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sexta-feira, 8 de julho de 2016

Um seculo de mudancas na vida do Brasil e do mundo, nos anos 6... - Paulo Roberto de Almeida


Um século de mudanças na vida do Brasil e do mundo, nos anos 6...

Paulo Roberto de Almeida
Publicado em Mundorama (11/07/2016; ISSN: 2175-2052; link: http://www.mundorama.net/2016/07/11/um-seculo-de-mudancas-na-vida-do-brasil-e-do-mundo-nos-anos-6-por-paulo-roberto-de-almeida/). 
 
Vejamos, apenas como exercício intelectual de recapitulação improvisada, o que de importante ocorreu no Brasil e no mundo a cada década nos últimos cem anos:
1916: O Brasil de Venceslau Brás tenta superar as dificuldades criadas pelos fechamentos dos mercados para nossos produtos de exportação, em consequência da Grande Guerra que tinha tido início na Europa dois anos antes; Rui Barbosa pronuncia um importante discurso em Buenos Aires, sobre os modernos conceitos do direito internacional, no qual se refere à guerra que continuava na Europa, e que tinha se caracterizado pela violação da neutralidade belga pelo Império Alemão.
1926: Washington Luís é eleito para o governo federal, e tem como seu primeiro ministro da Fazenda Getúlio Vargas, que dá início a um novo processo de estabilização monetária baseada no padrão ouro, que vai durar até 1929. O mesmo tinha sido feito por Winston Churchill na Grã-Bretanha, no ano anterior, mas a uma taxa irrealista (a mesma de 1913, sem levar em conta a inflação do período), o que resulta numa grave recessão econômica, e numa greve geral em 1926. Keynes aproveitou o seu título de sucesso de 1919, contra as loucuras econômicas do tratado de Versalhes contra a Alemanha, para escrever, em 1925, The Economic Consequences of Mister Churchill, alertando contra a medida, que foi tomada.
1936: No Brasil começava a funcionar a Lei de Segurança Nacional, após a Intentona Comunista de novembro de 1935, e os comunistas que não foram presos, fugiram do país; vários participaram da Guerra Civil Espanhola, um ensaio geral para a grande guerra que começaria logo depois do seu término, três anos depois. Foram três anos de carnificina nos campos de batalha e de assassinatos políticos nas cidades, inclusive com a ativa de participação dos fascistas europeus (italianos e alemães) do lado de Franco, e dos comunistas pró-soviéticos do lado republicano.
1946: O mundo começa a se recuperar do mais devastador conflito militar em qualquer tempo, responsável pela morte de dezenas de milhões de pessoas, a maior parte civis inocentes e indefesos, na Europa e na Ásia; o Brasil, também ensaiou uma política econômica mais liberal, mas que é seguida rapidamente por um novo estrangulamento cambial, com introdução de novas restrições às importações desde o ano seguinte. O FMI e o Banco Mundial começam a funcionar, precariamente.
1956: Início do governo otimista de Juscelino Kubitschek no Brasil, com a pretensão de obter um rápido crescimento (“cinquenta anos em cinco”) a partir de um Plano de Metas que previa tudo, menos a construção de Brasília (que deu início à aceleração do processo inflacionário no Brasil); no mundo, ocorre a crise do Canal de Suez, a partir da nacionalização do canal pelo presidente Nasser, e uma tentativa por parte das duas principais potências europeias, França e Grã-Bretanha, de retornar ao status quo ante; EUA e URSS, surpreendentemente, apoiam o Egito, o que representa o começo do fim do mundo europeu, e de sua hegemonia mundial, que durava desde alguns séculos.
1966: Brasil se encaminha para o segundo ano do regime militar, que deveria ter encaminhado, depois do golpe contra Goulart em 1964, para as eleições presidenciais de 1965, canceladas, ao mesmo tempo em que todos os partidos foram dissolvidos, e tem início um novo período de reconstrução constitucional (a partir de 1967), com eleições indiretas para os principais cargos executivos; o mundo se aproxima do fim do regime de Bretton Woods, com a acumulação de centenas de milhões de dólares em parceiros dos EUA, que não mais estariam habilitados, a partir de 1971 (mas vários antes desse prazo), a trocar a moeda papel pelo seu equivalente em ouro, como prometido pelos EUA em 1944.
1976: O Brasil luta para estabilizar sua economia, depois do primeiro choque do petróleo, que representou não apenas uma triplicação da fatura petrolífera (o país importava perto de 80% do petróleo consumido), mas também uma nova aceleração inflacionária, inclusive porque o governo militar não interrompeu custosos programas de infraestrutura e o também custoso programa do álcool combustível. O mundo keynesiano veio abaixo, com a estagflação, o que não estava previsto na teoria, e todos os países enfrentam crises fiscais e monetárias, antecipando sobre as políticas econômicas de corte liberal que começariam a partir de 1979, com Margaret Thatcher, na Grã-Bretanha, e com Ronald Reagan nos EUA, durante os anos 1980. A esquerda começa a abusar do termo neoliberal, um fantasma que na verdade não aconteceu em nenhum lugar do mundo.
1986: o Brasil saiu do regime militar, mas não de um regime político disfuncional e perdulário, pois o governo Sarney dá início a uma sucessão de planos fracassados de “estabilização”, que todos elevam a inflação a patamares cada vez mais elevados (enquanto o processo constitucional promete maravilhas a todos, sem se perguntar quem iria pagar pela grande ilusão das bondades distribuídas pelo Estado). O socialismo real começa a ruir na sua pátria de origem e os satélites soviéticos passam das agitações aos tremores finais: seria o fim da História, se esta não se recusasse teimosamente em ser Hegeliana.
1996: O Plano Real entra no seu segundo ano de estabilização bem sucedida no Brasil, com a inflação convergindo, pela primeira vez em séculos, para patamares mais civilizados do que os conhecidos anteriormente; mas a valorização cambial e a perda de competitividade, ademais de uma insuficiente redução dos gastos públicos (ao contrário, eles continuaram aumentando continuamente, e novos impostos são criados), prenunciam novas crises pela frente, assim que os mercados financeiros entram em pânico com insolvências no México, na Ásia e na Rússia. O mundo se prepara para a “primeira crise financeira do século XXI”, como a designou o diretor-gerente do FMI, Michel Camdessus.
2006: O governo do “Nunca Antes”, iniciado três anos antes, já tinha se enrolado no esquema altamente corruptor do Parlamento, o do Mensalão, do qual se salva pela incompetência da “oposição”, que nunca existiu na verdade, e pela popularidade trazida pela bonança econômica chinesa e a esperteza do “Guia Genial dos Povos”. Com isso, ele obtém sua reeleição – graças à mudança constitucional efetuada dez anos antes pelo mais vaidoso presidente que jamais existiu na história política do Brasil – e continua com seus planos megalomaníacos. A política econômica já tinha começado a desandar com o “empoderamento” de uma chefe da Casa Civil protegida pelo chefão, mas absolutamente inepta em matéria econômica e totalmente submissa ao esquema corruptor do PT. O mundo retomou, por alguns anos, taxas de crescimento que nunca tinham sido vistas desde o primeiro choque do petróleo, criando super-bolhas nos mercados imobiliário e bancário dos EUA, a partir de 2007, que redundaram na crise internacional a partir de 2008, com efeitos mundiais nos anos seguintes. Países emergentes, a começar pela China e pela Índia, conhecem taxas dinâmicas de crescimento durante esses anos, mas o Brasil começa um processo de Grande Destruição econômica, que se manifestaria plenamente a partir de 2011.
2016: Finalmente, depois de longa agonia, ocorre a derrocada do governo lulopetista, mas não ainda o desaparecimento de seus efeitos nefastos sobre a política e a economia brasileira, e ainda mais sobre as mentalidades: o Brasil aparece como um país dividido, e com pouca capacidade política – e ainda menos estadistas – para superar a sua mais grave crise – econômica, política, moral, institucional – de toda a sua história. O mundo continua numa fase de baixo crescimento, agora agravada pela anunciada saída da Grã-Bretanha da União Europeia (uma grande trapalhada do Partido Conservador). Franceses e italianos continuam incapazes de empreender reformas substanciais, e os chineses começam a comprar seus ativos mais preciosos (como revelado pela aquisição do clube de futebol Milan). Mas a Eurocopa ainda é um sucesso mundial, aliás uma Copa do Mundo sem Brasil e Argentina...


Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 8 de julho de 2016

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