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sábado, 13 de outubro de 2012

Abatam todas as mulheres que sabem ler... (calma, nao sou eu)

Este poderia ser o grito de guerra dos talibãs, não é mesmo?
Talvez até preventivamente: "abatam todas as mulheres que pretender ir para a escola, que ousam aprender a ler, que pensam em sair da ditadura dos homens..."
Pronto, assim fica melhor.
Acredito que o Afeganistão, o Paquistão, junto com alguns redutos outros em países asiáticos e africanos (muçulmanos, por certo), são os lugares mais miseráveis do ponto de vista das mulheres.
Estou errado?
Estou sendo anti-islâmico?
Gostaria que me provassem o contrário.
Aceito qualquer evidência material, intelectual, espiritual, virtual, de que não é assim nesses lugares. 
Vou me penitenciar, e admito até dialogar com um talibã.
Mas, seria mesmo possível?
Paulo Roberto de Almeida 


By DECLAN WALSH
The Pakistan police said they had made several arrests in the shooting of the teenage education activist Malala Yousafzai, but the Taliban said she would be targeted again.


quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A nova Inquisicao do seculo 21: ainda religiosa...

Parece que querem me impedir de ser blasfemo, de ser iconoclasta, de xingar deus e todos os seus profetas. Eu normalmente não faço isso, mas não gostaria de ser impedido de fazer, se por acaso me desse vontade.
Paulo Roberto de Almeida 


Censura em nome de Deus

Por Rui Martins, de Genebra
Correio do Brasil, 2/10/2012 

O Egito, aproveitando a onda criada pelo filme anti-Islã, tentou mas não conseguiu criar o delito de difamação de religião, na movimentada reunião do Conselho de Direitos Humanos, no Palácio das Nações, em Genebra.
Deus tem de ser respeitado, nisso todas as religiões, circuncisas ou não, estão de acordo.
E, por tabela, têm de ser respeitados aqueles que representam Deus na Terra – podem ser Jesus, Maomé, Buda, o Papa – ou os livros nos quais se acredita estar a Revelação divina, no caso a Bíblia, o Corão, o Talmud.
A questão de se instituir a censura em nome de Deus e das religiões foi o tema mais debatido nos últimos dias, na Comissão de Direitos Humanos, tanto em Genebra como em Nova Iorque, transformada ao que parecia na comissão de defesa dos direitos divinos.
A questão, que divide principalmente os países ocidentais e os países árabes, surge sempre, nestes últimos doze anos, durante os trabalhos da Comissão de Direitos Humanos. E este ano, o filme islamófobo e as caricaturas de Maomé na revista Charlie Hebdo, foram o pretexto para a delegação do Egito levantar a necessidade de se criar, ao nível internacional da ONU, a proibição de se criticar ou difamar as crenças religiosas.
Para facilitar a digestão do reconhecimento de uma censura mundial, os egípcios, apoiados por países árabes, tentaram assimilar a difamação das religiões com racismo. Aproveitaram para isso um projeto contra o racismo proposto pela África do Sul, no qual tentaram incluir um parágrafo dedicado à « discriminação de toda religião, bem como os atos visando os símbolos religiosos e pessoas veneradas ».
A jogada foi inteligente e, deixando-se de lado denúncias relacionadas com torturas de pessoas e violações reais de direitos humanos em muitos países, os debates sobre religião prolongaram-se por três dias.
O Egito, desta vez, perdeu a parada, mas conseguiu deixar marcada a exigência dos muçulmanos. Do texto inicial do parágrafo foi retirada a parte relacionada com a difamação de religiões e de pessoas veneradas. E, sem dúvida, os egípcios voltarão à carga no próximo ano. É de se prever que, se o Ocidente não mantiver uma oposição cerrada, em nome da liberdade da expressão, a ONU acabará por aceitar a criação da censura religiosa.
Para as delegações dos países ocidentais, o que se defende na Comissão de Direitos Humanos é o direito individual de se praticar ou não uma religião. A questão dos insultos ou difamação de religiões já existe na legislação nacional de alguns países, e isso se considera como suficiente.
Por exemplo, no caso das caricaturas de Maomé publicadas na revista Charlie Hebdo, algumas associações muçulmanas na França entraram com um processo contra a revista. Uma iniciativa legal que caberá a um juiz ou tribunal decidir.
Entretanto, antepor as religiões ao direito individual poderá se transformar num perigoso precedente, pois justificará os excessos já cometidos em muitos países teocráticos e impedirá aos não religiosos qualquer menção contra credos religiosos. E, em pouco tempo, todas as religiões acabarão aproveitando a brecha aberta pelos muçulmanos para sacralizar uma censura religiosa, fatal à liberdade de expressão.
Rui Martins, correspondente em Genebra

sábado, 22 de setembro de 2012

A "tolerancia" dos intolerantes - Reinaldo Azevedo

Não preciso acrescentar muita coisa ao que vai transcrito abaixo. Bastaria, por exemplo, invocar Voltaire ou Rosa Luxemburgo, e lembrar que a liberdade é justamente aquela de permitir a expressão de alguém com quem não concordamos em absoluto, mas a quem reconhecemos o direito de se expressar.
Essa simples verdade ainda não chegou à maioria dos muçulmanos, menos ainda a seus clérigos e regimes políticos.
Paulo Roberto de Almeida 


Reinaldo Azevedo, 22/09/2012

E a onda de violência continua em alguns países islâmicos sob o pretexto de protestar contra o filme “Inocência dos Muçulmanos” e contra as charges publicadas no semanário francês “Charlie Hebdo”. Dizer o quê? Eles que são muçulmanos que se entendam. Se seus respectivos governos não conseguem pôr ordem na casa — e se alguns até estimulam as manifestações, a exemplo do que faz o do Egito —, não há muito o que o Ocidente possa fazer a não ser tomar as medidas adicionais de segurança. Isso, em si, não tem muita importância.
O que me preocupa é outra coisa. Os países ocidentais e, sobretudo, suas respectivas imprensas (a nossa também) se tornaram reféns do extremismo islâmico. Da linguagem empregada ao viés das reportagens, há um clamor geral de condenação ao filme e às charges. Não vi nem uma coisa nem outra, mas me ocorre que a liberdade de expressão é um fundamento das democracias — inclusive, vejam só!, para criticar Maomé. E sabem por quê, meus irmãos muçulmanos? Porque, nas democracias de maioria cristã, a Bíblia, Deus, Jesus, o papa, os patriarcas judeus do Velho Testamento — e, claro!, também “O Profeta” — podem e devem ser submetidos ao livre exame das consciências.
O filme é uma boçalidade? Pode até ser. Mas, nas democracias, também se publicam e se divulgam boçalidades. Se fatias consideráveis da população muçulmana são incapazes de entender que os regimes democráticos não podem ser submetidas aos fundamentos do islamismo, então seus respectivos governos têm de agir com a energia necessária para que, ao menos, se contenham.
Ocorre que não é isso o que está em curso. Ao contrário. Governos de países islâmicos — inclusive daqueles que viveram a tal “Primavera Árabe” — estão é estimulando a mobilização, que, ora vejam!, já chegou ao Brasil. Ontem, em Foz do Iguaçu, houve uma “manifestação pacífica” em favor da tolerância religiosa. A maioria dos participantes era muçulmana, mas representantes de outras religiões também foram convidados. Huuummm… Posso fazer de conta que não vi o que vi. Como vi, então não faço de conta.
Tomavam-se por “intolerância”, ali, claramente, o tal filme e as charges, não os protestos violentos que varreram boa parte do mundo, fazendo vítimas. O fato de a manifestação ser pacífica não nos impede de questionar: aquela era também uma manifestação em favor da TOLERÂNCIA COM QUEM PENSA DIFERENTE? O que queriam os  de Foz do Iguaçu? Mandar aos muçulmanos do resto do mundo a mensagem de que eles também estão indignados com as supostas “ofensas” ao Islã ou lhes dizer que estão errados ao sair pelas ruas quebrando o que veem pela frente? Infelizmente, eu sei a resposta, e ela não é boa.
Não! Os muçulmanos não têm nada a ensinar em matéria de tolerância com o outro, com a diferença. Aliás, nem mesmo existe um só Islã, não é? E, no que se dividem, assistimos a batalhas verdadeiramente sangrentas. Mas eles têm muito a aprender. Gozam, nas democracias, de uma liberdade religiosa que os países islâmicos jamais concederam àqueles que não pertencem à sua fé. Um pastor protestante está condenado à morte no Irã. Acusação: ter-se convertido ao cristianismo. Que país muçulmano é hoje exemplo de liberdade religiosa? Como eu a concebo, nem mesmo a Turquia, uma sedizente “democracia islâmica”. Nem tão democrática que se possa criticar… “O Profeta”!
Os que foram às ruas ontem, em Foz do Iguaçu, estavam pedindo tolerância religiosa também nos países islâmicos? Ou, ao condenar filme e charges, explicavam e justificavam, de modo oblíquo, a violência que toma conta de boa parte do mundo? E tudo por causa de um filme amador, que jamais seria notícia, não fosse justamente a… fúria popular organizada por extremistas, tolerada e até apoiada por governos?
Terão, doravante, as respectivas Constituições das democracias ocidentais de contar com uma cláusula de exclusão? Que tal esta: “É assegurada a liberdade de pensamento e de expressão, menos em assuntos que se refiram ao Profeta Maomé”? Ban Ki-moon, esse banana que é hoje secretário-geral da ONU, certamente concordaria com o texto. Afinal, segundo ele, a liberdade de expressão é um “privilégio” que tem de ser usado com parcimônia…
Essa tal “Primavera Árabe” fica, realmente, a cada diz mais interessante, não é? Até agora, não se viu por lá uma só conquista típica das democracias (também existem eleições em ditaduras!), mas já estamos, nos países ocidentais, flertando com seus valores ditatoriais. 
O choque de civilizações previsto por Samuel Huntington não vai acontecer. Antes disso, os “cruzados” jogam a toalha…
Que dias estes!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Mortes e mais mortes: e ainda virao mais...

Apenas uma reflexão: nenhum filme, nenhum cartoon, nenhum desenho, ou qualquer livro, provocou mortes, pela sua própria existência.
Pessoas provocam mortes. Manifestações violentas provocam mortes.
Acho que é isso...
Paulo Roberto de Almeida 


Sobe a 13 número de mortos em protestos contra filme no Paquistão

Há quase uma semana, país é palco de protestos contra o filme 'A inocência dos muçulmanos'

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Profetas demolidores - Tom Friedman

Parece que os muçulmanos não aplicam o que eles pretendem ensinar aos ocidentais...

Look in Your Mirror

The New York Times, September 18, 2012
 
On Monday, David D. Kirkpatrick, the Cairo bureau chief for The Times, quoted one of the Egyptian demonstrators outside the American Embassy, Khaled Ali, as justifying last week’s violent protests by declaring: “We never insult any prophet — not Moses, not Jesus — so why can’t we demand that Muhammad be respected?” Mr. Ali, a 39-year-old textile worker, was holding up a handwritten sign in English that read: “Shut Up America.” “Obama is the president, so he should have to apologize!”
I read several such comments from the rioters in the press last week, and I have a big problem with them. I don’t like to see anyone’s faith insulted, but we need to make two things very clear — more clear than President Obama’s team has made them. One is that an insult — even one as stupid and ugly as the anti-Islam video on YouTube that started all of this — does not entitle people to go out and attack embassies and kill innocent diplomats. That is not how a proper self-governing people behave. There is no excuse for it. It is shameful. And, second, before demanding an apology from our president, Mr. Ali and the young Egyptians, Tunisians, Libyans, Yemenis, Pakistanis, Afghans and Sudanese who have been taking to the streets might want to look in the mirror — or just turn on their own televisions. They might want to look at the chauvinistic bile that is pumped out by some of their own media — on satellite television stations and Web sites or sold in sidewalk bookstores outside of mosques — insulting Shiites, Jews, Christians, Sufis and anyone else who is not a Sunni, or fundamentalist, Muslim. There are people in their countries for whom hating “the other” has become a source of identity and a collective excuse for failing to realize their own potential.
The Middle East Media Research Institute, or Memri, was founded in 1998 in Washington by Yigal Carmon, a former Israeli government adviser on counterterrorism, “to bridge the language gap between the Middle East and the West by monitoring, translating and studying Arab, Iranian, Urdu and Pashtu media, schoolbooks, and religious sermons.” What I respect about Memri is that it translates not only the ugly stuff but the courageous liberal, reformist Arab commentators as well. I asked Memri for a sampler of the hate-filled videos that appear regularly on Arab/Muslim mass media. Here are some:
ON CHRISTIANS Hasan Rahimpur Azghadi of the Iranian Supreme Council for Cultural Revolution: Christianity is “a reeking corpse, on which you have to constantly pour eau de cologne and perfume, and wash it in order to keep it clean.” http://www.memritv.org/clip/en/1528.htm — July 20, 2007.
Sheik Al-Khatib al-Baghdadi: It is permissible to spill the blood of the Iraqi Christians — and a duty to wage jihad against them. http://www.memri.org/report/en/0/0/0/0/0/0/5200.htm — April 14, 2011.
Abd al-Aziz Fawzan al-Fawzan, a Saudi professor of Islamic law, calls for “positive hatred” of Christians. Al-Majd TV (Saudi Arabia), http://www.memritv.org/clip/en/992.htm — Dec. 16, 2005.
ON SHIITES The Egyptian Cleric Muhammad Hussein Yaaqub: “Muslim Brotherhood Presidential Candidate Mohamed Morsi told me that the Shiites are more dangerous to Islam than the Jews.” www.memritv.org/clip/en/3466.htm — June 13, 2012.
The  Egyptian Cleric Mazen al-Sirsawi: “If Allah had not created the Shiites as human beings, they would have been donkeys.” http://www.memritv.org/clip/en/3101.htm — Aug. 7, 2011.
The Sipah-e-Sahaba Pakistan video series: “The Shiite is a Nasl [Race/Offspring] of Jews.” http://www.memri.org/report/en/0/0/0/0/0/51/6208.htm — March 21, 2012.
ON JEWS Article on the Muslim Brotherhood’s Web site praises jihad against America and the Jews: “The Descendants of Apes and Pigs.” http://www.memri.org/report/en/0/0/0/0/0/51/6656.htm — Sept. 7, 2012.
The Pakistani cleric Muhammad Raza Saqib Mustafai: “When the Jews are wiped out, the world would be purified and the sun of peace would rise on the entire world.” http://www.memri.org/report/en/0/0/0/0/0/51/6557.htm — Aug. 1, 2012.
Dr. Ismail Ali Muhammad, a senior Al-Azhar scholar: The Jews, “a source of evil and harm in all human societies.” http://www.memri.org/report/en/0/0/0/0/0/51/6086.htm — Feb. 14, 2012.
ON SUFIS A shrine venerating a Sufi Muslim saint in Libya has been partly destroyed, the latest in a series of attacks blamed on ultraconservative Salafi Islamists. http://www.bbc.co.uk/news/world-africa-19380083 — Aug. 26, 2012.
As a Jew who has lived and worked in the Muslim world, I know that these expressions of intolerance are only one side of the story and that there are deeply tolerant views and strains of Islam espoused and practiced there as well. Theirs are complex societies.
That’s the point. America is a complex society, too. But let’s cut the nonsense that this is just our problem and the only issue is how we clean up our act. That Cairo protester is right: We should respect the faiths and prophets of others. But that runs both ways. Our president and major newspapers consistently condemn hate speech against other religions. How about yours?
Link: http://www.nytimes.com/2012/09/19/opinion/friedman-look-in-your-mirror.html?nl=todaysheadlines&emc=edit_th_20120919&moc.semityn.www

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Clash of civilizations? Nao! Conflito DENTRO do islamismo...

O cientista político Samuel P. Huntington desenvolveu uma tese, interessante no plano conceitual, mas inoperante no plano prático, sobre a convivência, ou conflito, entre diferentes configurações civilizacionais, que infelizmente foi reduzida, por críticos simplistas (e por muita gente que sequer leu o seu livro), a um enfrentamento entre a civilização ocidental, vilipendiada como hegemônica, colonialista, dominadora (ou outras coisas perversas, como capitalistas, por exemplo), e as grandes civilizações orientais, supostamente autênticas, legítimas, mais conciliadoras, ou em todo caso não imperialistas. Dentre estas últimas, figuraria, obviamente uma coisa chamada civilização islâmica, outra simplificação em face das diferentes configurações históricas e sociais das diferentes sociedades islâmicas, cobrindo um vasto leque de formações sociais que foram sendo transformadas ao longo dos tempos por influxos religiosos, culturais, econômicos e políticos, de origem local, regional ou transnacional. 

Seja como for, volta e meia surgem conflitos como este que agora se alastrou em diferentes países islâmicos contra um filme idiota feito nos EUA e que ofende, ao que parece, Maomé, considerado profeta nessa religião. Profeta não é deus, mas um emissário de deus, ou o seu porta-voz, para os que crêem.
Seja qual for a agressão cometida contra esse profeta, a violência irracional, deslanchada contra alvos americanos, ocidentais, cristãos -- em países como Afeganistão, Argélia, Bangladesh, Egito, Índia, Irã, Iraque, Líbano, Líbia, Malásia, Paquistão, Sudão e Yemen, entre outros -- é algo inaceitável para os nossos padrões civilizatórios. Matar em nome da religião é algo bárbaro, selvagem, e como tal deve ser condenado.

Alguns poderão dizer que o que foi foi feito agora, nesses países, não difere muito da queima de heréticos na Idade Média, ou do trucidamento de populações inteiras nas guerras de religião, ocorridas já na Idade Moderna, no coração da Europa. 
Se considerarmos que o islã surgiu 622 anos depois do cristianismo, bastaria esperar, digamos assim, mais um pouco para que o islã consiga chegar aos padrões civilizatórios alcançados pelo Ocidente, pouco menos de cinco séculos atrás. Faltariam assim, nessa hipótese, pouco mais de cem anos para que o islã começasse a convergir para esses padrões mais humanos, ou menos selvagens.

Não creio que seja uma questão de tempo, mas de diferenças no itinerário histórico do cristianismo e do islamismo. O primeiro sofreu contestações desde seu início, praticamente, desenvolvendo diversas vertentes, como aliás ocorre com versões ligeiramente diferentes do islã.
Mas existe um aspecto que dificulta a superação do fanatismo e do fundamentalismo, como ocorreu nas sociedades cristãs.

Por diferentes mecanismos, que seria ocioso explicar em detalhe agora, as sociedades cristãs admitiram a possibilidade de exegese, que significa a possibilidade de interpretar o livro sagrado, por meio de uma leitura não literal, e de considerar as "estórias bíblicas" simplesmente de forma alegórica, quase que como fábulas sobre o homem e o universo. Daí, contestar cientificamente o livro santo, até negá-lo no plano da geologia, da antropologia e da história, foi um passo relevante, que permitiu o avanço científico dessas sociedades.

Nada disso ocorreu nas sociedades islâmicas, embora algumas tenham avançado para a modernidade conciliando fé e agenda econômica e até política, na Ásia Pacífico, por exemplo. Nas sociedades árabes, ou naquelas mais islamizadas completamente do Oriente Médio, esse passo e essa conciliação parecem ser mais difíceis.

Já escrevi algo a respeito, e remeto a meu artigo de alguns anos atrás: 

295. Tradicionalismo e modernização nas sociedades islâmicas: uma impossível transição entre o fundamentalismo e a tolerância?, Espaço Acadêmico (Maringá, a. I, n. 6, nov. 2001; link: http://www.espacoacademico.com.br/006/06almeida_isla.htm). Relação de Trabalhos n. 825. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

O mundo se tornando mais estupido? Certamente, os idiotas aparecem...

Não tenho nenhuma dúvida, agora, de que o mundo está se tornando mais estúpido, graças ao aumento do número de idiotas que conseguem se comunicar pelos modernos meios, e se tornam mais eloquentes, mais ofensivos na expressão de sua estupidez. Assim está plenamente respondida a pergunta que eu fazia alguns anos atrás:

  • Está aumentando o número de idiotas no mundo?

  • E isso se deve, fundamentalmente, ao fundamentalismo religioso, com perdão pela redundância. São os criacionistas, moderna encarnação da intolerância religiosa e da mais abstrusa crença nos livros religiosos, que estão levando o mundo ao retrocesso, talvez parcial, talvez temporário, mas ainda assim uma tragédia para os progressos da ciência no mundo.
    Observem, porém, que o criacionismo não está em contradição com a teoria da seleção natural -- este no nome correto para a evolução darwiniana -- e cabe perfeitamente no seu esquema explicativo.
    Com efeito, o darwinismo não postula uma evolução linear, progressiva e progressista, sempre numa única direção, para o melhor e o mais aperfeiçoado do ponto de vista qualitativo, ou supostamente mais racional.
    Longe disso. O que o darwinismo e a teoria da evolução postulam é que as espécies vão se adaptando aos desafios do meio, e às oportunidades criadas pelo meio -- e pelos acidentes naturais -- para sobreviver, se expandir, dar origem a novas espécies.
    O velho fundamentalismo bíblico, que postulava uma explicação ingênua, baseada inteiramente e literalmente na Gênese para explicar a origem do mundo e a criação das espécies, tinha sido eliminado, por inadequado, dos livros escolares. Agora surgiu uma nova variante, mais preparada tecnicamente, mais sofisticada, e que oferece aos ingênuos, e aos idiotas, uma "explicação" mais "convincente" sobre o mundo, o que os tranquiliza. Isso é darwinismo, e seleção natural.
    Algumas espécies "estúpidas" de dinossauros sobreviveram a outras, supostamente mais fortes ou preparadas, por simples acaso da natureza, antes que outros acidentes eliminassem gregos e goianos saurópodes do mapa da terra. Isso é darwinismo.
    Hoje temos espécies de estúpidos literais sobrevivendo e se expandindo, graças aos recursos da internet, o que permite aos idiotas alcançarem outros idiotas, e os convencerem de que estão "certos" numa escala antes inimaginável.
    O que é preocupante é que os idiotas influenciem os manuais escolares, o que vai inviabilizar os progressos científicos de outros idiotas que se deixarem convencer por eles.
    Isso não é irrecuperável ou fatal, pois a ciência e a racionalidade sempre vão prevalecer, mas que no curto prazo isso atrasa um país, isso atrasa.
    O Brasil é a prova viva disso, quando temos a idiotice do criacionismo também fazendo progressos por aqui. Mas, antes, muito antes, tivemos uma idiotice maior ainda, que continua fazendo progressos: a tal de pedagogia do oprimido, que Paulo Freire, um fundamentalista pouco pedagógico, criou e disseminou por milhares e milhares de pedagogas freireanas pelo Brasil e pelo mundo afora.
    Estamos totalmente na teoria darwiniana e na seleção natural. Para desgosto nosso, dos racionais e científicos, os idiotas estão dominando parcialmente o mundo.
    Um dia passa, mas o mal já está feito, como na Coréia do Sul, como evidenciado na matéria abaixo do Le Monde.
    Paulo Roberto de Almeida 


    Offensive anti-Darwin en Corée du Sud


    J'ai brièvement signalé, il y a quelques jours sur Twitter, un sondage sur l'implantation des idées créationnistes dans les cerveaux américains, en me disant que ce énième rappel d'un phénomène fort connu ne méritait pas plus que d'être signalé en passant. J'ai sans doute eu tort. J'aurais dû consacrer un billet entier à ce sondage car si les médias finissent par se lasser de parler des créationnistes (un peu comme il finissent par ne plus traiter les attentats meurtriers en Irak que dans des brèves routinières), cela constitue une victoire supplémentaire pour ces négationnistes de la science. Ce sondage Gallupdisait donc que 46 % des Américains pensaient que l'homme avait été créé, tel qu'il est aujourd'hui, par Dieu il y a moins de dix millénaires. Un résultat extrêmement stable car, depuis trente ans, ce chiffre évolue dans une fourchette comprise entre 40 et 47 % de la population. A ces 46 %, il faut ajouter sans barguigner la grosse frange (32 %) imprégnée de néo-créationnisme, qui croit dans la version de l'histoire plus subtile selon laquelle l'homme est bien le fruit d'une évolution mais que celle-ci a été guidée par Dieu, lequel a mené des formes de vie moins "avancées" à l'aboutissement magnifique qu'est Homo sapiens.
    Au final, il ne sont que 15 % à penser que la présence actuelle de l'homme sur Terre ne doit rien à Dieu. Il est vrai que le contexte religieux américain n'aide pas, quand on voit qu'un influent télévangéliste texan, John Hagee, se permet d'ordonner aux athées de quitter le pays. Autre exemple : en avril, le Tennessee est devenu, sous la pression du lobby créationniste, le deuxième Etat (après la Louisiane) autorisant les enseignants à proposer en classe des substituts à l'évolution darwinienne, sous le prétexte d'aider les élèves à juger "de manière objective des forces et des faiblesses des théories scientifiques existantes". En faisant mine d'oublier que l'évolution en biologie est un phénomène avéré et non une simple hypothèse...
    La croisade des créationnistes américains ne s'arrête pas aux frontières de leur propre pays. Je ne l'apprends que maintenant grâce à un article publié par Naturemais, en Corée du Sud, une offensive anti-Darwin a porté ses fruits au mois de mai. Une pétition lancée par la Society for Textbook Revise (STR, que l'on pourrait traduire par Société pour la révision des manuels) a demandé le retrait des références à l'évolution darwinienne dans les livres scolaires. Le mois dernier, le ministère sud-coréen de l'éducation, de la science et de la technologie a révélé que de nombreux éditeurs allaient suivre cette pétition qu'il leur avait transmise et publier des versions révisées de leurs manuels. Ne figurerait notamment plus le schéma ci-contre montrant l'évolution du cheval au cours des temps, alors qu'il s'agit d'un excellent exemple du processus évolutif. Comme l'explique le correspondant de Nature à Séoul, le STR a comme objectif affiché sur son site Internet de supprimer des manuels scolaires"l'erreur" que constitue à ses yeux l'évolution, ce afin de "corriger" la vision que les élèves ont du monde qui les entoure. Il fait aussi campagne pour que ne soient plus mentionnées l'idée de l'évolution de l'espèce humaine et les magnifiques observations des becs de pinsons des Galapagos par Darwin, qui l'aidèrent à formuler ses idées sur la spéciation et la sélection naturelle.
    Quel rapport avec les créationnistes américains ? Le STR est en fait une émanation de la Korea Association of Creation Research (KACR), une organisation chrétienne (le christianisme est une des deux principales religions en Corée du Sud) qui constitue elle-même la branche sud-coréenne de l'Institute for Creation Research(ICR). L'ICR a été créé en 1970 au Texas par une des figures les plus importantes du créationnisme américain de la deuxième moitié du XXe siècle, Henry Morris. Cet ingénieur spécialiste de l'hydraulique se fit remarquer en co-écrivant, avec John Whitcomb, ce qui devint un best-seller chez les chrétiens fondamentalistes américains : The Genesis Flood. Paru en 1961, ce livre voulait démontrer qu'il n'y avait pas de désaccord véritable entre la science et une lecture littérale de l'épisode biblique du Déluge : celui-ci pouvait parfaitement s'expliquer, à condition évidemment de remettre en cause les méthodes de datation des roches ainsi que les connaissances sur la géologie et les fossiles. Vendu à 300 000 exemplaires et traduit en plusieurs langues (dont le coréen), The Genesis Flood a été le point de départ du renouveau créationniste, en montrant que la science pouvait "s'adapter" à la religion.
    Le but officiel de l'ICR (et aussi de la KACR) est de s'appuyer sur des personnes au profil scientifique (chercheurs ou ingénieurs) afin de monter des soi-disant programmes de recherche, comme par exemple sur l'âge de la Terre : les 4,5 milliards d'années de notre planète sont en effet difficilement compatibles avec ce que dit la Bible... De la même manière, il est assez succulent de voir les contorsions réalisées pour prouver que l'Univers lui-même n'a que quelques milliers d'années. En réalité, l'objectif principal de ces "recherches" consiste à instiller le doute sur la validité des méthodes scientifiques et leur  meilleure cible, c'est bien entendu la jeunesse. D'où l'offensive menée en direction des établissements et des programmes scolaires par les créationnistes de tout poil, aux Etats-Unis mais aussi en Corée du Sud où ils n'ont, semble-t-il, rencontré aucune véritable résistance... Pour terminer, je vais reprendre, tellement elle est d'actualité, la citation de la journaliste américaine Katherine Stewart, que j'avais donnée dans un précédent billet : "Les nouveaux négationnistes de la science semblent dire que si vous ne pouvez pas faire taire la science, vous devriez faire taire les écoles."
    Pierre Barthélémy (@PasseurSciences sur Twitter)

    quarta-feira, 26 de maio de 2010

    Líder católico diz que mulher deveria morrer com seu feto

    Certas coisas não têm a ver apenas com o fundamentalismo religioso, mas com a burrice, pura e simples...
    Parece que o universo é infinito (...vocês sabem o resto...).
    Paulo Roberto de Almeida

    Aborto
    Líder católico diz que mulher deveria morrer com seu feto
    Opinião e Notícia, 26/05/2010

    O caso está tendo ampla repercussão nos EUA

    O padre da Igreja Católica e diretor de ética médica da Diocese de Phoenix, John Ehrich, fez uma afirmação que já levantou muita polêmica nos Estados Unidos. Ao falar sobre o caso de uma mulher que teve o aborto autorizado pela freira Mary Margaret McBride, o líder católico disse que a atitude da Irmã deveria ter sido outra: deixar a mulher morrer junto com o feto. Sem considerar que a mãe de quatro filhos morreria se o aborto não fosse realizado, o Reverendo foi além: excomungou a freira.

    O caso está tendo ampla repercussão nos Estados Unidos e dividindo opiniões em relação ao aborto. Parte da população aponta que a diocese de Phoenix interpretou mal as diretrizes católicas, que permitiria o aborto caso a vida de uma mulher estivesse em perigo. Outros comentaram que, se a mulher tivesse morrido, não só o bebê não teria sobrevivido, mas quatro crianças estariam sem mãe. Há também quem tenha relembrado que a rapidez em excomungar a freira não se assemelhou nem um pouco à falta de atitude da Igreja em relação aos padres pedófilos descobertos nos últimos meses.