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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Volta ao Mundo em 25 Ensaios: Relacoes Internacionais e Economia Mundial - ebook Paulo Roberto de Almeida

Este livro ganhou um novo prefácio e foi publicado em formato Kindle em 10/03/2018.
Dados editoriais: 
Volta ao Mundo em 25 ensaios: relações internacionais e economia mundial 
(Brasília: Edição Kindle, 10/03/2018; ASIN: B07BCRM1YF; disponível na Amazon, link: https://www.amazon.com/dp/B07BCRM1YF); novo prefácio: “Diário de bordo de uma nova volta ao mundo”.   


 
Índice

Apresentação

1. Por que o mundo é como é, e como ele poderia ser melhor...  
2. Economia mundial: de onde viemos, para onde vamos?       
3. Política internacional: por que não temos paz e segurança?   
4. Direitos humanos: o quanto se fez, o quanto ainda resta por fazer 
5. Políticas econômicas nacionais: divergências e convergências   
6. Cooperação internacional e desenvolvimento: isso muda o mundo?   
7. Guerra e paz no contexto internacional: progressos em vista? 
8. Individualismo e interesses coletivos: qual a balança exata?  
9. Duas tradições no campo da filosofia social: liberalismo e marxismo  
10. Como organizar a economia para o maior (e melhor) bem-estar possível 
11. Livre comércio: uma ideia difícil de ser aceita (e, no entanto, tão simples)
12. Políticas ativas pelos Estados funcionam?; se sim, sob quais condições? 
13. Competição e monopólios (naturais ou não): como definir e decidir? 
14. Orçamentos públicos devem ser sempre equilibrados? 
15. Países ou pessoas ricas o são devido a que os pobres são pobres? 
16. Preeminência, hegemonia, dominação, exploração: realidades ou mitos? 
17. Por que a América Latina não decola: alguma explicação plausível?
18. Por que o Brasil avança tão pouco: sumário das explicações possíveis 
19. Distribuição de renda: melhor fazer pelo mercado ou pela ação do Estado?
20. Brasil: o que poderíamos ter feito melhor, como sociedade, e não fizemos? 
21. Qual a melhor política econômica para o Brasil?: algumas opções pessoais 
22. Qual a melhor política externa para o Brasil?: algumas preferências pessoais
23. O que podemos aprender com a experiência dos demais países? 
24. Nossa contribuição para o mundo: onde o Brasil pode ser melhor 
25. Itinerário percorrido e o que resta fazer  

Apêndices
Relação dos ensaios publicados no site Ordem Livre  
Livros publicados pelo autor  
Nota sobre o autor 

 
Grande dúvida: grande despertar.
Pequena dúvida: pequeno despertar.
Nenhuma dúvida: nenhum despertar.
Máxima Zen

Facts are stubborn things; and whatever may be our wishes, our inclinations, or the dictates of our passions, they cannot alter the state of facts and evidence. 
John Adams 
In: Thomas Sowell, Economic Facts and Fallacies
(New York: Basic Books, 2011, p. iii)

From a very early age, ... I knew that when I grew up I should be a writer. Between the ages of about seventeen and twenty-four I tried to abandon this idea, but I did so with the consciousness that I was outraging my true nature and that sooner or later I should have to settle down and write books.
George Orwell, “Why I Write”
In: A Collection of Essays of George Orwell
(New York: Harcourt Brace, 1953, p. 309)

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Livros: preparando a redacao de ensaio sobre as relacoes economicas internacionais no entre-guerras

Com vistas a retomar a redação do segundo volume de minha série de três sobre a diplomacia econômica do Brasil, desta vez cobrindo a República até Bretton Woods, ando comprando livros, de preferência antigos, mas também podem ser recentes, desde que tratando da situação econômica mundial no período entre-guerras, já que esse segundo volume -- provisoriamente intitulado "A Ordem Internacional e o Progresso da Nação: as relações internacionais na era republicana".
Estes são os mais recentes que acabo de encomendar no site do Abebooks.com, que recomendo...
Paulo Roberto de Almeida

domingo, 4 de maio de 2014

Economia mundial: acabou-se o que era doce (para o Brasil) - Pedro da Motta Veiga, Sandra P. Rios

O avestruz num mundo em transformação
Pedro da Motta Veiga e Sandra Polónia Rios*
O Estado de S.Paulo, 02 de maio de 2014

As tendências que ganham força no quadro econômico e político internacional apontam para um cenário muito diverso da bonança que tanto beneficiou o Brasil na primeira década do século. Independentemente dos contornos precisos que o cenário global adquirirá nos próximos anos, as margens de manobra de um país com as características do Brasil serão, daqui até pelo menos o fim dos anos 10, muito mais estreitas do que as vigentes no período anterior à eclosão da crise.
Já há a percepção difusa da emergência de um mundo marcado por mais riscos do que oportunidades para o Brasil. As preocupações com o "isolamento" internacional da economia brasileira e as críticas ao atrelamento das posições brasileiras em negociações comerciais às preferências argentinas são expressões dessa percepção. Mas, em geral, a percepção de riscos e ameaças é genérica e com frequência "transborda" para visões quase apocalípticas do futuro que nos espera num mundo mais hostil.
Não é para tanto, mas o que vem por aí é, de fato, preocupante. Senão vejamos. Não se esperem mais da China os bônus gerados por espantosas taxas de crescimento e pela disparada dos preços de commodities. A China em transição para um modelo de crescimento baseado mais no consumo doméstico do que em investimentos e exportações continuará a demandar as commodities exportadas pelo Brasil - provavelmente mais as agropecuárias que as minerais -, mas crescerá menos e não produzirá o choque externo positivo que nos proporcionou na primeira década do século.
Mesmo com taxas anuais que serão uma fração (minoritária) daquelas observadas há menos de dez anos, o crescimento da China continuará a ser uma estrela de primeira grandeza num mundo marcado pelo baixo crescimento. Este já está contratado para os próximos anos na União Europeia e seria irrealista esperar uma vigorosa recuperação dos EUA no curto prazo.
De seu lado, o vigoroso crescimento dos emergentes esbarrou em limites estruturais e em obstáculos políticos. Nesse processo, percebeu-se que o tal crescimento vigoroso dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foi um fenômeno principalmente chinês. À exceção da China, o principal desafio dos Brics é a volta ao crescimento sustentado nos próximos anos, o que supõe o enfrentamento de uma agenda de reformas domésticas econômica e politicamente complicada. Difícil imaginar que esses países (exceção feita à China, mais uma vez) venham a dar, nos próximos anos, contribuição muito relevante para o crescimento global.
Não bastassem essas evoluções, as negociações comerciais preferenciais - quase um anátema para a política externa brasileira, quando não se trata de Mercosul e congêneres - voltaram à agenda dos principais atores da economia internacional. A China tece gradualmente sua rede de acordos, principalmente na Ásia e na América do Sul, mas a
principal novidade, aqui, é a negociação dos acordos ditos megarregionais - o TPP, envolvendo os EUA e diversos países da Ásia-Pacífico; e o TTIP, envolvendo EUA e União Europeia.
Como o foco principal dessas negociações são regras e disciplinas aplicáveis a um grande número de temas, há a preocupação - não de todo injustificada, mas certamente exagerada - de que países que não participam das negociações estarão virtualmente excluídos dos grandes mercados do mundo.
Ainda que a conclusão desses acordos possa ser mais difícil do que fazem crer seus patrocinadores, há um forte movimento na direção da convergência de regras comerciais, que moldará crescentemente os fluxos de comércio de bens e serviços. Essa convergência tem motivações econômicas, mas também segue lógica geopolítica, que vem ganhando peso depois da intervenção russa na Ucrânia.
Diante dessas evoluções, o governo brasileiro tem adotado a postura do avestruz e torce para que alguma "força maior" detenha as mudanças em curso no mundo. O Brasil não aproveitou o período de bonança para se preparar para tempos mais difíceis. Ante o novo cenário, o País estará diante da alternativa de (mais uma vez) se proteger de um mundo pouco amigável com políticas de isolamento ou de adotar políticas ativas de revisão e modernização de suas relações econômicas internacionais.

*Pedro da Motta Veiga e Sandra Polónia Rios são diretores do Centro de Estudos de Integração Econômica (CINDES).

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Commodities: bye-bye preços altos? - Wall Street Journal

Inovação e investimentos desfazem bolhas globais de commodities


The Wall Street Journal, December 10, 2013

Ningde, China
O preço do níquel, metal usado na fabricação de aço inoxidável para coisas que vão de panelas a cordas de guitarra, disparou em 2007 para mais de US$ 50.000 a tonelada, comparado com menos de US$ 10.000 apenas alguns anos antes.
Como grande parte da produção de níquel é controlada por firmas ocidentais, a alta deixou a pujante economia da China particularmente vulnerável — até que algumas siderúrgicas do país descobriram como produzir um "ferro-gusa de níquel" de menor grau, gerando uma enorme oferta de metal barato.
A inovação derrubou os preços do níquel para menos de US$ 14.000 a tonelada e transformou a China num dos principais produtores do metal no mundo. O país agora produz mais de 400.000 toneladas de ferro-gusa de níquel por ano, o equivalente a 20% da demanda mundial.
Os economistas alertaram por anos que a crescente demanda da China e outros mercados emergentes por recursos naturais superaria a oferta, provocando escassez de bens como níquel, carvão, cobre e milho. Mas um período notável de inovação e investimento produziu um quadro diferente. A expansão da oferta ajudou a moderar os preços das commodities nos últimos doze meses, após dez anos de aumento da demanda da China terem levado muitos preços à estratosfera.
O índice do Fundo Monetário Internacional que reúne todos os preços das commodities caiu cerca de 12% desde picos recentes. Ele tinha quase triplicado entre 2000 e 2011. O preço do cobre recuou 28% desde que atingiu um recorde, em 2011, enquanto o do carvão mineral caiu mais da metade ante seu pico de 2008.
A queda de preços é também resultado de uma demanda mais fraca, especialmente devido à desaceleração da economia chinesa. E os preços de muitas commodities, como o petróleo, permanecem muito acima de sua média de 10 ou 15 anos atrás.
Mas o panorama global da oferta é o melhor em anos. "A escassez sempre induz algum tipo de inovação", diz David Jacks, um professor da Universidade Simon Fraser, no Canadá, que estudou os ciclos de commodities no século passado.
A inovação mais conhecida se deu na indústria petrolífera com o chamado fraturamento hidráulico, ou "fracking", uma técnica de injeção de água e outros materiais em rochas que possibilitou o boom da exploração de petróleo e gás de xisto. Na agricultura, os produtores estão tendo acesso a mais terra arável e usando sementes híbridas que permitem uma produtividade maior.
No setor de mineração, empresas agora usam brocas de diamante para alcançar maiores profundidades. Empresas que misturam produtos químicos com minerais para criar metais desejados hoje extraem mais material do que nunca de depósitos de menor grau de pureza.
E muitos projetos que foram financiados anos atrás — incluindo minas novas ou ampliadas de cobre, prata e níquel — já começaram a produzir.
Com tudo isso, a produção dos principais metais quase dobrou ou triplicou ao longo dos últimos 20 anos, segundo a Agência de Pesquisa Geológica dos Estados Unidos e outras organizações. Entre 2000 e 2012, a produção de alumínio aumentou de 24,7 milhões de toneladas para 45,7 milhões, segundo a consultoria Raw Materials Group, de Estocolmo. A produção de minério de ferro foi de 975 milhões de toneladas para 2 bilhões no período.A produção mundial de milho, por sua vez, aumentou em cerca de 270 milhões de toneladas ao longo dos últimos dez anos, de acordo com a Organização das Nações Unidas.
Todo esse incremento com frequência se dá com custos ambientais, como poluição, desmatamento e contaminação da água por produtos químicos. Ainda não está claro como o mundo poderá sustentar os ganhos na produção de commodities necessários para atender a demanda futura. O consumo per capita de energia e outros recursos na China continua menor que no Ocidente e deve subir à medida que a economia chinesa cresce. Muitas fontes de minerais mais fáceis de explorar foram esgotadas, o que deve aumentar os custos de produção no futuro.
Mas as inovações dos últimos dez anos mostram como os sinais do mercado ajudam a criar nova oferta.
A produção de níquel da China é um dos exemplos mais drásticos dessa nova tendência. No início de 2000, os preços estavam abaixo de US$ 10.000 a tonelada. Aí a economia da China decolou, criando uma nova demanda para o aço inoxidável, que exige níquel e ferro. Os preços do níquel ultrapassaram US$ 51.000 a tonelada em meados de 2007.
A maior parte da produção mundial de níquel na época era dominada por empresas como a Vale, a BHP Billiton Ltd. BHP.AU +0.14% e a MMC Norilsk NickelNILSY +0.36% . E a maior parte do metal vinha dos chamados depósitos de sulfeto em regiões como Canadá e Rússia, onde as minas estavam se esgotando.
Havia uma abundância de depósitos de laterita na Indonésia e outros lugares. Ela podia ser refinada em ferro-gusa de níquel, que contém uma porção relativamente pequena de níquel, geralmente inferior a 15%, misturado com ferro. Mas seu processamento demandava muita energia e era muito poluente.
Analistas calculavam em pelo menos US$ 20.000 o custo de produzir uma tonelada de ferro-gusa de níquel, mais que o dobro do preço de mercado do níquel no início dos anos 2000.
Quando o preço do níquel subiu, a China identificou uma vantagem competitiva: ela ainda tinha dezenas de altos-fornos velhos e ineficientes. Com ajustes, eles poderiam refinar minério laterítico para produzir ferro-gusa de níquel. Com a alta dos preços, o ferro-gusa de níquel se tornou economicamente viável e fornos em toda a costa leste da China foram acionados.
A Tsingshan Holding Group, uma das maiores produtoras de aço inoxidável da China, precisava de muito níquel. Ela começou a testar fornos elétricos rotativos, que usam menos energia do que altos-fornos e podem extrair mais níquel do minério de ferro. O processo deu certo, reduzindo o consumo de eletricidade em até 40%, segundo sua subsidiária em Xangai. A Tsingshan agora produz ferro-gusa de níquel com 11% de níquel, informa a firma, ante 2% ou menos quando usava as velhas técnicas. Ela afirma que hoje recebe cerca de metade do níquel que precisa da sua própria produção de ferro-gusa.
Os avanços da Tsingshan foram replicados em toda a China. Como a tecnologia de ferro-gusa de níquel melhorou, dizem os analistas, o custo de processamento caiu até US$ 12.500 por tonelada.
Isso "certamente destruiu o mundo" do níquel tradicional, disse Jim Lennon, consultor do australiano Macquarie BankMQG.AU +1.22% acrescentando que a oferta poderia voltar a cair no futuro.
Enquanto isso, as mineradoras ocidentais lutam para lidar com a nova disponibilidade do produto no mercado. Analistas estimam que até 40% da indústria de mineração de níquel está perdendo dinheiro hoje.
Ivan Glasenberg, diretor-presidente da Glencore GLNCY +0.50% -Xstrata, quarta maior produtora de níquel do mundo, disse no início do ano que estava pessimista sobre o preço do metal. Em outubro, a empresa anunciou que fecharia uma mina na República Dominicana, por causa da queda dos preços.
(Colaboraram Yue Li e James T. Areddy.)
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domingo, 22 de setembro de 2013

Por Que Nao Me Ufano da Setima Economia Mundial: o Brasil

As fraquezas da 7ª economia mundial
Brasil fica distante dos primeiros em rankings que medem renda ‘per capita’ (53º) e competitividade (56º) 
Luciane Carneiro
O Globo, 22/09/2013

O Brasil é hoje a sétima maior economia mundial, mas ainda está muito distante dos primeiros colocados em rankings de indicadores de extrema importância, como renda per capita, competitividade, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e capacidade de se fazer negócios (relatório “Doing Business”). Com Produto Interno Bruto (PIB) per capita de US$ 11.339,5 em 2012, segundo dados do Banco Mundial, o Brasil ocupava a 53ª posição na lista de 214 países. No ranking do IDH, o país se manteve estagnado no 85º lugar em 2011, último dado disponível, de 187 países, dentro do grupo dos países de desenvolvimento humano elevado.
E a competitividade brasileira recuou este ano. Pelo ranking do Fórum Econômico Mundial em parceria no Brasil com a Fundação Dom Cabral, o país recuou oito posições, para o 56º lugar, entre 148 países. Entre 2012 e 2013, o Brasil perdeu posições em diversos subíndices, como fatores básicos de competitividade, ambiente macroeconômico, educação superior e capacitação, eficiência no mercado de trabalho, prontidão tecnológica e inovação. Economistas apontam que os indicadores do Brasil nos rankings de competitividade, IDH e “Doing Business” refletem a posição relativa do país no grupo das nações de renda intermediária. Áreas como educação, ambiente institucional e carga tributária são algumas das mais problemáticas no caso brasileiro.
Estimativa de Carlos Arruda, coordenador do Núcleo de Inovação Empreendedorismo da Fundação Dom Cabral e responsável pela análise dos dados brasileiros, mostra que o Brasil poderia subir cerca de 20 posições se conseguisse a média das notas registradas pelos países do seu grupo, que inclui Argentina, Chile, México, Hungria e Turquia, entre outros.
— Considerando o tamanho da economia brasileira e suas características de país emergente, o Brasil poderia ficar entre 35º e 40º lugar se estivesse na média dos países em transição — afirma Arruda.
Ele explica que a competitividade impacta as condições de vida da população e a renda per capita. E o tempo para o início de melhorias costuma ser de cinco anos.
Os números obtidos pelo país são frustrantes também quando se olha o relatório “Doing Business”, do Banco Mundial, onde o Brasil é a 30ª entre 185 economias, considerando a facilidade de se fazer negócios. O país perdeu duas posições frente ao ano passado. Já no PISA, que é o Programa Internacional de Avaliação de Alunos, o Brasil está entre os piores dos 65 países avaliados. É o 53º lugar de 65 nações no nível de conhecimento pelo ranking 2009, último disponível.
Demandas são antigas
Para Arruda, o Brasil ainda é o país do imediatismo, com visão de curto prazo:
— As ações do setor público, e até de certo modo do setor privado, são voltadas para o presente. Não há uma estratégia para transformar o país nem uma continuidade. Somos reativos e agimos a curto prazo.
A avaliação é compartilhada pelo economista e professor do Insper Marcelo Moura. Ambiente institucional sem regras claras, incompetência na execução das propostas e alternância constante das políticas são alguns dos pontos que ficam a dever no país, segundo ele.
— O alerta que os indicadores trazem é que o Brasil não tem uma estratégia clara de crescimento. A sensação é que a estratégia vai sendo definida a cada dia, ao sabor do vento — diz Moura.
Um grande motivo de preocupação, segundo o professor do Insper, é que as mudanças necessárias não são uma constatação recente, mas conhecidas há pelo menos uma década, como as reformas tributária e previdenciária e a melhoria de qualidade e acesso em educação e saúde.
‘Falta estratégia de longo prazo’
A agenda de reformas, dizem alguns economistas, está atrasada, o que põe em compasso de espera a melhoria da competitividade do país. Na questão tributária, o problema é não apenas o tamanho da carga tributária, mas sua complexidade. Isso acaba reduzindo a produtividade da economia. Os tributos corresponderam a 36,02% do PIB em 2011, o que segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT) colocaria o Brasil em 12º lugar no ranking de maior carga tributária entre os países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). No índice de retorno de bem estar à sociedade (Irbes), do próprio IBPT, o país seria o 30º país com pior retorno.
— Temos níveis de arrecadação de países desenvolvidos, mas isso não se traduz em bons serviços. A maior dificuldade é a falta de vontade política do próprio governo — diz o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), João Eloi Olenike.
O professor do Instituto de Economia da Unicamp Francisco Lopreato alerta, no entanto, que as mudanças não são tão simples. Ele lembra as dificuldades recentes de avanço na proposta do governo de mudança do ICMS, que previa reduzir as alíquotas interestaduais do imposto.
— O governo Lula tentou duas vezes levar a reforma tributária adiante e não conseguiu. O governo Dilma resolveu fatiar a reforma tributária e propôs a reforma do ICMS, mas as negociações políticas são muito difíceis e não se consegue avançar. Nesse caso, são os diferentes governos estaduais — destaca o professor.
Na sua avaliação, o Brasil passou 25 anos com baixo crescimento, entre 1980 e 2005, e é necessário um tempo para recuperar áreas como competitividade, infraestrutura, entre outras.
— Crescer a economia é mais rápido, mas passamos muito tempo sem discutir questões importantes, que são complexas. Temos que eleger um projeto de nação, falta uma estratégia de longo prazo — diz Lopreato.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Paises emergentes NAO sao as locomotivas da economia mundial - WSJ

The Wall Street Journal, August 12, 2013

A força da economia mundial está se deslocando para o mundo desenvolvido, afastando-se das economias emergentes que deram impulso ao crescimento desde a crise financeira.
Pela primeira vez desde meados de 2007, as economias avançadas, incluindo o Japão, os Estados Unidos e a Europa, estão contribuindo coletivamente mais para o crescimento da economia global — que movimenta US$ 74 trilhões — do que países emergentes como a China, a Índia e o Brasil, segundo dados compilados pela firma de investimentos Bridgewater Associates LP.
Getty Images
Sao Paulo
A reviravolta pode redistribuir os fluxos de capital mundiais e derrubar as previsões que grandes empresas acalentaram baseadas numa visão otimista dos mercados emergentes.
Entre as forças motrizes da mudança está um ressurgimento do Japão, que durante anos esteve entre os países de mais fraco desempenho da economia mundial. Economistas projetam que o PIB do Japão cresceu a uma taxa anualizada de 3,6% no último trimestre, um pouco mais lento do que o ritmo de 4,1% do primeiro, mas ainda assim uma mudança drástica depois de anos de estagnação.
A recuperação da economia americana tem produzido um crescimento constante, embora lento. E espera-se que relatórios a serem divulgados esta semana mostrem que a Europa teve ligeira expansão no último trimestre, após uma longa recessão.
Ao mesmo tempo, os países mais fortes do mundo emergente — como Brasil, Rússia, Índia e China — enfrentam dificuldades ou recuam depois de um desempenho estelar nos últimos anos.
A virada poderia criar novos desafios para as empresas ao redor do mundo que mantêm grandes operações globais.
Empresas que vendem para os mercados emergentes já estão sentindo o aperto. As condições em todo o mundo "abrandaram em um grau muito mais elevado do que tínhamos previsto", diz Richard White, diretor-presidente da Flexible Steel Lacing Co., fabricante americana de peças para correias transportadoras usadas no setor manufatureiro e de mineração. A empresa, de capital fechado, tinha feito planos com base em uma desaceleração no crescimento das vendas anuais dos 20% registrados nos últimos anos para 12%. Em vez disso, as vendas se estagnaram, diz White. Como resultado, o executivo diz que paralisou as contratações nos EUA, onde estão 600 dos seus 900 trabalhadores em todo o mundo.
"A causa parece ser a China", diz White, cuja empresa opera em 10 países e vende produtos em mais de 150. "A demanda que eles tinham — a necessidade de minério de ferro, cobre e carvão — estava alimentando a atividade de mineração na Austrália, África do Sul e América do Sul."
A reorganização do mapa do crescimento mundial é incipiente e poderia ser revertida caso as economias emergentes voltem a se recuperar, mesmo que só um pouco.
Muitas economias de mercados emergentes continuam sendo as de crescimento mais rápido do mundo, mesmo que não estejam se expandindo na mesma velocidade de antes. Os economistas esperam que o PIB da China, a segunda maior economia do mundo, cresça a um ritmo de 7,5% este ano, o mais lento desde 1990, mas que supera de longe o crescimento de cerca de 2% previsto para os EUA. Alguns economistas calculam que a China vai crescer de forma ainda mais lenta do que a meta do governo. Os economistas esperam que economias emergentes menores, desde o Sudeste Asiático até a América do Sul, mantenham taxas de crescimento relativamente robustas.
Um sinal de que as economias emergentes não estão se beneficiando diretamente do ressurgimento em países desenvolvidos é o índice de gerentes de compra nesses países, um indicador do crescimento do PIB. Para os países em desenvolvimento, o índice atingiu seu nível mais baixo desde o início de 2009, segundo um indicador agregado compilado pela consultoria econômica Capital Economics. As mesmas medidas para os EUA, Europa e Japão mostram expansão.
A titubeante recuperação da Europa ainda não se traduziu num aumento da atividade comercial que poderia ajudar as economias emergentes. O renascimento do Japão — ele é hoje o país que cresce mais rápido entre as grandes economias desenvolvidas — também não tem beneficiado seus vizinhos. A recuperação do Japão é acompanhada de um iene acentuadamente mais fraco, o que torna as importações mais caras e faz com que os japoneses estejam mais propensos a comprar produtos feitos localmente.
Os dados compilados pela Bridgewater, baseados em parte numa estimativa das taxas atuais de crescimento, em vez de dados oficiais, mostram os EUA, Japão e outros mercados desenvolvidos contribuindo com cerca de 60% dos cerca de US$ 2,4 trilhões na atividade econômica adicional que o mundo registrará este ano, segundo a previsão de economistas. Os mercados emergentes contribuirão com o restante.
Algumas grandes multinacionais afirmam que a desaceleração não é problema. Os emergentes "continuam a ser uma fonte fantástica de oportunidade", disse Herbert Hainer, diretor-presidente da gigante alemã de produtos esportivos Adidas AG,ADS.XE -0.04% a analistas na semana passada.
Mas os resultados da Adidas mostram um impacto de curto prazo. A desaceleração da Rússia pesou sobre seus resultados, disse Hainer, e sua receita na China cresceu 6% no primeiro semestre, em comparação com um crescimento de 19% em igual período do ano passado e de 38% no primeiro semestre de 2011.
Não há uma razão única que explique por que as economias emergentes do mundo estão sofrendo. O aumento das taxas de juros dos EUA, com base em expectativas de que o Federal Reserve vai pisar no freio em seu programa de compra de títulos de dívida, apertou o crédito em algumas partes do mundo emergente que estão expostas aos mercados financeiros globais.
O formato da atual recuperação americana também desempenha um papel. As últimas duas expansões registradas pelos EUA — o boom tecnológico da década de 90 e o boom imobiliário da década de 2000 — foram impulsionadas pela demanda do consumidor, que tem sido relativamente modesta nos últimos anos. Isso significa um crescimento mais lento da demanda por bens estrangeiros.
A atual expansão americana foi impulsionada em parte pela produção doméstica de combustíveis, o que cria demanda para equipamentos feitos nos EUA. E os salários estagnados nos EUA significam que os custos trabalhistas caíram em relação aos de rivais como a China.
A natureza da recuperação americana é um dos indicadores de que o padrão tradicional, em que o crescimento do mundo desenvolvido é apoiado pelos grandes exportadores do mundo emergente, pode estar se rompendo em lugares como a Ásia.
"Nós não podemos andar na carona do Ocidente. A Ásia se tornou muito grande", diz Frederic Neumann, um dos diretores de economia do HSBC HSBA.LN +1.75%para a Ásia.
Indicadores recentes mostram que a desaceleração da China pode estar chegando ao fim, com a produção comercial e industrial dando sinais de recuperação. Mas poucos preveem um retorno às taxas de crescimento de dois dígitos do passado.
E a desaceleração da China tem amortecido a demanda por commodities e outros bens importados, com efeitos de longo alcance na América Latina e no Sudeste Asiático.
O Brasil, a maior economia da América Latina, estagnou em parte devido ao declínio do apetite chinês por produtos como minério de ferro e carvão. O PIB brasileiro cresceu cerca de 1% no ano passado, depois de ter subido notáveis 7,5% em 2010. O real caiu ao longo dos últimos dois anos, somando-se às preocupações com o aumento da inflação. Pelo menos um milhão de manifestantes foram às ruas para protestar em junho deste ano, num reflexo da ansiedade causada pela desaceleração.
Indonésia, a maior economia do Sudeste Asiático, também tem sido golpeada pela desaceleração da China, com uma queda drástica nas exportações de carvão e óleo de palma. O PIB cresceu a um ritmo anualizado de 5,9% no segundo trimestre, o pior resultado desde 2010.
Problemas domésticos também afetam países como a Índia, onde a má administração da economia levou a um declínio da moeda local, a rupia, e a um aumento dos déficits em conta corrente.
Certamente, a desaceleração do crescimento em muitas economias emergentes tem sido suave, aquém de níveis considerados de crise, o que leva algumas multinacionais a manter uma perspectiva positiva.
O lucro da Vale SA, VALE5.BR +3.24% maior produtora de minério de ferro do mundo, caiu por oito trimestres consecutivos. A China é de longe o maior cliente da Vale, mas os chineses vão continuar precisando de minério brasileiro, diz José Carlos Martins, o diretor de estratégia da empresa.
"Há um monte de gente perdendo o sono por causa China", diz ele, "mas eu não".