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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Chapolim Colorado descolora na crise brasileira - Rodolfo Amstalden (Empiricus)

O analista de negócios revela ser um admirador do Chávez, não o aloprado bolivariano, obviamente, mas o simpático heroi mexicano dos fracos e oprimidos.
Pois é: quem poderá nos salvar?
No momento ninguém.
Então vamos rir um pouco, pelo menos dos títulos...
Paulo Roberto de Almeida


Empiricus - Rodolfo Amstalden

00:06 - Quem poderá me defender?

Há quem diga que o pior já passou.

Reforma ministerial de repente é tratada como a solução de todos os problemas da nação.

Isso para mim é um grande mistério.

Será que a troca de ministros seria capaz de animar as expectativas de mercado?

Segundo o Focus publicado pela manhã:

- IPCA esperado 2015 aumentou para 9,32%; é a 17ª semana consecutiva de alta.

- IPCA esperado 2016 aumentou para 5,43%, embora o Bacen ignore essa variável irrelevante.

- PIB em contração de -1,97% em 2015 e zerado em 2016.

Há também um risco gigantesco de que o Brasil vire junk.

E, depois do employment report de sexta, Wall Street passa a ver 56% de probabilidade de juros americanos elevados em setembro.

01:15 - Sigam-me os bons

O contrato DI de janeiro de 2017 disparou 88 pontos na semana passada, em seu maior salto semanal desde o ocasionado pelos protestos de 2013.

Papéis pós-fixados de dez anos rendem em torno de 14% ao ano, a segunda maior taxa de mercados emergentes, perdendo apenas para a Nigéria.

NTN-B (Tesouro IPCA) passou a oferecer juros reais acima de 7,00% ao ano.

Quem é que vai bater essa renda fixa tão gorda?

A Bolsa brasileira precisa ceder um pouco mais para se equiparar às gostosuras do Tesouro Direto.

02:23 - Ninguém tem paciência comigo

Ibovespa começa a semana negociando um pouco acima de 11x os lucros esperados para 2015.

Está suficientemente barato?

A média histórica dos últimos cinco anos descreve um múltiplo de 10x.

Teríamos que nos situar pelo menos em cima dessa média.

Como agravante, a tal média histórica dos últimos cinco anos não competia com juros de 14%.

Logo, teríamos que nos situar pelo menos um pouco abaixo dessa média.

Portanto, 11x lucros não é uma coisa assim que se diga, supimpa, mas que ótimo trabalho! - mas é melhor do que nada.

03:22 - Você me deixa louco

Nossa Bolsa se divide entre o Bom Ibovespa e o Mau Ibovespa.

Quem a considera barata ao valuation de 11x entende que o Mau Ibovespa, por ser cíclico, um dia se recupera.

Afinal, ainda existe muito petróleo e minério de ferro para se extrair do solo brasileiro.

Fico pensando no que isso significa a médio prazo.

No século XIX, a Califórnia se destacava pelas jazidas repletas de toneladas de ouro.

No século XXI, a Califórnia se destaca pelo Vale do Silício, cujo valor independe inclusive de reservas de silício.

A riqueza não se esconde mais debaixo da terra; está na cabeça das pessoas e no uso eficiente de tecnologia.
 
04:26 - Não são pedras, são aerolitos

A Receita Federal publicou novas classes de estatísticas das declarações de imposto de renda - talvez fomentada por demandas pikettyanas.

Descobriu-se o óbvio.

Existe um grupo de contribuintes muito pequeno - de apenas 71 mil pessoas - que ganha mais de 160 salários mínimos por mês.

São pessoas que possuem participação acionária em empresas, recebendo lucros e dividendos “não-tributáveis” (pois já são tributados no âmbito corporativo).

Ao conhecer essa informação, você pode reagir de três formas:

1) Morrer de inveja.

2) Tributar ainda mais essas pessoas, comprometendo empregos e investimentos.

3) Tornar-se uma dessas pessoas.

A terceira alternativa é - de longe - a que me parece mais inteligente.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

O Fim do Brasil nao e' o fim da historia - Felipe Miranda

Reflexões de um analista econômico:

O Fim do Brasil não é o fim da história
Felipe Miranda, 25/06/2015

Nietzsche não era O Anticristo. Fukuyama não imaginava que navegávamos em linha reta reta e, subitamente, atingíamos o penhasco, acabando com tudo. Ainda assim, escreveu o bestseller Fim da História, de repercussão mundial.

Ao leitor literal, o título pode soar absurdo. A história não pode terminar. Aos críticos de Francis Fukuyama, porém, deve-se ao menos perguntar, cerca de 25 anos depois, se há uma antítese material à tese da democracia liberal. Na dialética hegeliana, a história caminha pelo conflito perene entre tese e antítese, do qual emerge uma síntese. Esta, por sua vez, transforma-se, no período seguinte, novamente em tese, a que se opõe uma nova antítese. E o ciclo vai se repetindo, definindo o curso das coisas.

Se não há oposição efetiva à democracia liberal, não temos antítese a opor-se à tese. Não há dialética e interrompe-se o ciclo hegeliano. Aqueles com capacidade de enxergar uma metáfora entendem o argumento de Francis Fukuyama, independentemente de concordar ou não com ele.

Eu nunca acreditei que o Brasil iria acabar. Que fique claro: tampouco estou, arrogantemente, comparando minha tese às duas supracitadas. Sei da minha insignificância. Os exemplos de Nietzsche e Fukuyama remetem apenas à necessidade de identificar uma metáfora.

O Fim do Brasil não era somente uma postura crítica ao ensaio nacional desenvolvimentista adotado desde 2009/10, muito menos a defesa de uma postura niilista. Sequer representava, mesmo do ponto de vista hegeliano, o fim da história - aqui, Joaquim Levy é a antítese ortodoxa à tese da nova matriz econômica.

Meu argumento era de que aquele Brasil nascido em 1994 e marcado pela estabilização da economia, cuja adolescência acaba em 1999 a partir do tripé de Armínio Fraga, das privatizações, do prestígio às agências reguladoras, da lei de responsabilidade fiscal ou, em resumo, o País que caminhava na direção das instituições políticas e econômicas inclusivas morria com a nova matriz econômica.

O expansionismo fiscal, a permissividade com a inflação, a modicidade tarifária, a eleição de campeões nacionais, a concessão de subsídios discricionários, o aumento de salários acima da produtividade, o incremento de participação de bancos públicos e outras questões parecidas apontavam justamente na direção de instituições extrativistas.

O resultado só poderia ser baixo crescimento econômico, queda da produtividade, preços em alta, déficit em conta corrente insustentável e contas públicas desequilibradas.

Isso exigiria um ajuste, tanto na gestão da política econômica quanto no preço dos ativos financeiros brasileiros. Daí derivava toda uma tese de investimentos, pautada em aumento dos preços de risco, desvalorização cambial e queda das ações.

Não havia criticismo infundado ou defesa do niilismo. Do Fim do Brasil, emergia uma proposta pragmática a cada um dos leitores: esteja defensivo e mantenha apostas anticíclicas. Esse seria o caminho para ganhar dinheiro.

Considerando o crescimento de 0,1% em 2014, o prognóstico de recuo de 2% em 2015, a expectativa de estabilidade em 2016 e a perspectiva de crescimento em torno de 2% em 2017, entraríamos em 2018, em linhas gerais, com o mesmo PIB daquele mostrado em 2013, com recuo substancial da renda per capita. E, então, cumprimos metade do devaneio de 10 anos de recessão.
(...)

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Situacao politica: Parlamente continua tao irresponsavel quanto o Executivo - Cristovam Buarque, Paulo Roberto de Almeida

O Senador Cristovam Buarque, de quem já fui um eleitor, mas parece que ele continua divagando, deu uma entrevista ao Valor Econômico, que reproduzo abaixo, seguindo de meus comentários, que enviei ao mesmo email do qual recebi a entrevista.
O Senador confirma que não está a altura das responsabilidades de um parlamentar, e portanto deixará de ter o meu voto.
Paulo Roberto de Almeida

On Jun 4, 2015, at 02:06, Mensagem Cristovam <mensagem-cristovam@senado.gov.br> wrote:

O senador Cristovam Buarque concedeu recentemente uma entrevista de quatro páginas ao jornal Brasil Econômico, na qual avalia o cenário político atual e fala sobre temas polêmicos como reforma política e fiscal, fator previdenciário, Frente Parlamentar Progressista e federalização do ensino público, além de propor uma autocrítica da esquerda, apontar erros do PT e defender a saída do PDT da base do governo.

Acompanhe no link a entrevista na íntegra ou leia-a logo abaixo:

'É triste ver a picuinha entre Parlamento e o Executivo', diz Cristovam Buarque
Criador do programa Bolsa Escola, que deu origem ao Bolsa Família, o senador considera caótico o cenário político. “Os partidos estão todos desfeitos”, diz

Brasília - Conhecido como o criador do programa Bolsa Escola, de onde surgiu o Bolsa Família do PT, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) revela sua “profunda frustração” por não ter ficado para a história como o homem que erradicou o analfabetismo no Brasil, sonho castrado por sua demissão, por telefone, do cargo de ministro da Educação no primeiro mandato do presidente Lula. Ainda na adolescência, quando frequentava a Ação Católica Operária, aprendeu com um analfabeto a defender o direito à eleição para quem não sabe ler. “A lei que eu quero eu conheço. Para escrever, uso um doutorzinho como o senhor”, teria dito a ele o velho operário. Sobre a proposta de reforma política em debate no Parlamento, Cristovam se diz nada otimista e clama por mudanças substanciais. “O Congresso está vazio”, lamenta em tom melancólico. “A política está caótica e os partidos estão todos desfeitos”. No Executivo, para ele, a situação é ainda pior, com a presidenta Dilma Rousseff “prisioneira” do PMDB e do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “Houve um golpe de Estado no Brasil, dado pela própria presidente quando entregou a articulação política a Temer — que está intimamente ligado a Eduardo Cunha e a Renan Calheiros — e a política econômica a Levy”. O senador propõe uma “autocrítica vermelha” ao falar da crise por que passam as ideologias socialistas: “A esquerda deixou de ser portadora da utopia”.

O Senado terá uma semana decisiva para o ajuste fiscal. Como o sr. vai votar nas MPs que alteram as regras do Trabalho e da Previdência?
Vou votar contra as medidas. Elas são desnecessárias e não estão do tamanho da crise. É irrelevante o que se pretende ganhar com aquilo. Aqueles penduricalhos que estão colocando não me convenceram. Além disso, não foram fruto de um entendimento. A gente não precisa fazer apenas um ajuste, precisa salvar o país. Para salvar o país, só um entendimento maior, e não um pequeno ajuste. Eu não gosto da ideia de pacotes porque vem um, depois o outro, e depois outro. O país anseia por uma reforma ampla. Nem sei se a oposição aceitaria, mas deveria partir do governo a iniciativa de propor, e não propor apenas o voto. Esse governo gosta de pedir voto e não gosta de pedir colaboração. E, pior, pede votos oferecendo cargos ou emendas em troca. Para pedir que o Congresso vote no ajuste, a presidenta deveria reconhecer que errou. Dilma errou gastando mais do que devia durante os quatro anos do seu primeiro mandato, que foi irresponsável do ponto de vista fiscal. Tanto que precisou mudar a Lei de Diretrizes Orçamentárias para fazer de conta que não era irresponsável. Eu gostaria de colaborar e oferecer minhas propostas para uma reforma mais ampla. Mas o governo não se abre a isto.

Qual seria sua colaboração?
Primeiro, o plano bom deve penalizar os que ganharam dinheiro e não os trabalhadores e aposentados. Não pode atingir a infraestrutura, especialmente na educação. Não pode ser contra os pobres, tem que ser em cima dos ricos. E não pode ser uma medida brusca. Tem que acontecer aos poucos, em um prazo de cinco anos, por exemplo, e não paralisar o país. As duas MPs significarão uma economia de R$ 14 bilhões. Se for aumentado o Imposto de Renda dos bancos, dos atuais 15% para 30%, a economia seria de R$ 17 bilhões. Só com isso. O país tem ativos dos quais pode se desfazer para melhorar o caixa. O governo brasileiro tem uma imensidão de terrenos Brasil afora. Pode vender. Qualquer pessoa, quando está endividada, vende o carro. O governo deveria fazer o mesmo para não se endividar mais, se desfazendo de alguns ativos. Mas prefere se endividar. O Congresso aprovou, a pedido do governo, a liberação de R$ 50 bilhões para o BNDES. É absurdo que o mesmo Congresso que quer fazer o ajuste fiscal aprove a liberação de mais R$ 50 bilhões para o BNDES. O Brasil está como está porque gastou mais do que devia. Não faz sentido gastar mais ainda com o BNDES. Outra proposta que eu incluiria seria sanear algumas estatais. E quando digo sanear falo, em alguns casos, de fechar a empresa ou privatizar. Claro que não pode privatizar as empresas estratégicas como Petrobras, Banco do Brasil ou Embrapa e universidades.

O sr. incluiria o imposto sobre grandes fortunas em sua reforma fiscal?
Incluiria. É demagogia achar que o imposto sobre fortuna vai render muito para o Brasil. Não vai, porque se der muito, não vai dar nada, porque o pessoal leva o dinheiro para fora. Mas eu incluiria, sim, em uma reforma.

É favorável ao fim do fator previdenciário?
É um ponto que ainda estou analisando. Do ponto de vista do bem-estar de quem se aposenta, é bom. Mas é preciso pensar nas implicações disso. A aposentadoria mais cedo acaba por prejudicar os mais jovens, que vão ter que pagar. O aumento da expectativa de vida tende a quebrar a Previdência. Essa proposta tem que ser analisada com muito cuidado. Ouço opiniões muitos contraditórias. Consta que a mudança que foi feita na Câmara vai beneficiar o Tesouro neste momento, mas vai quebrar daqui a oito anos. E como ficam os jovens de hoje? Sem aposentadoria no futuro? É por isso que digo que o país precisa de reformas amplas e verdadeiras.

O que deveria constar da reforma política?
A reforma política não pode se concentrar apenas em mudanças nas eleições, no Legislativo ou no Executivo. Reforma para valer tem de ser ampla e estruturante, transformando a cultura política do país. A reforma que eu proponho fala de eleições, fala de mudanças no Legislativo, no Executivo, no Judiciário. Fala também de reformas culturais na sociedade e reformas moralizadoras. Proponho uma moratória partidária, dando seis meses para a reaglutinação das forças partidárias e, aí, nessa reorganização, definir duas pernas: a identidade ideológica e a identidade ética. Vamos votar em pessoas que pensam e se comportam como nós.

Como avalia a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que deve ser votada esta semana na Câmara?
Não tenho o menor otimismo de que sairá algo substancial dessa reforma política discutida no Congresso. A reforma que proponho é muito mais profunda. Envolve mudanças na cultura e na mentalidade do que é política no Brasil. Passa pela política profissional, pelo sistema eleitoral, mas passa também por temas como educação e cidadania.

Há pontos que o sr. apoiaria no substitutivo do relator Marcelo Castro (PMDB-PI)?
Gosto da proposta que reduz todos os mandatos de senadores a cinco anos.

O relator voltou atrás, mas foi sugerida por senadores a ideia de aumentar o tempo de mandato de senador.
Não com a minha aprovação. É absurda a ideia de ampliar o mandato de senador para 10 anos. Deveríamos era reduzir dos atuais oito anos.

É favorável à coincidência de datas para as eleições nacionais e locais?
Não. Sou a favor de que não haja essa coincidência de datas. Eleição tem um papel pedagógico. Quanto mais eleição, mais a gente amadurece a população para pensar a política. A política não pode ser vista como um espetáculo que acontece a cada quatro anos. A propaganda política tem que ser rotina na vida das pessoas.

O sr. tem um trabalho histórico envolvendo a alfabetização de adultos. Acha que uma reforma política deveria incluir o direito de o analfabeto se candidatar?
Sou totalmente a favor da ideia de que o analfabeto tenha cargo eletivo. Ele pode não saber escrever, mas sabe o que quer. Tem muita gente alfabetizada que não sabe o que quer. E, falando com franqueza, conheço muitos que não sabem escrever. Aliás, saber o que se escreve no parlamento é difícil para qualquer um. Ler os nossos projetos com todas aquelas terminologias jurídicas me dá um certo mal-estar. A reforma poderia incluir essa simplificação. Não se consegue nem entender a lei. Sou favorável à candidatura de analfabetos, mas proponho como ponto da reforma política a erradicação do analfabetismo. Enquanto isso não acontece, que seja retirado o lema da bandeira nacional para que todos percebam que 13 milhões de brasileiros não conhecem a bandeira do Brasil, porque não sabem que ali está escrito Ordem e Progresso.

Na semana passada, em entrevista ao “Financial Times”, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou que o sistema político brasileiro, uma mistura entre parlamentarismo e presidencialismo, está quebrado.  O sr. concorda?
A política está caótica, os partidos estão todos desfeitos, quebrados, desorganizados, sem metas, sem propostas e sem identidade. O PT é a principal marca desse desfazimento, mas todos estão desfeitos. O Psol, que é pequeno, está totalmente partido.

Tem sido difícil votar projetos importantes para o país com o Congresso medindo forças com o Executivo?
É muito triste ver a picuinha entre o Parlamento e o Executivo. O PT foi contra o Plano Real por picuinha. Era claro que era um plano bom. Agora, o PSDB está votando contra certas medidas do ajuste, que estão de acordo com o que era o Plano Real, por pura picuinha.

A briga entre os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com o Planalto, onde está não apenas Dilma, mas também o vice-presidente Michel Temer, atrapalha a pauta legislativa?

Houve um golpe de Estado no Brasil, dado pela própria presidenta, quando entregou a articulação política a Temer, que está intimamente ligado a Eduardo Cunha e a Renan, e a política econômica a Levy. Existem quatro pessoas hoje de quem Dilma não tem como se livrar. Três delas têm mandato. A quarta, se cair, cai a Bolsa, cai a credibilidade e cai o grau de investimento. Dilma hoje é uma prisioneira e quando o presidente é prisioneiro, significa que as instituições estão frágeis.

Isso inclui o Congresso?
O Congresso está vazio. É frustrante o tempo que a gente perde ali dentro. Sem contar a lentidão provocada por essas picuinhas. Só eu tenho mais de 100 projetos aguardando para serem votados. Falta espírito público, falta o vigor transformador em todos os partidos e na maioria de nós, políticos. Há muito interesse pessoal.

Na semana passada o sr. reagiu indignado à rejeição do nome do embaixador Guilherme Patriota para o cargo de representante do Brasil na OEA. Foi por causa dessa picuinha?
Foi um equívoco a rejeição à indicação do embaixador Patriota. O Senado não pode usar a sua soberania contra um profissional de carreira. Os militares caçaram a carreira de Vinícius de Moraes. O Senado praticamente fez o mesmo com o embaixador Guilherme. Ele vai ficar marcado. Foi uma atitude política, porque tecnicamente ele é bem preparado.

O argumento foi de que ele já não foi bem na sabatina na Comissão de Relações Exteriores. Ele não falhou na sabatina?
Usaram o argumento de que ele é esquerdista, bolivariano, mas ele disse na sabatina que é um profissional de Estado. É o governo que vai dizer como ele deve se comportar. O funcionário segue o que o governo decide politicamente. Se o governo decidir que a relação com a Venezuela é boa, o profissional tem que seguir. Se decidir que quer cortar relações, traz de volta.

O sr. faz parte da Frente Parlamentar Progressista, contrária aos projetos conservadores que vem sendo apresentados no Congresso. Por que foi necessário criar essa frente?
Essa frente é hoje muito necessária. O maior mal do PT no governo foi fazer com que o povo brasileiro caminhasse para a direita. O PT, que era o principal representante da esquerda, ao chegar ao poder, fez essas besteiras todas que estamos vendo, se desmoralizou eticamente e não cumpriu o prometido. Agora, o povo não quer saber mais disso. Junte-se a isso uma violência crescente no país. Daí surge o problema da redução da maioridade penal. Com a decepção com a política, cresce o fundamentalismo evangélico. Evangelização não é ruim, mas é ruim o conservadorismo que vem acompanhando esse crescimento — por exemplo, na definição de família, com reação à ideia do casamento gay. O PT também tinha forte a defesa da agricultura familiar e orgânica. É mais uma bandeira que as pessoas abandonaram para defender o fim da rotulação dos alimentos transgênicos, que a Câmara aprovou. Isso tudo foi um desastre. Por isso estamos criando a frente, para impedir essa direitização dos costumes. O PT hoje simboliza o fracasso da esquerda no Brasil. Veja a influência da bancada da bala, que pode produzir um Fraga (Alberto Fraga, do DEM-DF) governador ou um Bolsonaro (Jair Bolsonaro, do PP – RJ) presidente. Hoje, não há ninguém que encarne uma proposta alternativa de esquerda.

Esse conservadorismo está bem presente nas manifestações das ruas. Onde a esquerda errou?
A esquerda deixou de ser portadora da utopia. A esquerda precisa fazer um movimento que chamo de autocrítica vermelha e se perguntar aonde errou. Antigamente nós, da esquerda, fazíamos o maior esforço para botar o povo na rua. Hoje o nosso esforço é para entender porque o povo não quer bandeira vermelha na rua.

Qual é a cor desse movimento?
Para eu saber qual é a cor desse novo movimento que hoje vai para rua, precisaria saber qual é a cor da raiva. Essas manifestações, sem proposta, só refletem raiva.

O sr. diz que a culpa é do PT. Qual foi o grande erro desses anos de governo petista?
A bem da verdade, Lula não errou tanto. Quem errou feio mesmo foi Dilma. A política econômica do presidente Lula foi muito centrada, conservadora e cuidadosa. Seu erro como presidente foi ter sido tolerante com o mensalão e com a corrupção na Petrobras, porque não foi com Dilma que se deu o Petrolão. Começou na época de Lula. O erro de Lula foi deixar a corrupção correr frouxa e adotar a lógica do poder pelo poder. Lula é o grande culpado pela perda do vigor transformador do PT. Eu saí do PT antes dos escândalos, que estavam começando naquele momento, em 2004. Saí quando senti que o PT não era mais o partido da transformação.

Há quem diga que essa sua crítica é fruto da mágoa por ter sido demitido do Ministério da Educação por Lula...
Quando os petistas dizem que sou magoado com Lula por ter me demitido por telefone, fazem uma crítica ao próprio Lula, porque reconhecem que ele foi grosseiro.

Qual foi seu sentimento em relação a este episódio?
Saí frustrado do governo porque queria entrar para a história como aquele que erradicou o analfabetismo. O Lula me tirou do governo porque ele queria focar o ensino superior, que dá resultado mais rápido. Eu achava e acho que a revolução na educação começa pelo ensino básico, mas o resultado vem no longo prazo. Cheguei a iniciar no MEC o meu projeto de federalização do ensino público, criando 28 escolas.

Mas a sua proposta de federalização do ensino é bastante criticada pelos municipalistas.
Eles são contra a União controlar uma escola lá na ponta, no interior. Eu também sou. Mas também acho que nem mesmo o prefeito deve controlar uma escola. A proposta de federalização do ensino contém centralização gerencial e liberdade pedagógica. Na verdade eles não gostam da minha proposta porque tira a escola do controle dos prefeitos e do governo federal. Proponho que cada escola seja administrada por ela própria, pelos professores, pelos pais e alunos mais velhos. O que proponho é a carreira nacional do professor, transferir para o governo federal a responsabilidade de construir e equipar as escolas, tornar obrigatório o turno integral. Na sala de aula quem manda é o professor, que terá liberdade pedagógica. O governo não pode dizer como o professor deve dar aula.

O sr. já apresentou essa proposta ao ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro?
Não, mas sei que ele conhece e já se manifestou contra. Eu acho que quem é de São Paulo tem medo da ideia de federalização do ensino, por achar que, ao se misturar com o resto do Brasil, vai piorar. Por isso, hoje proponho que o projeto seja feito nas cidades que desejarem. Quando os prefeitos começarem a pedir a federalização de suas escolas à União, aí esse processo não para mais. O governo deve estabelecer um limite por ano. Não se deve mudar de vez o sistema atual, mas assumir o novo sistema educacional e implantar aos poucos, em um prazo de 20 anos.

O que há de errado no modelo atual?
Em primeiro lugar, a desigualdade. O futuro da criança não pode depender do lugar onde ela nasce ou da renda da família. Os municípios são muitos desiguais e hoje uma criança que nasce numa cidade pobre terá grandes dificuldades para ter uma boa educação. Só 0,6% dos alunos brasileiros hoje estão nas escolas públicas federais. Já pensou se cada cidade brasileira tivesse a sua moeda? A moeda de um país é uma coisa importante, mas educação também. Educação é a maior riqueza de um país. Por isso, o primeiro passo é criar a carreira nacional dos professores. Como os alunos vão respeitar o professor se sabem que ele não ganha bem? Em uma sociedade capitalista, o valor do salário pesa no respeito. Também não vão respeitar o professor se não há condições mínimas nas instalações. O professor passou a ser desrespeitado em sala de aula por causa do salário, das condições de trabalho, da ausência frequente e das greves. Some-se a isso o fato de que a sociedade é violenta.

Isso explica o fato de haver violência dentro da sala contra os professores?
Às vezes me pergunto se a criança é mesmo violenta na escola, ou se não é a escola que é violenta contra a criança. Hoje, uma aula no quadro negro é como um pau-de-arara intelectual. A criança está acostumada a ver o conteúdo escolar de outras formas, em 3D, na internet, pesquisa no Google e no Youtube. O quadro negro é uma violência. Os professores, por outro lado, não são motivados nem preparados para usar equipamentos como a lousa inteligente. Por isso, é preciso criar uma carreira nova.

Quanto custa o seu projeto?
Uma educação boa custa R$ 10 mil por ano, por aluno. Os municípios não têm condições de gastar isso. Se pagar R$ 10 mil ao professor por mês, o aluno vai custar R$ 10 mil por ano, supondo 30 alunos por sala e incluindo a estrutura física, construção, equipamento etc. Daqui a 20 anos, serão 55 milhões de alunos, o que vai custar R$ 550 bilhões. Se o PIB crescer 2% ao ano nesse período, o gasto com educação básica somará 6,4% do PIB. A Lei do Plano Nacional de Educação obriga a colocar 10%. Sobram 3,6% para universidades e para a pré-escola.

O sr. está entre os que defendem a saída do PDT da base do governo. Por que?
Em 2006 já defendia que o PDT não entrasse na base do governo. Enquanto o PDT se mantiver na base, será visto como um puxadinho do PT, sem condições de formular uma proposta alternativa para o país. Como o PDT poderá propor a existência de um governo ético, se está na base de um governo corrupto? A corrupção é nossa também.

O PDT está bem representado no governo?
No final do ano passado Dilma inventou uma coisa esquisitíssima: um Ministério da Fazenda com dois ministros (durante a transição, com Guido Mantega e Joaquim Levy). Mas também criou outra coisa esquisita: um ministro sem ministério, o do Trabalho. Manoel Dias é um ministro sem ministério porque o Trabalho foi totalmente esvaziado. Para se ter uma ideia, Dias não foi consultado sobre essas medidas de ajuste envolvendo seu ministério. O PDT precisa sair do governo para poder formular a sua proposta de país.

O sr. tem pretensões para 2018?
O ano de 2018 está muito distante de hoje. Está mais distante ainda do ano em que eu nasci. Não dá para eu ficar, agora, me preocupando com 2018. Estou muito envolvido com pretensões mais imediatas. Estou forte, firme, ativo, mas de qualquer maneira, gostaria de ver o surgimento de gente mais jovem no cenário político. Assim como o Congresso Nacional acaba de criar a lei da bengala para o Judiciário, acho que deveríamos criar a lei da bengala para os políticos também.

Que futuro o sr. vislumbra?
Falando de um sonho bem pessoal, meu desejo é viver no lugar mais distante que se possa imaginar de uma fronteira internacional. Esse lugar é Recife, onde nasci. Mas creio que serei enterrado em Brasília, por ter sido governador.





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Meus comentários (PRA):
  Sinto discordar de vários argumentos do Senador, que me parecem do tipo impressionista e nada objetivos.
    O Senador se coloca contra o ajuste fiscal, que os autores dizem ser feito para voltar ao crescimento, o que é obviamente uma mentira. Ele é feito apenas para evitar o agravamento de uma situação por si catastrófica, legada pela politica econômica absolutamente inepta da dupla Dilma-Mantega.
    De fato, todo esse esforço de economia está sendo feito para nada, pois toda a economia, e talvez mais, deve ser consumida pelo serviço da dívida.
    OK, muito ruim, mas qual seria a solução melhor?
    Os keynesianos de botequim que são contra tudo isso têm algo melhor a propor?
    Dificilmente, e provavelmente levariam o Brasil a uma crise mais rapidamente, pela retirada do investiment grade e a enorme fuga de capitais que se seguiria.
    Com a politica atual estamos apenas postergando o enfrentamento verdadeiro, que é o fato de que o Estado gasta demais…
    Esta realidade o Senador não reconhece.
    Ele apenas diz que houve um golpe de Estado. Sendo um político deveria ter mais cuidado com as palavras.
    O que ocorreu foi que a inepta presidente renunciou a controlar a politica politica e a politica economica, apenas isso, tanto por não ter condições próprias, como por dispor de assessores tão ineptos quanto ela.
    Continua mentindo descaradamente para a nação e não reconhece seus erros, que fizeram do Brasil uma terra economicamente arrasada.
    Não existe picuinha entre Parlamento e Executivo. Se trata de uma luta pelo poder, como sempre houve, e no caso de uma chantagem recíproca como sempre ocorreu. Apenas acontece que antes o Executivo dispunha de recursos para comprar — repito COMPRAR — deputados e senadores. Como esses recursos acabaram, foram dilapidados pela gestão inepta, os parlamentares se atiram com sede ao que resta, não apenas o poder, mas os recursos a ele associados.
    Algum comentário sobre a absurda triplicação do Fundo Partidário, uma excrescência que nem deveria existir, pois é um insulto à cidadania que trabalha e paga impostos?
    O Senador já se deu conta da indecência que é a remuneração dos parlamentares e magistrados — e de grande parte do funcionalismo público — num país cuja renda per capita diminui pela política predatória dos governantes?
    O Senador já se deu conta da indecência que são as prebendas e penduricalhos associados aos cargos politicos em geral, mas também cobrindo os parlamentares e os magistrados?
    Até quando pretendem continuar insultando os contribuintes?
    Senador, pare de falar bobagem sobre “autocritica vermelha”, resgate da esquerda, e outras bobagens utopicas…
    Enfrente a realidade Senador: a classe política, até aqui, tem sido tão inepta quanto essa presidente de araque em cuidar da política e da economia do Brasil, e não consegue oferecer nenhuma solução à vista.
    A realidade é esta Senador: o Estado brasileiro não cabe no PIB e por isso vive assaltando os contribuintes para extorquir ainda mais dinheiro.
    Quando é que o Parlamento vai assumir responsabilidade sobre isto?
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Paulo Roberto de Almeida 

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Diagnostico da crise presente - Jose Serra

Transcrevo uma análise dos problemas atuais do Brasil pelo senador José Serra.
Não endosso todos os seus argumentos, mas acredito que as questões que ele coloca são reais, e merecem debate. Apenas por isto eu as coloco aqui.
Na miséria intelectual que é o Brasil hoje -- ou seja, com governantes incapazes de se pronunciarem de modo claro sobre a situação presente, senão mentindo -- o artigo oferece, ao menos, um diagnóstico claro dos problemas atuais.
Paulo Roberto de Almeida



ELES PASSARÃO, E A NOSSA DEMOCRACIA PASSARINHO 
José Serra
O Estado de S.Paulo, 9/04/2015

Completam-se, por estes dias, 30 anos de regime democrático no Brasil. Não há dúvida de que o país avançou bastante no período. Temos muito mais liberdade e justiça. O progresso social foi acentuado, como demonstram os indicadores de educação, saúde e rendimentos dos mais pobres. A superinflação, deflagrada pelo choque externo do começo dos anos 1980, com seus três ou quatro dígitos anuais, foi finalmente vencida a partir dos governos Itamar e Fernando Henrique. Isso se deu com ampliação das conquistas democráticas, ao contrário do que se viu entre 1964 e 1968. E que se destaque o papel fundamental da agricultura brasileira, que se tornou poderosa e altamente competitiva, em escala mundial. Temos, pois, razões para estar satisfeitos pelo caminho até aqui seguido. E nosso papel é cercar as margens de erro rumo ao futuro e evitar armadilhas.
Há, desde logo, um pesado déficit que coincide com a era democrática: o crescimento medíocre do conjunto da economia. Nos 30 anos que antecederam 1980, crescemos a mais de 7% ao ano; de meados da década de 80 até o ano passado, essa taxa recuou, na média, a 3%. Mesmo deflacionando os números pelo crescimento da população, declinante no cotejo desses dois períodos, a degradação da performance econômica brasileira é evidente.
Tal degradação deveu-se à desindustrialização prematura que atingiu o Brasil, a ponto de a participação da indústria manufatureira no PIB voltar ao nível do imediato pós-guerra: em torno de 12%. Digo "prematura" porque não se trata de um fenômeno parecido com o que se viu nos países desenvolvidos, com renda per capita equivalente a quatro vezes a nossa. A dinâmica das economias emergentes bem sucedidas, note-se, é outra: as que mais têm crescido nas últimas décadas devem seu desempenho precisamente ao dinamismo do setor industrial.
Sem reindustrializar o Brasil, não vamos obter vaga no segundo turno do campeonato das nações. Vivemos num país continental, com 200 milhões de habitantes e renda por habitante ainda na casa de US$ 12 mil/ano (paridade do poder de compra). Por melhor que seja a nossa condição de exportadores de produtos agrominerais, esse vetor nunca será capaz de puxar a produtividade do conjunto da economia, gerar os milhões de empregos de que necessitamos e turbinar as receitas tributárias para cobrir carências sociais e regionais. Não é uma questão de gosto, mas de fato. Aliás, a propósito da utopia da economia primário-exportadora como o principal fator do desenvolvimento brasileiro, vale ler o interessante artigo de Ilan Goldfajn publicado nesta página na última terça: a tendência de longo prazo dos preços internacionais de alimentos é de lento e persistente declínio em termos reais.
Em parte, a desindustrialização prematura se deveu a uma combinação de quatro fatores, com pesos diferentes ao longo do tempo: 1) o mau entendimento das mudanças no mundo na direção de maior abertura comercial e ampla e irresistível liberdade para movimentos de capitais; 2) a superinflação e suas consequências; 3) as ideologias, à esquerda e à direita, que menosprezam políticas coerentes de desenvolvimento; 4) o despreparo e a pura inépcia do governo.
Um dos problemas mais graves que decorrem de políticas públicas deficientes se revela no custo-Brasil, que expõe nossa baixa competitividade em relação à média dos parceiros comerciais. Os produtos manufaturados brasileiros são 25% mais caros do que poderiam ser não em razão da ineficiência empresarial — nas condições dadas, há eficiência — mas por causa das carências de infraestrutura, das despesas financeiras e de uma tributação aloprada. Para arremate dos males, subsistiu durante boa parte dessas três décadas a sobrevalorização cambial.
E há um custo que tem sido subestimado pelos analistas que é a conversão reacionária do PT. O que quer dizer? Explico: associado ao declínio econômico e aos fatores que o provocaram, assistimos, com a ascensão do partido ao poder, ao fortalecimento e ao infeliz “aggiornamento” do patrimonialismo, que tanto infelicitou a história brasileira. Ele se expressa de dois modos principais: 1) com a formação de uma espécie de burguesia do capital estatal; 2) com a submissão da máquina do Estado a instrumentos que servem à manipulação eleitoral e aos desvios de recursos públicos para partidos e indivíduos. Vejam o calvário da Petrobras.
A crise de representatividade da democracia brasileira, cujo primeiro sinal foram as manifestações populares de meados de 2013, chegou ao seu ponto máximo neste semestre. Tudo de ruim veio junto, começando pela percepção generalizada do estelionato eleitoral.
Reeleita, a presidente Dilma não conta com um fator que costuma beneficiar um novo governante: o crédito de confiança. Como dispor dele, depois de quatro anos de tropeços que só agravaram a herança recebida do governo Lula-Dilma? Herança que, diga-se, já não era leve no início de 2011: real supervalorizado, déficit externo crescente, rigidez fiscal, investimentos industriais em declínio e subinvestimento na infraestrutura. E isso tudo se dava apesar da notável bonança externa, derivada do boom de preços de nossas commodities. Paradoxalmente, esses preços elevados serviram para desequilibrar ainda mais a economia brasileira.
O panorama hoje é especialmente perverso: queda da produção; inflação renitente, com viés para cima; déficit público em ascensão, caminhando para 8% do PIB; déficit externo idem, rumo aos 4,5% do PIB; juros siderais e desemprego como drama anunciado. A cereja amarga desse bolo maligno fica por conta do monitoramento subjacente da política econômica feito pelas agências internacionais de risco. Os petistas já devem andar com saudades do FMI...
A má notícia é que atravessaremos, sim, dias difíceis. A boa notícia é que os críticos relevantes dessa governança capenga entendem que não há saída fora das regras da democracia, esta respeitável senhora de 30 anos. Eventuais tentações autoritárias se revelam, isto sim, é no discurso dos poderosos de turno. Mas, como diria o poeta Mário Quintana, também eles “passarão”, e o regime democrático “passarinho”. E ele canta bons amanhãs.

SENADOR DA REPÚBLICA, EX-PREFEITO E EX-GOVERNADOR DE SÃO PAULO

Acompanhe novos artigos no meu site: http://www.joseserra.com.br

domingo, 29 de março de 2015

PIBinho, e RECESSAO, realizacoes do governo companheiro - analise de Roberto Ellery

Parece que deu chabu na fabulosa "Nova Matriz Econômica".
OK, não vou tripudiar muito, deixo para meu amigo Roberto Ellery, que faz uma primeira análise dos resultados divulgados pelo IBGE no seu blog, de onde copio esta postagem.
Pelos meus cálculos, nosso PIB per capita caiu de pouco mais de 10 mil dólares para menos de 9 mil dólares: o pessoal não vai poder abusar nem em Paris, nem em Miami...
Ele mesmo diz que serão precisos números mais detalhados para saber onde foi parar o investimento, que desapareceu por completo do cenário à vista. Pode ser que demore uns dois ou três anos para aparecer de novo. Mais um crime econômico companheiro...
Paulo Roberto de Almeida

Blog do Roberto Ellery, sábado, 28 de março de 2015

Comentários a respeito dos números do PIB de 2014.

Ontem o IBGE divulgou os resultados do PIB de 2014 (link aqui). O crescimento de 0,1% ficou abaixo das expectativas do mercado em 2014 (reforçando a tese que o mercado é otimista) e muito abaixo da previsão do governo. Em janeiro de 2014 o mercado previa um crescimento do PIB de 2,28% (link aqui), a previsão foi caindo até chegar em 0,14% em dezembro de 2014 (link aqui), só a partir de 2015 o mercado passou a trabalhar com previsão de redução do PIB. Ainda não tenho informações de quanto seria o crescimento do PIB sem a mudança metodológica. A previsão feita pelo governo de crescimento de 4% em 2014 (link aqui) mostrou-se simplesmente absurda e desconectada da realidade, uma obra de ficção ruim.
A tabela abaixo (que está na página do IBGE) mostra a decomposição da taxa de crescimento do PIB tanto pela ótica da produção quanto pela ótica da despesa. Pela ótica da produção o setor de serviços, que corresponde a aproximadamente 60% da economia, cresceu 0,7% e foi o que teve melhor desempenho em 2014. O fato do setor com maior crescimento ter crescido apenas 0,7% mostra o desastre que foi o crescimento da economia em 2014. Ainda em relação a serviços fica evidente que os que afirmaram que a Copa do Mundo levaria a um forte crescimento dos serviços estavam errados. Conforme eu falei aqui no blog e em entrevista a Alexandre Garcia no Espaço Aberto da Globonews (link aqui) a Copa do Mundo é uma festa, podemos nos orgulhar de dar uma festa bonita, mas não podemos esperar ficar mais ricos dando festas.
Na outra ponta ficou a indústria. O setor encolheu 1,2% e mais uma vez puxou para baixo o crescimento do país. A gigantesca desvalorização do real bem como a tentativa frustrada de reduzir juros na marra não foram capazes de reverter o encolhimento da indústria, pelo contrário. A indústria de transformação, alvo de várias políticas do governo, diminuiu 3,8% em 2014, o crescimento de 8,7% da indústria extrativa mineral foi quem evitou um desastre ainda maior na indústria como um todo. A se confirmar a crise no setor de petróleo no mundo e se a crise da Petrobras não for contornada os resultados de 2015 para indústria podem ficar bem piores que os de 2014. Ao contrário do ano passado onde um desempenho excepcional da agropecuária “salvou” o crescimento do PIB (link aqui) este ano a o setor, que corresponde a aproximadamente 5% da economia, também teve um desempenho medíocre, cresceu 0,4%. Em resumo nenhum dos setores da economia mostrou força para puxar o crescimento do PIB.
Pela ótica da demanda o consumo das famílias, correspondendo a aproximadamente 62% do PIB, cresceu 0,9% e o consumo do governo, aproximadamente 20% do PIB, cresceu 1,2%. Que o consumo do governo tenha crescido bem mais que o consumo das famílias é um indício forte do que vivemos no Brasil. Um ajuste fiscal focado em corte de transferências para as famílias e aumento de impostos pode levar a um desequilíbrio ainda maior entre o crescimento do consumo das famílias e o crescimento do consumo do governo, grosso modo é como se estivéssemos sacrificando nosso consumo para permitir o aumento do consumo do governo. Porém o número que mais impressiona na ótica da despesa é a queda de 4,4% no investimento. A taxa de investimento no Brasil é baixa e está caindo, é difícil crescer sem produtividade (link aqui) e sem investimento. Sobre a queda do investimento chama atenção que o ativismo do BNDES mais uma vez não foi capaz de mostrar resultados sequer na taxa de investimento. O que mais será preciso para o governo assumir publicamente e de uma vez por todas que o BNDES age de forma cara e ineficiente?
A eficácia da desvalorização do câmbio fica aberta a questionamento à luz do fato que as exportações da indústria automobilística foram destaque negativo em 2014. A queda nas importações de máquinas e equipamentos reforça a tese que a os empresários não estão dispostos a investir e sugere que se não foi capaz de estimular a indústria, como esperavam os defensores da moeda fraca, a desvalorização cambial do primeiro governo Dilma pode ter dificultado a importação de máquinas e equipamentos e, portanto, contribuído para reduzir o investimento e a adoção de novas tecnologias incorporadas em máquinas e equipamentos. Ressalto que este comentário contém muita especulação e só estudos mais cuidadosos feitos com mais dados permitirão uma análise adequada dos efeitos da desvalorização do câmbio na economia.
A verdade é que os números de 2014 mostram uma economia em crise. O PIB per capita, variável relevante do ponto de vista econômico, encolheu em 0,7% e caiu para R$ 27.229. A combinação de uma inflação 6,4% e uma redução no PIB per capita deixa indiscutível que 2014 foi um ano muito ruim para a economia. Mais grave, as expectativas do mercado e do governo apontam para um 2015 ainda pior, inclusive com fortes chances de aumento na taxa de desemprego. Se considerarmos que mesmo após as mudanças metodológicas do BNDES o governo Dilma apresentou uma das menores taxas de crescimento da história recente e a menor desde a estabilização é muito provável que segunda década do século XXI seja uma nova década perdida. Não precisava ser assim...

sexta-feira, 27 de março de 2015

Brasil: um dos piores em crescimento do mundo





Alta média do PIB no governo Dilma é a menor desde mandato de Collor
O crescimento médio da economia brasileira no primeiro mandato de Dilma Rousseff, de 2011 a 2014, foi de 2,2% ao ano. Apesar de o resultado ter sido positivo, foi o menor avanço desde o governo de Fernando Collor de Mello, de 1990 a 1992, que apresentou queda de 1,29% ao ano.


"Dilma pegou um ambiente exterior desfavorável. Aqui dentro, o que mudou foi a matriz macroecômica, com controle de preços, aumento das despesas e estimulo ao crédito. A partior do final de 2012, todo mundo começou a por o pé no breque, percebendo que a gestão era temerária", disse o professor da Universidade de São Paulo (USP) Davi Simão Silber.

Entre os presidentes que governaram o país desde 1985, a maior média anual foi do mandato de Itamar Franco, de 1993 a 1995, quando o PIB cresceu 5,4% ao ano.

"O que puxa o PIB no governo do Itamar foi o desempenho da economia nos últimos seis meses de mandato dele, quando o país vivia aquela euforia do plano real. O PIB cresceu muito por isso", afirmou Silber.

Na sequência, entre as maiores altas, aparecem as registradas no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (de 2006 a 2010), quando atingiu 4,56%. Na sequência, aparecem os PIBs do primeiro mandato de Lula (de 2001 2005) e de Sarney – ambos ficaram em 3,49%. 

Economia cresceu 0,1% no ano
No governo de Fernando Henrique Cardoso, o crescimento ficou perto de 2,5%. No primeiro mandato, de 1995 a 1998, a alta média foi de 2,5% e no segundo, de 2,3%, segundo cálculos do matemático José Dutra de Oliveira Sobrinho.

Nesta sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a economia brasileira cresceu 0,1% em 2014. Em valores correntes (em reais), a soma das riquezas produzidas no ano passado chegou a R$ 5,52 trilhões, e o PIB per capita (por pessoa) caiu a R$ 27.229.

Esse é o pior resultado desde 2009, ano da crise internacional, quando a economia recuou 0,2%. Em 2013, de acordo com dados revisados, a economia havia crescido 2,7%.

Os números apresentados pelo IBGE já foram calculados com base na nova metodologia, que incluiu dados que não existiam e mudou a classificação de alguns itens. 

“O que contribuiu para o crescimento foram os serviços e, negativamente, foi a indústria”, afirmou Rebeca de La Rocque Palais, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

PIB do Brasil foi o 4º pior em lista de 34 países
Com o crescimento econômico de 0,1% em 2014, o Brasil ficou na 31ª posição num ranking do PIB de 34 países.

Segundo a lista elaborada pela Austin Rating,  o PIB do país no ano passado só não foi pior do que o do Japão (0%), da Finlândia (-0,1%) e da Itália (-0,4%).

A China se manteve na liderança o ranking, com um crescimento de 7,4%, seguida por Índia (7,2%) e Malásia (6%).

quarta-feira, 18 de março de 2015

O Brasil anda ruim? Ainda nao; vai ficar muito pior: analise de investidores

Como se trata de material protegido por copyright, ou por direitos exclusivos aos assinantes do serviço, não posso revelar nem a totalidade da análise, nem os dados editoriais do material abaixo, do qual eu selecionei apenas alguns trechos para que as pessoas tenham uma ideia mais fiável do que se anda dizendo sobre o Brasil no exterior.
Sei, por conhecimento direto, que fundos de investimento baseados em Nova York já tomaram a decisão de "desembarcar" do Brasil.
O que significa isto?
Significa vender o que for possível vender com um mínimo de perdas, retirar o dinheiro, enquanto o câmbio ainda não se deteriorou de vez, e não mais investir por aqui pelos próximos cinco anos, pelo menos.
É preciso saber que, à diferença dos verdadeiros especuladores de curto prazo, que atuam sobre ganhos de seis meses, fundos de investimento, que possuem uma carteira de vários bilhões de dólares -- tipicamente, um desses fundos médios, possue uma carteira de 5 a 10 bilhões de dólares apenas para mercados emergentes -- geralmente fazem planejamento de médio prazo (de 5 a 15 anos), com uma expectativa de ganhos de dois dígitos, pelo menos, do contrário não vale a pena correr o risco.
Dois dígitos significa entre 15 e 25% de valorização no ano, e isso pode ser ações, debêntures de empresas privadas, equity participations, e até títulos do governo com taxas atrativas, mas basicamente investimentos reais (tipo infraestrutura, empresas prometedoras, algumas até estatais).
Pois bem, o que acontece quando as coisas chegam ao ponto em que chegaram no Brasil, sem qualquer previsão de ganhos nos próximos dois anos?
Os fundos simplesmente fazem bagagem e vão embora, e deixam o país em questão até dois anos depois que as coisas estiverem estabilizadas e os negócios restabelecidos na perspectiva do crescimento. Ora, isso é impossível de ocorrer no momento.
É por isso que eu disse, no começo, que pode e deve ficar pior, como aliás é confirmado por este report, de que transcrevo estes trechos agora.
O analista que escreveu o relatório diz que se trata da PRIMEIRA VEZ, desde 1929-1931, que o Brasil enfrenta dois anos seguidos de recessão.
Paulo Roberto de Almeida


How bad can Brazil get? Much, much worse. 
A visit last week for a round of discussions with investors, government officials and scholars confirmed an extraordinary deterioration in Latin America’s biggest economy in just the last six months, one that is nowhere close to playing out.
(...)
The proximate cause was the collapse in the oil price, which suddenly rendered the US$130bn debt of state-owned oil behemoth Petrobras an untenable burden. Unluckily this coincided with the culmination of a scandal in which Petrobras executives and public officials stand accused of collecting millions of dollars in bribes from construction companies in exchange for contracts.
(...)
Petrobras’s implosion is also an economic disaster. The firm accounts for nearly 10% of the nation’s fixed investment, so its recently announced plans to slash capex by 30% this year will lop off 3% from total national capital spending. Its vast supplier relationships are an important part of the economic fabric, and these suppliers have been badly hurt by the firm’s inability to pay its bills: its payment terms have quadrupled from 28 days two years ago to 120 days today.
(...)
Brazil’s resource woes do not stop with Petrobras. Vale, the big mining firm that depends heavily on iron ore exports to China, is struggling because of the end of China’s construction boom, which has driven the iron ore price from an average of US$134 a ton in 2013 to around US$60 today.
(...)
The combined effect of all these negative economic factors, the necessary but painful fiscal tightening, and the lack of any other plausible sources of near-term growth, is that Brazil’s economy will likely contract by -1-2% this year, with another somewhat smaller drop in 2016. This would be the first time since 1929-30 that Brazil’s economy has shrunk for two consecutive years. On top of that, inflation is accelerating, and at 7.7% is at its highest rate since 2005.
(...)
Markets have already reacted, pushing the real down to 3 against the dollar, its lowest rate in a decade and nearly a third below its peak. The Bovespa index is 19% off its August high. But deeper selloffs are in store. Many major Brazilian institutions sold their domestic equity positions months ago, and private wealth is streaming out of the country. A common theme in our talks with investors was perplexity that foreign money continues to flow into Brazilian stocks. Once foreign investors wise up, equity prices and the real will both tumble much further.
(...)
Policy is unlikely to provide much help. Dilma is weak, politically isolated and committed to the PT’s strategy of buying votes through welfare populism. She is terrified of a credit-rating downgrade that would reduce Brazil’s debt to junk status, which is why she authorized Levy to tighten up the budget. Even if Levy succeeds in staving off a downgrade, the government has no strategy for re-igniting growth. And there is no guarantee that Levy will succeed: his austerity measures must pass a Congress that is now paralyzed by the Petrobras scandal, and whose leaders have no incentive to cut hard fiscal deals with a half-hearted Dilma. Levy himself has no political clout and will find it hard to act without strong backing from his boss. There are low but rising odds that he could resign by the end of the year.
(...)
The only good news is that most people seem to think the Petrobras scandal marks a turning point in the treatment of corruption: in a few years Brazil will emerge with a significantly cleaner political system. And the economy is large and diversified enough that it can weather a period of contraction without a severe decline in absolute living standards. For the next year or two, though, there is little reason to expect anything other than more pain.
[end]

quarta-feira, 4 de março de 2015

A nau sem rumo da economia brasileira: ou como fritar ministros em seis meses - Octavio Costa

Ministro da Fazenda Joaquim Levy já vai pular do barco?
Octávio Costa
O Dia (Rio), 3/03/2015

Ao formar seu governo em 1979, o general João Figueiredo, último presidente da ditadura militar, ficou sem saber exatamente o que fazer com a economia e deu uma no cravo e outra na ferradura. Manteve Mário Henrique Simonsen à frente da política econômica, como ministro do Planejamento, mas nomeou Antonio Delfim Netto para o Ministério da Agricultura. Simonsen, que havia chefiado a Fazenda no governo Geisel, foi encarregado de contornar os efeitos da segunda crise do petróleo. Optou por um tratamento de choque, com corte dos gastos públicos e superávit primário de 1% do PIB, ao preço de desaquecimento da indústria e do risco de recessão.

Nos bastidores, Delfim atirava no colega e criticava as medidas de austeridade. Garantia que, apesar de tudo, era possível adotar uma política que garantisse o crescimento. As pressões aumentaram até que Simonsen pediu o boné com apenas cinco meses no cargo. E Delfim assumiu o Planejamento sob aplausos dos empresários.

Para conhecer melhor esta história, vale a pena ler estudo do professor José Pedro Macarini, da Unicamp, sobre o período Figueiredo. O que mais impressiona é, sem dúvida, a semelhança entre o isolamento de Mário Simonsen e o rápido desgaste que enfrenta hoje o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

PEIXE FORA D’ÁGUA
A exemplo de Simonsen, Levy parece um peixe fora d’água no governo Dilma. Se ele representa a ultra-conservadora Universidade de Chicago, os demais membros da equipe econômica aproximam-se, sem dúvida, do pensamento desenvolvimentista (ao qual a presidenta Dilma também se filia).

A ortodoxia de Levy nada tem a ver com com a visão heterodoxa do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e da presidente da Caixa Econômica, Miriam Belchior. Mais importante: não se afina com a formação keynesiana da economista Dilma Rousseff, avessa ao liberalismo de Milton Friedman, Prêmio Nobel e guru do Chicago.

Substituto de Guido Mantega, Levy foi incumbido de pôr a casa em ordem, pois, como diz a presidenta, “quando a realidade muda, a gente muda”. Agiu rápido e baixou um pacote de ajuste fiscal, que minou as expectativas e faz de 2015 um ano perdido. Mas não encontrou sustentação sequer entre os parlamentares do PT, partido do governo. As medidas que mudam as regras da pensão de viúvas e do seguro-desemprego dificilmente passarão no Congresso.

ERROS DA PRÓPRIA DILMA

Ao defender a freada de arrumação na economia, Levy ataca sem piedade erros da política econômica do primeiro mandato de Dilma. Após afirmar que houve uma “escorregadinha” no controle das contas públicas, foi ainda mais longe e disse que a desoneração da folha de pagamento de empresas foi “um negócio muito grosseiro”. Segundo ele, “essa brincadeira nos custa R$ 25 bilhões por ano” e não protege, nem cria empregos.

Desta vez, Dilma reagiu: “A desoneração foi importantíssima e continua sendo. Se não fosse importante, tínhamos eliminado. Acho que o ministro foi infeliz no uso do adjetivo”. Levy levou o pito e ficou calado. Comentou com assessores que exagerou no “coloquialismo”. Ele já se corrigiu de outras vezes, mas começa a dar a impressão de que se prepara para pular do barco em poucos meses. Ao deixar o governo de João Figueiredo, Simonsen não deu grande importância: “O cargo de ministro é apenas mais uma linha no meu curriculum”. Joaquim Levy já tem esta linha no seu curriculum.

sábado, 28 de fevereiro de 2015

Brasil: governo incompetente, mandataria fraca, ministro liberal, tudo no atoleiro

Bem, eu acho que existem razões ainda mais imperiosas para ser bem mais severo em relação à atual situação do Brasil, e os jornais só refletem o que aparece como notícia objetiva.
Se formos destapar a bagunça, o retrato é ainda mais horrível, talvez até escandaloso, pelos crimes econômicos cometidos contra o país e a sua população.
E não estou falando de crimes comuns, que já deveriam ter sido objeto de processos criminais contra os responsáveis por eles.
Até nisso o Brasil é falho: criminosos continuam circulando, alguns até mandando...
Paulo Roberto de Almeida

‘Brasil atolado’ é a capa da ‘The Economist’
 Fernando Nakagawa - CORRESPONDENTE / LONDRES
O Estado de S. Paulo, 27/02/2015

Blog do ‘Financial Times’ e a revista ‘Time’ também destacam problemas econômicos do País

Do foguete que levava a um futuro brilhante ao atoleiro de um pântano. Para parte da mídia internacional, esse foi o caminho do Brasil nos últimos anos. Nesta semana, a revista The Economist diz na capa que o Brasil está atolado em problemas e vive a maior bagunça desde os anos 90. Enquanto isso, um blog do jornal Financial Times listou dez motivos que podem levar a presidente Dilma Rousseff a não terminar o segundo mandato e a revista Time enumerou cinco fatos que podem levar o Brasil ao precipício. O Brasil parece a bola da vez.
Acada dia a imprensa estrangeira parece mais frustrada com os rumos recentes do Brasil. O melhor exemplo dessa frustração é visto na revista britânica The Economist. Na edição latino-americana que chega às bancas, a capa é ilustrada por uma passista de escola de samba em um pântano coberta de gosma verde com o título “O atoleiro do Brasil”. As edições vendidas no resto do mundo têm outra capa, sobre o avanço da telefonia celular.
Em editorial, a Economist diz que o País pode ter “problemas muito maiores do que o governo admite ou investidores parecem perceber”. Além da ameaça de recessão e da inflação, o texto cita o fraco investimento, a corrupção na Petrobrás e a desvalorização cambial que eleva dívida externa em real das empresas brasileiras.
“Escapar desse atoleiro seria difícil mesmo para uma grande liderança política. Dilma, no entanto, é fraca. Ela ganhou a eleição por pequena margem e sua base política está se desintegrando”, diz a revista conhecida por ser politicamente liberal. Esse tom não lembra em nada o clima de festa e comemoração visto no fim da década passada, quando o País era o queridinho da vez e recebia elogios rasgados nos espaços mais nobres da imprensa estrangeira.
A fraqueza política do governo também é destacada no blog sobremercados emergentes do jornal Financial Times. O Beyondbrics afirma que a onda de problemas parece tomar direção “catastrófica”. “Tanto assim que há boas razões para acreditar que a presidente Dilma Rousseff, que iniciou o segundo mandato de quatro anos em 1.º de janeiro, pode não durar muito tempo.”
O blog diz que uma cassação de presidente exige “algo flagrantemente errado”. “Mas muitos fazem isso e sobrevivem. O que realmente conta é perder apoio no Congresso. A maioria de Dilma no Congresso diminuiu nas eleições com uma coalizão mais fragmentada e difícil de controlar”, cita ao lembrar que a insatisfação é vista até dentro do PT. Além disso, o texto diz que, se o Congresso cogitar um processo de impeachment, a Petrobrás poderia fornecer um argumento. “Dilma foi a presidente do conselho de administração quando a maior parte da suposta corrupção aconteceu”, diz o texto.
Nos Estados Unidos, a revista Time publicou na internet uma lista de “cinco motivos que poderiam levar o Brasil ao precipício”. Ao afirmar que o País parece viver uma “tempestade perfeita”, a publicação cita que não há sinais de que a corrupção esteja diminuindo e as notícias econômicas podem demorar a melhorar, já que o País não deve crescer em 2015 e aumentos de preços devem continuar a ocorrer diante da seca e do aumento de tarifas públicas.
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Para 'The Economist', Brasil está em um atoleiro
Por Suzi Katzumata e Ligia Guimarães

Valor Econômico, 27/02/2015

SÃO PAULO  -  O Brasil está em um atoleiro, preso a uma estagnação que começou em 2013 e que pode se tornar uma prolongada recessão; a um ambiente de inflação elevada que consome salários e eleva os pagamentos da dívida dos consumidores; e a um cenário de queda no investimento, que soma 8% no ano e pode cair ainda mais, segundo avalia a revista britânica "The Economist". A revista dedicou a capa da edição desta semana aos problemas que atingem o país, que sofre ainda com o escândalo de corrupção na Petrobras, que atinge as maiores construtoras nacionais e que paralisou os gastos de capital em vários segmentos da economia. Para completar, o real acumula uma queda de 30% frente ao dólar desde maio de 2013, uma mudança necessária, segundo a revista, mas que aumenta o impacto cambial da dívida de US$ 40 bilhões em moeda estrangeira que as empresas brasileiras têm de pagar este ano.
Segundo texto do editorial da "Economist", sair de um atoleiro desse já seria difícil até mesmo para uma forte liderança política, portanto, a fraqueza atual da presidente Dilma Rousseff é um complicador a mais para o Brasil. A revista observa que, após uma vitória apertada na eleição de 2014, a presidente viu sua taxa de aprovação cair de 42% em dezembro para 23% este mês, menos de dois meses depois de tomar posse de seu segundo mandato, abatida pela deterioração da economia e o escândalo da Petrobras. Ademais, há denúncias de que o Partido dos Trabalhadores (PT) e parceiros da coligação do governo teriam recebido pelo menos US$ 1 bilhão em propina. Para piorar, durante o período relevante das investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, a presidência do conselho da estatal era ocupada por Dilma.
Se a presidente quiser usar seu segundo mandato para salvar o Brasil, Dilma terá de conduzir o país em uma direção totalmente nova, diz "The Economist". O problema é que ela passou toda a campanha eleitoral exaltando um cenário econômico róseo e demonizando os planos neoliberais de seus oponentes. O lado positivo, segundo a revista, é que Dilma pelo menos reconhece que o Brasil precisa de "políticas mais amigáveis aos negócios, se quiser manter seu rating de grau de investimento e voltar a crescer". E esse reconhecimento é personificado pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy - "um economista treinado em Chicago, banqueiro e um dos raros liberais econômicos do país". O lado negativo, segundo a revista, é que o fracasso passado do Brasil em enfrentar as distorções econômicas deixaram Levy diante da armadilha da recessão.
Apesar de tudo, "The Economist" diz que o Brasil não é o único membro dos BRICs com problemas. "A economia da Rússia, em particular, tem sido castigada pela guerra, sanções e dependência do petróleo. Apesar de seus problemas, o Brasil não está em uma grande confusão como a Rússia", segundo a revista, acrescentando que o País tem um setor privado grande e diversificado e instituições democráticas robustas. "Mas as desgraças são mais profundas do que muitos reconhecem. A hora de dar um jeito é agora", sentencia a revista.

‘Indispensável’
A edição destaca ainda que a economia brasileira, guiada pelo ministro Joaquim Levy, definido como “um dos raros liberais econômicos do Brasil”,  enfrenta seu maior teste desde os anos 1990. E descreve Levy como “indispensável” no momento atual da economia, diante da fraqueza política da presidente. “Os riscos são claros. Recessão e redução das receitas fiscais podem comprometer o ajuste de Levy”, afirma a publicação.
A revista lembra que o ministro prometeu um enorme aperto fiscal para este ano, de quase dois pontos percentuais, que em parte será alcançado pela remoção de subsídios e restituição da Cide sobre os combustíveis, bem como pela redução de subsídios dos bancos públicos.
Uma dificuldade ao ajuste destacada pela revista é que Levy não poderá compensar o aperto fiscal com uma política monetária mais frouxa, porque “o Banco Central se curvou à vontade da presidente, ignorou sua meta de inflação”, deixando a margem de atuação limitada para o ministro.
O texto destaca ainda o perigo da fragilidade política de Dilma, e a rejeição do PT às medidas fiscais de Levy, que não foram negociadas durante a campanha. Cita também a derrota de Dilma com a vitória de Eduardo Cunha no Congresso.
Tal cenário de fraqueza política torna Levy “indispensável”, de acordo com a revista. “Ele deve construir pontes com Cunha, enquanto deixam claro que se o Congresso tenta extrair um preço orçamental para o seu apoio, levará a cortes em outros lugares”.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Perspectivas economicas (e morais) para 2015 - Ubiratan Iorio (recomendo leitura atenta)

Meus cumprimentos, enfáticos, ao Ubiratan Iorio, e uma confissão: tenho inveja de sua capacidade analítica, de sua capacidade de síntese, de sua força moral, de sua simplicidade expositiva, enfim da clareza, da justeza, da objetividade de seus argumentos. Gostaria de escrever como ele, mas para isso, eu teria de ter primeiro as mesmas virtudes analíticas que uma vida de estudos, de pesquisa, de reflexões sensatas sobre a realidade trazem a espíritos clarividentes como o dele.
Meus parabéns, e minhas recomendações, a todos os que frequentam este espaço, para que leiam atentamente cada linha que ele escreveu.
Retirado do boletim do Instituto Millenium.
Paulo Roberto de Almeida

Conjecturas de um economista

O que esperar de nossa amada Terra Brasilis em 2015? Como se comportará nossa debilitada economia? O que acontecerá nas imperscrutáveis sendas de nossa política? Quantos escândalos ainda se somarão à corrupção oficial, que já se tornou endêmica? Como reagirá o povo diante dos desagradáveis acontecimentos políticos e econômicos que podem ser prenunciados?
A Escola Austríaca de Economia, por uma questão fundamentalmente de metodologia, não crê em previsões quantitativas e, portanto, se alguém me perguntar a quanto andará a taxa Selic, ou a inflação de preços, ou a taxa de crescimento da economia, ou a taxa de desemprego em dezembro de 2015, responderei com um sonoro “não sei”! Um “não sei” científico, faço questão de frisar. E ao qual poderei acrescentar um “e ninguém pode saber”.
Mas é possível fazer algumas previsões qualitativas, considerando como base a boa teoria econômica da Escola de Viena e, como contraponto negativo, as ações e cacoetes de nossos mandatários políticos e da equipe econômica do velho-novo governo.
Economia e política, no mundo real, não podem ser dissociadas, especialmente no dito plano macroeconômico, ao contrário do que entende a maioria dos economistas, todos eles seres inteligentes e estudiosos, mas educados e treinados na corrente principal. Ambas andam lado a lado e se amparam no sistema ético-moral, seja este sistema virtuoso ou pecaminoso, lealdoso ou torpe, correto ou depravado.
Comecemos pelo mais importante dos três sistemas, que é certamente o ético-moral-cultural. Quando está putrefato, contamina inevitavelmente os outros dois, a saber, o político e o econômico. E será que podemos esperar que em 2015 a ética e os verdadeiros valores morais e culturais passarão da água ao vinho? Será que, depois de “mensalões”, “petrolões”, compra de votos com dinheiro e com cargos públicos e tantos outros episódios lamentáveis que os brasileiros, há anos, acompanham, perplexos e estupefatos, não aparecerão novos escândalos, sempre celeremente abafados pelo governo com o apoio de quase toda a mídia? Será que uma presidente da República – apenas para ficarmos com um mísero exemplo – que reluta em demitir a presidente e o conselho de administração da Petrobras, depois de tantos escândalos e de tantos prejuízos causados ao país, e ainda lhes dá apoio, passará a ser um modelo de respeito à ética e à boa gestão, apenas porque começará um novo mandato? Será que um governo que mentiu despudoradamente durante a campanha eleitoral de 2014, tentando mostrar um Brasil que só existia nas cabeças de sua equipe de marqueteiros e de seus militantes – que mais se assemelham a torcidas organizadas de clubes de futebol, tamanho o seu fanatismo -, passará a respeitar a verdade? Será, enfim, que os brasileiros poderão confiar em uma equipe de ministros que, antes de ser escolhida, foi alvo de investigações por parte do próprio governo para ver se alguns estariam ligados a casos de corrupção?
Meus leitores são inteligentes. Por isso, convido-os a responderem.
No que se refere à economia, é consensual que 2015 será um ano difícil, muito difícil, de aperto de cintos em zona de grande turbulência
No que se refere à economia, é consensual que 2015 será um ano difícil, muito difícil, de aperto de cintos em zona de grande turbulência. Quem semeia vento colhe tempestade e quem planta mentira recebe na testa o bumerangue da verdade. Esse velho ensinamento da vida se aplica com bastante propriedade à economia, não temos a menor dúvida quanto a isso. É impossível comer demais sem ter indigestão e o governo, entre 2008 e 2014, nada mais fez do que comer, comer e comer. Um apetite titânico, provocado pelo apego ao poder, pela demagogia e pelo desconhecimento da boa teoria econômica. A indigestão veio no início de 2014, mas pouco mais do que a metade do povo, enganado pela esmola do programa bolsa família e pela propaganda debochadamente mentirosa do governo, não a percebeu. Inflação de preços, desemprego, contas externas em estado lamentável, crescimento zero. Tripé macroeconômico arrasado. Um desastre completo. Atualmente, o número dos que percebem essa deterioração é maior, porque o processo de mercado é o melhor detector de mentiras que existe.
Um dos efeitos mais danosos provocados pela desastrosa política econômica levada a cabo a partir de 2010 – na verdade, a partir de 2008, ainda sob o comando de Lula – é que voltamos a ter o que os economistas chamam de dominância fiscal, uma situação em que o déficit nas contas do governo é que determina os rumos e os efeitos dos regimes monetário e cambial.
Há, teoricamente, dois casos possíveis em que essa dominância fiscal pode ocorrer. No primeiro, quando as autoridades fiscais dominam (a expressão advém da Teoria dos Jogos) as autoridades monetárias, que conduz a uma situação em que uma política monetária apertada agora pode significar inflação no futuro. Não há paradoxo nenhum nisso, porque, nesse caso, se as necessidades de financiamento do setor público (ou déficit nominal) são cobertas pela emissão de dívida interna, a maior taxa de juros que resultará cedo ou tarde realimentará o déficit e isso acontecerá até o ponto em que o governo será forçado a emitir mais moeda e, portanto, a alimentar a inflação futura.
No segundo, que acontece quando existe expectativa de forte inflação, a dominância fiscal pode fazer com que uma política monetária apertada agora aumente a inflação imediatamente. E também não há contradição aí. Isso pode acontecer porque o aumento provocado na taxa de juros causa o surgimento ou o recrudescimento das expectativas de inflação e, dada a racionalidade dos agentes econômicos, se todos acham que a inflação vai ser maior no futuro, por que não aumentar os preços imediatamente, em busca de ganhos imediatos? É pura ação humana em ambiente de incerteza e tentando valer-se da variável tempo para alcançar estados mais satisfatórios.
Essas observações, embora não sejam essencialmente “austríacas” – na verdade, remontam a Bob Lucas, Thomas Sargent, Neil Wallace e outros “novos clássicos” –, não só não contradizem, como até respaldam a Teoria Austríaca da Moeda e do Capital e a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos. É verdade que, rigor, para a Escola Austríaca não há motivos plausíveis para a existência de “regimes” ou “políticas” fiscais, monetárias e cambiais, mas, já que elas existem, o second best é que não exista dominância de nenhuma delas sobre as demais. Já que estão aí – e continuarão a estar até que a terra dê muitas voltas – que sejam independentes uma das outras.
Ao expandir o crédito sem que a poupança tivesse aumentado, o governo provocou um “alongamento” artificial na base da estrutura de capital (ou triângulo de Hayek, como é do conhecimento dos meus leitores mais assíduos). Investimentos inviáveis, então, passaram a ser erroneamente interpretados, induzidos pela política monetária errada, como, potencialmente, viáveis. Além disso, o governo estimulou abertamente o consumo, o que contribuiu decisivamente para agravar os inevitáveis ajustamentos inerentes ao processo de mercado e que aconteceriam de qualquer forma. As taxas de juros, que tenderiam a subir por conta da disputa pelo crédito, foram mantidas baixas por muitos meses, na vã tentativa de “estimular o crescimento”. Como sempre acontece quando a expansão monetária não é lastreada em aumento na poupança genuína e como o crédito dos bancos oficiais passou a crescer cada vez mais, esses ajustamentos, que já podiam ser detectados em 2013, explodiram em 2014. Aqueles investimentos que pareciam rentáveis, como sempre acontece, passaram a ser inviáveis. A base da estrutura de capital, que se alargara de maneira não natural, então, encolheu, com a eclosão do conhecido efeito concertina. E a economia, literalmente, parou. Esse quadro de recessão com inflação foi ainda agravado pelo abandono irresponsável do princípio da responsabilidade fiscal. Nenhuma “contabilidade criativa” pode ser capaz de alterar as respostas da economia a políticas erradas!
Em suma, o grande desafio para 2015 deveria ser o de eliminar essa nefanda dominância fiscal, um presente de grego legado por Dilma, Mantega & Cia. Uma demonstração incrível de incompetência teórica alimentada por uma crença absurda nos poderes de Grayskull, em que o Estado se traveste de He-Man e acredita que pode conduzir a vida econômica dos indivíduos. Ressalte-se que foram necessários muitos anos de esforços e de exigências penosas para que a dominância fiscal fosse anulada, mas que Dilma, Mantega e seus auxiliares conseguiram mandar para as calendas todo esse sacrifício em apenas quatro anos.
Quem acredita em milagres pode pensar que o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, poderá resolver esses problemas com sua varinha mágica de bom defensor do erário e que, em cerca de um ano, o desempenho da economia voltará a ser satisfatório. Ledo engano! Primeiro, porque muito dificilmente ele terá autonomia para fazer o que deve ser feito, que é cortar fortemente as despesas públicas, podar ministérios, acabar com a casa-da-mãe-joana em que o aparelhamento partidário transformou o Estado, reduzir a brutal carga tributária, desburocratizar, desregulamentar, privatizar, abrir os mercados à competição interna e externa, adotar uma política externa conforme aos interesses do país e muitas, dezenas e centenas, de medidas liberalizantes.
Segundo, porque Joaquim, consequentemente, será compelido a considerar o atual descalabro, provocado pela mistura macabra de intervencionismo aliado com o projeto de poder do PT, como um dado e a partir disso ajustar sua coleção de foices fiscais para tentar melhorar o deplorável estado das contas públicas.
E – não tenham dúvidas quanto a isso! – ao fim e ao cabo, suas tesouras vão cortar mesmo, afiadas, os fundos de nossos bolsos e desconjuntar, certeiras, nossas algibeiras. Aumentar tributos, para os políticos, é sempre muito mais fácil do que cortar despesas. Já se fala na volta da execrável CPMF, da CIDES, em alíquotas mais altas para o IRPF e, até, no abominável imposto sobre grandes fortunas, velho sonho dos petistas e esquerdistas que creem pia e estupidamente que a causa da pobreza é a riqueza…
Terceiro, porque, por seu histórico como secretário do Tesouro de Lula e secretário de Fazenda do governador Cabral no Rio, Levy, embora mostrando “competência” para melhorar as contas públicas, o fez muito mais aumentando receitas do que reduzindo despesas. Fazer “ajustes fiscais” ele sabe fazer, mas a qualidade desses acertos é que é o problema. Aumentar alíquotas de impostos, criar e recriar taxas e contribuições – e toda e qualquer alma com um mínimo de percepção econômica deveria estar farta de saber isso – equivale a dar um tiro no pé, porque o consequente empobrecimento do setor privado e o desestímulo à produção e à livre iniciativa sufoca o estímulo a trabalhar, asfixia a economia, estrangula o emprego, afoga o empreendedorismo e tolhe a atividade empresarial. Em suma, o novo ministro, embora tenha estudado na excelente EPGE e em Chicago, até aqui se mostrou distante de poder ser considerado um liberal. Adicionalmente, posso quase afirmar que não conhece os bons ensinamentos da Escola Austríaca e muito menos que eles funcionam no mundo real. É um economista sério, mas para quem cortar gastos ou aumentar receitas parece não fazer muita diferença, pois o que importa é a diferença entre gastos e receitas.
É evidente que mais esse assalto esperado aos pagadores de tributos amplifica seus efeitos perniciosos quando aliado ao transtorno do Leviatã, ao manicômio da burocracia, ao hospício da regulamentação e ao sanatório dos controles do Estado sobre nossas vidas.
Receio que todo o esforço poderá resultar em vão porque a essência de nossos problemas, ao invés de ser enfraquecida, continuará intacta
Com toda a sinceridade, portanto, pelas razões expostas, não compartilho com os mercados financeiros o otimismo demonstrado quando da indicação de Levy para comandante da economia, até porque tenho convicção de que nenhuma economia precisa de um “comandante”. Teremos um ano muito duro pela frente, como tem mesmo que ser, mas receio que todo o esforço poderá resultar em vão porque a essência de nossos problemas – o agigantamento do Estado e sua crescente intromissão nas vidas de pessoas e empresas – ao invés de ser enfraquecida, continuará intacta, sendo tratada a pão de ló, como um rei gordo e pachorrento. Isso nos conduz ao terceiro problema, que é o político.
Nenhum povo, como disse Churchill, pode ser enganado indefinidamente e as eleições de outubro passado já deram sinal disso. Praticamente a metade dos votantes manifestou claramente que não está satisfeita com os que estão encastelados no poder desde 2003. A oposição saiu fortalecida e parece que vai, enfim, depois de doze anos de letargia, cumprir o seu papel constitucional, que é exatamente o de fazer oposição. Em ano de aperto econômico, de aumento da carga tributária e com a muito provável demora da inflação de preços em cair e do emprego em subir, mais eventuais novos escândalos que poderão explodir (como as tais “operações secretas” do BNDES), essa insatisfação poderá aumentar e, consequentemente, as pressões sobre o governo também. Por muito menos do que os episódios de ruptura ética e moral protagonizados pelo governo petista, Collor foi posto para fora do Planalto a pontapés. Se Lula resistiu ao “mensalão” em 2005 e a atual presidente ao “petrolão”, foi porque a popularidade de ambos estava alta. Mas popularidade é como um sopro de fumaça, que vem e passa. Um eventual movimento pelo impeachment da presidente poderá, em um ano econômica e politicamente difícil, ganhar força e poderemos ter problemas até de governabilidade. Não estou querendo dizer que desejo que essa situação aconteça, mas apenas que não é maluquice cogitar que pode acontecer.
O fiel da balança, como vem acontecendo desde os anos oitenta, é o velho e viciado PMDB, partido que, com raras exceções, é dado ao péssimo hábito de trocar votos por apoios a quem quer que esteja no poder. Infeliz é o país que tem um fiel da balança assim! Porém, se a pressão popular contra os desmandos, as mentiras, a corrupção generalizada, a inflação, o desemprego e outras coisas mais forem fortes, os peemedebistas – para “honrarem” sua história – poderão muito bem trocar de lado e mudar-se para a oposição. Não comem feijão com arroz, alimentam-se de votos; não bebem água, bebericam urnas…
São, enfim, conjecturas para o novo ano, que escrevo com tristeza, ressaltando que nunca fui, sou ou serei membro de qualquer partido político, porque sempre prezei e continuarei zelando por minha independência para dizer e escrever o que penso.
Se vocês quiserem concordar com essas conjecturas, tudo bem, porque não me sentirei só. Mas, se não creem que sejam plausíveis, podem me cobrar daqui a um ano, certo?
E, a rigor, querem saber de um segredo? Eis: espero que eu esteja errado… Afinal, vivo no Brasil.
Minhas palavras finais são, contudo, de alento. Creio que nunca houve condições de crescimento do movimento liberal que fossem tão promissoras como agora, nem mesmo no início dos anos noventa, no período posterior à queda do muro de Berlim e à implosão da URSS. Nossa tarefa, neste momento, é a de espalhar a verdade histórica de que sem liberdade não é possível construir-se uma grande nação. Quanto a isso, podem contar comigo, como sempre. E, logicamente, com o IMB, o ILIN e todos os institutos e grupos de estudos cuja tarefa é semear os valores da liberdade e dos valores morais.
Desejo, mesmo em meio a esta barafunda, um feliz ano de 2015 a todos vocês no plano pessoal. Saúde vale mais do que inflação; paz de espírito do que corrupção; amor do que ódio; luta do que acomodação; consciência tranquila mais do que medo de ser preso; patrimônio individual mais do que PIB; e convicção na liberdade muito mais do que servidão aos poderosos de plantão!
Fonte: Blog do Ubiratan Iorio