FEA recebe Congresso Latinoamericano de História Econômica
Espaço acadêmico para debater as recentes pesquisas de histórica econômica da América Latina, assim como abordar as perspectivas globais e comparativas com outras regiões, o Congresso Latinoamericano de História Econômica (CLADHE) realizou sua 5˚ edição entre os dias 18 e 21 de julho, na FEAUSP. Organizado pelo prof. Alexandre Machionne Saes, com apoio do Departamento de Economia FEA-USP e da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica (ABPHE), nessa edição, o CLADHE contou com a participação de nomes importantes, como os pesquisadores Victor Bulmer-Thomas, da University College London e Gareth Austin, da Cambridge University. “A análise da história econômica é um instrumento poderoso para explicar tendências do presente, como polarizações políticas, culturais e religiosas, e pode influir diretamente para solucionar problemas da nossa sociedade”, explicou o professor Saes durante o evento de abertura do Congresso.
Criado em 2007, o CLADHE continua sendo um ponto de encontro importante para pesquisadores latinoamericanos, ao apoiar a criação de agendas de pesquisas comuns e incentivar a formação de novos pesquisadores, garantindo assim a vitalidade da área, além de contemplar os diferentes estudos feitos por pesquisadores da região. Segundo o professor Saes, apesar do grande número de participantes do Congresso, ainda existem muitos desafios que os historiadores econômicos devem enfrentar: “temos um desafio institucional, de justificarmos recorrentemente aos nossos pares a relevância do ensino da história como disciplina, tanto para as faculdades de economia como de história. É importante garantir que a formação dos historiadores e economistas contemplem essas perspectivas de compreensão e análise da realidade, derivadas de estudos que permitam formações mais amplas e plurais”, explicou. Marta Teresa Arreche, pró-reitora adjunta da Pesquisa da Universidade de São Paulo, acrescentou: “as questões de longo prazo têm ganhado relevância nos últimos anos. São temas difíceis de serem tratados, que exigem um esforço de pesquisa que não é trivial pelos nossos colegas”.
Imperialismo na América Latina
Um dos destaques da programação foi a conferência do pesquisador britânico Victor Bulmer-Thomas sobre o tema “História Econômica e Imperialismo na América Latina: quais são as conexões?”. Partindo do ponto de vista das relações internacionais entre os países e analisando os efeitos do imperialismo, Bulmer-Thomas procurou responder a difícil questão de por que os Estados Unidos, que em 1700 tinham um PIB comparável ao do resto da América Latina, em três séculos se tornou a maior potência mundial.
“Quando começou a guerra da independência dos EUA, o PIB da América Latina caiu para um terço, em comparação ao dos Estados Unidos e, durante o século XIX, o PIB latinoamericano continuou sua caída; essa época foi o momento do auge dos Impérios Europeus”, disse o pesquisador, analisando o histórico colonial desses países para procurar responder qual foi o impacto do imperialismo nas economias das Américas. Em 1700, o sistema comercial dominante era o mercantilismo. Nesse sistema, as colônias eram obrigadas a realizar comércio apenas com suas metrópoles. Nesse sentido, desde aquela época, os Estados Unidos se beneficiaram em relação ao resto da América Latina, pois sua economia estava ligada à Inglaterra, que já era uma potência muito mais dinâmica que Portugal e Espanha. “As exportações em 1775 eram muito diferentes entre essas colônias. As exportações dos EUA, nessa época, eram duas vezes maiores. O impacto do imperialismo nesse caso foi muito diferente para a América Latina e para os Estados Unidos”, explicou.
A partir da independência dos Estados Unidos, as diferenças cresceram ainda mais. Para o pesquisador, o imperialismo foi muito bom para os Estados Unidos e ruim para a América Latina. Assim, o período entre 1780 e 1830, foi a época em que os EUA se converteram em um império e aumentaram seu tamanho significativamente. Durante esse mesmo período ocorreram as guerras de independência de grande parte dos países latinoamericanos, o que prejudicou o comércio exterior da região. Somado a isso, a rápida industrialização dos Estados Unidos e seu crescimento populacional, permitiram que sua economia se dinamizasse ainda mais, enquanto que a América Latina continuou dependente da exportação de commodities com pouco valor agregado e que sofriam com constantes flutuações de preço no mercado internacional. “A história imperialista não explica tudo, mas ajuda a entender a caída do PIB da América Latina em relação aos EUA. Tanto antes da independência como depois, os impérios europeus complicaram o desenvolvimento da economia latinoamericana”, concluiu.
Matéria: Isabelle dal Maso
Fotos: Ismael Belmiro do Rosário
Departamento:
- Economia
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