Não é bem verdade que o Brasil ainda é credor internacional, apenas por ter reservas internacionais nominalmente acima das obrigações externas (dívida pública e comercial).
Se formos considerar, junto com a dívida, todos os compromissos do BC sob a forma de swaps cambiais, isso já supera o total das reservas.
Por outro lado, os analistas não estão considerando o custo fiscal das reservas: colocadas em T-bonds, elas só rendem o que pagam esses títulos do governo americano, ou seja, muito pouco.
Ora, para comprar os dólares de que necessita para formar as suas reservas, o governo emite títulos da dívida brasileira. A diferença entre o que paga de juros, e o que recebe de juros, deve dar pelo menos 10%, o que por alto deve somar uns 35 bilhões de dólares de pagamentos líquidos por ano.
Bom negócio?
Eu não diria...
Paulo Roberto de Almeida
G1, 24/01/2014
A conta de transações correntes do Brasil, um dos principais indicadores da situação da economia brasileira, fechou 2013 com um déficit inédito de US$ 81,37 bilhões, informou o Banco Central nesta sexta-feira (24).
Para chegar a esse valor se somam os resultados da balança comercial (saldo entre importações e exportações) e de outras operações não comerciais que impliquem entrada ou saída de capitais (serviços e rendas).
Com isso, após todas essas contas, o déficit superou o resultado negativo registrado em 2012 (-US$ 54,23 bilhões, recorde histórico para um ano fechado) e teve alta de 50% no ano passado.
Na proporção com o PIB, também houve forte deterioração do resultado em transações correntes. No ano passado, o resultado negativo em conta corrente somou 3,66% do PIB – o pior valor, para um ano fechado, desde 2001 (4,19% do PIB).
A expectativa do Banco Central é de que o déficit em transações correntes tenha pequena queda em 2014, para US$ 78 bilhões. Na proporção com o PIB, somaria 3,5%. O mercado financeiro prevê um déficit menor que o BC para este ano, de US$ 72 bilhões.
Balança comercial piora
Os números do Banco Central mostram que a deterioração das contas externas está relacionada com a má situação da balança comercial, que registrou, no ano passado,
o pior resultado em 13 anos. Em 2013, a balança teve um superávit de US$ 2,55 bilhões, contra um resultado positivo de US$ 19,39 bilhões no ano anterior. Houve, deste modo, uma reversão de US$ 16,83 bilhões no saldo comercial no último ano.
Em outras palavras, estamos vendendo menos os produtos que produzimos e compramos cada vez mais.
Os outros componentes das contas externas, entretanto, também mostraram deterioração no primeiro semestre de 2013. O resultado negativo da conta de serviços (que inclui, entre outras coisas, turismo e aluguel de equipamento), por exemplo, somou US$ 47,5 bilhões em 2013, impulsionadas, entre outros, pelos
gastos recordes de brasileiros no exterior , o que representa aumento frente ao déficit de US$ 41 bilhões registrado em 2012.
Nas rendas (nas quais entram desde a multinacional que envia ou traz dinheiro do exterior ao ganho ou perda de rendimentos em investimentos em outras moedas), o déficit somou US$ 39,77 bilhões em 2013 – com alta frente ao mesmo período do ano passado (-US$ 35,44 bilhões).
Investimentos estrangeiros
O BC informou ainda que os investimentos estrangeiros diretos (empresas ou investidores que resolvem colocar dinheiro no Brasil) somaram US$ 64 bilhões em 2013, com queda de 1,87% frente ao ano anterior (US$ 65,27 bilhões). O valor ficou abaixo também do recorde histórico para este indicador, registrado em 2011 (US$ 66,6 bilhões).
Financiamento do déficit externo
O BC confirmou, assim, que o resultado negativo da conta corrente (US$ 81,37 bilhões) não foi integralmente "financiado" pela entrada de investimentos produtivos na economia brasileira em 2013 – algo que não acontece desde 2001.
Quando o déficit não é "coberto" pelos investimentos estrangeiros, o país tem de se apoiar em outros fluxos, como ingresso de recursos para aplicações financeiras, ou empréstimos buscados no exterior, para fechar as contas.
Analistas alertam, entretanto, que em um cenário de crescimento menor do PIB e menor disponibilidade de recursos nos mercados (com a sinalização do fim das medidas de estímulo nos Estados Unidos), e com uma confiança menor na economia brasileira, a atratividade do Brasil também é mais baixa – o que pode significar mais dificuldades no financiamento do déficit das contas externas.
O chefe-adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Fernando Rocha, avaliou, porém, que as reservas internacionais brasileiras ainda são maiores do que a dívida externa do país, o que confere ao país a
posição de credor líquido , e que a dívida externa de curto prazo (até um ano) representa pouco mais de 10% do valor total do endividamento externo brasileiro.