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segunda-feira, 29 de julho de 2019

Governo Bolsonaro facilita deportação de brasileiros dos EUA de Trump (O Globo)

Pessoalmente, considero uma vergonha que o governo Bolsonaro colabore com as medidas restritivas do governo Trump em relação aos brasileiros indocumentados nos Estados Unidos. Muitos deles esperam, com a intervenção de advogados, conseguir suspensão da expulsão, provando que estão trabalhando honestamente há muitos anos nos EUA.
Os consulados brasileiros nunca emitiram tais documentos de retorno ao Brasil sem o consentimento dos próprios brasileiros, geralmente quando não havia mais recurso possível.
Paulo Roberto de Almeida

Governo Bolsonaro facilita deportação de brasileiros dos EUA

Mudança começou a valer em junho; advogada critica tentativa de alinhamento com Trump, que apertou cerco aos 'sem papéis'

SÃO PAULO — O governo Jair Bolsonaro aceitou um pleito antigo dos americanos e facilitou a deportação de brasileiros que emigraram sem visto adequado aos Estados Unidos . Com o novo procedimento, baseado em parecer jurídico e adotado em junho, os consulados brasileiros poderão enviar ao governo americano documentos dos deportáveis à revelia. Embora a medida sirva, em um primeiro momento, para casos em que se esgotaram as chances legais de se permanecer nos EUA, especialistas acreditam que o novo mecanismo pode ser utilizado para casos de deportações expressas e tendem a afastar brasileiros dos consulados, por temerem a maior colaboração com autoridades americanas.
Até então, mesmo brasileiros sem papéis e com todo o processo imigratório nos EUA esgotado, tinham que pedir passaporte ou Autorização de Retorno de Brasileiro (ARB) para pegar um avião nos EUA e entrar no Brasil . Muitos preferiam seguir presos a voltar, alguns alegando até perseguição, e não assinavam o pedido dos documentos. Agora o governo brasileiro pode conceder atestados de nacionalidade, expedidos à revelia do preso. Como foi fechado um acordo com a Polícia Federal, este documento passou a ser aceito nos aeroportos brasileiros.
A Polícia Federal e o Itamaraty não atenderam ao pedido de entrevista. Por e-mail, o Ministério das Relações Exteriores disse que o atestado de nacionalidade é utilizado em situações excepcionais e que brasileiros que alegarem questões humanitárias não serão deportados contra a sua vontade. Fontes do Itamaraty afirmam que alguns brasileiros já começaram a ser deportados graças à mudança, que começou a valer em junho.
Segundo as fontes, que falaram ao GLOBO sob anonimato, o governo Bolsonaro atendeu a um pleito americano de anos — o Brasil temia que a medida pudesse afastar os brasileiros dos consulados nos EUA.
A decisão brasileira também aliviaria os custos americanos de prisão. Com a atual política de Washington de cerco aos “sem papéis”, as detenções para imigrantes estão superlotadas e os custos têm crescido. Assim, o governo americano tem tentado acelerar os casos de deportação e ampliado as possibilidades de “deportações sumárias”, onde os imigrantes que acabaram de entrar nos EUA sequer precisam passar por um processo judicial.
A advogada brasileira Renata Castro, especializada em imigração na Flórida, alerta que, embora a medida tenha sido até então utilizada para casos em que o processo migratório explorou todos os recursos, com o tempo poderá ser usada em novas brechas pelos americanos. Ela ressalta que não é segredo que o governo de Donald Trump quer acelerar as deportações sumárias.
— A forma como o atual governo tem se relacionado com os EUA e a falta histórica de estratégias do governo em alianças internacionais indica que esta certidão pode ter seu uso ampliado no futuro, em casos de deportações sumárias, sem o devido processo legal — disse. — O Brasil sempre foi muito passivo em auxiliar os brasileiros no exterior, e agora busca um alinhamento muito forte com o governo de Trump.
Outros países também possuem atestados e certidões iguais ao que o Brasil passou a adotar. Mas em geral possuem, segundo diplomatas ouvidos pelo GLOBO, uma postura de maior defesa de seus cidadãos. O México , por exemplo, chega a pagar advogados de imigração para encarcerados nos EUA por questões migratórias — com a fiança, eles continuam nos EUA, trabalham e, invariavelmente, enviam dinheiro para a família no México. Até a Guatemalaconseguiu impedir o plano americano para que seus cidadãos que buscam asilo no país esperem pela concessão da permissão em seu país de origem. Assim, podem esperar em solo americano enquanto os processos são analisados.
Castro afirma que esta deve ser a primeira de novas medidas brasileiras que podem prejudicar a vida do imigrante nos EUA. Com a atual política de aproximação entre os dois governos, ela espera mais parcerias no compartilhamento de informações entre os países e auxílio para avaliação sobre a concessão ou não de asilos a brasileiros. A advogada lembra que no último ano só foram concedidos 26 asilos a brasileiros, de um total de 1.546 pedidos analisados.

Comunidade com medo

O temor de que a maior aproximação entre os governos leve a prejuízos a imigrantes sem papéis nos EUA cresce na comunidade brasileira. A indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ao posto de embaixador em Washington amplia esse cenário. Em março, o filho do presidente disse que os imigrantes brasileiros ilegais nos EUA são uma “vergonha” para o país.
— Vemos toda a comunidade com muito medo das políticas migratórias de Trump e o atual governo brasileiro, com sua aproximação a Washington, piora as coisas. Muitos se sentem abandonados — afirmou Natalicia Tracy, diretora do Centro do Trabalhador Brasileiro em Boston.
“Caso a situação seja classificada como de natureza humanitária, os consulados deverão desconsiderar a expedição de atestado de nacionalidade. Sendo assim, não cabe falar em recusa por questão humanitária, já que eventual identificação de razões humanitárias é realizada a priori”, informou o ministério.
Entretanto O GLOBO revelou, há dois meses, o caso de Paul Fernando Schreiner, de 36 anos, que foi deportado após ter vivido 31 anos no país , pelo fato de seus pais adotivos não terem regularizado sua situação quando foi levado ao estado de Nebraska.
Em e-mail enviado ao GLOBO, o Itamaraty informa que o atestado já é utilizado em países como Austrália e Japão : “Os atestados de nacionalidade não constituem objeto de solicitação de outros Estados. Trata-se de obrigação do Estado brasileiro, como já se referiu acima, de oferecer marco legal seguro a seus nacionais deportados”.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Itamaraty: penuria de recursos atinge atendimentos no exterior (Consulados)

Uma reportagem enviesada, mas que reflete um problema real: a ausência de meios -- funcionários, recursos materiais em geral -- para o atendimento de uma população cada vez mais numerosa, que necessita de algum tipo de serviço vinculado ao Brasil: passaportes, procurações, autorizações, legalizações, atestados para órgãos e instâncias diversos do Estado brasileiro, como Receita, INSS, FGTS, etc.
A fila da foto se refere a pessoas aguardando a abertura do Consulado, às 9hs, tanto os agendados, ou seja, que têm atendimento garantido, quanto algumas outras que não conseguiram agendamento eletrônico, e que portanto sejam mais cedo para disputar um atendimento.
Não parece muito diferente de outros órgãos no Brasil, tipo INSS, postos de saúde, etc., mas esta é a realidade do nosso país: muitas carências, serviços insuficientes em relação à demanda.
Paulo Roberto de Almeida

Editorial
Descaso no Itamaraty pode prejudicar legalização de brasileiros
Brazilian Times, 21 de novembro de 2014.
Depois do cancelado dos consulados itinerantes em todos os Estados Unidos, o Itamaraty reduziu a verba que destina para os órgãos diplomáticos no exterior. Isso tem gerado um grande caos no atendimento e prejudicado centenas de brasileiros. Isso porque está havendo uma demora no agendamento, e restrição no número de pessoas que são atendidas todos os dias.
Estas informações são de alguns escritórios que trabalham diretamente com os consulados em Massachusetts e em Connecticut. A equipe do jornal Brazilian Times conversou com dois despachantes que pediram para manter em sigilo os seus nomes. “Isso porque existe muita perseguição no Consulado e o órgão em CT quer eliminar os representantes de outros estados”, disse um deles.
Um despachante sediado em Somerville (MA) afirmou que o consulado em Hartford (CT) se tornou uma imagem dos órgãos públicos no Brasil, tal como o INSS. “Fiquei chocado quando cheguei lá e vi crianças e bebês de colo, no colo de seus país, enfrentando um tremendo frio, vento e neve, às 6:00 a.m.”, se revolta. “Estas pessoas chegam ao local muito cedo para não perder a oportunidade de regularizar seus documentos. Mas o consulado só abre às 9:00 a.m. e todos ficam 3 horas no frio, do lado de fora”, continua.
Outro ponto que os despachantes reclamam é que o sistema de agendamento online é bastante complicado, incompatível com os conhecimentos de informática de comunidade brasileira em Massachusetts. “Muitos de nós não sabemos usar direito um computador”, acrescenta.
Os problemas começaram em agosto, quando o Itamaraty anunciou cortes na verba destinada às embaixadas, consulados e missões brasileiras. Em Outubro, após o primeiro turno e a presidente Dilma Rousseff tendo perdido no exterior, o órgão cancelou por tempo indeterminado todos as sessões itinerantes. “Isso agravou ainda mais o atendimento dos consulados”, disse o despachante.
Com o corte na verba, funcionários com salário atrasados e a falta das sessões itinerantes, os consulados ficaram lotados. Isso obrigou alguns órgãos a impor regras que têm prejudicado muito a comunidade brasileira. Segundo o despachante de Somerville, o Consulado de Hartford foi o mais radical, “pois está tentando acabar com o atendimento para pessoas que vivem em Massachusetts, Rhode Island e New Jersey”.
Outro Despachante que também atende a comunidade de Massachusetts afirmou que o Consulado em Hartford para “esvaziar os órgãos consulares em New York e Boston”. Mas, segundo ele, quatro anos depois não é bem isso que está acontecendo. “Alguém em Hartford está tentando acabar com os despachantes de outros estados e restringiram nossos serviços. Antes fazíamos cerca de 45 passaportes a cada 15 dias e hoje podemos fazer apenas 10 por mês. São centenas de brasileiros prejudicados com esta atitude”, disse.
Além dos dois despachantes, outras pessoas ligaram para a redação do Brazilian Times alegando que não conseguem concluir um agendamento online, devido o sistema ser muito complexo e que está há meses querendo renovar o passaporte, mas não consegue. “O descaso é tamanho que um dos Consulados solicitou ao Itamaraty a liberação de US$46.00 que seriam destinados à compra de selos para os brasileiros que estão presos enviarem cartas aos seus parentes. Mas o órgão negou o pedido, alegando não ter a verba solicitada”, informou o despachante de Somerville.
Outro problema que ele aponta é que os brasileiros que estão nas cadeias podem permanecer por anos, pois para serem deportados é preciso que o consulado visite o local e emita um documento. “Mas em alguns presídios faz três anos que não recebem a visita de um representante do órgão consular”, acrescenta. “O pior é que nem por telefone conseguimos falar com algum funcionário”, finaliza.
A redação tentou entrar em contato com os consulados de Boston e Hartford, mas não obteve êxito.

LEGALIZAÇÃO
Outra preocupação dos despachantes é que com o anúncio da ordem executiva de Obama, que abre caminho para “legalizar” milhões de imigrantes, o consulado poderá ficar mais lotado ainda. Isso porque os brasileiros vão precisar renovar passaportes, obter certidões de nascimento, casamento e outros documentos que poderão ser exigidos para a aplicação.
Mas o fato dos órgãos terem limitado o número de atendimento, poderá ser o maior vilão no processo de legalização de alguns brasileiros. “Já pensou se uma pessoa não consegue a documentação no tempo hábil?”, indaga o despachante de Somerville.
Da Redação
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