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terça-feira, 8 de julho de 2014

Copa do Mundo: com brasileiro nao ha quem possa - Guilherme Fiuza

A taça é deles (e a conta é nossa)
Guilherme Fiuza
O Globo, 6/07/2014

País gastou com os estádios da Copa mais do que Alemanha e África do Sul juntas. Com brasileiro não há quem possa
Os pessimistas e a elite branca deram com os burros n’água: a Copa do Mundo no Brasil é um sucesso. A bola está rolando redondinha, os gramados estão todos verdinhos e o país chegou até aí batendo mais um recorde: gastou com os estádios da Copa mais do que Alemanha e África do Sul juntas. Com brasileiro não há quem possa.
Aos espíritos de porco que ainda têm coragem de reclamar do derrame sem precedentes de dinheiro público promovido pelos faraós brazucas, eis a resposta definitiva e acachapante: a Copa no Brasil tem uma das maiores médias de gols da história. Fim de papo. De que adianta ficar economizando o dinheiro do povo, evitando os superfaturamentos e as negociatas na construção dos estádios, para depois assistir a um monte de zero a zero e outros placares magros? Fartura atrai fartura. Depois da chuva de verbas, a chuva de gols. É a Copa das Copas. Viva Messi, viva Neymar, viva Dilma.
Está todo mundo feliz, e o país mais uma vez se renderá a Lula. O oráculo afirmou que era uma babaquice esse negócio de querer chegar de metrô até dentro do estádio. Que o brasileiro vai a jogo até de jegue. O filho do Brasil mais uma vez tinha razão.
O país teve sete anos para usar a agenda da Copa e investir seriamente em infraestrutura de transportes. Sete anos para planejar e executar uma expansão decente do metrô nas capitais saturadas, por exemplo — obras caras que dependem do governo federal. Ainda bem que nada disso foi feito, e as capitais continuaram enfrentando sua bagunça a passo de jegue. Seria um desperdício, porque todo mundo sabe que essa mania de querer chegar aos lugares de metrô é uma babaquice da elite branca. Felizmente, o dinheiro que seria torrado nessa maluquice foi bem aplicado nos estádios mais caros do mundo, entre outros investimentos estratégicos.
Agora a Copa deu certo, o brasileiro está sorrindo e a popularidade de Dilma voltou a subir — provando de uma vez por todas que planejamento sério é uma babaquice. O que importa é bola na rede.
Nos anos que antecederam a Copa das Copas, os pessimistas encheram a paciência do governo popular com a questão dos aeroportos. Mas o PT resistiu mais uma vez à conspiração dessa burguesia ociosa que reclama de tudo. E deixou para privatizar (que ninguém nos ouça) os aeroportos às vésperas da Copa. Foi perfeito, porque sobrou mais tempo para o bando da companheira Rosemary Noronha parasitar o setor da aviação civil, proporcionando aos brasileiros o que eles mais gostam: ser maltratados nos aeroportos em ruínas, se possível derretendo com a falta de ar-condicionado (o que Dilma chamou carinhosamente de “Padrão Brasil”).
Os pessimistas perderam mais essa. Na última hora, com um show vertiginoso de remendos e puxadinhos (Brasil-sil-sil!), os aeroportos nacionais não obrigaram nem uma única delegação estrangeira a vir para a Copa de jegue. Todas as seleções entraram em campo — a televisão está de prova. E, no que a bola rolou, quem haveria de memorizar detalhes insignificantes, como metade dos elevadores da Favela Antonio Carlos Jobim enguiçados, além de algumas esteiras e escadas rolantes interditadas, entre outros desafios dessa gincana Padrão Brasil?
Ora, calem a boca, senhores pessimistas. A Copa deu certo. A Rosemary também.
Quem vai cronometrar o tempo dos otários nas filas monumentais? Os cronômetros só medem a posse de bola. E bem feito para quem ficou preso nos engarrafamentos a caminho do estádio, de casa ou de qualquer lugar. Lula avisou para ir de jegue. Você ficou engarrafado porque é um membro dessa elite branca que contribui para o aquecimento global. Além de tudo, é ignorante, porque ainda não entendeu que o combustível no Brasil foi privatizado pelos companheiros e seus doleiros de estimação. Como diria o petista André Vargas ao comparsa Alberto Youssef, o petróleo é nosso.
Além de jegue e jabuticaba, o Padrão Brasil tem feriado. Muito feriado. Quantos o freguês desejar. Pode haver melhor legado que esse para a mobilidade urbana? Se todo mundo andar de jegue e ninguém precisar ir trabalhar, acabaram-se os problemas viários. Poderemos ter Copa todo mês. E os brasileiros não precisarão mais correr riscos com obras perigosas como os viadutos — que, como se sabe, desabam.
A Copa no Brasil tem tido jogos realmente emocionantes. É o triunfo do único inocente nessa história — o futebol. Viva ele. Os zumbis que ficavam gemendo pelas ruas que “não vai ter Copa” sumiram na paisagem do congraçamento das torcidas. Mas é claro que isso será entendido pela geleia geral brasileira como... gol da Dilma! É a virada dos companheiros, a vitória dos oprimidos palacianos sobre as elites impatrióticas etc. A taça é deles. E a conta é nossa.
Se você não suporta mais essa alquimia macabra, que faz qualquer sucata populista virar ouro eleitoral, faça como os atletas do Felipão: chore.
Guilherme Fiuza é jornalista 

terça-feira, 10 de junho de 2014

Republica Federativa das Milhagens Ilimitadas (voce paga, leitor...)

A pretexto de inaugurar uma latrina aqui, uma cisterna acolá, o poder movimenta toda a logística da presidência, com escalão avançado, avião presidencial, militares, aspones, carros, etc, para, no fundo fazer campanha eleitoral.
O Tribunal de Coisa Nenhuma não vai dizer coisa nenhuma?
Desculpe, só queria saber, inclusive porque é o meu dinheiro que está sendo gasto dessa maneira altamente pornográfica...
Paulo Roberto de Almeida

Só este ano, Dilma já fez viagens equivalentes a duas voltas ao planeta, sempre buscando votos

Sem tempo sequer para olhar o interlocutor.



Quando chegar ao Rio Grande do Norte nestas segunda-feira para inaugurar o aeroporto de São Gonçalo do Amarante, na região metropolitana de Natal, a presidente Dilma Rousseff vai ter completado um roteiro, em 2014, similar a duas voltas ao planeta.

. Antes, porém, Dilma visitou Porto Alegre, sexta e sábado, e  Belo Horizonte, neste domingo. Nas últimas semanas, a presidente não tem poupado nem sequer os fins de semana para descanso e aproveita para viajar.

. Leia mais, na reportagem de Renato Medeiros, UOL de hoje:

Em 2014, último ano de seu primeiro mandato, a presidente aumentou o ritmo de viagens nacionais e já foi às cinco regiões do país em 38 viagens oficiais, num total aéreo percorrido de aproximadamente 77 mil km. Uma volta completa ao planeta tem 40 mil km. Em seus três primeiros anos, a presidente Dilma fez 156 viagens --algumas passando por mais de um Estado--, média de 4,3 por mês ou uma por semana. Em 2014, a média de viagens cresceu mais de 50% e chega a superar sete por mês, conforme dados divulgados até maio. Em junho, esse ritmo não deve diminuir.

Inaugurações aos domingos

. Como demonstra a visita de hoje, Dilma não tem poupado nem sequer seus fins de semana. O mesmo aconteceu no último domingo (1º), quando a presidente foi ao Rio de Janeiro inaugurar residências do "Minha Casa, Minha Vida". 


. As viagens já têm um toque de pré-campanha. Com plateias selecionadas e aplausos previstos, Dilma sempre ouve palmas e chegou a ser recebida, algumas vezes, aos gritos de "1, 2, 3, Dilma outra vez" --que deve ser o cântico petista na campanha à reeleição. 

terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O tratamento de cabelo mais caro do mundo, em 2013: 27 mil reais (ainda acho que foi pouco; deveria ter renunciado, ou ser destituido)

Renan devolve R$ 27 mil por uso de avião da FAB em voo particular

Presidente do Senado viajou para Recife para fazer implante de cabelo em dia que não tinha compromissos oficiais

30 de dezembro de 2013 | 15h 59
O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recolheu R$ 27.390,25 aos cofres públicos nesta segunda-feira, 30. "O valor se refere ao uso da aeronave em 18 de dezembro entre as cidades de Brasília e Recife e foi calculado pela Força Aérea Brasileira (FAB)", informou a assessoria de imprensa da Presidência do Senado. O pagamento foi realizado por meio de Guia de Recolhimento da União (GRU).
Renan viajou para a capital de Pernambuco com o objetivo de fazer um implante de cabelo e não tinha compromissos oficiais naquela data. De acordo com dados do site da FAB, o presidente do Senado saiu de Brasília às 22h15 e chegou a seu destino às 23h30. A aeronave levou outros quatro passageiros, provavelmente convidados de Renan, uma vez que não há registros de que o voo tenha sido compartilhado. O senador informou à FAB que a viagem era "a serviço".
Diante do episódio, a Aeronáutica informou no último dia 23 que disponibilizou um avião para o transporte do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em voo de Brasília a Recife, atendendo regras firmadas e abstraindo questões de mérito relacionadas ao motivo da viagem. Nota divulgada pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica citou que fugia à alçada do Comando da Aeronáutica julgar os motivos da viagem.
Foi a segunda vez neste ano que o presidente do Senado utilizou um avião da FAB em compromissos particulares. Em junho, ele pegou carona para ir ao casamento da filha do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), em Trancoso, Bahia. Após o fato ser revelado pela imprensa, Renan devolveu o dinheiro aos cofres públicos.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Itamaraty: cafe caro, e amargo (como de resto todo o resto...) - Estadao

Itamaraty paga preço abusivo, aponta TCU

Contratos do cerimonial são fiscalizados pelo tribunal; bufê atende diplomacia há 40 anos

31 de outubro de 2013 | 22h 52
Fábio Fabrini - O Estado de S. Paulo
Brasília - Ao preço que um brasiliense paga por 40 croissants ou 12 quilos de pão francês na melhor padaria da capital federal, eleita por guias locais, o Itamaraty serve apenas um diplomata ou chefe de Estado num café da manhã. São R$ 159 para alimentar uma pessoa com biscoitos, bolos, sucos e frutas. O valor consta de relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), que aponta gastos exorbitantes com refeições em coquetéis e eventos.
O tribunal fiscalizou contratos do cerimonial do Itamaraty, que repassou, desde 2008, R$ 6,7 milhões à Di Gagliardi, bufê que há cerca de 40 anos serve a diplomacia. De acordo com a corte, o contrato mais recente com a empresa, firmado em 2009 e prorrogado várias vezes, tem indícios de jogo de planilha e poderia custar bem menos.
Os auditores compararam os preços com os praticados pelo Senado, casa tradicionalmente pouco parcimoniosa, que contrata serviços semelhantes.
Dos 42 itens analisados, todos foram mais caros no Itamaraty, que pagou até 430% mais.
Enquanto o café de um diplomata sai a R$ 159 em evento para até 14 pessoas, no Legislativo custa R$ 30. Por um almoço ou jantar à francesa, o Itamaraty paga R$ 237 por pessoa, ante R$ 120 no Legislativo. A conta não inclui bebidas alcoólicas. É dinheiro suficiente para bancar, ao preço médio de R$ 127, couvert, entrada, prato principal e sobremesa no Gero, do Grupo Fasano, um dos restaurantes mais prestigiados de Brasília.
Os eventos da diplomacia costumam ser requintados e variados. Num jantar, por exemplo, o cerimonial pode escolher como prato principal um entre 22 opções, a exemplo de medalhões de lagosta ao molho de manteiga queimada ou perdizes recheadas.
Para o TCU, mesmo tanta sofisticação não explica as cifras. "A despeito de reconhecer a importância da qualidade, entendo que esse argumento não é válido ao ponto de justificar as diferenças de preço", avaliou o relator do processo, ministro Benjamin Zymler. Em decisão aprovada quarta-feira, a corte de contas determinou mudanças, entre elas a comparação com os contratos de outros órgãos.
Segundo a auditoria, a licitação aberta pelo Itamaraty restringiu a participação de empresas. Cotação superestimada elevou o preço de referência do pregão (R$ 2,6 milhões). A Di Gagliardi venceu com proposta de R$ 2,1 milhões. Mas os valores das refeições foram mais altos do que os apresentados pela empresa em consulta prévia do Itamaraty antes do certame.
Em nota, o Itamaraty alegou que os cardápios requerem ingredientes "da mais alta qualidade" e que "obedeçam às peculiaridades culturais das delegações, justamente por serem organizados para altas autoridades estrangeiras". Afirma ainda que questão igualmente importante é a exigência de requisitos como bufê com estrutura de grande porte, não raro para servir mais de 300 pessoas, e treinamento para profissionais como chefe de cozinha e garçons. A Di Gagliardi informou ter participado de pregão, ganhando com menor preço e na legalidade. 

Embaixadora tentou favorecer filha de político que decidiria sobre a Vale

Leda Lúcia Camargo comandava a Embaixada do Brasil em Moçambique quando pediu, em 2004, que fosse 'considerada com especial atenção' candidatura de estudante ao PEC-G

31 de outubro de 2013 | 9h 47
Amanda Rossi - Especial para o Estado
A embaixadora brasileira Leda Lucia Camargo tentou favorecer a candidatura da filha de um político de Moçambique para o Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), que oferece vagas para estrangeiros no Brasil, em 2004. Segundo a diplomata, o político era um dos "mais importantes integrantes" do grupo que decidiria naquele ano se a Vale do Rio Doce receberia concessão para explorar o carvão de Moatize, no norte do país.
"Tomo a liberdade de recomendar que seja considerada com especial atenção a candidatura da estudante (4ª colocada com alta média entre 33 candidatos) ao curso de Estilismo e Moda da Universidade de Londrina. A estudante é filha de Sérgio Vieira, alta autoridade do núcleo político do governo moçambicano, um dos mais importantes integrantes do grupo que decidirá sobre as minas de Moatize", escreveu em telegrama confidencial e urgente enviado para o Itamaraty em 21 de julho de 2004.
Apesar do pedido, a estudante não foi aceita. A Vale ganhou o direito de explorar o carvão moçambicano em novembro de 2004. Leda Camargo foi a embaixadora do Brasil em Maputo entre 2004 e 2007 e hoje comanda a Embaixada na Suécia.
O PEC-G é o maior programa de cooperação educacional do Brasil, desenvolvido pelo Itamaraty e pelo Ministério da Educação (MEC). Estão cadastradas 97 instituições de ensino superior, entre elas USP, Unicamp, UnB e UFRJ. De 2000 a 2013, foram beneficiados 7.600 estudantes da África e América Latina. A escolha é feita em duas etapas. Primeiro, as embaixadas brasileiras fazem uma pré-seleção. Em 2004, a Embaixada do Brasil em Moçambique selecionou 33 nomes, entre eles o da estudante citada no telegrama. Já a seleção final é feita em Brasília pelo MEC. Nesta fase, a garota não foi incluída entre os 20 selecionados.
Negativa. O Itamaraty e a embaixadora Leda Camargo disseram que não podem comentar o teor do telegrama porque ele está classificado como "secreto", ou seja, com grau de sigilo de 15 anos – até 2019. Originalmente, o grau de sigilo era "confidencial" - 10 anos. Em abril de 2012, um mês antes da entrada em vigor do decreto que regulamentou a Lei de Acesso à Informação, o Itamaraty ampliou o prazo de sigilo do telegrama.
Em nota, a Vale afirmou que não tem nenhuma relação com os temas apresentados.
Já Sérgio Vieira nega ter sinalizado para Leda Camargo que a decisão de Moatize poderia ser influenciada pela escolha de sua filha para universidade brasileira. "Jamais me passaria pela cabeça uma tal tentativa nojenta de corrupção. A Vale obteve a concessão porque ganhou num concurso em que participaram várias transnacionais". Ele diz que não fez parte do júri que tomou a decisão.
Vieira é um quadro histórico da Frelimo, partido que lutou pela independência e segue no poder. Muito respeitado em Moçambique, ele deixou o governo em 2012 e tem feito críticas ao reassentamento de famílias que viviam na região hoje explorada pela Vale. "Movimenta-se pessoas como mercadorias e no mero interesse do chamado investidor. O que lhes dá em troca? Uma casa a dezenas de quilômetros quando nunca pediram uma nova casa?", afirmou em evento em Maputo, em maio.
A embaixadora Leda Camargo, apesar de considerada no Itamaraty como uma boa negociadora, é uma figura polêmica. Em 2005, a imprensa moçambicana publicou supostas declarações suas de que seu cachorro era mais limpo que os moçambicanos. A frase teria sido dita após Leda ser impedida de entrar com o animal em um shopping de Maputo, capital do país. A embaixadora nega o caso.
Vale. No telegrama de julho de 2004 para o Itamaraty, Leda Camargo ainda dá informações sobre o processo de escolha da mineradora de carvão. "Vieira disse que a CVRD [Companhia Vale do Rio Doce] não deve esquecer que tem 3 concorrentes de peso e que a vencedora certamente será a empresa que estiver mais atenta aos interesses moçambicanos". Para o Estado, Vieira disse que os interesses eram "não ficarmos com os buracos e eles com tudo de riqueza. Infelizmente já surgiram vários conflitos com a Vale, populações sentem-se espoliadas".
O telegrama continua: "Embora o governo local deseje ver vencedora a companhia brasileira, esse sentimento se deve não a uma preferência específica pela Vale, mas por querer atender ao interesse manifestado nesse sentido pelo presidente Lula". No ano anterior, durante a primeira viagem de Luiz Inácio Lula da Silva à África, o então presidente havia se pronunciado a favor da empresa brasileira.
"Necessitamos de projetos de grande envergadura, que sirvam de âncora ao nosso relacionamento econômico. Por isso tenho procurado apoiar o interesse de algumas empresas e, sobretudo, da Vale do Rio Doce na exploração de carvão de Moatize", discursou Lula.
A participação do governo brasileiro nas negociações para a exploração do carvão de Moçambique começou em 1980 e envolveu praticamente todos os presidentes de João Figueiredo a Lula. Em 1981, a Companhia Brasileira de Recursos Minerais começou a fazer pesquisa geológica no país. Em 1989, com José Sarney, a Vale – ainda estatal – assinou acordo para fazer um estudo de viabilidade baseado no modelo de Carajás, no Pará.
Em 2000, após a privatização da Vale, Fernando Henrique Cardoso visitou Moçambique e o carvão voltou à baila. "As negociações estão avançando. Elas se desenvolvem a partir do impulso inicial dado pela visita a Maputo do Presidente Fernando Henrique Cardoso", escreveu em telegrama de fevereiro de 2001 o então embaixador Hélder Martins de Moraes. Ao longo de 2002, a Vale firmou seu interesse no projeto. Com a entrada de Lula, em 2003, as conversas avançaram.
Em 2004, depois de mais de 24 anos de negociações, o Brasil ganhou concessão para explorar o carvão moçambicano. "A Vale apresentou um projeto, que teve apoio do governo brasileiro. Certamente o apoio e a presença do governo brasileiro foram um diferencial para nós. Tem sido e acho que vai permanecer sendo importante", disse Ricardo Saad, diretor de projetos da Vale para África, Ásia e Austrália, em entrevista realizada em abril deste ano.