O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 18 de julho de 2024

Uma dupla decepção e uma dupla recusa: Paulo Roberto de Almeida

Uma simples e dupla constatação

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre minha postura em face das deformações da direita e da esquerda.

 

Na extrema direita:

Uma das coisas, atuais e correntes, que mais me surpreendem: como pessoas educadas, bem-informadas e de bom nível de vida podem se render e se entregar a um psicopata perverso, grosseiro, vulgar, ladrão e profundamente autoritário? Me parece inaceitável e inacreditável!

Na esquerda, que já esteve e que retornou ao poder:

O Brasil é um país de muitas desigualdades e injustiças. As oligarquias, geralmente conservadoras, nunca resolveram os problemas básicos da sociedade, nem tinham interesse em resolvê-los. As esquerdas, supostamente engajadas na solução desses problemas, por equívocos, ignorância ou políticas deliberadas de monopólio do poder, acabaram se rendendo às mesmas políticas paliativas que preservaram a persistência dos problemas básicos e ainda se uniram às velhas oligarquias, ou criaram novas oligarquias que mantiveram a nação no não desenvolvimento, na não educação e na não inserção às correntes mais dinâmicas da economia global. 

Conclusão:

O Brasil continua sendo um país atrasado, mas com ilhas avançadas de bem-estar para os privilegiados, e uma democracia de baixíssima qualidade, na qual as velhas e novas oligarquias, de direita e de esquerda, preservam seus privilégios e comportamentos profundamente injustos para com a parte esquecida da sociedade: os descendentes de escravos e os pobres em geral.

Vai demorar para mudar essa realidade.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4705, 18 julho 2024, 1 p.


domingo, 2 de janeiro de 2022

José Genoino e a esquerda do PT que se opõe aos ukases do chefão de todos eles - Paulo Roberto de Almeida

José Genoino e a esquerda do PT que se opõe aos ukases do chefão de todos eles

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com) 

 

Leio o seguinte na coluna do sempre bem-informado e levemente irônico jornalista Carlos Brickmann (1/01/2022):

 

Claro, claro

Tudo bem, cada petista pode pensar o que quiser, desde que faça o que seu ídolo máximo, o ex-presidente Lula, determina que seja feito. Mas vale como curiosidade: José Genoíno é um dos petistas que mais resistem à união entre Lula e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Tem prestígio no partido, do qual foi fundador e presidente; quando enfrentou dificuldades enfrentou-as sozinho, não delatou ninguém.

Sem dúvida o partido fará o que Lula quiser. É interessante ler os argumentos de Genoíno (expressos numa live com gente do PSOL) e, mais interessante ainda, entendê-los: "O que está em jogo é se a esquerda socialista será protagonista do enfrentamento do neoliberalismo ou se a esquerda será domesticada, domada para um projeto de melhorismo por dentro de um neoliberalismo com feição progressista”.”

 

PRA: José Genoíno sempre foi e continua sendo um grande quadro da esquerda, não necessariamente por uma vocação política esquerdista e mais por sua postura digna e consequente, em relação ao despotismo pouco esclarecido do grande chefe de todos os petistas e pretendente a líder tirânico de todas as esquerdas e, agora, de todas as vias opostas ao grande psicopata.

Mas ele demonstra, igualmente, uma visão estreita e sectária não só do jogo político — que ele pretende situar limitadamente no campo exclusivo de uma esquerda também sectária —, mas sobretudo no terreno da política econômica, que ele pretende que seja oposta a um “neoliberalismo” que jamais existiu no Brasil, a não ser como slogan totalmente equivocado de uma esquerda que jamais conseguiu renegar sua adesão a um estatismo que sempre serviu maravilhosamente bem aos interesses da burguesia e os de todos os donos do grande capital, na indústria, na agricultura e nos serviços (especialmente os do setor financeiro e bancário). 

Essa esquerda que José Genoíno representa revelou-se incapaz de realizar um aggionamento ao estilo do Bad Godesberg do SPD alemão, do PSF sob Mitterrand e do Labour sob Blair e sempre conduziu o Brasil ao velho estatismo das esquerdas anacrônicas que subsistem no mundo, em especial na AL. 

José Genoíno faz muito bem em se opor aos decretos autoritários e personalistas do chefão mafioso, mas sua visão política e econômica é ainda mais embotada e equivocada do que a do Guia Genial dos Povos, que pelo menos demonstra certo realismo — e evidente oportunismo — com relação ao processo, atualmente em curso no Brasil, de oposição consequente ao horror que representa o projeto bolsonarista para o Brasil. José Genoíno pretende ancorar o PT e as esquerdas ao mundinho limitado dos grupelhos de esquerda, que ainda por cima são totalmente ignorantes em matéria de políticas econômicas avançadas e em relação ao funcionamento da economia global. Eles são o que eram o SPD, o PSF e o Labour antes de suas bem-sucedidas conversões a uma socialdemocracia moderna, arejada e sobretudo destituída dos cacoetes do passado estatista.

Se adesão ao estatismo capitalista funcionasse — em total conluio das esquerdas tradicionais com os mais belos representantes do capitalismo industrial e agrícola— o Brasil e a maior parte da AL seriam exemplos de potências econômicas e de prosperidade social no contexto da economia global, não da miséria social e campeões da desigualdade que efetivamente são e foram, no passado, no presente e no futuro previsível. Essas esquerdas são tudo o que o capitalismo mais predatório e o corporativismo mais exacerbado sempre desejaram para si e para os seus objetivos continuístas limitados ao campo das desigualdades distributivas. Ironicamente e paradoxalmente, elas pensam como o equivocado representante do distributivismo igualitarista que é o economista socialista francês Piketty, para quem a solução da desigualdade social consiste em taxar mais os ricos para distribuir o maná do 1% dos bilionários aos pobres e remediados, como se essa fosse a solução do problema distributivo. É o contrário do que seria a mais nobre missão dos economistas, que seria conceber maneiras eficientes de enriquecer os mais pobres, e não propor formas equivocadas e não funcionais para empobrecer os mais ricos.

 

Paulo Roberto de Almeida

2 janeiro 2022, 2 p.