Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quarta-feira, 4 de março de 2015
A nau sem rumo da economia brasileira: ou como fritar ministros em seis meses - Octavio Costa
Octávio Costa
O Dia (Rio), 3/03/2015
Ao formar seu governo em 1979, o general João Figueiredo, último presidente da ditadura militar, ficou sem saber exatamente o que fazer com a economia e deu uma no cravo e outra na ferradura. Manteve Mário Henrique Simonsen à frente da política econômica, como ministro do Planejamento, mas nomeou Antonio Delfim Netto para o Ministério da Agricultura. Simonsen, que havia chefiado a Fazenda no governo Geisel, foi encarregado de contornar os efeitos da segunda crise do petróleo. Optou por um tratamento de choque, com corte dos gastos públicos e superávit primário de 1% do PIB, ao preço de desaquecimento da indústria e do risco de recessão.
Nos bastidores, Delfim atirava no colega e criticava as medidas de austeridade. Garantia que, apesar de tudo, era possível adotar uma política que garantisse o crescimento. As pressões aumentaram até que Simonsen pediu o boné com apenas cinco meses no cargo. E Delfim assumiu o Planejamento sob aplausos dos empresários.
Para conhecer melhor esta história, vale a pena ler estudo do professor José Pedro Macarini, da Unicamp, sobre o período Figueiredo. O que mais impressiona é, sem dúvida, a semelhança entre o isolamento de Mário Simonsen e o rápido desgaste que enfrenta hoje o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
PEIXE FORA D’ÁGUA
A exemplo de Simonsen, Levy parece um peixe fora d’água no governo Dilma. Se ele representa a ultra-conservadora Universidade de Chicago, os demais membros da equipe econômica aproximam-se, sem dúvida, do pensamento desenvolvimentista (ao qual a presidenta Dilma também se filia).
A ortodoxia de Levy nada tem a ver com com a visão heterodoxa do ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, do presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e da presidente da Caixa Econômica, Miriam Belchior. Mais importante: não se afina com a formação keynesiana da economista Dilma Rousseff, avessa ao liberalismo de Milton Friedman, Prêmio Nobel e guru do Chicago.
Substituto de Guido Mantega, Levy foi incumbido de pôr a casa em ordem, pois, como diz a presidenta, “quando a realidade muda, a gente muda”. Agiu rápido e baixou um pacote de ajuste fiscal, que minou as expectativas e faz de 2015 um ano perdido. Mas não encontrou sustentação sequer entre os parlamentares do PT, partido do governo. As medidas que mudam as regras da pensão de viúvas e do seguro-desemprego dificilmente passarão no Congresso.
ERROS DA PRÓPRIA DILMA
Ao defender a freada de arrumação na economia, Levy ataca sem piedade erros da política econômica do primeiro mandato de Dilma. Após afirmar que houve uma “escorregadinha” no controle das contas públicas, foi ainda mais longe e disse que a desoneração da folha de pagamento de empresas foi “um negócio muito grosseiro”. Segundo ele, “essa brincadeira nos custa R$ 25 bilhões por ano” e não protege, nem cria empregos.
Desta vez, Dilma reagiu: “A desoneração foi importantíssima e continua sendo. Se não fosse importante, tínhamos eliminado. Acho que o ministro foi infeliz no uso do adjetivo”. Levy levou o pito e ficou calado. Comentou com assessores que exagerou no “coloquialismo”. Ele já se corrigiu de outras vezes, mas começa a dar a impressão de que se prepara para pular do barco em poucos meses. Ao deixar o governo de João Figueiredo, Simonsen não deu grande importância: “O cargo de ministro é apenas mais uma linha no meu curriculum”. Joaquim Levy já tem esta linha no seu curriculum.
terça-feira, 3 de março de 2015
Renuncia de Dilma, em lugar de impeachment, para permitir a volta do chefe da quadrilha
Pelo menos é assim que interpreto o longo artigo, com longas citações, desse aliado fundamental do lulo-petismo no jornal do chamada chefe da quadrilha, mas que é apenas o subchefe, e que eu chamo de Stalin Sem Gulag (ainda bem, do contrário eu não estaria aqui escrevendo para vocês, mas em algum Gulag tropical).
Enfim, tudo isso tem a ver com o pavor dos petralhas de serem conduzidos à Papuda, e de soçobrar no pântano que eles mesmos criaram, por quadrilheiros, mafiosos, ladravazes.
A renúncia abriria a possibilidade de volta triunfal daquele que já foi chamado de Grande Apedeuta, e que é na verdade o capo di tutti i capi.
Assim vamos, de surpresa em surpresa.
Não deixa de ser interessante...
Paulo Roberto de Almeida
Renúncia de Dilma, melhor que impeachment
Por Celso Lungaretti, de São Paulo
A situação política brasileira assumiu feições de crise grave, no fim-de-semana, com a denúncia do advogado Modesto Carvalhosa, de que a presidenta Dilma e seu governo tentam proteger as empreiteiras envolvidas na corrupção e delitos revelados pela Operação Lava Jato. Quase ao mesmo tempo, o ex-secretário de imprensa durante a presidência de Lula, o jornalista Ricardo Kotscho no seu blog, num texto virulento pergunta se o governo Dilma está no fundo do poço ou se esse poço é sem fundo, depois de já ter escrito estar o governo Dilma caminhando para a autodestruição.
Diante desse clima que se deteriora, agravado pela tendência da bancada petista de rejeitar os ajustes fiscais propostos pela presidenta, o sociólogo Demétrio Magnoli se pronuncia contra o impeachment, prejudicial para a imagem do Brasil, e defende uma renúncia da presidenta e do vice-presidente para serem realizadas novas eleições. Seria a oportunidade do retorno de Lula, mesmo porque na atual situação ninguém pode imaginar como se chegará até 2018.
Seguem as apreciações do colunista Celso Lungaretti, do Direto da Redação, o Editor.
Muito perdem os internautas ditos de esquerda ao desqualificarem, com intolerância extrema, personagens como o jornalista e sociólogo Demétrio Magnoli, que está longe de ser “um dos novos trombones da direita” (como o qualificou a revista IstoÉ), embora defenda posições questionáveis sobre o movimento estudantil e sobre as cotas raciais, por exemplo.
Exigir que todos se verguem a um pensamento único é coisa dos tempos de Stalin e de Hitler. Magnoli também dá estocadas contra a direita, e algumas delas são certeiras. Por que, simplesmente, não refletirmos sobre cada uma de suas posições, aceitando algumas e divergindo das outras?
Seu artigo A hora e a história é um interessante meio-termo entre a pregação direitista do impeachment de Dilma Rousseff e a defesa incondicional de um governo que, salta aos olhos, perdeu o controle da situação e está condenado (condenando-nos) a uma lenta agonia, ou coisa pior.
Ele rechaça o impedimento (“para não transformar o Brasil num imenso Paraguai”, retrocedendo “do estatuto de moderna democracia de massas ao de uma democracia oligárquica latino-americana”, e também porque “na nossa democracia, a hipótese de impeachment só se aplica quando há culpa e dolo”), mas, assim como eu, percebe os perigos que corremos, sendo golpe de estado o maior deles, caso continuemos submetidos ao “dilmismo, essa mistura exótica de arrogância ideológica, incompetência e inoperância”, que “o país não suportará mais quatro anos”.
Como alternativa, Magnoli propõe que, ao invés de pregarem o impeachment, os descontentes lancem a Dilma o repto “Governe para todos — ou renuncie”:
“No atual estágio de deterioração de seu governo, a saída realista para Dilma é extrair as consequências do fracasso, desligando-se do lulopetismo e convidando a parcela responsável do Congresso a compor um governo transitório de união nacional. O Brasil precisa enfrentar a crise econômica, definir a moldura de regras para um novo ciclo de investimentos, restaurar a credibilidade da Petrobras, resgatar a administração pública das quadrilhas político-empresariais que a sequestraram. É um programa e tanto, mas também a plataforma de um consenso possível…
“…Se a presidente, cega e surda, prefere persistir no erro, resta apontar-lhe, e a seu vice, a alternativa da renúncia, o que abriria as portas à antecipação das eleições“.
DILMA-2 ESTÁ SENDO “CENÁRIO DE TERRA ARRASADA”,
AVALIA RICARDO KOTSCHO
PARA ONDE VAMOS, DILMA:
FUNDO DO POÇO OU POÇO SEM FUNDO?
“Bloqueio de caminheiros deixa animais sem ração — Na região sul, aves são sacrificadas em granjas, porcos ficam sem alimento e preço do leite deve subir”.
“Indicadores do ano apontam todos para a recessão”.
“Estudo da indústria calcula impacto de racionamento no PIB — Queda de 10% no abastecimento de gás, energia e água levaria à perda de R$ 28,8 bi”.
Direto da Redação é um fórum de debates editado pelo jornalista Rui Martins.
Os comentários às matérias e artigos aqui publicados não são de responsabilidade do Correio do Brasil nem refletem a opinião do jornal.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015
Politica mafiosa: "Ja da' para ouvir o 15 de marco"- Reinaldo Azevedo
Paulo Roberto de Almeida
Já dá para ouvir o 15 de março
Reinaldo Azevedo
Folha de São Paulo, 27 de fevereiro de 2015
A pantomima petista chegou ao fim. O custo é imenso. E vai cobrar a fatura de gerações, podem escrever
"Soc, poft, pow! Coxinha. Golpista!"
Eis o som presente do mar futuro de gente nas ruas no próximo dia 15. Ali vão as onomatopeias e vitupérios produzidos pelos milicianos petistas contra pessoas comuns, que pagam impostos e estão cansadas de ser roubadas. Pois é... Os companheiros acham que chegou a hora de nos pegar na porrada.
Na segunda, enquanto Lula e seus "tontons macoute" faziam um ato "em defesa da Petrobras", no Rio --o que supõe distribuir sopapos didáticos para ensinar a essa brasileirada o valor do patriotismo--, a Moody's anunciava o rebaixamento da nota da estatal. Bastava que caísse um degrau para passar do azul para o vermelho, do grau de investimento para o especulativo. Mas a agência empurrou a empresa escada abaixo: a queda foi logo de dois --e ainda com viés negativo.
A presidente Dilma Rousseff, com a clarividência habitual, atribuiu a decisão "à falta de conhecimento". É verdade. A agência, o mercado e todo mundo desconhecem, por exemplo, o balanço da empresa. O que se dá como certo é que o governo indicou uma diretoria para o exercício da contabilidade criativa, com Aldemir "Hellôôô" Bendine à frente. A crise, no Brasil, também é brega.
A realidade ganhava, assim, traços de caricatura, de narrativa barata, de roteiro de filme de segunda linha. Enquanto Lula, o grande sacerdote do modelo que levou a Petrobras ao desastre, oficiava na ABI mais uma de suas missas macabras, disparando contra elites imaginárias, a empresa passava a arcar com mais um custo das forças malignas que ele conjurava. Havia pouco, Paulo Okamotto, o sócio do Babalorixá de Banânia, explicara em entrevista como o partido lida com as empreiteiras: "Funciona assim: 'Você está ganhando dinheiro? Estou. Você pode dar um pouquinho do seu lucro para o PT? Posso, não posso.'"
Das expressões ou palavras que criei para definir esses seres exóticos, "petralha" é a mais popular, mas não é a de que mais me orgulho. Gosto mesmo é de "burguesia do capital alheio", que é como chamo os companheiros desde meados da década de 90, antes ainda de sua ascensão, quando fingiam ares de resistência.
Sempre me impressionou a facilidade com que se insinuavam nas estruturas do Estado e das empresas privadas e passavam a ser beneficiários do esforço de terceiros. Voltem lá a Okamotto. Jamais lhe ocorreria indagar se os empresários podem dar um pouco do seu risco ao PT. O partido se apropria é de uma parte do lucro. A expressão que criei serve para designar o petismo, mas poderia definir a máfia.
O modelo entrou em colapso. Se Dilma será ou não impichada, não sei. Como escrevi nesta Folha, golpe é rasgar a lei e a Constituição democraticamente pactuadas. O que dá para saber, e isto é certo, é que a pantomima petista chegou ao fim. O custo é imenso. E vai cobrar a fatura de gerações, podem escrever. As ruas vêm aí, e Lula, o irresponsável da segunda-feira, com seus milicianos, nada pode fazer pela governanta. Ao contrário: é ele, hoje, quem a desestabiliza.
A presidente tem de se escorar no braço de Eduardo Cunha e repetir Blanche DuBois, a doidona de "Um Bonde Chamado Desejo", quando decide seguir pacificamente para o hospício, em companhia de um alienista: "Seja você quem for, eu sempre dependi da boa vontade de estranhos".
sábado, 1 de novembro de 2014
Os dez mandamentos da politica (em certos governos) - Paulo Roberto de Almeida
Gostaria, em todo caso, de aproveitar esta oportunidade, para me desculpar com Moisés, e seus colaboradores, publicitários, escriturários e outros aspones, por interpretar de maneira assim tão pouco respeitosa os mandamentos tão sábios e tão politicamente corretos que ele nos legou.
Acho que algumas pessoas, companheiros, como não poderia deixar de ser, colocariam a lei mosaica na mesma categoria da "herança maldita" que eles acusam ter recebido de outros, numa inacreditável demonstração de má fé. Um dia a fúria do senhor, isto é, do povo, se abaterá sobre eles...
Paulo Roberto de Almeida