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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Declaração de independência (nas eleições de 2022) - Paulo Roberto de Almeida

 Declaração de independência

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.org)

 

 

Faço aqui minha declaração à praça, antes da abertura da campanha eleitoral de 2022, neste dia 10 de fevereiro de 2022.

Não pretendo apoiar nenhum candidato, direta ou indiretamente, assim como não pretendo, como nunca pretendi, em qualquer momento da vida, filiar-me a qualquer partido político, nem a qualquer corrente de opinião. Preservo minha autonomia de julgamento e minha independência de opinião, para poder analisar criticamente, como fiz durante muitas campanhas anteriores, as propostas dos diversos candidatos. Eu fiz isso primeiramente de forma eventual ou errática, desde a retomada da democracia, quando votei pela primeira vez na vida para presidente, mas de forma mais objetiva e sistemática a partir de 2002, embora eu já seguisse os programas eleitorais e as plataformas de governo de todos os candidatos, e os estatutos e plataformas de todos os partidos desde, pelo menos, o final dos anos 1980 e início dos 1990.

Com uma diferença porém: se em 2002 dediquei mais tempo e atenção ao programa do PT – porque se tratava da “novidade” eleitoral, já que eu antecipava, muitos meses antes, sua vitória eleitoral (e isso está registrado em “crônicas” que fiz e publiquei na revista Espaço Acadêmico, depois reunidas no meu livro A Grande Mudança) –, desta vez, em 2022, vou analisar um programa (se houver) do mesmo candidato petista, que desistiu de confiar nos seus economistas aloprados, uma vez que pretende aliar-se a um antigo opositor, aliás concorrente em duas eleições contra o PT, integrante daquela tribo dos socialdemocratas tão odiados pelos petistas, designados como “neoliberais” e outros impropérios políticos reveladores do alto grau de infantilidade que sempre distinguiu o PT. Quanto aos demais candidatos, vou examinar os programas apenas daqueles que poderão ter alguma chance no primeiro turno, não que eu tenha qualquer simpatia por algum deles, apenas porque tais programas poderão apresentar alguma importância relativa do ponto de vista conceitual ou intelectual. Mas, creio não ser insensato acreditar que o candidato do PT, um Lula diferente daquele de 2002 e de 2006, vai solenemente ignorar esses outros programas, pois se julga o “rei da cocada preta”, já eleito. 

Posso também antecipar que não creio que o programa do PT e de Lula, quaisquer que sejam suas “novidades” relativas – e talvez ele possa conter, mais exatamente, várias “velharias” –, possa representar qualquer elemento indicativo das políticas públicas (macroeconômicas e setoriais) que Lula implementará, em caso de reeleição. Seu governo será uma combinação de possibilidades, entre suas bases políticas no Congresso – entre elas o inevitável Centrão – e suas verdadeiras bases, que não são os movimentos populares, muito menos os pobres, mas sim o grande capital. Disso não duvido.

Meu único livro declaradamente político, A Grande Mudança, como dito acima, foi inteiramente escrito – com uma única exceção – antes das eleições de outubro de 2002, tendo eu elaborado uma série chamada “Consequências econômicas da vitória”, já antecipando a conversão neoliberal do governo de Lula e as angústias existenciais do PT (mas não, obviamente, a sucessão de escândalos políticos sobejamente conhecidos), o que veio a confirmar-se pelo menos numa primeira fase (até a assunção de Dona Dilma como chefe da Casa Civil e o começo da degringolada econômica, o que demorou alguns anos). Esse livro encontra-se hoje disponível em minha página da plataforma Academia.edu (https://www.academia.edu/42309421/A_Grande_Mudanca_consequências_econômicas_da_transição_politica_no_Brasil_2003_, no caso do miolo; neste link capa e contracapa: https://www.academia.edu/42309422/Capa_e_Contra_Capa_A_Grande_Mudanca_2003_).

Não tenho certeza de que prepararei, desta vez, alguma série especial sobre as eleições – uma vez que fiz até blogs especiais para cada uma das eleições da era do PT –, mas estarei atento a seus desdobramentos mais importantes, registrando então meus comentários críticos a propósito de determinados eventos ou processos.

Não estou aberto a nenhuma colaboração direta com qualquer um dos candidatos e tratarei a todos do mesmo modo, ou seja, criticamente. Isso não impede que eu possa oferecer, voluntariamente, “conselhos” a todos e a cada um dos candidatos, cada vez que julgar que eles estão fazendo demagogia, populismo barato ou prometendo políticas danosas do ponto de vista da economia nacional e de seus objetivos sociais prioritários.  

 

Brasília, 10 de fevereiro de 2022

 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Esquerda E direita estão paralisadas frente a Bolsonaro: Marcos Nobre (Carta Capital)

 Normalmente, eu não costumo separar os políticos em esquerda e direita, pois ambas são oportunistas e integradas por políticos patrimonialistas. Mas é assim que o jornalismo e os próprios partidos se classificam, o que deve ser tomado com muitas toneladas de sal...

Esquerda e direita mostram imensa fragilidade diante de Bolsonaro, diz Marcos Nobre

Em entrevista a CartaCapital, filósofo analisa os riscos e ameças no cenário político brasileiro. 'O desafio não é só vencer Bolsonaro'

Foto: EVARISTO SA / AFP

As eleições de 2022 despontam no horizonte da democracia brasileira e os desafios da oposição a Jair Bolsonaro são maiores do que vencê-lo nas urnas. A avaliação é do filósofo Marcos Nobre, professor da Unicamp e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap).

Para ele, o próximo pleito será uma oportunidade para que o País construa “um novo conjunto de regras de convivência política, que é algo que foi destruído nos últimos seis ou sete anos”.

Para evitar o que chama de “um cenário de altíssima incerteza e de perigo para o Brasil”, Nobre aponta para a necessidade de formação de uma frente ampla entre os opositores do presidente.

“Frente ampla não significa uma candidatura única. A frente ampla é, em primeiro lugar, afastar democraticamente o atual presidente.”

No entanto, dada a fragmentação da oposição, o risco de se repetir a situação de 2018 não é descartado.

“O que me chama atenção é que muitas pessoas dizem que a situação é muito grave. Mas eu não consigo ver as pessoas tomando as atitudes correspondentes a essa gravidade”, lamenta. “Muitos acham que quem chegar contra o Bolsonaro no segundo turno ganha – e todo partido acha que vai chegar. Esse é raciocínio demonstra total deslocamento da realidade, pois Bolsonaro é o candidato mais forte”.

Nobre conversou com CartaCapital nesta semana. Confira, a seguir, os destaques da entrevista.

CartaCapital: O contexto da eleição do Lira para presidente da Câmara antecipa algo sobre 2022?

Marcos Nobre: Muito. Para começar, o resultado antecipou a largada das eleições de 2022. Basta a gente ver o movimento do governador João Doria no seu partido e na tentativa de trazer o DEM. Já o Lula anunciou o [Fernando] Haddad como candidato. Ou seja, houve uma antecipação por causa da eleição na Câmara.

Tivemos uma candidatura [Baleia Rossi com apoio de Rodrigo Maia] que se apresentou como oposição a Bolsonaro e que era um ensaio de frente ampla que foi derrotada. O resultado do processo é um estado de fragilidade muito grande dos partidos que estão na oposição ao presidente, tanto à direita quanto à esquerda.

CC: Foi, sobretudo, uma vitória do Bolsonaro?

MN: Sem dúvida, pois ele conseguiu convencer uma parte significativa do sistema político de que ele é a candidatura mais forte para 2022 e, de fato, é. Isso não significa que a relação de Bolsonaro com esses partidos vá ser tranquila. Pelo contrário, será tumultuada, mas de qualquer maneira é uma grande vitória.

As pessoas dizem: ‘o Bolsonaro ganhou, mas a pandemia vai piorar, a crise econômica virá, o Centrão vai cobrá-lo’. O fato é que esse ‘mas’ ainda não chegou.

Na oposição, até agora, todo mundo acha que consegue resolver individualmente, como se uma força política sozinha fosse capaz de derrotar o Bolsonaro.

CC: Uma solução seria sair com uma frente ampla já no primeiro turno em 2022?

MN: É importante fazer uma distinção, pois frente ampla não significa uma candidatura única. A frente ampla é, em primeiro lugar, afastar democraticamente o atual presidente, seja por meio do impeachment ainda em 2021 ou derrotá-lo em 2022.

Derrotar eleitoralmente o Bolsonaro em 2022 significa que a frente ampla vai ser capaz de reestabelecer uma repactuação da democracia brasileira, no sentido de construir um novo conjunto de regras de convivência política, que é algo que foi destruído nos últimos seis ou sete anos.

O efeito eleitoral dessa repactuação deve ser: quem quer que concorra contra Bolsonaro no segundo turno em 2022 deve receber o apoio de todas as demais forças do campo democrático. Esta é a ideia de frente ampla.

CC: Há o risco de em 2022 se repetir o que ocorreu em 2018?

MN: A lição de 2018 é: não se formando a frente ampla antes do segundo turno, ela não se formará no segundo turno. Então, precisa haver conversas e pactos anteriores a 2022, se não cada um vai para um lado.

As pessoas dizem: ‘o Bolsonaro ganhou, mas a pandemia vai piorar, a crise econômica virá, o Centrão vai cobrá-lo’. O fato é que esse ‘mas’ ainda não chegou.

CC: O senhor acha que o impeachment do Bolsonaro ficou mais distante com a eleição de Arthur Lira para presidente da Câmara?

MN: A vitória do Lira diminuiu a chance do recebimento de um pedido de impeachment, mas se houver mobilização social e uma rejeição próxima de 2/3 do eleitorado, a pressão pode ser de tal ordem que mesmo um deputado como Lira pode aceitar o pedido.

Não sendo assim, o Lira vai segurar. O limite para a abertura do impeachment é 2021, pois no ano seguinte tem eleição.

CC: Com a eleição do Lira, após o apoio explícito do governo, como o senhor acha que o presidente se portará, já que foi um candidato antissistema?

MN: O discurso não vai mudar muito, porque os candidatos antissistema, quando chegam ao poder, continuam se comportando como candidatos. Quando olhamos a base de apoio do Bolsonaro, que gira em torno de 1/3 do eleitorado, está com ele aconteça o que acontecer, mesmo ele expulsando o Moro do governo e fazendo acordos com Centrão.

A questão é quanto ele consegue além disso. O eleitorado lavajatista abandonou em grande medida essa base de apoio e foi substituído pelo efeito do auxílio emergencial.

Tem uma outra parte formada bolsonaristas que são simpatizantes de causa. Esses são os mais difíceis de se manter. Por isso, ele precisa reforçar as pautas conservadoras no Congresso e, para isso, a eleição do Lira e a indicação da Bia Kicis para a CCJ são fundamentais.

Se ele não conseguir aprovar nenhuma das pautas de costume, vai reforçar o discurso de luta contra o sistema e, portanto, ele precisa se reeleger para ficar mais forte para dobrar o sistema, que é implantar o autoritarismo no Brasil.

CC: Ele teria força para dobrar o sistema no segundo mandato?

MN: Ele já está destruindo o País, vidas, a Amazônia e as instituições democráticas por dentro ao aparelhar órgãos de segurança, de controle e parte do Judiciário, além de ocupar espaços do estado com a ideologia de extrema-direita. E são coisas que não são muitas vezes visíveis.

Se o Bolsonaro se reeleger, cai o discurso de que a eleição dele foi um acaso e portanto ele se fortalece para redobrar a aposta na destruição das instituições democráticas por dentro.


Para Nobre, não se formando a frente ampla antes do segundo turno, ela não se formará com ele em disputa (Foto: Agência Pública) 

CC: Caso ele perca em 2022, haverá tentativa de golpe?

MN: Sem dúvida. O que aconteceu nos EUA após a derrota de Trump é apenas um pequeno aviso do que acontecerá no Brasil caso o Bolsonaro seja derrotado, pois ele não vai aceitar o resultado. É um cenário de altíssima incerteza e de perigo para o País. O golpe que ele encenou em abril e maio de 2020 será mais grave em 2022. Se ele será bem sucedido é outra questão.

No entanto, para que alguém ganhe, todos os demais adversários precisam aceitar perder, não só o Bolsonaro, que não vai aceitar. Dentro do campo democrático, é preciso que as outras forças políticas aceitem a vitória de um outro candidato. E para elas aceitarem é preciso ter uma repactuação da democracia, porque não adianta ganhar a eleição se você não consegue governar.

Essa repactuação não é apenas para derrotar Bolsonaro, tem que ser também para salvar a democracia brasileira. Só afastar Bolsonaro não resolve o problema que ele representa, de uma democracia fragilizada em que um sentimento anti-sistema se confunde com um sentimento anti-democratico. E é essa conjunção que é tarefa do campo democrático desfazer.

CC: O que ficou da esquerda nesta conjuntura?

MN: A esquerda mostrou uma imensa fragilidade, fragmentação, falta de coordenação e de orientação. O exemplo flagrante disso é que o PT e o PDT apoiaram uma candidatura contra Bolsonaro na Câmara e uma a favor de Bolsonaro no Senado. Mas a fragilidade não é só da esquerda, mas também da direita tradicional.

O que me chama atenção é que muitas pessoas dizem que a situação é muito grave, mas eu não consigo ver as pessoas tomando as atitudes correspondentes a essa gravidade. Muitos acham que quem chegar contra o Bolsonaro no segundo turno ganha e todo partido acha que vai chegar. Esse é o raciocínio que demonstra total deslocamento da realidade, pois Bolsonaro é o candidato mais forte. Não adianta só ganhar, tem que repactuar para conseguir governar. O cenário mostra uma impotência da oposição, pois não há nenhuma força que sozinha possa vencer.


segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Mini-reflexão sobre as tarefas à frente - Paulo Roberto de Almeida

Mini-reflexão sobre as tarefas à frente

Paulo Roberto de Almeida 

Uma constatação, olhando para a frente: precisamos escapar da camisa-de-força mental na qual fomos encerrados em 2013, na qual nos aprofundamos entre 2016 e 2018, e da qual estamos recém nos libertando em 2020. 
 Cabe romper definitivamente os grilhões políticos em 2022. 
 Para tal, é preciso superar a camisa-de-força do bolsopetismo, na qual dois psicopatas querem continuar nos encerrando, cada qual puxando para um lado. 
 Não se pode chegar a 2022 com esse falso dilema da esquerda contra a direita, pois não é isso que a maioria do eleitorado quer. 
E não é o Centrão, que só tem oportunista da velha política, que vai ser o instrumento da superação. A construção de uma coalizão da sensatez, rejeitando as mentiras e o sectarismo do bolsopetismo, é a tarefa mais relevante do próximo ano e meio. Que não sejamos desviados dessa tarefa pelas ambições mesquinhas dos oportunistas conhecidos, alguns candidatos nas últimas quatro ou cinco eleições presidenciais. 
A tarefa mais importante, na verdade, é a educação política do eleitorado, numa conjuntura política ainda dominada pelos efeitos da pandemia e da recessão econômica (que precede a pandemia e tem outros vetores do que ela).
Seremos capazes? 
Sou moderadamente pessimista: o patrimonialismo, sob novas roupagens, a baixa educação geral e sobretudo a corrupção política são os grandes desafios de um Brasil completamente destacado do mundo. Me avisem se eu estiver errado, até 2022. 

 Paulo Roberto de Almeida 
Brasília, 30/11/2020