Ele era grande, ele era ativo, ele nunca deixou de lutar pela justiça e pela dignidade da pessoa humana. Lembro-me que em janeiro de 1988, pouco depois de ganhar o Prêmio Nobel da Paz, pelo seu trabalho incansável em prol da justiça universal, ele usou parte do prêmio ganho para reunir, em Paris, um grande número de outros detentores do mesmo prêmio para discutir e aprovar uma série de propostas para uma agenda para o século XXI.
Eu elaborei um comentário a respeito, a partir dessa
“Conferência dos Nobel”, que transcrevo mais abaixo.
Paulo Roberto de Almeida
Morte de Elie Wiesel
Declaração do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sobre o falecimento de Elie WieselO primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, divulgou a seguinte declaração esta noite (sábado, 2 de junho de 2016), sobre o falecimento de Elie Wiesel:
“O Estado de Israel e o Povo Judeu lamentam o falecimento de Elie Wiesel. Através de seus livros inesquecíveis, comoventes palavras e exemplo pessoal, Elie personificava o triunfo do espírito humano sobre o mais inimaginável dos males. Das trevas do Holocausto, Elie se tornou uma poderosa força para a luz, a verdade e a dignidade. Sua vida e trabalho foram uma grande bênção para o Povo Judeu, o Estado Judeu e toda a Humanidade.
“Sinto-me afortunado por tê-lo conhecido e ter aprendido de sua prodigiosa sabedoria. Em nome de todo o povo de Israel, Sara e eu enviamos condolências à toda a família Wiesel. Que a memória de Elie Wiesel, um elevado espírito que nos ensinou a lembrar, seja para sempre abençoado”.
Comunicado do presidente de Israel, Reuven Rivlin, sobre o falecimento do ganhador de Prêmio Nobel da Paz, Elie WieselO presidente de Israel, Reuven Rivlin, comentou sobre sua tristez a quanto ao falecimento do ganhador do Prêmio Nobel da Paz e sobrevivente do Holocausto, Elie Wiesel, na noite deste sábado.
“Hoje à noite, nos despedimos de um herói para o Povo Judeu e de um gigante para toda a Humanidade. Elie Wiesel, que sua memória seja abençoada, personificou a determinação do espírito humano para superar o mais sombrio dos males e sobreviver a todas as adversidades.
“Sua vida foi dedicada à luta contra todo e qualquer ódio e pelo bem do homem criado à imagem de Deus. Ele era um guia para todos nós. Um dos maiores filhos do Povo Judeu, que tocou os corações de tantos e ajudou-nos a acreditar no perdão, na vida e no vínculo eterno do Povo Judeu. Que sua memória seja uma bênção eternamente gravada no coração da nação”.
O 9° presidente de Israel, Shimon Peres, lamenta a perda de Elie Wiesel“Hoje, o Povo Judeu e o mundo perderam um indivíduo maior do que a vida: o sobrevivente do Holocausto, escritore ganhador do Prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel.
“Wiesel deixou sua marca na Humanidade através da perseverança, da defesa do legado do Holocausto e do envio de uma mensagem de paz e respeito entre as pessoas por todo o mundo.
“Ele suportou as mais graves atrocidades da H umanidade. Sobreviveu e dedicou sua vida a transmitir a mensagem de “Nunca Mais”.
“Eu tive a honra e o privilégio de agradecê-lo pessoalmente por seus numerosos anos de trabalho e por salvar o mundo da apatia quando dei a ele a Medalha Presidencial em nome do Estado de Israel. Que sua memória seja uma bênção para todos nós”.
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A Conferência dos Prêmios Nobel:
Uma agenda para o Século XXI ?
Paulo Roberto de Almeida
Reunidos em Paris no período
de 18 a 21 de Janeiro de 1988 para discutir sobre as “ameaças e promessas no
alvorecer do Século XXI”, 75 Prêmios Nobel de 31 diferentes países divulgaram o
resultado de seus trabalhos sob a forma de 16 conclusões e recomendações
relativas aos mais importantes problemas da atualidade internacional deste
final de século (vide Quadro).
A iniciativa do Prêmio Nobel
da Paz Elie Wiesel, escritor judeu de naturalidade polonesa, foi sem dúvida
alguma meritória, mesmo se cabe questionar a representatividade intrínseca de
cientistas e homens de letras de origens as mais diversas (com maciça
predominância norte-americana) e sua competência específica para debater
problemas complexos que nos afetam a todos, mas de maneira variada. Uma vez que
se reconhece, porém, a um biólogo o direito de apresentar propostas, enquanto
cidadão, sobre problemas do desarmamento ou da educação, ou a um homem de
letras o de argumentar sobre a melhor maneira de resolver o problema da dívida
do Terceiro Mundo ou de acelerar a transferência de tecnologia em favor dos
países em desenvolvimento, pode-se concordar em que o impacto mediático de uma
conferência de laureados representa uma boa maneira de, mais uma vez, chamar a
atenção da opinião pública ou dos homens de Estado para algumas das questões
mais cruciais da agenda mundial.
O problema essencial,
contudo, deve ser colocado da seguinte forma: as propostas dos Nobel são condizentes
com a natureza das “ameaças” percebidas e suas recomendações caminham realmente
em direção das “promessas” do século XXI? Se a principal qualidade de um bom
cientista é a de ser um pouco “visionário”, isto é, de saber antecipar-se aos
desafios futuros, as “conclusões” dos Prêmio Nobel devem ser julgadas à luz de
sua adequação aos cenários desenhados para o próximo milênio, ou seja, segundo
sua capacidade de realizar, nos termos do filósofo alemão Koselleck, uma
“projeção utópica do futuro”.
Em outros termos, a agenda
que os Nobel levantam hoje para os homens do presente corresponde efetivamente
às necessidades de desenvolvimento das sociedades do futuro e as recomendações
propostas representam algo mais do que simples manifestação de boa-vontade de homens
desvinculados de tarefas executivas ou responsabilidades governamentais?
Subsidiariamente, se poderia também indagar se os “remédios” propostos levam em
consideração os meios atualmente disponíveis ou a organização social e política
do sistema inter-estatal contemporâneo, bem como a relação de forças nele
predominante.
Paulo Roberto de Almeida
Paris, 22 de Janeiro de 1988; Genebra, 21
fevereiro 1988.
AS 16 PROPOSTAS DA CONFERÊNCIA DOS NOBEL
1. Todas as formas de vida
devem ser consideradas como um patrimônio essencial da Humanidade. Causar dano
ao equilíbrio ecológico constitui portanto um crime contra o futuro.
2. A espécie humana é
única e cada indivíduo que a compõe tem os mesmos direitos à liberdade, à
igualdade e à fraternidade.
3. A riqueza da Humanidade
está também na sua diversidade. Ela deve ser protegida em todos os seus aspectos:
cultural, biológico, filosófico e espiritual. Para isso, a tolerância, a
atenção a outrém, a recusa das verdades definitivas devem ser incessantemente
lembradas.
4. Os problemas mais
importantes que a humanidade enfrenta atualmente são ao mesmo tempo universais
e interdependentes.
5. A ciência é um poder. O
acesso à ela deve ser igualmente repartido entre os indivíduos e os povos.
6. O fosso existente em
muitos países entre a comunidade intelectual e os poderes públicos deve ser
reduzido. Cada um deve reconhecer o papel do outro.
7. A educação deve
tornar-se prioridade absoluta de todos os orçamentos e deve contribuir para
valorizar todos os aspectos da criatividade humana.
8. As ciências e
tecnologias devem estar à disposição de todos, especialmente dos países em
desenvolvimento, de forma a permitir-lhes o controle de seu próprio destino e a
definição dos conhecimentos que julguem necessários a seu futuro.
9. Se a televisão e os
novos meios de comunicação constituem um instrumento essencial de educação para
o futuro, a educação deve ajudar a desenvolver o espírito crítico em relação ao
que é divulgado nesses meios.
10. A educação, a
alimentação e a prevenção são os instrumentos essenciais de uma política
demográfica e de redução da mortalidade infantil. A generalização do uso das
vacinas existentes e o desenvolvimento de novas vacinas devem constituir a
tarefa comum dos cientistas e dos homens políticos.
11. Todas as pesquisas
relativas à prevenção e ao tratamento da AIDS devem ser partilhadas e estimuladas,
sem bloqueios ou barreiras, especialmente através da cooperação da indústria
farmacêutica. Uma vez disponível, a vacina contra a AIDS deve ser assegurada
pelos poderes públicos.
12. A biologia molecular,
que por seus recentes avanços permite prever progressos na medicina e no
isolamento da dimensão genética de certas doenças, deve ser estimulada, o que
permitirá prever e talvez curar essas doenças.
13. O desarmamento dará um
estímulo significativo ao desenvolvimento econômico e social, tendo em vista os
recursos limitados do mundo, atualmente drenados pela indústria armamentista.
14. Nós pedimos a
organização de uma conferência internacional para tratar em seu conjunto do
problema da dívida do Terceiro Mundo, obstáculo ao seu desenvolvimento econômico
e poliítico.
15. Os governos devem
comprometer-se sem ambiguidades e de maneira legalmente vinculatória com o
respeito aos direitos do homem, assim como aos tratados por eles ratificados.
16. A conferência dos
laureados do Nobel se reunirá novamente dentro de dois anos para estudar estes
problemas. No intervalo, se uma urgência se manifestar, vários Nobel poderão
reunir-se localmente, ou em todos os lugares onde os direitos do homem
estiverem ameaçados.
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