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quarta-feira, 13 de julho de 2016

O que aconteceu no Brasil e no mundo desde 1916 a cada dez anos terminando em 6 - Paulo Roberto de Almeida

Um século de mudanças na vida do Brasil e do mundo nos anos 6, por Paulo Roberto de Almeida

Vejamos, apenas como exercício intelectual de recapitulação improvisada, o que de importante ocorreu no Brasil e no mundo a cada década nos últimos cem anos:
1916: O Brasil de Venceslau Brás tenta superar as dificuldades criadas pelos fechamentos dos mercados para nossos produtos de exportação, em consequência da Grande Guerra que tinha tido início na Europa dois anos antes; Rui Barbosa pronuncia um importante discurso em Buenos Aires, sobre os modernos conceitos do direito internacional, no qual se refere à guerra que continuava na Europa, e que tinha se caracterizado pela violação da neutralidade belga pelo Império Alemão.
1926: Washington Luís é eleito para o governo federal, e tem como seu primeiro ministro da Fazenda Getúlio Vargas, que dá início a um novo processo de estabilização monetária baseada no padrão ouro, que vai durar até 1929. O mesmo tinha sido feito por Winston Churchill na Grã-Bretanha, no ano anterior, mas a uma taxa irrealista (a mesma de 1913, sem levar em conta a inflação do período), o que resulta numa grave recessão econômica, e numa greve geral em 1926. Keynes aproveitou o seu título de sucesso de 1919, contra as loucuras econômicas do tratado de Versalhes contra a Alemanha, para escrever, em 1925, The Economic Consequences of Mister Churchill, alertando contra a medida, que foi tomada.
1936: No Brasil começava a funcionar a Lei de Segurança Nacional, após a Intentona Comunista de novembro de 1935, e os comunistas que não foram presos, fugiram do país; vários participaram da Guerra Civil Espanhola, um ensaio geral para a grande guerra que começaria logo depois do seu término, três anos depois. Foram três anos de carnificina nos campos de batalha e de assassinatos políticos nas cidades, inclusive com a ativa de participação dos fascistas europeus (italianos e alemães) do lado de Franco, e dos comunistas pró-soviéticos do lado republicano.
1946: O mundo começa a se recuperar do mais devastador conflito militar em qualquer tempo, responsável pela morte de dezenas de milhões de pessoas, a maior parte civis inocentes e indefesos, na Europa e na Ásia; o Brasil, também ensaio uma política econômica mais liberal, mas que é seguida rapidamente por um novo estrangulamento cambial, com introdução de novas restrições às importações desde o ano seguinte. O FMI e o Banco Mundial começam a funcionar, precariamente.
1956: Início do governo otimista de Juscelino Kubitschek no Brasil, com a pretensão de obter um rápido crescimento (“cinquenta anos em cinco”) a partir de um Plano de Metas que previa tudo, menos a construção de Brasília (que deu início à aceleração do processo inflacionário no Brasil); no mundo, ocorre a crise do Canal de Suez, a partir da nacionalização do canal pelo presidente Nasser, e uma tentativa por parte das duas principais potências europeias, França e Grã-Bretanha, de retornar ao status quo ante; EUA e URSS, surpreendentemente, apoiam o Egito, o que representa o começo do fim do mundo europeu, e de sua hegemonia mundial, que durava desde alguns séculos.
1966: Brasil se encaminha para o segundo ano do regime militar, que deveria ter encaminhado, depois do golpe contra Goulart em 1964, para as eleições presidenciais de 1965, canceladas, ao mesmo tempo em que todos os partidos foram dissolvidos, e tem início um novo período de reconstrução constitucional (a partir de 1967), com eleições indiretas para os principais cargos executivos; o mundo se aproxima do fim do regime de Bretton Woods, com a acumulação de centenas de milhões de dólares em parceiros dos EUA, que não mais estariam habilitados, a partir de 1971 (mas vários antes desse prazo), a trocar a moeda papel pelo seu equivalente em ouro, como prometido pelos EUA em 1944.
1976: O Brasil luta para estabilizar sua economia, depois do primeiro choque do petróleo, que representou não apenas uma triplicação da fatura petrolífera (o país importava perto de 80% do petróleo consumido), mas também uma nova aceleração inflacionária, inclusive porque o governo militar não interrompeu custosos programas de infraestrutura e o também custoso programa do álcool combustível. O mundo keynesiano veio abaixo, com a estagflação, o que não estava previsto na teoria, e todos os países enfrentam crises fiscais e monetárias, antecipando sobre as políticas econômicas de corte liberal que começariam a partir de 1979, com Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, e com Ronald Reagan nos EUA, durante os anos 1980. A esquerda começa a abusar do termo neoliberal, um fantasma que na verdade não aconteceu em nenhum lugar do mundo.
1986: o Brasil saiu do regime militar, mas não de um regime político disfuncional e perdulário, pois o governo Sarney dá início a uma sucessão de planos fracassados de “estabilização”, que todos elevam a inflação a patamares cada vez mais elevados (enquanto o processo constitucional promete maravilhas a todos, sem se perguntar quem iria pagar pela grande ilusão das bondades distribuídas pelo Estado). O socialismo real começa a ruir na sua pátria de origem e os satélites soviéticos passam das agitações aos tremores finais: seria o fim da História, se esta não se recusasse teimosamente em ser Hegeliana.
1996: O Plano Real entra no seu segundo ano de estabilização bem sucedida no Brasil, com a inflação convergindo, pela primeira vez em séculos, para patamares mais civilizados do que os conhecidos anteriormente; mas a valorização cambial e a perda de competitividade, ademais de uma insuficiente redução dos gastos públicos (ao contrário, eles continuaram aumentando continuamente, e novos impostos são criados), prenunciam novas crises pela frente, assim que os mercados financeiros entram em pânico com insolvências no México, na Ásia e na Rússia. O mundo se prepara para a “primeira crise financeira do século XXI”, como a designou o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus.
2006: O governo do “Nunca Antes”, iniciado três anos antes, já tinha se enrolado no esquema altamente corruptor do Parlamento, o do Mensalão, do qual se salva pela incompetência da “oposição”, que nunca existiu na verdade, e pela popularidade trazida pela bonança econômica chinesa e a esperteza do “Guia Genial dos Povos”. Com isso, ele obtém sua reeleição – graças à mudança constitucional efetuada dez anos antes pelo mais vaidoso presidente que jamais existiu na história política do Brasil – e continua com seus planos megalomaníacos. A política econômica já tinha começado a desandar com o “empoderamento” de uma chefe da Casa Civil protegida pelo chefão, mas absolutamente inepta em matéria econômica e totalmente submissa ao esquema corruptor do PT. O mundo retomou, por alguns anos, taxas de crescimento que ele nunca tinha visto desde o primeiro choque do petróleo, criando super-bolhas nos mercados imobiliário e bancário dos EUA, a partir de 2007, que redundaram na crise internacional a partir de 2008, com efeitos mundiais nos anos seguintes. Países emergentes, a começar pela China e pela Índia, conhecem taxas dinâmicas de crescimento durante esses anos, mas o Brasil começa um processo de Grande Destruição econômica, que se manifestaria plenamente a partir de 2011.
2016: Finalmente, depois de longa agonia, ocorre a derrocada do governo lulopetista, mas não ainda o desaparecimento de seus efeitos nefastos sobre a política e a economia brasileira, e ainda mais sobre as mentalidades: o Brasil aparece como um país dividido, e com pouca capacidade política – e ainda menos estadistas – para superar a sua mais grave crise – econômica, política, moral, institucional – de toda a sua história. O mundo continua numa fase de baixo crescimento, agora agravada pela anunciada saída da Grã-Bretanha da União Europeia (uma grande trapalhada do Partido Conservador). Franceses e italianos continuam incapazes de empreender reformas substanciais, e os chineses começam a comprar seus ativos mais preciosos (como revelado pela aquisição do clube de futebol Milan). Mas a Eurocopa ainda é um sucesso mundial, aliás uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina…
Paulo Roberto de Almeida Paulo possui doutorado em ciências sociais e é diplomata de carreira, com destaque para quando foi ministro-conselheiro na Embaixada do Brasil em Washington (1999-2003). Além disso, é autor de diversos livros de história diplomática do Brasil e sobre as relações econômicas internacionais, com destaque para o comércio internacional e a integração regional. (pralmeida@mac.com)
Como citar este artigo: Editoria Mundorama. "Um século de mudanças na vida do Brasil e do mundo nos anos 6, por Paulo Roberto de Almeida". Mundorama - Revista de Divulgação Científica em Relações Internacionais, [acessado em 11/07/2016]. Disponível em: <http://www.mundorama.net/2016/07/11/um-seculo-de-mudancas-na-vida-do-brasil-e-do-mundo-nos-anos-6-por-paulo-roberto-de-almeida/>.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

Um seculo de mudancas na vida do Brasil e do mundo, nos anos 6... - Paulo Roberto de Almeida


Um século de mudanças na vida do Brasil e do mundo, nos anos 6...

Paulo Roberto de Almeida
Publicado em Mundorama (11/07/2016; ISSN: 2175-2052; link: http://www.mundorama.net/2016/07/11/um-seculo-de-mudancas-na-vida-do-brasil-e-do-mundo-nos-anos-6-por-paulo-roberto-de-almeida/). 
 
Vejamos, apenas como exercício intelectual de recapitulação improvisada, o que de importante ocorreu no Brasil e no mundo a cada década nos últimos cem anos:
1916: O Brasil de Venceslau Brás tenta superar as dificuldades criadas pelos fechamentos dos mercados para nossos produtos de exportação, em consequência da Grande Guerra que tinha tido início na Europa dois anos antes; Rui Barbosa pronuncia um importante discurso em Buenos Aires, sobre os modernos conceitos do direito internacional, no qual se refere à guerra que continuava na Europa, e que tinha se caracterizado pela violação da neutralidade belga pelo Império Alemão.
1926: Washington Luís é eleito para o governo federal, e tem como seu primeiro ministro da Fazenda Getúlio Vargas, que dá início a um novo processo de estabilização monetária baseada no padrão ouro, que vai durar até 1929. O mesmo tinha sido feito por Winston Churchill na Grã-Bretanha, no ano anterior, mas a uma taxa irrealista (a mesma de 1913, sem levar em conta a inflação do período), o que resulta numa grave recessão econômica, e numa greve geral em 1926. Keynes aproveitou o seu título de sucesso de 1919, contra as loucuras econômicas do tratado de Versalhes contra a Alemanha, para escrever, em 1925, The Economic Consequences of Mister Churchill, alertando contra a medida, que foi tomada.
1936: No Brasil começava a funcionar a Lei de Segurança Nacional, após a Intentona Comunista de novembro de 1935, e os comunistas que não foram presos, fugiram do país; vários participaram da Guerra Civil Espanhola, um ensaio geral para a grande guerra que começaria logo depois do seu término, três anos depois. Foram três anos de carnificina nos campos de batalha e de assassinatos políticos nas cidades, inclusive com a ativa de participação dos fascistas europeus (italianos e alemães) do lado de Franco, e dos comunistas pró-soviéticos do lado republicano.
1946: O mundo começa a se recuperar do mais devastador conflito militar em qualquer tempo, responsável pela morte de dezenas de milhões de pessoas, a maior parte civis inocentes e indefesos, na Europa e na Ásia; o Brasil, também ensaiou uma política econômica mais liberal, mas que é seguida rapidamente por um novo estrangulamento cambial, com introdução de novas restrições às importações desde o ano seguinte. O FMI e o Banco Mundial começam a funcionar, precariamente.
1956: Início do governo otimista de Juscelino Kubitschek no Brasil, com a pretensão de obter um rápido crescimento (“cinquenta anos em cinco”) a partir de um Plano de Metas que previa tudo, menos a construção de Brasília (que deu início à aceleração do processo inflacionário no Brasil); no mundo, ocorre a crise do Canal de Suez, a partir da nacionalização do canal pelo presidente Nasser, e uma tentativa por parte das duas principais potências europeias, França e Grã-Bretanha, de retornar ao status quo ante; EUA e URSS, surpreendentemente, apoiam o Egito, o que representa o começo do fim do mundo europeu, e de sua hegemonia mundial, que durava desde alguns séculos.
1966: Brasil se encaminha para o segundo ano do regime militar, que deveria ter encaminhado, depois do golpe contra Goulart em 1964, para as eleições presidenciais de 1965, canceladas, ao mesmo tempo em que todos os partidos foram dissolvidos, e tem início um novo período de reconstrução constitucional (a partir de 1967), com eleições indiretas para os principais cargos executivos; o mundo se aproxima do fim do regime de Bretton Woods, com a acumulação de centenas de milhões de dólares em parceiros dos EUA, que não mais estariam habilitados, a partir de 1971 (mas vários antes desse prazo), a trocar a moeda papel pelo seu equivalente em ouro, como prometido pelos EUA em 1944.
1976: O Brasil luta para estabilizar sua economia, depois do primeiro choque do petróleo, que representou não apenas uma triplicação da fatura petrolífera (o país importava perto de 80% do petróleo consumido), mas também uma nova aceleração inflacionária, inclusive porque o governo militar não interrompeu custosos programas de infraestrutura e o também custoso programa do álcool combustível. O mundo keynesiano veio abaixo, com a estagflação, o que não estava previsto na teoria, e todos os países enfrentam crises fiscais e monetárias, antecipando sobre as políticas econômicas de corte liberal que começariam a partir de 1979, com Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, e com Ronald Reagan nos EUA, durante os anos 1980. A esquerda começa a abusar do termo neoliberal, um fantasma que na verdade não aconteceu em nenhum lugar do mundo.
1986: o Brasil saiu do regime militar, mas não de um regime político disfuncional e perdulário, pois o governo Sarney dá início a uma sucessão de planos fracassados de “estabilização”, que todos elevam a inflação a patamares cada vez mais elevados (enquanto o processo constitucional promete maravilhas a todos, sem se perguntar quem iria pagar pela grande ilusão das bondades distribuídas pelo Estado). O socialismo real começa a ruir na sua pátria de origem e os satélites soviéticos passam das agitações aos tremores finais: seria o fim da História, se esta não se recusasse teimosamente em ser Hegeliana.
1996: O Plano Real entra no seu segundo ano de estabilização bem sucedida no Brasil, com a inflação convergindo, pela primeira vez em séculos, para patamares mais civilizados do que os conhecidos anteriormente; mas a valorização cambial e a perda de competitividade, ademais de uma insuficiente redução dos gastos públicos (ao contrário, eles continuaram aumentando continuamente, e novos impostos são criados), prenunciam novas crises pela frente, assim que os mercados financeiros entram em pânico com insolvências no México, na Ásia e na Rússia. O mundo se prepara para a “primeira crise financeira do século XXI”, como a designou o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus.
2006: O governo do “Nunca Antes”, iniciado três anos antes, já tinha se enrolado no esquema altamente corruptor do Parlamento, o do Mensalão, do qual se salva pela incompetência da “oposição”, que nunca existiu na verdade, e pela popularidade trazida pela bonança econômica chinesa e a esperteza do “Guia Genial dos Povos”. Com isso, ele obtém sua reeleição – graças à mudança constitucional efetuada dez anos antes pelo mais vaidoso presidente que jamais existiu na história política do Brasil – e continua com seus planos megalomaníacos. A política econômica já tinha começado a desandar com o “empoderamento” de uma chefe da Casa Civil protegida pelo chefão, mas absolutamente inepta em matéria econômica e totalmente submissa ao esquema corruptor do PT. O mundo retomou, por alguns anos, taxas de crescimento que nunca tinham sido vistas desde o primeiro choque do petróleo, criando super-bolhas nos mercados imobiliário e bancário dos EUA, a partir de 2007, que redundaram na crise internacional a partir de 2008, com efeitos mundiais nos anos seguintes. Países emergentes, a começar pela China e pela Índia, conhecem taxas dinâmicas de crescimento durante esses anos, mas o Brasil começa um processo de Grande Destruição econômica, que se manifestaria plenamente a partir de 2011.
2016: Finalmente, depois de longa agonia, ocorre a derrocada do governo lulopetista, mas não ainda o desaparecimento de seus efeitos nefastos sobre a política e a economia brasileira, e ainda mais sobre as mentalidades: o Brasil aparece como um país dividido, e com pouca capacidade política – e ainda menos estadistas – para superar a sua mais grave crise – econômica, política, moral, institucional – de toda a sua história. O mundo continua numa fase de baixo crescimento, agora agravada pela anunciada saída da Grã-Bretanha da União Europeia (uma grande trapalhada do Partido Conservador). Franceses e italianos continuam incapazes de empreender reformas substanciais, e os chineses começam a comprar seus ativos mais preciosos (como revelado pela aquisição do clube de futebol Milan). Mas a Eurocopa ainda é um sucesso mundial, aliás uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina...


Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 8 de julho de 2016

quinta-feira, 5 de março de 2015

Historia Global em debate: métodos, historiografia e estudos de casos - Simposio Nacional da Anpuh (Flops, 29-31/07/2015)


Simpósio Nacional de História 
a realizar-se de 27 a 31 de julho de 2015, em Florianópolis, SC.
Veja aqui a página inicial do evento: www.snh2015.anpuh.org
 
 Uma das palestras, a cargo de uma brasilianista dubitativa, no dia 29, coloca em dúvida, justamente, a própria realidade, hoje, desse conceito: 
 
Sou ainda uma Brazilianist?
Barbara Weinstein (New York University)
Mediador: Alexandre Fortes (UFRRJ)
 Tomando como ponto de partida o tema do simpósio – Lugares do historiador: novos e velhos desafios – proponho revisitar e repensar a categoria de “Brazilianist.” A palavra significa não apenas o historiador que estuda o Brasil, mas também um pesquisador cujo “lugar” é situado fora do Brasil (na grande maioria dos casos, nos Estados Unidos). Seguindo a chamada “standpoint theory,” knowledge is “socially situated” – a posição do intelectual não só cria certa “ótica”, mas também empresta a certos saberes um maior prestígio e autoridade. Deixando ao lado as várias críticas desta teoria, podemos notar que, começando nos anos setenta, a noção do Brazilianist correspondia a esta  proposta teórica. O “Brazilianist” não era simplesmente um historiador do Brasil radicado nos Estados Unidos, mas alguém cuja abordagem refletia a sua localização e alguém que podia aproveitar do seu lugar relativamente privilegiado no mundo do saber (independente da qualidade da obra produzida). Na palestra pretendo questionar a validez do conceito do “Brazilianist” entre historiadores no momento atual, levando em conta as mudanças no mundo acadêmico brasileiro, a formação de redes de colaboração e intercambio que trasbordam as fronteiras nacionais, e o surgimento do viés transnacional na profissão de história, entre outros fatores.

Mas, o simpósio temático que me chamou a atenção foi este aqui:


007. A História Global em debate: métodos, historiografia e estudos de casos

Coordenadores: JOÃO JÚLIO GOMES DOS SANTOS JÚNIOR (Doutor(a) - Universidade Federal de Pelotas), MONIQUE SOCHACZEWSKI GOLDFELD (Doutor(a) - CPDOC-FGV)
Resumo: A proposta deste Simpósio Temático é discutir a Global History enquanto uma tendência histográfica que se apresenta como uma alternativa metodológica ao historiador. Entre as principais características dessa corrente estão o alargamento da unidade de análise, superando o tradicional uso do Estado-Nação, e pesquisas que privilegiam perspectivas não eurocêntricas. Nosso intuito é discutir tanto questões teóricas e metodológicas (diferenças entre histórias conectadas, cruzadas, transnacionais, mundiais, globais, etc.) como também estudos de casos. Nesse sentido, incentivamos a apresentação de pesquisas históricas das mais variadas temáticas que discutam os séculos XIX e XX enfatizando as articulações entre os espaços globais, desde as Américas, Oriente Médio, Subcontinente Asiático e África com suas distintas relações com a Europa, e eventualmente entre si. Papers written in English are particularly welcome. Justificativa: As tradições historiográficas baseadas na perspectiva eurocêntrica e centradas no Estado-Nação passaram a ser problematizadas a partir de questões históricas tais como os movimentos de descolonização, a queda do Muro de Berlim, o fim da Guerra Fria e o desmantelamento da União Soviética. Todos esses processos foram acompanhados por uma percepção de aceleração do tempo histórico em uma ascendente globalização. De acordo com Georg Iggers (2010), é necessário uma nova forma de escrita da história que compreenda as atuais condições de vida, que se diferenciam daquelas pré-1989.
Há diversas respostas historiográficas a essa questão. Cada uma delas está inserida em uma lógica de disputa de campo acadêmico (BARROS, 2014). Há aqueles que defendem a chamada Connected Histories (SUBRAHMANYAM, 1997; GRUZINSKI, 2001; 2012; HARTOG, 2013); outros consideram que a melhor alternativa é a Histoire Cruzée (WERNER; ZIMMERMANN, 2006). A discussão só aumenta quando se procura diferenciar a Global History, World History e a Transnational History (VENGOA, 2009; FICKER, 2014); ou ainda quando se procura articular a micro-história com a macro-história através das variações de escala (REVEL, 2010).
Por mais que todas essas tendências possuam distinções entre si, seja narrativas, metodológicas ou temáticas, todas compartilham da necessidade de ampliar os objetos de análise para além do Estado-Nação e escapar do eurocentrismo. Dessa forma, concordamos com Jürgen Kocka (2012), que considera que a Global History oferece uma alternativa historiográfica ao buscar objetos de pesquisa capazes de estabelecer relações além fronteiras, assim como conexões transnacionais nos seus mais variados conteúdos temáticos, tais como história da globalização, migrações, ambiental, saúde, leis, etc.
Nos últimos vinte e cinco anos acompanhamos o surgimento de uma série de estudos que priorizaram um enfoque global e mundial, com ênfase em objetos transnacionais, cruzados, conectados e relacionais. Por mais que essas correntes historiográficas apresentem diferenciações entre si, de uma maneira geral todas estão preocupadas com a ampliação dos objetos de análise. Esse alargamento tem por finalidade romper com a tradicional unidade do Estado-Nação e oferecer uma interpretação alternativa ao eurocentrismo.
Assim, a proposta deste Simpósio Temático é congregar tanto trabalhos capazes de refletir teórica e metodologicamente essas mudanças, como também estudos de casos que consigam articular diferentes espaços e temáticas históricas. Acreditamos que essa proposta é salutar e pode se tornar um interessante espaço de discussão não apenas neste encontro nacional de História em Florianópolis, mas também em muitos outros e, quem sabe, tornar-se uma referência para reflexão desses temas.
É fato ainda que a revolução corrente no acesso a fontes digitais de pesquisa em todo o globo, levanta ainda questões quanto a natureza das fontes e formas de pesquisa, relevantes no âmbito do debate sobre o fazer da chamada Global History (ARMITAGE; GULDI, 2014; MAZLISH; IRIYE, 2004). Bibliografia: ARMITAGE, David; GULDI, Jo. The History Manifesto. Cambridge: Cambridge University Press, 2014.
BARROS, José D’Assunção. História Comparada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
FICKER, Sandra Kuntz. “Mundial, trasnacional, global: Un ejercicio de clarificación conceptual de los estudios globales”. IN: Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le 27 mars 2014.
GRUZINSKI, Serge. “Os mundos misturados da monarquia católica e outras connected histories”. IN: Topoi, Rio de Janeiro, mar. 2001, p. 175-195.
GRUZINSKI, Serge. Que horas são...lá, no outro lado? América e Islã no limiar da época moderna. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
HARTOG, François. "Experiência do tempo: da história universal à história global?". IN: história, histórias. Brasília, vol. 1, n. 1, 2013. p. 164-179.
IGGERS, Georg. "Desafios do século XXI à historiografia". IN: História da Historiografia. Ouro Preto, n. 4, mar/10, p. 105-124.
KOCKA, Jürgen. "Global History: Opportunities, Dangers, Recent Trends". IN: CULTURE & HISTORY DIGITAL JOURNAL 1(1) June 2012. p. 1-6.
MAZLISH, Bruce; IRIYE, Akira. The Global History Reader. New York: Routledge, 2004.
REVEL, Jacques. "Micro-história, macro-história: o que as variações de escala ajudam a pensar em um mundo globalizado". IN: Revista Brasileira de Educação, v. 15 n. 45 set./dez. 2010. p. 434-444.
SUBRAHMANYAM, Sanjay. “Connected Histories: Notes towards a Reconiguration of Ear& Modern Eurasia”. IN: Modern Asian Studies 31, 3 (1997), pp. 735-762.
VENGOA, Hugo Fazio. "La historia global y su conveniencia para el estudio del pasado y del presente". IN: HISTORIA CRITICA EDICIÓN ESPECIAL, BOGOTÁ, NOVIEMBRE 2009, p. 300-319.
Werner, M., Zimmermann, B. “Beyond comparison: Histoire croisée and the challenge of reflexivity”. IN: History and Theory, 45: 30–50. (2006). 
 
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Se eu tivesse tempo, prepararia um trabalho sobre as interações recíprocas entre história global e a escola acadêmica multidisplinar da "economia-mundo", muito influenciada por braudelianos, arrighianos e wallersteinianos...
Tenho algo a dizer em torno desses conceitos e dos trabalhos conduzidos sob suas ferramentas, métidos e abordagens.
Mas vai provavelmente ficar para uma outra ocasião.
Paulo Roberto de Almeida
 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Aos que acreditam na divisao centro-periferia e na perversidade do centro contra a periferia: coloquio economia-mundo...

Tem crenças para todos os os gostos. Tem gente, por exemplo, que acha que os movimentos de protesto na Europa, o Occupy Wall Street nos EUA e a tal de primavera árabe (que já fenesceu faz muito tempo) fazem parte de um grande processo de desconcentração mundial, capaz de abalar os alicerces da hegemonia dos países centrais na economia-mundo, assim designada por um fiat de Wallerstein e outros, que se encantam ao descobrir a pólvora do academismo ingênuo.
Enfim, sempre é uma oportunidade para gente inteligente oferecer suas contribuições idem...
Paulo Roberto de Almeida


CHAMADA DE TRABALHOS
VII COLÓQUIO BRASILEIRO EM ECONOMIA POLÍTICA DOS SISTEMAS-MUNDO
Florianópolis, 26 e 27 de Agosto de 2013
Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil.
DESIGUALDADES INTERNACIONAIS NA ATUAL CRISE SISTÊMICA

A crise do capitalismo mundial deflagrada em 2008 intensificou o debate sobre as desigualdades (econômicas, políticas, científico-tecnológicas, etc.) entre os estados nacionais que formam o sistema interestatal. A persistência da recessão nos países do Norte e do crescimento nos países emergentes nos leva a vislumbrar um cenário de maior equidade entre países. A presente revolução mundial - representada na consolidação dos governos de centro-esquerda na América Latina, no movimento Occupy Wall Street, na Primavera Árabe, dentre outros eventos - reforça as possibilidades de um sistema-mundo socialmente mais inclusivo. Por outro lado, atores governamentais e empresariais de países centrais reagem no sentido de conservar as hierarquias globais de riqueza e poder prevalecentes até então. União Européia, Estados Unidos e Japão são acusados de alimentar uma “guerra cambial” em detrimento dos países emergentes, de bloquear reformas na governança das instituições multilaterais, e de promover novos tratados internacionais - como a Trans-Pacific Partnership - que privilegiam seus interesses.

Em sua sétima edição, o Colóquio Brasileiro em Economia Política dos Sistemas-Mundo (EPSM) convida pesquisadores que utilizam a EPSM a investigar e discutir as forças atualmente em operação que reproduzem ou desafiam a estratificação do sistema-mundo capitalista em centro-periferia.

Como sempre, também são bem-vindos trabalhos sobre outros temas e épocas do moderno sistema mundial, que utilizem a EPSM como principal orientação teórico-metodológica.
Sub-temas sugeridos:
- A obsolescência das organizações internacionais construídas sob a hegemonia norteamericana;
- As relações sul-sul: sua trajetória, possibilidades, limites e contradições;
- O neo-desenvolvimentismo latino-americano;
- Os movimentos anti-sistêmicos no pós-crise;
- BRICS;
- A ascensão da China e os países em desenvolvimento: competição ou cooperação?
- A relação entre as desigualdades intra-nacionais e as desigualdades internacionais.
Instruções para submissão de trabalhos:
Nesta edição do colóquio, apenas trabalhos completos poderão ser submetidos.
Especificação da formatação: arquivo MS Word ou PDF, máximo de 30 páginas, espaço 1,5 e
tipo Times New Roman 12
Data limite para envio: 16/06/2013
E-mail para submissão: hpgpepsm@cse.ufsc.br
Mais informações: Chamada de Trabalhos VII Coloquio EPSM.PDF
Divulgação dos trabalhos aceitos na página do GPEPSM (www.gpepsm.ufsc.br): até
01/07/2013.
Comissão científica:
Pedro Antonio Vieira
Felipe Amin Filomeno
Marcelo Arend
Antronio Brussi
Comissão organizadora:
Pedro Antonio Vieira (coordenador)
Felipe Amin Filomeno
Helton Ricardo Ouriques
Luiz Mateus da Silva Ferreira