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quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Como eu diria, a História não se repete, mas tem gente que gosta de repetir erros passados - Carlos Brickmann


APRENDER, JAMAIS 

COLUNA CARLOS BRICKMANN

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 15 DE SETEMBRO DE 2021

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Esta é uma história que nada tem a ver com o Brasil, embora nos dê lições. Nas décadas de 1920 e 1930, o nazismo estava longe de ser o partido mais forte da Alemanha. Maiores eram a Social-Democracia (SPD) e o Comunista (KPD), ambos fortes no movimento operário. O KPD, de extrema-esquerda, considerava que seu principal adversário, por buscar adeptos no mesmo campo, era o SPD, de meia-esquerda. União, nem pensar: o KPD achava que os anos 30 seriam os últimos do capitalismo. Chegariam ao poder os esquerdistas, inevitavelmente, e o KPD queria ser o representante único da esquerda. Logo, o inimigo era a social-democracia. A SPD era tratada como “social-fascismo”, “ala moderada do fascismo”.

O KPD, até na cor preferida, o vermelho, obedecia às ordens do líder vermelho Stalin, que ditava, de Moscou: “O fascismo (...) e a social-democracia (...) não se excluem (...). Ao contrário, se complementam”. O KPD não aceitava críticas a Stalin (a quem chamava de “guia genial dos povos) e jamais admitiu que ele pudesse errar. Enquanto isso, os nazistas cresciam, passavam de 800 mil para 13 milhões de votos, até se aliavam aos vermelhos no combate à SPD. Em 1931, por exemplo, se aliaram nazistas e vermelhos num plebiscito sobre a dissolução do Legislativo da Prússia, baluarte da SPD. Perderam, mas os nazistas mostraram força. A SPD ainda propôs uma aliança, os vermelhos a recusaram. Hitler chegou ao poder. Já não havia mais como contê-lo.


sexta-feira, 2 de abril de 2021

Quando o ódio for tudo o que nos restou é sinal que não sobrou mais nada - Marcos Cavalcanti

 Quando o ódio for tudo o que nos restou é sinal que não sobrou mais nada

Marcos Cavalcanti

Na minha adolescência tive um professor de biologia que para mim representava tudo o que um professor NÃO deveria ser. A forma de motivar os alunos era pelo medo e pelas ameaças. Suas provas eram um exercício de memória baseado em sua apostila. Quem decorasse a apostila tirava dez, quem não decorasse se dava mal. Eu me dava mal. Era ótimo aluno nas outras matérias, mas em biologia eu só tirava nota vermelha... Aquilo foi me incomodando a tal ponto que fiquei com raiva do professor e de mim mesmo e jurei que ia passar de ano sem fazer prova final. Deu certo. Passei de ano. E até hoje não sei nada de biologia...

O ódio pode ser usado para motivar as pessoas e até para conseguir resultados objetivos, mas raramente o saldo final é positivo. Os ganhos não ficam para a vida. Quando o ódio acaba não sobra nada de bom.

O PT e lula representaram um dia, um projeto de esperança em um novo Brasil: incorporaram mais gente ao mercado consumidor e abriram mais vagas no ensino superior. Mas não tocaram nos fundamentos que fazem a nossa sociedade ser injusta e desigual há séculos. O Estado continuou a ser uma máquina a serviço de poucos grupos em detrimento da maioria esmagadora da sociedade. Os banqueiros, latifundiários e empreiteiras nunca ganharam tanto dinheiro como nos 13 anos em que o partido esteve no poder. Pior, não melhoraram nem ampliaram a educação fundamental, a saúde pública ou o saneamento básico. Em resumo, aumentaram o número de consumidores e os lucros, mas não ampliaram a cidadania. Tomaram, literalmente, de assalto a máquina pública, colocando-a à serviço do partido e não da sociedade. Todos os outros partidos fizeram isto antes, mas nenhum ousou tanto e teve tão pouca vergonha de fazê-lo. E, sobretudo, nenhum outro teve a arrogância e 

intelectuais que o defendem mesmo diante da corrupção mais vergonhosa da história do país.

 

Estamos aprendendo, dolorosamente, que distribuição de renda não se resume a poder comprar geladeiras e fogões a prazo, mas acontece via educação, saúde, ciência, tecnologia, produtividade e competitividade. 

Ninguém tem o dom da verdade ou acerta sempre. Como dizia meu avô, na vida a gente raramente acerta, mas em todas as outras vezes aprende. 

Ou não... 

Para alguns de nós os errados são sempre os outros. O discurso do ódio de lula (“coxinhas”, “golpistas”, “contra Moro e a Lava Jato”) só tem espaço porque do outro lado tem gente falando de “petralhas”, “comunistas” e que tais. Bolsonaro e lula dependem um do outro para sobreviver. São dois lados da mesma moeda: o ódio e a gana pelo poder. Tanto é assim que os dois querem exatamente a mesma coisa: impedir o surgimento de um terceiro candidato, de forma que eles possam manter esta polarização que os favorece. 

E esta polarização, que só nos faz ver inimigos em todos os que pensam diferente, está nos levando para onde? Para o precipício e para a falta de esperança. Que Bolsonaro e as viúvas e viúvos da ditadura assumam este discurso não me choca nem surpreende. Estão no seu triste papel de defender o passado. O que me espanta é ver pessoas que se dizem intelectuais assumindo este discurso. Mesmo que de forma envergonhada:“não sou PT, mas"...

Acredito que estes amigos façam isto em defesa de sua história de lutas pela democracia e pela justiça social. E porque, no passado, o PT encarnava este discurso e esta esperança. Se esquecem, no entanto, que o PT FOI isso. Não é mais, pelo menos desde o mensalão. Quem mudou foi o partido e não estes amigos que, acredito, continuam a querer fazer do Brasil um país justo e menos desigual.

Precisamos mudar este rumo. Um discurso baseado no ódio pode ser suficiente para manter a tropa reunida em torno do seu chefe e guru, mas não constrói alternativas e nem é portador de futuro. O fracasso do PT não é o fracasso do projeto de vida meu ou destes amigos. É o fracasso de um partido que abandonou seus sonhos e ideais para se tornar mais uma outra quadrilha a assaltar o Estado. Quem mudou foi o partido, que passou a ser o "partido do lula", que prega o ódio contra seus adversários (como Marina, Cristovão Buarque ou FHC) e que só admite uma frente se o partido estiver liderando. Mesmo que o discurso do “lulinha paz e amor” volte, para tentar enganar de novo os desavisados e esquecidos.

Mesmo as mais bonitas histórias de amor podem acabar mal, mas não precisa ser assim. A escolha sobre como tudo isto vai acabar é de cada um. Podem restar boas lembranças e, sobretudo, podem restar muitas lições aprendidas. 

Eu prefiro seguir a oração de São Francisco de Assis e superar esta polarização que está destruindo o Brasil: onde houver ódio que a gente leve amor; onde houver discórdia, que a gente saiba se unir. 

Triste seria se constatarmos que ao final, tudo o que restou foi ódio. Porque a história já ensinou que, neste caso, não nos resta mais nada. 

Nem mesma a esperança.