade, no mesmo modelo da que tínhamos visto em Seattle, com o inevitável restaurante circular, etc.

Carmen Lícia me fotografou na fonte-cascata em frente da torre, com perfis metálicos de peixes (suponho que sejam os famosos salmões do Canadá), subindo as corredeiras dos rios para desovar a montante.

Finalmente, ainda circulamos pela cidade, e sem vontade de sair para um restaurante, passamos num comércio de Fine Foods e compramos um húmus e mais alguns apetrechos para um pequeno lanche ao cair da noite. Terminei mais uma garrafa de vinho, esta que vocês veem na foto, ao lado do azeite com trufas brancas, que ainda perfumou o meu húmus com alho grelhado e cebola...
Agora estou degustando uma legítima Miller, uma das cervejas mais famosas da região, enquanto termino de redigir estas notas.
Amanhã, ou dentro de algumas horas, empreendemos o caminho de volta, não sem antes passar novamente por Corning, onde está o maior museu do vidro do mundo.
Depois conto...

Paulo Roberto de Almeida
Toronto, 21 de setembro de 2014

domingo, 21 de setembro de 2014

Across the Empire, 2014 (23): de Detroit a Toronto, só turismo e gastronomia



Across the Empire, 2014 (23): de Detroit a Toronto, só turismo e gastronomia

Paulo Roberto de Almeida

Sábado, 20/09: depois de dois dias em Toronto, uma bela cidade falida, mas dotada de um museu excepcional, voltamos ao menu costumeiro, estradas, no caso só uma, a 401, de Windsor, na fronteira, até Toronto, onde chegamos pouco antes das 18hs, depois de alguma gastronomia pelo caminho.
Como tínhamos saído tarde de Detroit, e ainda desviados do roteiro normal por causa de uma jornada bicicleteira na cidade, que bloqueou várias ruas, acabamos parando logo depois de atravessar a Ambassador Bridge, para almoçar num restaurante italiano de Windsor: Armando’s. Eu, com mais fome do que Carmen Lícia (mas sempre é assim), comecei com uma salada Caprese (tamanho família) e depois desisti do vitelo a parmegiana, para não ficar comida demais, pois todos os pratos eram enormes. Comi apenas uma pizza Margheritta, e ainda assim sem as bordas. Carmen Lícia ficou com seus calamari fritti, que sempre apreciou. Ambos com uma taça de Valpolicella, mas eu sempre acabo tomando metade do dela.
Conclusão: vim meio sonado na estrada para Toronto, o que nunca é recomendável... Mas viajamos bem, com alguns pontos de engarrafamento aqui e ali.
Fomo diretos ao Museu Aga Khan, nosso objetivo principal na cidade, pois ele acabava de ser inaugurado (na quinta, 18/09). Não para visitar, pois já era tarde, mas para comprar os tickets de ingresso, para garantir a visita neste domingo (aliás hoje). Acabei fazendo algumas fotos do museu, entre elas estas duas.


Depois fomos à inglória tarefa de encontrar um hotel na cidade, num fim de semana de festas em Toronto, com todos os hotéis lotados. Depois de passar por dois ou três, encontramos, a preços extorsivos, no Ramada, da Jarvis Street, não muito longe do centro, com a vantagem de ter garagem fechada. Tive de pagar um apartamento de dois quartos, com duas imensas camas tamanho king size, pelo direito de dormir, pois do contrário talvez tivéssemos de sair da cidade. Deixamos os pertences no quarto e saímos novamente pela cidade.
A razão da lotação dos hotéis se prende à festa comemorativa da guerra de 1813, contra os americanos, que por uma vez os canadenses ganharam, garantido a posse de alguns territórios em torno dos grandes lagos (mas alguns principais ficaram com os imperialistas desde criancinhas, como escreveria Moniz Bandeira. Fort York e Toronto estarão em festas neste fim de semana, e isso vai atrapalhar um pouco a circulação do que pretendemos fazer no domingo, que é visitar museus, e flanar pela cidade.
Antes de voltar ao Hotel, compramos queijo de cabra, torradas, duas garrafas de vinho (das pequenas, ou seja, meia garrafa) e mais duas cervejas para mim. Nosso jantar, pois, foi queijo e vinho, e confesso que liquidei todo o queijo (CL ficou com uma parte de Asterix, eu fiquei com a do Obelix) e toda a meia garrafa de Cabernet Sauvignon chileno, deixando o italiano para amanhã (ou hoje, domingo).
Nada mais tendo a declarar, mas tendo dois jornais para ler, o Wall Street, velho jornal que os companheiros definiriam como sendo do capital financeiro monopolista e dos especuladores de Wall Street, e um jornal local, The National Post, ambos com matérias interessantes, sobre Escócia, Estado Islâmico, Ucrânia, aquecimento global, enfim, essas coisas sem importância que só existem para atrapalhar grandes reflexões intelectuais, e perturbar nossa paz cotidiana.
Amanhã temos muita coisa para fazer, aliás até segunda-feira, quando pensamos iniciar o roteiro de volta, mas passando em Corning, NY, onde está o maior museu do vidro do mundo, sem brincadeira. Já tínhamos visitado no ano passado, mas esse vale uma nova visita.

Paulo Roberto de Almeida
Toronto, 21 de setembro de 2014

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Toronto: museu Aga Khan, uma visita incontornavel, para concluir um tour na America do Norte

Vamos ajustar, Carmen Lícia e eu, nossa volta da costa do Pacífico, no próximo mês de Setembro, para poder visitar essa maravilha.
Paulo Roberto de Almeida
The Ismaili Centre at the Aga Khan Museum. (Tom Arban)

Building on faith: Inside Toronto’s new Aga Khan Museum, designed by the world’s leading architects

All photos by Tom Arban

A majestic structure in a plain Toronto suburb, the ambitious Aga Khan Museum pays tribute to an ancient culture by setting a new standard in contemporary design, Alex Bozikovic writes.

If you have driven north along the Don Valley Parkway, one of Toronto’s major highways, you may have glimpsed a mysterious sight as you leave the downtown. Since 2010, two handsome monoliths have been rising next to the highway in the Don Mills neighbourhood. One is a torqued box of glimmering white stone; the other, a pale limestone disc capped by a crystalline blue dome.
These mysterious volumes are two of Canada’s most remarkable new buildings. In September they will open as the Aga Khan Museum, a celebration of Islamic art and culture, and a new community centre and prayer hall for Ismaili Muslims.
This 17-acre campus will be a special place, not only for the region’s Ismailis but also for the city and for the country. And it may alter Toronto’s cultural map as well.
There’s no question it is worth the 13-kilometre trip from the downtown core. The museum and Ismaili Centre buildings, both inflected by Islamic traditions in architecture and art, are designed by architects of global stature: Japanese Pritzker Prize-winner Fumihiko Maki and Indian modernist Charles Correa, together with Toronto’s Moriyama & Teshima Architects. The surrounding 10 acres of public gardens were created by Lebanese landscape architect Vladimir Djurovic as a contemporary take on Persian Islamic gardens.
The complex is the work of the Aga Khan Development Network, a group of international development organizations and social enterprises overseen by the Aga Khan, spiritual leader of the globe’s 15 million Ismailis and a worldly figure who is a champion of pluralism, a noted breeder of racehorses and a serious patron of architecture.
When I toured the site recently, it was being polished to its final readiness. In the gardens, workers were adjusting the black-granite surfaces of the reflecting pools to make them perfectly level. A canvas-thin layer of water lapped quietly over the edges of the stone, refracting the equally smooth planes of the sky and the limestone and granite facades nearby.
For Toronto’s Ismailis, the community centre – one of only six of its kind in the world – will be a place for social and cultural events, and for prayer. For other visitors, the museum, its auditorium and the gardens will be a place to learn about the history and contemporary culture of the Islamic world.
The museum has “a very broad ambition in terms of programming and our audience,” says director Henry Kim. It aims to introduce the art, material culture and performing arts of Islamic civilizations – with artifacts largely from the Aga Khan’s family collections, spanning more than 1,000 years of history from Europe to India, and from manuscripts to contemporary dance.
The museum building is designed by Maki, who at 85 is one of the world’s leading architects. He favours a subtle language of lightweight panels and precise grids. The exterior of the 113,000-square-foot building is wrapped in white Brazilian granite, polished to a low lustre. When you run your hands across the facade, you find that every angle and cranny is precisely finished.
Within, the museum’s galleries are rational white boxes, with teak flooring and indirect light from a series of skylights scooped from the building’s roof line.
A restaurant, shop and large auditorium are arranged around a central courtyard. In the courtyard, glass walls are printed with an ornamental pattern drawn from an eight-pointed star – based on mashrabiya, the patterned wooden screens used to modulate the sun in many Middle Eastern buildings. The courtyard, too, is a common device of that region’s architecture; here it brings together the different functions of the building in a grand central promenade, caressed by the shifting tracery of the mashrabiya’s shadows.
The cultural fusion is rich, and subtle. Combined with the quality of materials – including a silky plaster that makes long expanses of wall feel like a textile – it creates a remarkable quality of place.
This is no accident. The Aga Khan, now 77, is one of the world’s most sophisticated patrons of architecture; he oversees a set of international prizes in architecture, and projects of the Aga Khan Development Network around the world include housing, urban infrastructure and historic preservation.
Daniel Teramura, a partner at Moriyama & Teshima who is overseeing the Ismaili Centre, recalls the Aga Khan, on a winter visit to the site, standing in the cold to study samples of limestone in the Don Mills daylight. “I don’t remember another client who has taken that kind of interest in the details,” Teramura says.
This project also serves an agenda of cultural diplomacy. The Aga Khan had long been seeking a site for a major museum that would showcase the collection of Islamic art and artifacts, in keeping with his and the Ismaili community’s emphasis on cross-cultural dialogue. The location in Don Mills was locked up in 2002, after the Aga Khan’s plans to build the museum in central London, across the Thames from Parliament, fell apart.
The Aga Khan’s organizations decided instead to focus on Don Mills, where the Ismaili Centre was already in the works. They bought the site of the former Bata Shoe headquarters, a significant building by the Toronto modernist office of John B. Parkin Associates. But after studying the site, the Aga Khan’s agencies decided that the building couldn’t be reused and demolished it in 2007.
That was a substantial loss, but the new complex offers more than fair compensation. The urbanity of the project is remarkable: Most of the parking is underground, in a 600-space garage, allowing most of the site to be preserved as open space.
Allowing people to wander the gardens and to “sample” the museum’s galleries and evening performances is an important part of the museum’s strategy, says Kim, who came to this project from the Ashmolean Museum at the University of Oxford. He realizes that the location of the Aga Khan Museum might be a challenge in attracting visitors. But the new Eglinton Crosstown transit line will run past its doorstep, and by car it is as easily accessible as the Ontario Science Centre, just around the corner. “What we have is a potentially very interesting cultural centre away from downtown,” he argues.
That is an exciting prospect. Don Mills once was a locus for innovation in architecture and planning, with offices and warehouse buildings designed by some of Canada’s top architects in the 1960s. That modernist legacy has been badly diluted by new buildings, but the absurdly fine quality of the museum and Ismaili Centre will set a new standard.
The Ismaili community in Toronto is also gaining a beautiful new amenity. The Ismaili Centre is the work of Correa, arguably India’s greatest contemporary architect, and the prayer hall, orjamat khana, especially, is unmatched. The space is expansive, capped with a glass roof that stretches 21 metres as it bends, weaves and reaches for the sky. This room, which will be restricted to Ismailis during times of prayer, may be the most beautiful sacred space in the country.
The rest of the centre serves secular purposes, with interiors designed mainly by Toronto’s Arriz & Co. Designer Arriz Hassam, an Ismaili whose family arrived in Canada as refugees from Uganda in 1974, fused Islamic tradition (ornate floors, inset with Turkish and Italian marble) and Canadian maple to craft a serene, spare setting. It reflects, in its details, the Ismaili experience in Canada.
“Many Islamic buildings build on societies’ local traditions,” Hassam notes. “How do you develop a building that would identify with the Ismaili community in a Canadian context? This is their home now.”
Just outside the main prayer hall is an anteroom. Here, maple slats on the walls – expressions of tasteful Canadian modernism – are interspersed with a subtle pattern that repeats again and again. It is, in calligraphic script, the name of Allah.
Follow  on Twitter: @alexbozikovic