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quinta-feira, 15 de maio de 2014

O modo petista de governar: incompetencia, improvisacao, superfaturamento, desvio de dinheiro, tudo isso junto e muito mais... - Editorial Estadao

Atrasos e perdas em refinarias

15 de maio de 2014 | 2h 10
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Mais de seis anos depois de seu anúncio como um dos maiores empreendimentos do governo do PT na área de energia e mais de quatro depois de ter sua pedra fundamental lançada pelo então presidente Lula numa festa de nítido caráter político - era o início do ano em que Dilma Rousseff disputaria sua primeira eleição -, é possível que, finalmente, comecem as obras civis da Refinaria Premium I, no Maranhão. O atraso já é enorme. De acordo com as promessas feitas por Lula em 2008, a que será a maior refinaria da Petrobrás, com custo previsto em R$ 41 bilhões e capacidade para processar 600 mil barris por dia, deveria estar com sua primeira etapa em operação em setembro de 2013 e a segunda, dois anos depois.
Com o agravamento da crise operacional e financeira da Petrobrás - cuja produção e capacidade de refino ficaram estagnadas e cujas receitas foram comprimidas pelo longo congelamento dos preços dos combustíveis, enquanto cresciam suas necessidades financeiras para sustentar os investimentos no pré-sal -, o programa de novas refinarias foi desacelerado. Como a demanda interna de combustíveis continuou a crescer, por causa dos estímulos do governo ao setor automobilístico, mas sua capacidade de refino se estagnara, a Petrobrás passou a importar volumes cada vez maiores de derivados, a um custo maior do que o preço da venda nas bombas. Isso aprofundou sua crise e limitou seus investimentos. No Plano de Negócios e Gestão 2013-2017, anunciado no ano passado, a refinaria do Maranhão e a do Ceará (Refinaria Premium II, com capacidade para processar 300 mil barris por dia) foram apresentadas como "projetos em avaliação".
Talvez esse quadro esteja começando a mudar. No plano de negócios de 2014-2018, as duas foram classificadas como "projetos em licitação". Em fevereiro, a presidente da empresa, Maria das Graças Foster, havia informado que a licitação para a construção da refinaria maranhense em Bacabeira, a 60 quilômetros de São Luís, estava programada para abril. Na segunda-feira (12/5), o diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza, anunciou que a licitação será lançada em maio. A se confirmar a informação, as obras de construção da Refinaria Premium I começarão em 2015. A primeira etapa (primeiro trem, como diz a Petrobrás) deverá entrar em operação em 2018.
Mesmo sem ter sido assentado nenhum tijolo e só agora a empresa confirme que tem um projeto executivo - a planta, segundo Cosenza, passou por simplificação, para se enquadrar nos novos padrões internacionais -, a Premium I já custou R$ 1,6 bilhão. Esse dinheiro, como mostrou o jornal O Globo (11/5), foi gasto em terraplenagem (R$ 583 milhões) e em projetos, treinamento, transporte e estudos ambientais (cerca de R$ 1 bilhão).
Contratada em julho de 2010 por R$ 711 milhões, a terraplenagem foi considerada concluída em abril do ano passado, com 80% dos serviços executados. De acordo com a Petrobrás, os serviços restantes "serão executados após a otimização do projeto básico".
Relatório de fiscalização do Tribunal de Contas da União (TCU) concluído há um ano apontou indícios de irregularidades na terraplenagem. As falhas seriam decorrentes da pressa da empresa em iniciar as obras de uma refinaria que não tinha nem projeto básico, o que, na avaliação dos fiscais do TCU, teria provocado danos de R$ 84,9 milhões.
Em certo trecho, o relatório sintetiza o modo de proceder da Petrobrás - e também do governo do PT - em muitos casos em que obras são contratadas sem o necessário projeto executivo, sem a adequada previsão de custos e sem a prévia licença ambiental. No caso da refinaria do Maranhão, os auditores disseram que "a gênese de todo o problema parece estar na decisão de iniciar-se uma obra desse porte sem um planejamento adequado, passível de toda sorte de modificações". Em abril do ano passado, cinco anos depois dos primeiros estudos, ainda não havia um projeto definido para a refinaria - o que, como reconhece a diretoria da Petrobrás, só agora está sendo concluído

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Eleicoes 2014: a curva do 'ja ganhou' se aproxima do ponto de inflexao - Editorial Estadao

As agruras da presidente

01 de maio de 2014 | 2h 11
Editorial O Estado de S.Paulo
Em política, nunca se deve dizer nunca, ressalvou dias atrás o ex-presidente Lula, antes de reiterar a lealdade à candidatura de sua afilhada Dilma Rousseff à reeleição. Ela mesma invocou o termo ao responder à inescapável pergunta sobre o "Volta, Lula" que lhe foi feita por jornalistas esportivos em um jantar - cujo prato de resistência deveriam ser os preparativos para a Copa e os protestos contra o evento - segunda-feira, no Alvorada. "Nada me separa dele e nada o separa de mim", entoou. "Sei da lealdade dele a mim, e ele da minha lealdade a ele."
Menos por isso, decerto, do que por saber que Dilma não tem a mais remota intenção de desistir da chance de passar mais quatro anos no Planalto e por pressentir que a operação da troca de nomes poderá não ser, nas urnas, o sucesso que a justificaria, Lula há de calcular que, para si, melhor do que ter elegido um poste será reeleger o poste que, em vez de iluminar, estorva. Se der errado, a culpa, naturalmente, será de Dilma. Se der certo, será a consagração de sua trajetória como o maior líder de massas da história nacional. Guardadas as diferenças, ele já rodou esse filme.
Em 2009, desistiu de buscar o terceiro mandato consecutivo não necessariamente por reverenciar a regra do jogo, que o proíbe, mas por intuir que talvez não pudesse pagar o preço político da tentativa de mudá-la. Antes fazer e tornar a fazer o sucessor, e se guardar para 2018. Não obstante o "nunca", a sua tendência é de permanecer leal a esse traçado. Ocorre que, por si só, o alarido em torno do "Volta, Lula" - resultado do desgosto dos aliados com o desempenho da presidente, do seu fracasso em construir uma coalizão de interesses da qual fosse ela a líder e do receio petista de perder o poder em 2015 - agrava a sua avitaminose política e acentua a sua vulnerabilidade eleitoral.
Um episódio deixa isso claro. Horas antes da entrevista de Dilma, o líder do PR na Câmara, Bernardo Santana, da base governista, se fez fotografar pendurando na parede o retrato de Lula. Segundo ele, 20 dos 32 membros da bancada preferem que o ex-presidente seja o candidato. "Só Lula tem condição de enfrentar qualquer crise", alegou. Pouco importa que tenha se recusado a identificar os supostos 20 lulistas. Pouco importam também as divisões internas no partido que possam ter parte com o anúncio. O ponto é que, estivesse Dilma nadando de braçada nas pesquisas, Santana não se sentiria inseguro do que o espera nas urnas a ponto de aprontar-lhe tamanha desfeita.
A cena de um político aliado afixando a imagem de um Lula com a faixa presidencial é o símbolo mais contundente das agruras de Dilma. É inevitável a comparação com o hino da vitoriosa campanha a presidente do ex-ditador Getúlio Vargas, em 1950. "Bota o retrato do velho outra vez / Bota no mesmo lugar", dizia a marcha que arrebatou o carnaval daquele ano. Eis o carma da presidente. Um dia lhe perguntam o que acha do "Volta, Lula". No outro, ontem cedo, numa entrevista a rádios baianas, o que acha da fidelidade dos partidos alinhados com o Planalto. A resposta é pura Dilma sem açúcar: "Gostaria muito que, quando for candidata, eu tivesse o apoio da minha base, da minha própria base. Agora, não havendo esse apoio, a gente vai tocar em frente".
Falta tocar o eleitor. Por mais que os resultados dos levantamentos de intenção de voto devam ser vistos com cautela - a três meses do início da campanha na TV e a cinco da ida às urnas, quando a disputa ainda não entrou no radar da grande maioria dos brasileiros -, o fato é que a mera coerência dos números da queda da candidata acelera o processo de seu desgaste. Sinal disso é que a equipe da reeleição, segundo uma inconfidência, já se dará por feliz se a chefe parar de cair nas próximas sondagens. A expectativa de vitória no primeiro turno se dissipou. Era, de resto, uma fantasia: nem Lula, apesar de toda a sua popularidade, conseguiu liquidar a fatura logo de saída na reeleição.
Já a aprovação a Dilma - a sua bagagem para as urnas - se aproxima perigosamente do nível que, para os especialistas, conduz antes à derrota do que à vitória eleitoral, sejam quais forem os adversários.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Politica comercial companheira, 2: Brasil perde espacos no comercio internacional - Editorial Estadao

O Brasil perde espaço no comércio internacional

17 de abril de 2014 
Editorial O Estado de S.Paulo
Com um déficit na balança comercial de US$ 6 bilhões, até 11 de abril, e uma evolução das exportações de apenas 1%, neste ano, pelo critério de média por dia útil, é frágil o comércio exterior do Brasil. A fraqueza fica explícita nas previsões da Organização Mundial do Comércio (OMC), divulgadas segunda-feira, que apontam para uma recuperação das exportações e das importações no mundo.
Em 2013, o crescimento do comércio global foi de apenas 2,1% em relação a 2012, com as exportações alcançando US$ 18,8 trilhões, mas as previsões da OMC indicam um avanço de 4,7%, neste ano. No ano passado, a China foi o principal país exportador com US$ 2,2 trilhões e uma participação de 11,8% no comércio mundial, enquanto o Brasil, com vendas externas de US$ 242 bilhões, ocupou o 21.º lugar, com peso de 1,3%. Entre os maiores importadores, a liderança é dos Estados Unidos, seguida por China e Alemanha - e o Brasil está no 20.º lugar, importando US$ 250 bilhões, com peso de 1,3% na importação global.
Os números da OMC são algo diferente dos números oficiais do País. Entre 2011 e 2013, segundo a OMC, as exportações brasileiras declinaram US$ 13,8 bilhões, enquanto as importações cresceram quase US$ 13,4 bilhões. Pelos números oficiais divulgados no País, as exportações caíram US$ 8 bilhões ou 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB).
A recuperação do comércio global, neste ano, dependerá tanto do ritmo da atividade nos Estados Unidos, que é promissor, como da União Europeia, que é lento, além da China. O comércio não recuperou a vitalidade que tinha antes da crise de 2008, registrando, em 2013, volume de trocas 17% menor. A recuperação será insuficiente para compensar a queda dos últimos 5 anos.
O diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, argumenta que o aumento das importações do País tem um aspecto positivo. "Se o País importa substancialmente mais, tende a indicar que a economia está bem, o consumidor está comprando, a indústria está importando bens intermediários."
Mas esse é apenas um lado da realidade, pois a corrente comercial do Brasil - ou seja, a soma de importações e exportações - ficou estagnada entre 2011 e 2013. E não há indícios de que venha a se recuperar neste ano. O Brasil está, de fato, perdendo espaço no comércio internacional, por causa de custos e de ineficiências do governo Dilma.

sábado, 12 de abril de 2014

A farsa montada em Caracas: com a conivencia da Unasul? - Editorial Estadao

À mesa com Maduro

12 de abril de 2014 | 2h 05
Editorial O Estado de S.Paulo
As conversações de paz entre o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e os dirigentes da frente oposicionista Mesa da Unidade Democrática (MUD), mediadas por três chanceleres sul-americanos, entre o quais o brasileiro Luiz Alberto Figueiredo, começaram anteontem sob o signo do descrédito.
Tudo indica que o sucessor do caudilho Hugo Chávez tenha acedido a sentar-se com a ala moderada dos adversários, liderada pelo governador do Estado de Miranda e ex-candidato presidencial Henrique Capriles, apenas para que não o acusassem, dentro e fora do país, de ignorar as pressões da comunidade regional e os apelos do papa Francisco pela contenção dos confrontos de rua que completam hoje dois meses e já deixaram 39 mortos, centenas de feridos e de presos.
Tanto que o chavista cuidou de antemão de delimitar nitidamente o terreno em que se moveria. Tratou de deixar claro que não havia concordado em participar de uma negociação nem "nunca" o fará. "Não tenho que negociar com ninguém. Nem negociação nem pacto", afirmou com a costumeira arrogância. E, apelando para a retórica redundante de seu mentor, completou: "Aqui, o que há é um debate, diálogo, o que é diferente de uma negociação e de um pacto".
Depois, fez-se de desentendido para desqualificar um inesperado conselho de Lula, dado na entrevista a blogueiros na terça-feira, convocada para marcar publicamente a sua ascendência sobre a afilhada Dilma Rousseff. "Maduro", recomendou o "pai da esquerda", como o venezuelano o reverenciaria no dia seguinte, "deveria tentar diminuir o debate político para se dedicar inteiramente a governar, estabelecer uma política de coalizão, construir um programa mínimo e diminuir a tensão".
Maduro fingiu que Lula propusera que ele formasse "uma grande coalizão com o povo, com as forças patrióticas, progressistas" - e não com os críticos que dela se dispusessem a participar. Aproveitou para negar, com deslavado cinismo, que estivesse governando menos do que lhe cobram os venezuelanos assolados por inflação, desabastecimento, corrupção nos gabinetes e criminalidade nas ruas. "Mesmo com os protestos não deixamos de governar nem um segundo."
Armado o sombrio cenário para o encontro no Palácio Miraflores, ele transformou o evento, transmitido ao vivo pela TV, em mais um dos seus frequentes shows de mídia com que testa a paciência dos seus compatriotas. Recentemente, anotou a oposição, ele falou sem parar durante 1h52min em cadeia nacional. Na reunião da quinta-feira, ele desancou os interlocutores durante 53 minutos, acusando-os de terem incentivado protestos violentos para derrubá-lo.
Com isso, assemelhou os adversários presentes, como Capriles, que defendem a sua remoção pelo voto popular nas próximas eleições, aos setores da MUD abertamente favoráveis à sua destituição. O principal articulador do "Fora Maduro" é o ex-prefeito do distrito caraquenho de Chacao Leopoldo López, do partido Vontade Popular. Detido logo nos primeiros dias das manifestações, foi largado numa penitenciária militar. O Ministério Público o acusa de chefiar um "grupo criminoso terrorista", pelo que poderá ser condenado a até 13 anos de prisão.
Quando finalmente a MUD teve a palavra, o seu secretário executivo Ramón Guillermo Aveledo negou as acusações e observou que "a Constituição não é para ser mostrada, mas cumprida", aludindo às repetidas vezes em que Maduro brandira a sua edição de bolso da Carta para amparar as suas invectivas. A intenção de Aveledo não era duelar com ele, mas apresentar a agenda oposicionista para o diálogo. O seu ponto de partida é a libertação e anistia dos presos políticos, além da anulação dos 3,8 mil processos contra dissidentes. Outro ponto crucial é o desarmamento dos grupos paramilitares que vêm reprimindo com incontida brutalidade as concentrações populares.
Seria preciso ignorar a natureza opressiva do chavismo para imaginar que Maduro possa ser persuadido a aceitar essas demandas.

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Inflacao e baixo crescimento: a contradicao nos termos da economia companheira - Editorial Estadao

Os furtadianos, em especial, e os keynesianos em geral, mesmo quando eles são keynesianos de botequim, como os nossos, sempre tentaram justificar a inflação pelo fato de que ela, desde que moderada, permitira maior crescimento, e portanto maior volume de empregos, e renda para os trabalhadores.
Essa era uma falsa suposição keynesiana, mas ainda assim aceita e incorporada nas suas receitas-milagre de crescimento pelos nossos keynesianos de botequim.
E só foi por causa dessa contradição nos termos, dessa quadratura do círculo, que os companheiros se opuseram à redução da meta de inflação para algo mais baixo do que 4,5%, onde ela está desde 2006, a última vez que companheiros menos malucos -- digamos Palocci e Paulo Bernardo --, tentaram, com um não companheiro, Henrique Meirelles, baixar a meta para 4 e além, com um aumento do superávit fiscal.
Foi vetado com um NÃO sonoro por aquela que dizia que se tratava de um "plano rústico", e que tinha recém substituído o chefe da quadrilha, devidamente afastado, com um afago e confiança renovada pelo Capo di Tutti i Capi, já que continuava a ser o que sempre foi, o Stalin sem Gulag, mas ainda assim Stalin.
Pois bem, a inflação permanece teimosamente alta, ainda que certas cavalgaduras nos assegurem que ela está "dentro da meta" (mas certas pessoas tem certa dificuldades com as palavras e com os raciocínios elementares).
O governo rouba de cada brasileiro, todo ano, entre 6 e 10% do poder de compra, bem mais da classe média, que consome mais serviços, ou seja, non-tradables, que não podem ser submetidos à competição de bugigangas chinesas. Mas mesmo neste terreno o governo trata de roubar os pobres também, colocando altas tarifas, e altos impostos, sobre as bugigangas chinesas que são consumidas pelos pobres.
O governo, além de roubar no poder de compra, rouba nos valores extraídos com seus impostos abusivos: ele pensa que ajuda os pobres colocando 35% de impostos sobre medicamentos, material escolar, 40% nas comunicações por celulares e um pouco por todas as outras coisas?
Os keynesianos de botequim vão ter de encontrar outras desculpas esfarrapadas para a sua inflação elevada...
Paulo Roberto de Almeida

Inflação e outros maus sinais

11 de abril de 2014 | 2h 07
Editorial O Estado de S.Paulo
A preocupante alta dos preços de 0,92% em março, a maior variação mensal desde abril de 2003 captada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - a medida oficial da inflação brasileira, calculada pelo IBGE -, é mais um dado entre os muitos aferidos nos últimos tempos que vão demolindo o cenário otimista montado pelo governo do PT para tentar convencer parte da população de que tudo vai bem na economia.
Embora não tenha citado números, o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e Caribe, Augusto de la Torre, resumiu com precisão os problemas do País. O Brasil, disse ele, enfrenta uma "combinação difícil" de inflação alta e baixo crescimento. Para rompê-la, o governo deveria adotar uma política fiscal mais austera que abrisse espaço para o Banco Central reduzir a taxa de juros. Como não existem sinais críveis de que, nos próximos meses, o governo Dilma controlará com maior rigor seus gastos - especialmente sendo este um ano de eleição presidencial -, o melhor que os brasileiros podem esperar é que o quadro não piore até o fim do ano.
Não há, porém, nenhuma garantia de que, mesmo sendo essa uma expectativa medíocre, isso venha a ocorrer. Ao contrário, enquanto instituições internacionais e economistas não vinculados ao governo vão revendo para baixo a projeção já modesta (de no máximo 2%) para o crescimento da economia brasileira, a alta dos preços se acelera e se espalha para um grande número de produtos.
Em março, a seca em importantes regiões produtoras pressionou os preços de alimentos essenciais, como o tomate (alta de 32,85%), a batata-inglesa (35,05%), o feijão-carioca (11,81%) e as hortaliças e verduras (9,36%). É possível que a pressão se mantenha por algum tempo, com maior ou menor intensidade.
Mas o fato mais preocupante na variação dos preços no período de 12 meses até março é que a alta não se limita aos alimentos. Ela é generalizada. Dos nove grupos de itens que compõem o IPCA, pelo menos seis (alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, saúde e cuidados pessoais, despesas pessoais e educação) acumulam em 12 meses variação superior a 6,5%, que é o teto do generoso limite de tolerância da política de meta inflacionária.
O IPCA acumulado de 12 meses até março alcançou 6,15%, ainda dentro do limite de tolerância. Mas a persistência das pressões sobre diferentes grupos que compõem o IPCA e a eventual mudança de tendência de outros que até agora impediram alta mais acelerada do índice oficial sugerem dificuldades crescentes para manter a inflação dentro desse limite.
No mês passado, por exemplo, os serviços e bens cujos preços e tarifas são monitorados pelo governo, entre os quais o da energia elétrica, registraram deflação de 0,02%, um resultado notável se comparado à inflação mensal. Essa redução foi fortemente influenciada pela queda de 0,87% na conta de luz, resultante da redução de tributos como PIS/Pasep e Cofins. Mas, com o fracasso da política do governo Dilma de reduzir as tarifas à força e com o uso contínuo e prolongado das usinas termoelétricas - que produzem energia a um custo bem mais alto do que as hidrelétricas -, haverá necessidade de aumentos nos próximos meses.
Serão pressões adicionais sobre um índice já alto demais. Mesmo que, nos próximos meses, a alta mensal do IPCA se desacelere, é muito provável que a variação seja maior do que a registrada em igual período de 2013, o que deve resultar na aceleração do índice acumulado de 12 meses. Esse quadro pode mudar em novembro e, como a inflação de dezembro passado foi tão alta quando a de março, não é impossível que o índice de todo o ano fique dentro do limite de tolerância de 6,5%.
Será mais um resultado muito ruim, que se somará aos que o governo Dilma vem acumulando desde seu início (6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013). A manutenção de uma política fiscal frouxa pelo governo petista alimenta a inflação e exige uma política monetária mais dura, mas de limitada eficácia no combate à inflação no curto prazo, como mostram os dados do IBGE. É ruim para todos.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Eleicoes 2014: o nunca antes que nunca foi, e vai voltar - Editorial Estadao

Lula assumiu

10 de abril de 2014 | 2h 11
Editorial O Estado de S.Paulo
Nunca antes, desde a posse da presidente Dilma Rousseff, o seu patrono Luiz Inácio Lula da Silva assumiu publicamente, em alto e bom som, a tutela sobre a apadrinhada como na sua entrevista de anteontem a nove blogueiros selecionados por sua lealdade, para ter de antemão a garantia de não ser surpreendido por perguntas incômodas, muito menos ter contestadas as suas respostas. Essa encenação em que uns se limitam a levantar a bola para que o outro, livre de marcação, arremate e comemore foi a forma que Lula escolheu para sair da muda e informar o País do seguinte:
Se pudesse, registraria em cartório a sua condição de não candidato ao Planalto este ano, e os jornalistas de sua confiança deveriam "contribuir para acabar com essa boataria toda"; o governo tem que "ir para cima" e o PT tem que reagir "com unhas e dentes" à tentativa da oposição de fazer a CPI da Petrobrás, e se o partido assim tivesse procedido em relação à CPI dos Correios, em 2005, "possivelmente a história teria sido outra" (ou seja, o mensalão acabaria abafado); a economia está aquém do que ele e a presidente gostariam, mas não tanto como faz crer "a massa feroz de informação deformada", e de todo modo Dilma precisa explicar na campanha eleitoral o que fará para melhorar a situação a partir de 2015.
Desde sexta-feira, quando se encontraram em São Paulo, a criatura sabia que o criador iria ele próprio "para cima" do desencanto e do pessimismo que não cessam de ensombrear o governo. O que ele ouve em seu confessionário no bairro paulistano do Ipiranga, onde funciona o instituto que leva o seu nome, confere com a sua proverbial intuição para convencê-lo de que o descrédito de confiança das elites políticas, a começar dos companheiros, e das lideranças empresariais nas aptidões da presidente chegou a um nível alarmante. Se o poder fosse uma conta bancária, ela estaria afundada no cheque especial, beirando a inadimplência.
Isso, há de raciocinar Lula, ainda não prenuncia o desmanche do projeto da reeleição, mas deixa antever acidentes de percurso capazes de ameaçar a travessia com o imponderável. O mais desalentador terá sido descobrir, a cada conselho dado, mas não atendido, que a pupila ou apenas finge concordar com ele, por se achar em posse de atributos suficientes para exercer o mando como lhe pareça melhor, ou por não conseguir segui-los, porque, em poucas palavras, não é do ramo. Seja como for, Lula deve ter sido particularmente enfático ao lhe ordenar que proclamasse estar disposta a investir com unhas e dentes contra a CPI da Petrobrás - o que ela fez na segunda-feira ao avisar que não recuará um milímetro da "disputa política" com a oposição.
Decerto Lula também lhe terá dito que pretendia vir a público para defender o governo. Não se sabe se acrescentou algo como "ainda que fosse necessário cobrar da governante promessas de dias melhores para a economia". Seria uma contraofensiva ao seu estilo, a que não poderiam faltar as habituais caneladas na imprensa. "Temos que retomar com muita força essa questão da regulação dos meios de comunicação do País", aos quais acusa de tratar Dilma com "falta de respeito e de compromisso com a verdade". (Isso não o impediu de propor a Dilma "uma política agressiva de comunicação".) A sucessora não só enfiou a obsessão de Lula no fundo da gaveta, como disse logo depois da posse que "devemos preferir o som das vozes críticas da imprensa livre ao silêncio das ditaduras".
Se tiver apenas metade da inteligência de que há de se achar dotada, Dilma deve ter passado pelo desconforto de atinar com o que Lula efetivamente pretendia ao chamar os holofotes para si - mostrar a tutti quanti que resolveu exercer, agora à plenitude, a função de fiador da presidente. Ou seja, ele não precisa "voltar" para acalmar a legião de queixosos da conduta da afilhada. E ele estará por perto até o fim de seu mandato para prevenir ou, em último caso, remediar, a tempo e a hora, derrapadas da mandatária. Por sinal, como quem não quer nada, mas querendo, Lula disse aos seus blogueiros que tem recebido mais políticos, ativistas e empresários do que no seu tempo de presidente.

sábado, 29 de março de 2014

A nossa Alice no Pais das Maravilhas, mas nao seria o chapeleiro maluco? - Editorial Estadao

Mantega no país das maravilhas

29 de março de 2014
Editorial O Estado de S.Paulo
O governo poderá proclamar mais uma de suas vitórias imaginárias se a inflação deste ano ficar em 6,5%, limite da margem de tolerância. Será, novamente, uma das taxas mais altas do mundo, mas a administração federal tem ambições modestas quando se trata de conter a alta de preços. "Este ano a inflação não vai passar dos limites", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em aula magna, sexta-feira, na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. A desculpa, neste ano, estará associada à alta dos preços de alimentos, já tomados como vilões do custo de vida em anos anteriores. Esses vilões nem sempre estiveram presentes, mas o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado como referência para a política monetária, há muito tempo vem subindo mais que os 4,5% fixados como objetivo. "De 2003 em diante temos mantido a inflação dentro da meta", acrescentou o ministro. A informação é incorreta. Meta é uma coisa, margem de tolerância é outra. Só para ficar nos últimos três anos, os resultados foram: 6,5% em 2011, 5,84% em 2012 e 5,91% em 2013, sempre longe, portanto, do alvo oficial.
A promessa do ministro da Fazenda evidencia, mais uma vez, uma dupla complacência do governo - com a inflação e com as próprias falhas. Essas falhas, incluída a péssima administração do dinheiro público, são muito mais importantes que as cotações dos alimentos como fatores da alta geral e persistente dos preços. O ministro reafirmou a promessa de um superávit primário - o dinheiro usado para pagar os juros - equivalente a 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, igual ao de 2013. O País, segundo ele, apresentou no ano passado um dos melhores resultados primários dos países do Grupo dos 20 (G-20). "Não se pode questionar nossa seriedade fiscal", bravateou.
Nenhum público razoavelmente informado pode levar a sério qualquer dessas declarações. O resultado primário de 2013, assim como o do ano anterior, foi conseguido com receitas não recorrentes, como dividendos e bônus de concessões, e com truques contábeis prontamente desmascarados e conhecidos mundialmente como "contabilidade criativa". Neste ano, a meta de 1,9% está claramente vinculada à expectativa de receitas de ocasião, como já comentaram vários analistas.
Ao anunciar o rebaixamento da nota de crédito soberano do Brasil, na segunda-feira passada, a agência Standard & Poor's classificou como "desafiadora" a meta fiscal definida para 2014, lembrando o uso de expedientes nada ortodoxos no fechamento das contas públicas nos últimos anos. Será o governo capaz de apresentar o resultado prometido sem recorrer a truques e a receitas especiais? Esse ponto é fundamental, quando se trata de avaliar a política fiscal executada em qualquer país. Além disso, a comparação do Brasil com a maior parte dos países do G-20 serve mais para confundir do que para esclarecer.
A comparação adequada é com os emergentes. Muitos deles apresentam indicadores econômicos muito melhores que os do Brasil, quando tomados em conjunto. Isso inclui as contas públicas, a inflação, a expansão do PIB e o comércio exterior. Ao explicar a decisão de rebaixar a nota do Brasil, os dirigentes da Standard & Poor's mencionaram vários componentes do quadro econômico, incluídos o baixo crescimento do produto e a deterioração das contas externas. Se esses indicadores continuarem ruins, acabarão afetando seriamente as condições fiscais e a capacidade de pagamento do setor público.
O ministro mencionou ainda, entre outros aspectos positivos da economia nacional, a geração de empregos, num mercado onde "há disputa de trabalhadores qualificados" e salário real em alta. Mas ele novamente negligenciou detalhes de importância vital. A indústria, estagnada, vem demitindo e as contratações têm dependido principalmente dos serviços. São empregos de baixa produtividade. A procura de trabalhadores qualificados de fato ocorre. Mas, se existe alguma "disputa", é simplesmente porque essa mão de obra é escassa. É uma consequência dos erros cometidos na política educacional, muito mais voltada para a demagogia do que para a formação de trabalhadores capacitados.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Brasil-Argentina: submissao e complacencia da politica comercial antinacional - Editorial Estadao

Brasileiros bonzinhos

18 de março de 2014 | 2h 05

Editorial O Estado de S.Paulo
Os argentinos deram as cartas e os brasileiros fizeram o papel de bonzinhos, como se previa, na reunião de ministros dos dois países, na sexta-feira, para discussão de problemas do comércio bilateral, gravemente prejudicado pelo protecionismo da presidente Cristina Kirchner. Enquanto os parceiros do outro lado majestosamente silenciavam, coube ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, transmitir as poucas e pouco animadoras notícias sobre o encontro. Caberá ao Brasil formular e executar um programa de financiamento aos importadores de produtos brasileiros. Além disso, o ministro apresentou como "boa notícia" a possibilidade de uma proposta conjunta na negociação de um acordo de livre-comércio com a União Europeia. Nenhum detalhe sobre o assunto foi acrescentado.
Se houvesse alguma seriedade na parceria dos dois maiores sócios do Mercosul, essa proposta teria sido apresentada há muito tempo. Não foi, até agora, principalmente por causa da estratégia da Casa Rosada. Os Kirchners sempre mostraram aversão a acordos comerciais mais ambiciosos, com abertura comercial maior. Era politicamente mais cômodo manter o protecionismo, até porque o governo do Brasil - maior mercado para as exportações argentinas - sempre se mostrou disposto, nos últimos dez anos, a aceitar os termos desse jogo.
Com reservas abaixo de US$ 30 bilhões, a Argentina está muito próxima de uma crise cambial. Sem acesso ao crédito externo, o governo argentino tem ampliado as barreiras comerciais e apertado o controle sobre as operações com dólares. Governos em condições muito melhores têm recorrido ao Fundo Monetário Internacional (FMI) pelo menos para ganhar segurança e melhorar sua imagem perante o mercado. Mas recorrer ao Fundo seria politicamente muito complicado para a presidente Cristina Kirchner.
Um programa brasileiro de financiamento poderá aliviar em parte os problemas cambiais do outro lado e dar alguma sustentação ao comércio bilateral. Há alguns anos, coube ao governo venezuelano, sob comando do presidente Hugo Chávez, comprar títulos do Tesouro argentino e dar algum fôlego financeiro ao governo do presidente Néstor Kirchner. Hoje o governo da Venezuela mal consegue cuidar de si mesmo, num país onde os consumidores já têm dificuldade até para comprar itens básicos de higiene. Resta o Brasil como fonte de alguma ajuda, até porque a Argentina continua sendo um dos principais mercados para exportações da indústria brasileira.
Segundo o ministro Mauro Borges, as possibilidades de financiamento apresentadas aos parceiros argentinos vão "muito além dos modelos tradicionais". Ele se dispensou de indicar à imprensa as propostas apresentadas, mas a conversa deve estar adiantada, porque ele se reuniu também com o presidente do Banco Central, Juan Carlos Fábrega.
Segundo a retórica do governo argentino, as dificuldades cambiais são passageiras e serão superadas quando as exportações da safra de verão deslancharem. Isso deverá, sem dúvida, ocasionar algum alívio, mas será necessário muito mais que uma boa receita de comércio exterior, nos próximos meses, para livrar o país da crise.
Para pôr a economia no caminho da recuperação, o governo central terá de iniciar uma série de ajustes complicada e provavelmente dolorosa. A inflação está próxima de 30% ao ano. Por enquanto, a principal mudança nessa área deve ser a adoção de um novo sistema de apuração de preços. O sistema em vigor está desmoralizado.
Para conter a alta de preços, o governo ainda terá de implantar uma política séria de ajuste monetário. Essa política dependerá de um Banco Central comprometido com a recuperação do poder de compra da moeda e com o cumprimento de suas funções. A autoridade monetária foi desmoralizada pela presidente Cristina Kirchner. Será igualmente necessária uma arrumação das contas públicas, além, é claro, de uma recomposição de relações com o mercado financeiro. Na falta de alternativas, a solidariedade brasileira, nunca retribuída, deve servir por enquanto.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Nunca antes na diplomacia... - Editorial Estadao

Pois é, parece que nunca antes fomos tão longe, não tão altos, ao contrário, para o outro lado, de forma tão completa, tão transparente, tão declarada.
Algum registro há de ficar, na história, sobre estes tempos não convencionais...
Paulo Roberto de Almeida 

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Dilma degrada a diplomacia

13 de março de 2014 | 2h 07

Editorial O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff definitivamente rebaixou o Brasil à condição de cúmplice de regimes autoritários na América Latina. Não bastasse a reverência (e o vasto financiamento) à ditadura cubana, Dilma agora manobra para que os atos criminosos do governo de Nicolás Maduro contra seus opositores na Venezuela ganhem verniz de legitimidade política.
Em vez de honrar as tradições do Itamaraty e cobrar do regime chavista respeito aos direitos humanos e às instituições democráticas, a presidente desidratou a única iniciativa capaz de denunciar, em um importante fórum internacional, a sangrenta repressão na Venezuela, que já matou duas dezenas de pessoas. Mandou o representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA) votar contra o envio de uma missão de observadores à Venezuela e impediu que a entidade reunisse seus chanceleres para discutir a crise.
Como todos os líderes populistas da região, Dilma considera que a OEA é quintal dos Estados Unidos. O falecido caudilho Hugo Chávez costumava referir-se à organização como "instrumento do imperialismo", entre outros nomes menos simpáticos. Para o governo petista, contaminado pelos ares bolivarianos, uma decisão da OEA sobre a Venezuela poderia ser considerada inoportuna e com potencial para acirrar as tensões. Assim, a título de não melindrar Maduro, premiam-se a brutalidade e a indisposição para o verdadeiro diálogo democrático.
Manietada pelo Brasil e por seus parceiros bolivarianos, a OEA limitou-se a emitir uma nota cuja anodinia mal disfarça a tentação de apoiar Maduro. O comunicado manifesta "solidariedade" ao presidente e dá "pleno respaldo (...) às iniciativas e aos esforços do governo democraticamente eleito da Venezuela" no "processo de diálogo nacional" - como se fosse autêntica a pantomima a que os chavistas chamam de "Conferência de Paz". Estados Unidos, Canadá e Panamá votaram contra essa nota, pela razão óbvia de ela não refletir os compromissos da OEA com a democracia e os direitos humanos.
O passo seguinte da manobra, este ainda mais escandaloso, foi convocar uma reunião de chanceleres da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para acertar o envio de um grupo de "mediadores" para a Venezuela. A Unasul, como se sabe, é instrumento dos governos bolivarianos - desimportante, ela hoje só existe para dar reconhecimento a governos claramente antidemocráticos, em nome de uma certa "integração latino-americana".
Assim, os tais "mediadores" da Unasul não farão nada além do que deles se espera, isto é, fazer vista grossa às ações violentas de Maduro. Ao anunciar a iniciativa, Dilma explicou, em seu linguajar peculiar, que a ideia é "fazer a interlocução pela construção de um ambiente de acordo, consenso, estabilidade, lá na Venezuela". Ora, que "diálogo" é possível quando não se pretende exercer a necessária pressão diplomática sobre Maduro, que reprime manifestantes usando gangues criminosas e encarcera dissidentes sem o devido processo legal?
Portanto, a constituição de uma comissão na Unasul para a Venezuela tem o único objetivo de deixar Maduro à vontade, sem ser constrangido a recuar e a ouvir as reivindicações da oposição - que basicamente protesta contra a destruição da Venezuela pelo "socialismo do século 21".
Percebendo o truque, os oposicionistas venezuelanos trataram de enviar uma carta à Unasul em que pedem aos países-membros que observem os acontecimentos no país "com objetividade" e que a entidade "não seja usada como um instrumento de propaganda". Mas é justamente disso que se trata: se tudo ocorrer conforme o script bolivariano, a Unasul vai respaldar o governo Maduro, revestindo-o de legitimidade - o que, por conseguinte, transforma a oposição em golpista.
Ao tratar de forma leviana este grave momento, em respeito a interesses que nada têm a ver com a preservação da ordem democrática na região, o Brasil torna-se corresponsável pela consolidação de um regime delinquente.

quarta-feira, 12 de março de 2014

Brasil: um pais improdutivo? Assim parece... - Editorial Estadao

Um país improdutivo

11 de março de 2014 
Editorial O Estado de S.Paulo
A combinação perversa de baixo crescimento, inflação elevada e contas externas em deterioração reflete a baixa eficiência da economia brasileira, batida com folga nos últimos anos tanto pelos competidores mais dinâmicos da Ásia quanto por vários vizinhos sul-americanos. Nos últimos 25 anos o Brasil foi um retardatário na corrida da produtividade, como têm indicado estudos de respeitadas instituições públicas e privadas. Segundo relatório recém-publicado pela consultoria McKinsey & Company, a produtividade do trabalho cresceu em média, no Brasil, 1% ao ano no quarto de século até 2012. No mesmo período, o aumento anual chegou a 4,7% na Coreia do Sul, 3,3% no Peru, 2,4% no Chile e 1,6% nos Estados Unidos. Diferentes estudos podem apresentar diferenças nos resultados numéricos, mas a conclusão básica é a mesma, em todos os casos, e ajuda a entender a perda de vigor da economia nacional, nos últimos anos, e o baixo poder de competição de sua indústria.
Sem ganhos consideráveis de eficiência, o Brasil continuará incapaz de avançar em ritmo semelhante ao de outros países emergentes, nos próximos anos. A expansão econômica do País tem dependido excessivamente da incorporação de mão de obra. Os ganhos provenientes dessa incorporação tendem a diminuir, com a mudança demográfica e a expansão mais lenta da oferta de trabalho. Cada vez mais o aumento do PIB dependerá da produtividade gerada por investimentos em educação, inovação, máquinas, equipamentos e infraestrutura.
Em todos esses quesitos o Brasil está atrasado. Principalmente nos últimos dez anos, o governo escolheu prioridades erradas para a educação; demorou a se preocupar com a infraestrutura; administrou mal os próprios gastos; desperdiçou recursos com empresas selecionadas; e adotou uma política industrial anacrônica, baseada no protecionismo.
Segundo o Ipea, entre 1992 e 2001, o aumento do PIB per capita foi derivado quase totalmente (uma parcela de 93,23%) dos ganhos de produtividade. Nos dez anos seguintes essa fatia encolheu para 70,63%, enquanto cresceu a importância da absorção de mão de obra.
De acordo com o mesmo estudo, publicado em setembro de 2013, a agropecuária foi o setor com maior aumento de produtividade entre 2000 e 2009 - uma taxa média anual de 3,8%. Nesse período, na indústria de transformação a perda anual foi de 0,8%. Entre 2007 e 2010 houve um ganho acumulado de 6% na indústria de transformação (pouco mais de 1% ao ano) e de 20% na de extração mineral.
Análise mais recente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) apontou um aumento de 2,4% na produtividade do setor em 2013, quando a produção cresceu 1,2%, as horas pagas diminuíram 1,3% e o nível de emprego caiu 1,1%. A ocupação diminuiu e as empresas, aparentemente, retiveram a mão de obra com melhores qualificações. No triênio, no entanto, a produtividade aumentou em média apenas 0,6% ao ano.
"Esse é um fator preponderante", segundo a análise, para explicar a perda de competitividade do produto nacional diante do estrangeiro tanto no mercado interno como no externo. Essa perda, perceptível há anos, explica a participação crescente dos importados no mercado nacional de bens industriais e o déficit brasileiro no comércio de manufaturados e semimanufaturados.
Nem com o aumento de produtividade estimado para 2013 a indústria nacional se tornou mais capaz de competir, porque esse ganho foi anulado, segundo o estudo do Iedi, por um aumento salarial equivalente. No triênio, o custo da mão de obra subiu 3,2% em média, por ano, superando de longe a elevação de eficiência da mão de obra. Esse descompasso entre salário e produtividade na indústria tem sido apontado em relatórios do Banco Central (BC) como um importante fator inflacionário. Essa relação, conhecida há muito tempo, é um lugar comum nos manuais de análise econômica. Os formuladores da política econômica parecem ignorá-la.