Talvez os humoristas se proponham fazer alguns ajustes em determinadas instituições regionais.
A Unasul, por exemplo, poderia ser redesignada como "União das Nacões Ridículas da América do Sul".
O caso do Equador revelou a mais relevante coleção de trapalhadas políticas na região desde que Woody Allen realizou aquele ridículo filme (horrível, sob qualquer aspecto) Bananas, em algum momento dos anos 1960.
Essas trapalhadas não ficaram restritas ao próprio material local, mas atingiram a região como um todo, suscitando declarações desencontradas de quem deveria ficar simplesmente quieto nessas horas excitantes para a democracia local. Alguns "aliados" sairam logo em defesa do presidente ameaçado, vendo a mão perversa do imperialismo numa simples revolta salarial de policiais descontentes.
Outros representantes de países, até ministérios inteiros, soltaram notas oficiais, dizendo que estavam liderando esforços em defesa da democracia, coordenando reuniões da OEA, da Unasul, do CSNU, disso e mais aquilo, só faltando uma referência ao Papa e ao Império, claro. Presidentes de toda a região estavam saindo em desabalada carreira para uma dessas capitais que tampouco deixam de pecar pelo ridículo, para provavelmente emitir uma "declaração" em apoio ao regime constitucional, contra o golpe de Estado, sem falar absolutamente nada das trapalhadas do próprio governo que provocou todo o problema. Nunca antes no continente, tanta transpiração com tão pouca inspiração foi manifestada em torno de acontecimentos tão patéticos.
As trapalhadas começaram no próprio governo, ao emitir uma lei que retirava benefícios de policiais, com a cooperação de congressistas amigos do poder e a oposição de outros. Depois foi a vez do presidente pretender conversar com policiais em revolta, com direito a gás lacrimogênio, máscara anti-gás e um cerco ao hospital para onde ele foi levado...
Militares ocupando "postos estratégicos", policiais espalhados pelas ruas e bloqueando estradas, alguns saqueadores aproveitando para exercer seu direito a saques, declarações desencontradas de todos, políticos, militares, diplomatas, mobilização rápida, e descoordenada, dos "amigos da democracia" -- alguns amigos, outros apenas oportunistas -- e todo um cenário de confusão como raramente se viu na região.
Ou talvez sim, mas não com tantos episódios burlescos e patéticos em tão pouco tempo.
Enfim, uma comédia ridículo, com enredo lamentável, personagens inacreditáveis e declarações memoráveis.
Vou dispensar-me de postar todos os materiais lidos nos últimos dois dias, pois o ridículo para este blog seria demais.
Vou poupar meus leitores. Apenas confirmar minha percepção de que, mais do que atrasados, certos países da região sofrem de deficiências graves em sua classe política, personagens indignos de representar a nação da qual são representantes presumidos.
Paulo Roberto de Almeida