Celso Ming
Há um punhado de setores da economia
por onde pode começar a retomada do crescimento da produção e da renda.
Um deles é o agropecuário. Prevalece entre as nossas esquerdas
jurássicas o ponto de vista de que tudo que diz respeito ao agronegócio
está a relacionado a duas coisas ruins: a uma economia primitiva incapaz
de agregar valor; e a atuações políticas atrasadas, ligadas ao
latifúndio e aos ruralistas, os de bancada e os do resto.
Não é errado dizer que, ao contrário do
que alega essa gente, mineração e agricultura estão entre os setores
que mais agregam valor. Minério no chão vale pouco; tirado de lá,
alcança o preço que se sabe. Não é à toa que a Vale nunca se interessou
em produzir aço. Na agricultura pode-se dizer o mesmo. Uma saca (60 kg)
de semente selecionada de soja produz cerca de três toneladas.
Mede-se mais o dinamismo de um setor
pela incorporação de tecnologia e pela mentalidade modernizante e
ambientalmente sustentável dos seus empreendedores do que pela
quantidade de etapas agregadas à produção, embora estas também possam
ser desejáveis. O maior país do mundo, os Estados Unidos, não tem nenhum
problema em ser o maior produtor agrícola do mundo.
O Brasil não corre nenhum risco de se tornar um fazendão, como parecem temer desenvolvimentistas equivocados. Como lembrou na última segunda-feira o chanceler José Serra,
o Brasil pode ser grande exportador tanto de soja quanto de aviões.
Para isso não precisa de muito. Basta que o governo colabore com o
desenvolvimento da infraestrutura, especialmente no transporte, e não
faça besteiras, como a da proposta feita há duas semanas pelo
ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, que pretende a cobrança de
contribuições previdenciárias sobre a exportação de produtos
agropecuários.
Essa é uma sugestão idiota, pelo menos
por duas razões. Primeira, porque inventa uma taxação sobre exportação
quando no mundo inteiro se faz o contrário, isentam- se os produtos de
exportação de quaisquer taxações, para evitar que o comprador
estrangeiro seja obrigado a pagar impostos. Em segundo lugar, na medida
em que o Brasil admitisse essa taxação, estaria matando o argumento da
longa luta contra os subsídios aos produtos agrícolas concedidos pelos
países de economia madura.
Estaria admitindo que essa concorrência
desleal não prejudica suas próprias exportações, visto que aceita até
mesmo uma taxação extra sobre seu produto. A agricultura brasileira
acaba de ultrapassar a marca da produção de 100 milhões de toneladas de
soja por ano. Dentro de mais 15 anos, estará em condições de dobrar esse
feito sem desmatamentos, apenas com agregação de terras de pastagens e
com aumento da produtividade.
Além do mais, o avanço do agronegócio
não se faz apenas com grandes empresas. No Brasil, a agricultura
familiar e o cooperativismo mostram grande dinamismo e capacidade de
absorver as novas tecnologias de ponta no preparo do solo, genética,
manejo de culturas, colheita e armazenamento. É não atrapalhar e deixar
acontecer.
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