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quinta-feira, 7 de julho de 2016
San Tiago Dantas: um brasileiro universal - escritos estão sendo digitalizados
San Tiago Dantas foi o formulador, ao lado de Celso Furtado, do Plano Trienal no governo João Goulart. A derrubada do Plano do San Tiago e do Celso pela esquerda inconsequente praticamente selou o destino do governo reformista do Jango, afastando a última possibilidade que ainda havia de consolidar um governo voltado para as chamadas - à época- “reformas de base” de caráter estrutural e desenvolvimentistas.
Maurício David
O futuro do passado de San Tiago Dantas
Dulce Quental
Dulce, aos 3 anos, sua mãe, Maria Helena, e San Tiago no jardim da casa deste em Botafogo, no Rio, em 1963
Quando eu ainda era uma garotinha, já ouvia falar nele. Aos dois anos, já sabia que aquele homem era alguém importante pelo modo como os adultos o reverenciavam. Figura central no universo particular de uma família de oito sobrinhos, Francisco Clementino San Tiago Dantas nasceu no Rio de Janeiro, em 30 de outubro de 1911.
Não teve filhos, por isso tratou como seus os sobrinhos, filhos da irmã, Dulce, de quem herdei o nome. Meu pai era o segundo da escadinha, logo após meu tio Raul. Depois vinham: Lucia, Inês, Tote, Francisco, Violeta e João, cada um com seus filhos, o que fazia dos Natais na antiga casa da rua Araucária, no Jardim Botânico, uma festa.
Só mais tarde descobri quem ele havia sido, pois morrera precocemente aos 53 anos, vítima de um câncer. "Seu tio-avô foi um dos homens mais inteligentes e brilhantes que esse país já conheceu", me disse o embaixador Marcílio Marques Moreira, herdeiro do pensamento de San Tiago e responsável por inúmeras homenagens a ele nos últimos anos. Uma em especial me vem à cabeça, ligada também à memória do meu pai, Felippe.
Marcílio convidou meu pai, em 1978, a selecionar com ele os discursos de San Tiago proferidos na Câmara dos Deputados. Ser sobrinho e com experiência em jornal fazia dele a pessoa ideal para organizar o livro, pois trabalhara com San Tiago no "Jornal do Commercio", e viajara com minha mãe, acompanhando Edméa, sua mulher, na comitiva oficial do governo quando ocupou o Ministério do Exterior.
Lembro-me do calhamaço de papéis e atas de sessões do Congresso que invadiram a nossa casa e da curiosidade que me despertavam todas aquelas folhas. Talvez por isso meu pai tenha me convocado para ser sua ajudante. Ainda me lembro do orgulho que senti quando fui pela primeira vez à Brasília visitar a Câmera –que organizara um seminário em homenagem aos 15 anos da sua morte.
Fazer parte do mundo dos adultos, contribuir para a compilação de "Perfis Parlamentares", lançado em 1982, organizado por meu pai, e entrar na Câmara dos Deputados com direito a hino nacional era demais para uma garota com apenas 19 anos.
Anos mais tarde, fui convocada de novo. Dessa vez para ajudar a organizar a correspondência de San Tiago e Américo Lacombe. Minha função seria digitalizar o material para dar início à publicação da conversa entre eles, mas abandonei o projeto.
Nos últimos anos, muitas homenagens póstumas têm sido feitas a San Tiago, revelando a extensão da contribuição que ele legou para a política nacional como um dos ideólogos do trabalhismo democrático, e para o direito internacional.
Quem presenciou suas aulas, escutou seus discursos na Câmara ou mundo afora jamais esqueceu o orador excepcional que ele foi. Discursava em várias línguas. Não foram poucas as vezes em que ouvi a história do dia em que fez uma conferência segurando um papel que parecia ler, mas que depois se revelou ser uma folha em branco.
O diplomata Francisco Clementino San Tiago Dantas
O nome de San Tiago Dantas me vem à memória e me entristeço. O país atravessa um momento difícil, incomparável a qualquer outro. Não posso deixar de me perguntar: e se San Tiago estivesse vivo? E se o parlamentarismo tivesse sido aprovado e ele nomeado primeiro-ministro? San Tiago foi ministro das Relações Exteriores no curto governo parlamentarista de Tancredo Neves, ministro da Fazenda no governo presidencialista de João Goulart. O que homens como ele seriam capazes de fazer hoje?
San Tiago ressaltava a importância da educação como meio de ascensão social pelo saber. Para ele, era inaceitável usar o poder para conquistar o ter, ou usar o ter para ascender ao poder. Isso revela sua inteligência visionária, traduz a visão quixotesca de seu sentimento. Sua obra é premonitória. Fico me perguntando: se San Tiago estivesse vivo, o que diria de tudo isso?
Talvez possamos responder a essa pergunta acessando sua obra. Ela será disponibilizada para o público em breve, em um site que meu pai e meus tios estão preparando. Tenho certeza de que muitas das respostas de que o país precisa se encontram lá. No futuro do passado de San Tiago Dantas.
DULCE QUENTAL, 56, cantora, musicista e compositora, foi vocalista da banda pop Sempre Livre, no início da década de 1980, antes de seguir carreira solo.
Um comentário:
Qual câncer San Tiago teve? Podem me mandar um e-mail pfv? (mandre_med@yahoo com.br)
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