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sábado, 2 de fevereiro de 2013

A visao "etica" do mundo dos homens sem qualquer etica: alguns comentarios pessoais...

Recebi nesta tarde, imediatamente após colocar este post neste blog,

Ecce Homo! (mas acho que ele nunca ouviu falar de Nietszche...)

um comentário que exclui do "rodapé", para promovê-lo a corpo de texto, o que deve deixar seu autor orgulhoso, embora não pelos bons motivos. Suprimo o seu nome -- que conheço de outras aventuras no espaço virtual -- para não constrangê-lo, pois acho que ele vai ficar com mais raiva deste blogueiro, ainda, com quem ele já teve entreveros lamentáveis no passado, justamente por que ele defende um mundo sem ética, um mundo feito apenas de um partido no poder, um mundo que ele vê em branco em preto, eles, os supostos "salvadores" da humanidade, e nós, os liberais -- que eles chamam estupidamente de "neoliberais", sem sequer saber o que isso significa --, ou seja, todos aqueles que não comungam de seus valores aéticos, de sua total falta de princípios, de seu oportunismo rastaquera e imoral, de seu raquitismo mental, de sua desonestidade congênita.
Eis o comentário do "herói" das causas totalitárias: 

Afff! Que texto mais estapafúrdio :D
Uma oposição que depende desta criatura que é o Reinaldo Azevedo continuará chorando o leite derramado em 2014, 2018, 2022...
Beijo para você PRA :)


Argh!!! Beijo??? Desse cara???!!! Jamais de la vie, por princípio, por escolha e... por asco.
Não vou sequer me dar ao trabalho de rechaçar seus argumentos puramente eleitoreiros, pois um indivíduo assim, como vimos, reduz o mundo a um combate entre os "bons", os "heróis" das causas operárias (e totalitárias), e todo o resto da humanidade. O texto do jornalista em questão era sobre o homem sem o qual eles não vivem, o único recurso de que dispõem para se apresentar como ganhadores, depois de 500 anos de dominação oligárquica (curioso que todos os oligarcas estão justamente com eles, desde sempre, como qualquer um pode constatar).
Este blog não tem partido nem candidatos em eleições, e se tiver um partido será simplesmente o da liberdade, o da independência de pensamento, o da recusa de se deixar levar pela falta de ética daqueles que utilizam-se de todos os meios para alcançar os seus fins, aqueles do partido único, se tal fosse possível no Brasi, em todo caso do pensamento único, que eles pensam ser progressista, ou de esquerda, mas que só consegue ser reacionário e fascista.
Indvíduos como esse ficam com raiva de espíritos libertários como o meu, e como não têm nada de inteligente a dizer, não têm nenhum argumento próprio a apresentar, ficam vigiando, como bons mercenários a soldo que são, os veículos daqueles que não comungam de suas porcas ideias (acho que eles não têm nenhuma, justamente, apenas slogans repetidos como paus mandados), de sua total falta de ética, de sua comunhão com o crime.
Eles são capazes de justificar as patifarias mais extremas de um chefe mentiroso, já que as falcatruas foram perpetradas em nome e em favor de suas causas obscuras.
Eles, que defendem todas as ditaduras, todos os oligarcas (à condição que eles estejam do seu lado, mesmo oportunisticamente), eles que justificam todos os crimes se dirigidos aos seus objetivos, esses elementos não conseguem suportar um pensamento livre, uma atitude crítica, um espírito independente. Eles são os vermes morais da humanidade, exatamente como já tinha revelado Arthur Koestler mais de 70 anos atrás, ele que era um ex-comunista, egresso de todos os combates contra a burguesia e o imperialismo, e que descobriu, a partir da guerra da Espanha e dos processos de Moscou a natureza essencial dos antigos companheiros, sua falta total de compromisso com a verdade, sua total falta de caráter, seus únicos compromissos com o partido totalitário que domina suas mentes, e os transforma em cães amestrados a serviço de qualquer causa, desde que seja aquela determinada pelo comitê central.
Esses indivíduos eu abomino, mas ao mesmo tempo eu tenho de agradecer sua constância em formular comentários amorais neste blog, pois isto me dá justamente a oportunidade de me distinguir deles, e de revelar sua verdadeira identidade aética.
Para satisfação de egos como o do comentarista em questão, que certamente vai ler esta postagem, coloco mais um artigo de seu jornalista mais odiado, não que eu tenho qualquer subordinação intelectual, ou qualquer concordância de princípio com esse jornalista, mas apenas porque ele toca nas questões reais, de uma forma competente e argumentada.
Fica para deleite do meu comentarista e como aprendizado aos mais jovens.
Paulo Roberto de Almeida

Sob a égide da ética do crime. Ou: A ética dos Renans, dos Dirceus e um livro. Ou: É permitido matar a velha a machadadas?
Reinaldo Azevedo, 1/02/2013

Renan Calheiros (PMDB-AL), reconduzido à Presidência do Senado, resolveu exibir musculatura filosófica no discurso oficial como candidato ao posto. E disparou: “A ética não é um objetivo em si mesma. O objetivo em si mesmo é o interesse nacional. A ética é meio, não é fim”. Que coisa! O candidato falava, então, em termos abstratos, conceituais, e a paixão especulativa poderia nos devolver lá a Aristóteles, passando por Kant e chegando a Espinosa — depois de devidamente desprivatizado, já que, no Brasil, Marilena Chaui se quer a intérprete oficial do autor; se a obra de Espinosa fosse “A Valquíria”, Marxilena se apresentaria como Maria Callas… Mas que se deixe a abstração de lado. O voo teórico de Renan se fez ética encarnada na voz do senador Lobão Filho (PMDB-MA), que chegou à Casa como suplente de Lobão Pai, hoje ministro das Minas e Energia: “Nessa Casa não há nenhuma vestal. A última vestal que tentou ser vestal nessa Casa foi desossado pela imprensa. Não há ninguém a levantar o dedo para o senador Renan Calheiros”. O Lobinho é o homem do Lobão!

Ele se referia certamente a Demóstenes Torres, defenestrado por bons motivos do Senado, como todo mundo sabe. Mas que se note: Demóstenes não perdeu o mandato porque se apresentasse como vestal; ele foi cassado porque não praticava, na vida pública, aquilo que enunciava e anunciava. Quando aquele senador caiu, os valores éticos não caíram com ele. É espantoso! Hoje em dia, intelectuais de esquerda, os petistas e tipos como Lobinho passaram a demonizar o discurso da ética e da moralidade públicas. Ele seria sempre e necessariamente falso; só poderia se exercer como moralismo de fachada. Nessa perspectiva, não se deve mais censurar este ou aquele pelo crime cometido; cumpriria, então, indagar: “Mas por que ele fez tal coisa? O fim é nobre?”.

De fato, a ética não é uma finalidade em si, mas um instrumento. Só que há uma consideração que certamente não passa pelo amoralismo de Renan Calheiros e dos setores da esquerda que são hoje seus aliados: os meios empregados qualificam os fins. Se Maquiavel retirou a política da esfera quase celeste e a devolveu à terra ao constatar que, na vida real, os fins acabam justificando os meios, tomada tal perspectiva como um norte ético, mergulha-se, então, no vale-tudo.

Não, meus caros! Nem Aristóteles, nem Espinosa, nem Kant. O livro que trata de forma mais viva e cruenta a questão da ética é o magistral “O Zero e o Infinito”, escrito pelo ex-comunista Arthur Koestler, que veio à luz em 1941. Ele precisou de muito menos tempo do que outros para constatar os crimes do comunismo. O centro da obra é justamente um questionamento ético. Entre 1936 e 1938, Stálin — tratado no livro como o “Nº 1” — liquida boa parte da velha-guarda revolucionária no curso dos chamados “Processos de Moscou”, uma farsa judicial espantosa para se consolidar como a única fonte de poder da União Soviética. Os “processos” são especialmente espantosos porque conduzidos de forma a criar uma maquinaria argumentativa que levava os acusados a confessar a sua culpa, embora soubessem que isso não os livraria da morte, à qual já estavam condenados. A acusação essencial: conspirar contra o estado soviético, a revolução socialista e o partido.

É esse clima que Koestler reproduz em seu livro. Rubachov é um comunista revolucionário de primeira hora que está preso, acusado de conspiração e traição. Somos apresentados a seus diálogos com seus algozes, todos eles a serviço do partido e da causa. Ocorre que se formara ele também na certeza de que o partido não errava nunca e de que não se iria construir uma nova humanidade sem cometer alguns atos condenados pela moral burguesa.

Um trecho do livro é particularmente significativo. Rubachov conversa com Ivanov, um policial do regime com certas pretensões filosóficas. Este faz algumas considerações sobre Raskolnikov, o jovem assassino de “Crime e Castigo”, de Dostoiévski, aquele que mata uma velha exploradora a machadadas para supostamente usar o seu dinheiro em benefício da humanidade. Raskolnikov acaba confessando a sua culpa e busca a reabilitação.

Para Ivanov, o policial, “Crime e Castigo” é um livro que deveria ser queimado porque não propõe nenhuma questão relevante. Entende que Raskolnikov “é um louco, um criminoso, não porque se comporte logicamente ao matar a velha, mas porque está fazendo isso por interesse pessoal”. E acrescenta: “O princípio de que o fim justifica os meios é e continua sendo a única regra da ética política. Tudo o mais é conversa fiada e se derrete, escorrendo por entre os dedos. Se Raskolnikov tivesse matado a velha por ordem do Partido (por exemplo, para aumentar os fundos de auxílio às greves ou para instalar uma imprensa clandestina), então a equação ficaria de pé, e o romance, com seu problema ilusório, nunca teria sido escrito, e tanto melhor para a humanidade”.

Como vocês percebem, para Ivanov, o assassinato mais torpe se enobrece se a causa é considerada não exatamente justa, mas útil.  O programa do computador deu pau (daí a demora em voltar…), e estou digitando trechos do livro. Rubachov responde que, no poder, os revolucionários conseguiram criar uma sociedade pior do que aquela que buscavam substituir, que as condições de vida se deterioram dramaticamente em todas as áreas, que as pessoas sofrem muito mais.

Ivanov então responde: “Sim, e daí? Não acha maravilhoso? Alguma vez já aconteceu algo mais prodigioso na história? Estamos tirando a pele velha da humanidade e lhe dando uma nova. Não é uma ocupação para gente de nervos fracos”. O policial já havia dito ao líder comunista que caíra em desgraça que só há duas éticas no mundo, opostas e inconciliáveis: uma é a cristã e humana, que declara que o homem é sagrado e que os princípios da aritmética não podem ser aplicadas a unidades humanas; a outra é a coletiva, que subordina cada homem às necessidades do coletivo; esta outra, que é a sua, diz ele, “não somente permite como pede que o indivíduo seja de todas as maneiras subordinado e sacrificado à humanidade”.

De volta a Renan
E o que Renan tem com isso? É um legítimo representante ou herdeiro da esquerda, por acaso? Até namorou com o PC do B quando jovem, mas isso não tem importância. Relembro “O Zero e o Infinito” porque nenhuma  obra levou tão longe e de maneira tão viva o questionamento ético. A elite dirigente que hoje comanda o país transformou em norte moral a máxima de que o fim justifica, sim, os meios empregados. Essa visão de mundo contamina setores da imprensa. Quantos não são aqueles que justificam a aliança da velha com a nova oligarquia em nome do interesse nacional?

A “ética” de que fala Ivanov é aquela que entrega a um partido, a um ente, o destino da humanidade e de cada homem. Sim, ele está certo na constatação, entendo eu, de que, a rigor, só existem duas éticas: a que sacraliza o indivíduo e a que o transforma em peça de uma narrativa contada por aquele ente de razão. O que nos distingue, por óbvio, é que fico com a primeira, e ele, com a segunda.

O Brasil passa por um momento particularmente infeliz no que diz respeito à ética porque, com efeito, o PT é herdeiro moral do vale-tudo bolchevista — sem mais ser, por óbvio, comunista. E, em nome do que vende como “causa da humanidade”, não só pratica os piores crimes como os transforma em ferramenta de progresso social, como faz Ivanov. Esse amoralismo redentor, que apela a amanhãs gloriosos, se casou perfeitamente com os interesses das elites reacionárias brasileiras, de que são expressões os Renans, os Sarneys etc.

Se uns nunca tiveram têmpera revolucionária, os outros a empregam como farsa. Porque, de fato, se os reacionários nunca tiveram como perspectiva um novo mundo, os supostamente revolucionários queriam era dividir o comando da reação. E conseguiram. Os dois grupos se dizem hoje irmanados na defesa do bem comum, em nome do qual tudo é permitido.

O conjunto explica por que José Dirceu sai proclamando aos quatro ventos que as críticas a Renan derivam do moralismo udenista. Dirceu é o candidato a Ivanov dessa nova ordem. E Ivanov já disse: Raskolnikov, o que matou a velha a machadadas, só não era um herói porque não agiu sob o comando do partido, de uma causa.

Não sei se daqui a dois, seis, 10, 14 ou mais anos… Um dia essa gente será apeada do poder. E poderemos, ou outros poderão, refletir com ainda mais rigor sobre a era em que vivemos sob a égide do crime sem castigo. Os que chamamos as coisas por seus respectivos nomes fazemos a crônica de um tempo.

domingo, 18 de setembro de 2011

Pequeno Retrato de um Amoral Consumado (elle mesmo) - Reinaldo Azevedo

Os AAs (anônimos adesistas) e os GRs (governamentais raivosos) ficam possessos quando lêem algo de que não gostam. Compreendo. Mas explico (ou tento, pelo menos...).
Deve ser realmente muito triste, muito frustante -- e os mais honestos devem achar desesperador -- ter defendido, no passado, ou ainda ter de defender agora -- seja por absoluta necessidade de algum emprego fácil, por desonestidade congenital, por falta de outras opções, chegada certa idade, seja ainda por qualquer outro motivo -- políticas e posições profundamente imorais, amorais, eticamente abjetas, ou simplesmente sem vergonha e sem caráter, ou mesmo ter de defender pessoas, dirigentes, líderes outrora admirados, que descambaram no entanto para a licenciosidade no limite da criminalidade (se já não estão dentro disso há muito tempo, talvez até desde a origem). Deve ser difícil...
Deve ser de fato difícil ter de conviver com ladrões, corruptos, coronéis da política outrora desprezados e atacados, hoje aliados infrequentáveis, ter de se justificar pela passividade demonstrada ante tanta corrupção e tanta roubalheira, ter de concordar com tantas políticas irracionais e prejudiciais ao País, apenas por que são emanadas do comando central (ao qual se deve fidelidade canina, e obediência bovina), enfim, ter estômago para aguentar tanta patifaria e tanta falta de caráter.
Eu compreendo, posso até lamentar a sortes de todos esses enquadrados em alguma das categorias acima -- alguns até escrevem anonimamente para este blog, me xingando, claro -- mas de forma alguma eu os desculpo. Sou contra a burrice -- todo mundo já sabe -- mas sou ainda mais contrário ¡a desonestidade intelectual, aquela que impele seres normalmente bem constituídos, até medianamente alfabetizados, alguns até instruídos no mais alto nível, que escolhem, deliberadamente, servir a tantos desonestos. Por isso não os desculpo, e se por acaso frequentarem este blog, são por vezes obrigados a ler algo de que não gostam, que lhes dá raiva, e que até seria desnecessário num blog como este, teoricamente voltado para questões de cultura, de ideias e de temas de relações internacionais. 
Posso até cansar os que aqui adentram para ler exclusivamente os temas listados acima, e por isso me desculpo. Mas é que antes de ser diplomata e professor, antes de ser quaquer outra coisa, sou simplesmente um cidadão brasileiro que lê e que fica estarrecido com o que vê...
Paulo Roberto de Almeida



Reinaldo Azevedo, 18/09/2011, 06:53:45

Luiz Inácio Apedeuta da Silva e o ministro da Educação, Fernando Haddad, foram vaiados anteontem por um grupo de alunos na Universidade Federal do ABC. O chefão do PT não gostou e decidiu passar um carão nos estudantes: “Gritar é bom, mas ter responsabilidade é muito melhor”, disse o agora ex-líder oposicionista que gritou contra o voto em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, que gritou contra a Constituição de 1988, que gritou contra o Plano Real, que gritou contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, que gritou contra o superávit primário, que gritou contra o Proer, que gritou contra as privatizações. Era o tempo em que Lula achava que não lhe cabia ser “responsável”. Em certa medida, sua IRRESPONSABILIDADE foi premiada.
Escrevi na sexta-feira um longo texto intitulado Desconstruindo a rasa moral profunda das esquerdas. Ou: Em nome do pai. Do meu pai!, em que faço uma espécie de genealogia do padrão moral, ou amoral, das esquerdas, do petismo e do próprio Lula. Em livro lançado recentemente, “O que sei de Lula” — sobre o qual ainda farei um post; estou terminando de ler —, o jornalista e escritor José Nêumanne Pinto relembra um episódio narrado pelo próprio Lula em entrevista a Mário Morel, que está no livro “Lula - O Início”. Para que vocês entendam: Lula trabalhava num torno no turno da noite; de dia, na mesma máquina, outro trabalhador realizava trabalho idêntico. A empresa tinha, pois, como comparar objetivamente a produtividade de um e de outro. Reproduzo em azul o que escreve Nêumanne. Prestem atenção:
A memória de Lula registrava, quando depôs para o livro do jornalista, o nome do parceiro: Zé Lagarto. E também sua enorme capacidade de produção, com a qual não tinha forças para concorrer. Fez urna comparação numérica: enquanto o outro fazia 80 anéis de ferro fundido durante o dia, ele mesmo não conseguia fazer 30, menos da metade, no turno da noite. Escolado na estratégia (nem sempre bem-sucedida) de pedir aumento de salário comparando sua produtividade com a de colegas mais velhos e mais lerdos, ele teve de mudar a tática e apelar para a solidariedade de classe, que não exercera antes nos casos lembrados por ele próprio ao biógrafo de seu início de vida profissional. Para evitar a comparação desfavorável com o parceiro rápido e produtivo, (…) o tosco Karl Marx da Vila Carioca [ bairro onde Lula morava] argumentou pacientemente a seu parceiro ágil e eficiente que a ultrapassagem da cota média normal da produção de rotina só acrescentava ganho ao lucro do patrão, sem produzir benefícios para o salário do empregado. O interessante a observar na versão do Friedrich Engels da periferia paulistana é que ele reconhecia desde então que esse apelo à solidariedade do parceiro era motivado por mesquinho interesse próprio, o mesmo que o fazia expor a baixa produtividade de colegas que ganhavam mais para aumentar sua paga.” [págs. 83 e 84]
Voltei
Eis Lula na sua inteireza. Notem que a amoralidade não parece ser um traço apreendido, mas uma característica inata. O jovem trabalhador que não tinha pejo de denunciar a baixa produtividade alheia para aumentar o próprio ganho recorria à solidariedade de classe quando desafiado por alguém mais competente do que ele próprio. Não teve vergonha de transformar a sua incompetência numa categoria universal, numa versão mequetrefe e rebaixada — a tendência ao simplismo e à vulgaridade é outra de suas notáveis habilidades — da “mais-valia” marxista. Ali estava o oportunismo ainda na sua fase de crisálida.
É bem provável que o pobre Zé Lagarto tenha caído na sua conversa — a exemplo de milhares de trabalhadores do ABC mais tarde, que acabaram perdendo seus empregos para construir “o partido”. Aqui é preciso deixar um registro. O Lula pintado com as tintas do martírio tem muito de mitologia. Foi, sim, um menino pobre, passou dificuldades etc e tal. Mas atenção: Ele trabalhou “no chão da fábrica”, pela última vez, em 1969. Tornou-se dirigente sindical aos 24 anos e nunca mais pegou no pesado. Como exige a legislação, ganhou estabilidade e passou a receber o salário para atuar no sindicato. Quando se tornou dirigente partidário, passou a ser financiado pelo PT. Aos 66 anos, o “símbolo” dos trabalhadores brasileiros não precisa se preocupar com o próprio sustento há 42 anos! DE QUE EMPRESÁRIO OU “BURGUÊS” BRASILEIRO  NA SUA IDADE SE PODE FALAR O MESMO? Preconceito? Uma ova! Fato! Ah, sim: ele também recebe há anos algo em torno de R$ 5 mil mensais como homem “perseguido pela ditadura”…
Voltemos à vaia
Irritado com os estudantes, que também vaiaram Haddad, Lula afirmou ainda:
“Se tem uma coisa que aprendi a respeitar é o direito das pessoas reivindicarem porque, se não fosse assim, eu não teria virado presidente da República. Se eu tivesse medo de greve, eu não teria feito as maiores e as melhores do País”.
Há aí a jactância habitual — Lula é sempre campeão em tudo e, se não é, dá um jeito de enganar o Zé Lagarto… —, mas também há uma referência objetiva: professores e funcionários da administração de mais de metade das instituições federais de ensino (universidades e ensino técnico) estão em greve desde o dia 6 de junho. Há uma possibilidade de que só voltem ao trabalho no dia 26 — depois de quatro meses de paralisação. Como vocês podem notar, foi um movimento praticamente invisível, que não rendeu notícia naquilo que o PT chama “mídia’. Essa greve, evidentemente, não presta e é coisa de reacionários. Já as que Lula promovia quando na oposição…
Haddad, aliás, defendido por Lula e seu candidato à Prefeitura de São Paulo — que o Babalorixá tentou impor no dedaço, sem prévias; parece que não vai conseguir —, mostrou a matéria de que é feito. Ironizando a reivindicação do grupo de estudantes, que pediam a aplicação de 10% do Orçamento federal em educação, afirmou o ministro com uma longa lista de incompetências e desatinos no Ministério da Educação: “Infelizmente, a direita conservadora conta com o apoio da esquerda conservadora para evitar o progresso do nosso País”.
“Conservadores”, como se nota, são todos aqueles que não estão com o PT. A “obra” deste rapaz na educação ainda não foi devidamente dimensionada. O aumento significativo de alunos no ensino superior no Brasil se deu em razão da expansão das instituições privadas de ensino — expansão realizada com repasse de dinheiro público, por intermédio do ProUni, que, na prática, compra à matroca as vagas que vão sendo abertas. A milagrosa multiplicação de universidades federais e de vagas em instituições públicas é das mais vistosas balelas da gestão Haddad. Já escrevi algumas vezes sobre o assunto. Alguns dados: (íntegra de um post a respeito aqui):
1 - Poucos sabem, certa imprensa não diz, mas o fato é que a taxa média de crescimento de matrículas nas universidades federais entre 1995 e 2002 (governo FHC) foi de 6% ao ano, contra 3,2% entre 2003 e 2008 - seis anos de mandato de Lula;
2 - Só no segundo mandato de FHC, entre 1998 e 2003, houve 158.461 novas matrículas nas universidades federais, contra 76.000 em seis anos de governo Lula (2003 a 2008);
4 - Nos oito anos de governo FHC, as vagas em cursos noturnos, nas federais, cresceram 100%; entre 2003 e 2008, 15%;
5 - Sabem o que cresceu para valer no governo Lula? As vagas ociosas em razão de um planejamento porco. Eu provo: em 2003, as federais tiveram 84.341 formandos; em 2008, 84.036;
5 - O que aumentou brutalmente no governo Lula foi a evasão: as vagas ociosas passaram de 0,73% em 2003 para 4,35% em 2008. As matrículas trancadas, desligamentos e afastamentos saltaram de 44.023 em 2003 para 57.802 em 2008;
Só isso? Não! Há mais: cresceu o número de analfabetos no país sob o governo Lula — e eu não estou fazendo graça ou uma variante do trocadilho (íntegra do post aqui). Os números estão estampados no PNAD (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), do IBGE. No governo FHC, a redução do número de analfabetos avançou num ritmo de 0,5% ao ano; na primeira metade do governo Lula, já caiu a 0,35% — E FOI DE APENAS 0,1% ENTRE 2007 e 2008. Sabem o que isso significa? Crescimento do número absoluto de analfabetos no país. Fernando Haddad sabe que isso é verdade, não sabe?
O combate ao analfabetismo é uma responsabilidade federal. Em 2003, o próprio governo lançou o programa “Brasil Alfabetizado” como estandarte de sua política educacional. Uma dinheirama foi transferida para as ONGs sem resultado - isso a imprensa noticiou. O MEC foi deixando a coisa de lado e acabou passando a tarefa aos municípios, com os resultados pífios que se vêem. A erradicação do analfabetismo desapareceu das metas do Ministério da Educação.
Encerro
Esses são os dados. Por que não há números de 2008 para cá? Porque o Ministério da Educação, por enquanto, os sonega. Mas, como se nota, quando alguém protesta contra o governo petista ou cobra o cumprimento de promessas, está sendo “irresponsável”. Responsável é Lula. Responsável é Haddad, com uma greve nas costas que já dura quase quatro meses.
Talvez seja uma boa idéia o PT lançar Haddad como candidato à Prefeitura de São Paulo. É hora de a obra real deste rapaz vir a céu aberto, como o esgoto no campus de Garanhuns da Universidade Federal Rural. Também será uma boa oportunidade para perguntar se ele já devolveu o dinheiro gasto a mais com a fraude na edição retrasada do Enem, com os cadernos errados na edição passada e com aquele suposto kit anti-homofobia que ficava a um passo de considerar a heterossexualidade uma anormalidade da “direita conservadora”.
Lula está convicto de que o Brasil inteiro será sempre enganado, como foi o pobre Zé Lagarto.