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sábado, 25 de abril de 2020

O inesgotável Febeapá do governo Bolsonaro - André Rosa (Diplomatique)

Já dava para perceber a volta do Febeapá mesmo antes da inauguração do governo Bolsonaro --  que não vai conseguir ser um regime como foi o lulopetismo, que tinha muitos "intelequituais" a seu serviço -- e a coisa só podia degringolar a partir da posse. Reparem que este artigo é de 24 de JANEIRO DE 2019, ou seja, o festival de besteiras estava recém começando. Depois disso, as besteiras foram se acumulando às centenas, talvez milhares, e caberia aos repórteres investigativos fazerem o cômputo, assim como os repórteres do NYT e do WP fazem uma contagem minuciosa, precisa, rigorosa, de todas as MENTIRAS do Trump, o ídolo do nosso desmiolado presidente. 

A diferença com o Febeapá original, do inesquecível Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, durante a primeiríssima fase do regime militar (antes do AI-5), é que antigamente os militares – mais os coronéis encarregados de IPMs, da repressão direta – se encarregavam de fornecer farto material para as colunas sempre bem humoradas do Stanislaw, sob a rubrica do Febeapá. Atualmente, os militares já não têm mais fornecido muito material: eles aproveitaram os 30 anos de redemocratização para estudar... Fizeram muito bem; deixaram o Febeapá para os políticos...
Paulo Roberto de Almeida

FESTIVAL DE BESTEIRA QUE ASSOLA O PAÍS
O inesgotável Febeapá do governo Bolsonaro
por André Rosa
Le Monde Diplomatique Brasil, 24 de Janeiro de 2019


Com menos de um mês de governo, a equipe de Jair Bolsonaro já conta com um bom capital de frases a situações que engrossam o novo Febeapá

Na década de 60, quando ainda vivíamos sob o jugo de uma feroz ditadura, parte de nossa intelectualidade combatia o regime com as armas do humor e do deboche. O teatro, a música e o cinema floresciam como nunca. Nos palcos, peças como “Liberdade, liberdade” (Millôr Fernandes, dir. Flávio Rangel) e “O rei da vela” (Oswald Andrade, dir. José Celso Martinez Corrêa) tiravam o sono dos militares. No jornalismo, o semanário O Pasquim fez história. Matéria-prima não faltava. Os brucutus que apreendiam livros sobre “cubismo” (coisa de cubano) e que queriam enjaular o perigoso comunista Sófocles, autor da subversiva “Electra”, não davam descanso à pena de nossos jornalistas. Assim nasceu o Febeapá.
O Febeapá — Festival de besteiras que assola o país — foi um livro publicado em três volumes pelo jornalista e cronista Sérgio Porto, sob o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta. No livro, cujo primeiro volume saiu em 1966, o autor reuniu crônicas que relatavam com gozação os disparates que aconteciam na política após o advento da “redentora”, como ele chamava o golpe de 1964. Foi assim que histórias como a de Sófocles se imortalizaram no imaginário brasileiro, bem como a famosa frase de um simpático general sergipano chamado Graciliano, que dizia que “em Sergipe quem entende de teatro é a polícia”. Sérgio Porto faleceu no fatídico ano de 1968, pouco antes do AI-5. Cinquenta anos depois, novamente sob um governo colorido pelo verde-oliva, o Febeapá parece mais uma vez inesgotável.
Com menos de um mês de governo, a equipe de Jair Bolsonaro já conta com um bom capital de frases a situações que engrossam o Febeapá. Para Vélez Rodríguez, ministro da Educação, o “marxismo cultural faz mal à saúde”. Já o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, não deixa por menos: para ele, o risco de uma arma em casa é o mesmo que de um liquidificador. Calma, tem mais. A famosa ministra Damares, aquela da goiabeira, até outro dia dizia por aí que turistas vão a hotéis fazenda de fachada para transar com animais. Agora, foi adiante: para ela, quando um menino encontra uma menina vestida de azul, ele automaticamente pensa: ela é igual, então pode levar porrada. Há ainda um outro personagem, o ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, apelidado de “cavaleiro templário” pelo ex-ministro Roberto Freire: para Araújo, a esquerda se define “como a corrente política que quer fazer tudo para que as pessoas não nasçam”. Seria a indústria da pílula anticoncepcional uma das fachadas da Internacional Comunista?


Ilustração de capa do livro “Febeapá – O Festival de Besteira que Assola o País” de Stanilaw Ponte Preta

Outras situações não têm tanta graça. Não nos esqueçamos do juiz Moro, o cobiçado ministro da Justiça que em certa ocasião afirmou que “caixa 2 é pior que corrupção”, mas que a respeito do caixa 2 do também ministro Onyx, disse: “ele já admitiu e pediu desculpas”. Ah, bom. Fica a receita. Ainda no corpo ministerial, certas nomeações nos remetem inevitavelmente ao gênio do dramaturgo irlandês Bernard Shaw, que dizia que o seu gosto pela ironia não ia tão longe. É o caso da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, aquela que recebeu doações de um réu por assassinato de líder indígena (Folha de S. Paulo, 20/11/2018) e que será a responsável pela… demarcação das terras indígenas. Isso porque o novo governo está em busca de pessoas que “amam desesperadamente os índios”, como disse Damares.
Como se vê, o Febeapá está em plena forma. Além dos ministros, há outros curiosos personagens que também orbitam o universo da política brasileira: há o soi-disant filósofo que acusa Newton de ter “espalhado burrice” e que acredita que cigarro faz bem à saúde; há o deputado que diz que Marx percebeu os seus erros na 1º Guerra Mundial (Marx estava morto havia 31 anos); há o ator pornô conservador; há o coordenador do ENEM que diz que Raskólnikov, personagem de Crime e Castigo, era um “típico estudante esquerdista”, influenciado por Nietzsche (que só publicaria seu primeiro livro em 1872, seis anos depois), enfim, uma grande diversidade.
Em seu discurso em Davos, o presidente Jair Bolsonaro cometeu um exagero de modéstia ao dizer que “pela primeira vez no Brasil um presidente montou uma equipe de ministros qualificados.”. No país que teve como ministros nomes como Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Sérgio Paulo Rouanet, Francisco Weffort, Ana de Hollanda, Antônio Houaiss e outros, pela primeira vez se vê qualificação nos ministérios. Desnecessário comentar certos deboches. Vamos aguardar o que vem pela frente.
André Rosa é escritor.


O futuro do Brasil e os seus generais bem comportados - Paulo Roberto de Almeida, Thais Oyama (UOL)

O futuro do Brasil e os seus generais bem comportados
Paulo Roberto de Almeida

Os generais do salazarismo também ficaram sustentando o regime até quase o final: se beneficiavam das benesses do regime, como os nossos generais. 
Até que vieram os capitães do 25 de Abril de 1974, para acabar com aquela fancaria, que estava condenando vários filhos à morte nas insanas guerras coloniais. Um general, dos mais fascistas – assassino do líder do PAIGC na Guiné Conacri – acabou se desviando ligeiramente do regime, escrevendo um livro meio insosso, chamado "Portugal e o futuro", apenas preocupado com o desgaste da não-descolonização, mas interessado em conservar pratas e baixelas na metrópole. 
Acabou sendo atropelado pelos jovens oficiais, que quase instalaram uma Leningrado sobre o Tejo. Mas, os coronéis logo retomaram o comando, e a coisa toda se encaminhou para uma democracia quase estável, com alguns percalços pelo caminho.
Quando é que os nossos generais vão bater na consciência e concluir que é melhor acabar logo com a loucura do olavo-bolsonarismo antes que os insanos do regime atual consigam destruir metade ou praticamente todo o país? 
Já passou o tempo: estão com medo de serem acusados de golpistas? 
Não precisam dar golpe: basta usar as informações de que dispõem para "renunciar" o capitão.
Vou ser acusado de golpista? 
Pode até ser, mas o destino da nação me interessa mais do que meros conceitos, vazios de significado, ante o desastre a que assistimos...
Paulo Roberto de Almeida​

Os militares vão com Bolsonaro até o fim 
https://noticias.uol.com.br/colunas/thais-oyama/2020/04/25/os-militares-irao-com-bolsonaro-ate-o-fim.htm

Thaís Oyama 
Colunista do UOL,  25/04/2020 

 As incertezas que a vitória do ex-deputado de baixo clero Jair Bolsonaro suscitou nas eleições de 2018 foram amenizadas por uma convicção. O ex-capitão podia não ser o presidente ideal nem mesmo para alguns dos que votaram nele, mas estava apoiado por um tripé que lhe garantia sustentação: o ministro Paulo Guedes na economia, o ministro Sérgio Moro na Justiça e o núcleo militar, como "poder moderador" e executor. 

Treze meses se passaram desde então.
Paulo Guedes nunca esteve tão escanteado. A crise do coronavírus transformou em pó o discurso da responsabilidade fiscal do economista, obrigado a escancarar as comportas do Tesouro que ele vigiava com zelo e obstinação. Junte-se a essa desgraça, a existência de um chefe inconformado com a enorme possibilidade de ter seu capital político erodido pela crise. "Paulo, abra as comportas". Como a ordem de Bolsonaro e a natureza do posto Ipiranga colidissem, a missão foi transferida para o general Braga Netto, de DNA desenvolvimentista e formação que faz de cada missão dada uma missão cumprida. 

Na foto dos ministros que ladeavam Bolsonaro no calamitoso discurso de ontem, o fato de Guedes ser o único ministro de máscara (e sapatos descartáveis de hospital!) parecia querer mostrar que ele já não pertencia mais àquele time.

Moro, o símbolo da luta contra a corrupção e a haste ética do tripé de Bolsonaro, foi-se da pior forma possível. De chancela moral do presidente, passou a seu acusador. O figurino de paladino da Justiça, terror de corruptos e algoz da iniquidade, fez com que cada frase do seu pronunciamento de ontem, emitida na mesma baixa frequência com que costumava interrogar os réus da Lava Jato, entrasse como uma faca no peito de Bolsonaro.

Horas depois da fala de Moro, o presidente sangrava a céu aberto nas redes sociais. Pela primeira vez, perdeu milhares de seguidores nas plataformas da internet. Nos grupos bolsonaristas de Whatsapp, o que se viu foi uma debandada maciça e tristemente silenciosa de apoiadores decepcionados. Com mais ou menos estridência, desembarcaram da canoa do bolsonarismo empresários, comentaristas políticos e tios do zap.
Restaram os militares.
Restaram?

Por enquanto, sim.

Bolsonaro havia se reaproximado do núcleo de generais do Planalto - cujo limite foi expandido com a chegada de Braga Netto, na Casa Civil, e do almirante Rocha, no gabinete presidencial. No Palácio e no comando de programas oficiais, os militares passaram a ser uma onipresença no governo, vozes a legitimar cada escolha do presidente.

A fala de Moro quebrou também essa haste do tripé.

Perplexos e consternados ficaram os militares do Planalto. Ao menos um foi visto tirando um cisco dos olhos molhados durante a fala do ex-ministro da Justiça. Não que os generais desconhecessem as inclinações insubordinadas do ex-capitão. Mas as revelações de suas tentativas de usar a Polícia Federal em benefício próprio -feitas de forma explícita e, acima de tudo, feitas por Sérgio Moro—deixaram os generais no chão.

No Planalto e fora dele, na ativa e na reserva, os militares, em sua esmagadora maioria, veneram o ex-juiz que encarnou a luta anticorrupção, além do antipetismo, sentimento inalienável da categoria.

Os generais do Planalto consideraram "gravíssimas" as acusações de Moro contra o presidente, e "desastroso" o discurso de Bolsonaro feito horas depois da demissão do ex-ministro. Mas consideram que: 

1) Deixar o governo neste momento está fora de cogitação. Significaria abandono de "missão" e a entrega de Bolsonaro aos políticos do Centrão e ao núcleo ideológico, formado por fanáticos olavistas e comandado pelos filhos do presidente.

2) Recomendar a renúncia seria, além de um passo institucional indevido, inútil. Bolsonaro não cogita a possibilidade.

3) O limite para a sustentação do presidente será uma eventual culpabilização de Bolsonaro por crime de responsabilidade ou crime comum. Em quaisquer dos casos, os generais pretendem se manter com o ex-capitão até o fim dos ritos, seja o do impeachment, seja o de um processo iniciado na Procuradoria Geral da República. Como afirma um interlocutor do Palácio do Planalto parodiando a frase dita por um peemedebista no impeachment de Dilma, os militares "segurarão a alça do caixão até a cova". Cumprido o ritual do sepultamento, se houver, terão a consciência do dever cumprido e a satisfação de, agora, sim, estarem em casa. Terão Hamilton Mourão.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

O Brasil de volta ao passado petista - Ricardo Bergamini; Robson Bonin

Aparentemente, como argumenta Ricardo Bergamini, o governo Bolsonaro está de volta aos governos petistas, mas não só no que toca às políticas econômicas, mas igualmente no campo das trapaças políticas e possivelmente na corrupção também.
Paulo Roberto de Almeida 

O Brasil de volta ao passado petista
Prezados Senhores.
Vitória das teses da esquerda, qual seja: responsabilidade e austeridade fiscal é bobagem. Pela milésima vez, fim do sonho liberal no Brasil.
É triste ver um profissional de renome internacional ser tão humilhado e desprezado como foi o Paulo Guedes, nesse plano maluco. Espero que não se humilhe mais e retorne o caminho da roça.
A parte saudável será a volta de nossos velhos amigos liberais ao debate adulto e maduro do pensamento liberal, isento de masturbação mental ideológica.
Vitória ao pensamento liberal: liberdade, igualdade, fraternidade e soberania dos povos.
Ricardo Bergamini 


Bolsonaro abandona Guedes para evitar terminar como Temer
Depois de o coronavírus implodir a pauta do Posto Ipiranga, presidente se move para dar sobrevida à agenda de governo na crise do coronavírus 
Revista Veja, 23 abril 2020

Depois de ouvir o plano do chefe da Casa Civil para colocar o governo no comando de uma espécie de novo PAC, com o orçamento estatal motorizando a economia a partir de grandes obras, Bolsonaro determinou: “Vamos em frente!” Adriano Machado/Reuters
A história do governo de Jair Bolsonaro começou a mudar a partir desta semana. Na crônica política, a quarta-feira será lembrada, no capítulo econômico, como o dia em que o presidente perdeu a fé no Posto Ipiranga.
Paulo Guedes foi atropelado por Walter Braga Netto. Depois de ouvir o plano do chefe da Casa Civil para colocar o governo no comando de uma espécie de novo PAC, com o orçamento estatal motorizando a economia a partir de grandes obras, Bolsonaro determinou: “Vamos em frente!” Antes de mais nada, fica aqui o registro de que Guedes considera a ideia uma maluquice. Espera mostrar isso ao presidente nos próximos dias, convencendo-o a abandonar a tal solução mágica. É a porta estreita de São Lucas. Não há caminho fácil.
Saiba logo no início da manhã as notícias mais importantes sobre a pandemia do coronavirus e seus desdobramentos. Inscreva-se aqui para receber a nossa newsletter
Guedes, que defendia a retomada econômica a partir da força privada, viu o furacão passar sem conseguir se mover. A reunião ocorrida nesta quarta, no Planalto, mudou a agenda do governo e deu novo sentido à pauta econômica. É como se derrubassem as bombas de combustível do posto para instalar no lugar uma loja de material de construção.
“Neste momento de crise, tocar a agenda de retomada do país com o mercado, apostando na iniciativa privada, seria caminhar lento demais para a normalidade. Por isso, o Estado deve ser o tomador de risco nos momentos de grave crise”, explica um auxiliar do presidente.
Da agenda liberal, o país migrará a partir de agora para o que há de mais martelado – e mais perigoso — na tecnologia desenvolvimentista — isso mesmo, caro leitor bolsonarista, aquele bicho feio dos governos do PT.
Com a emergência global do coronavírus justificando medidas drásticas, o governo abrirá, se tudo correr como o plano atual, um período de gastos bilionários e de discursos por menos controles, menos regulação, menos licenciamentos…
“O presidente precisava comunicar ao país que isso estava sendo preparado pelo governo. Daqui para frente, vamos discutir tudo dentro dos ministérios”, disse ao Radar um auxiliar de Bolsonaro. “Será um momento de mexer em marcos regulatórios, um momento de simplificar contratações, licenças, tudo para acelerar a retomada”, complementou.
Bolsonaro topou a empreitada na hora, porque esse discurso fala diretamente ao seu coração político. Bateu na alma. Com a agenda desenganada pela pandemia, acharam uma saída, um discurso diferente para o bolsonarismo tentar variar um pouco a fórmula já cansada do golpe, golpe, golpe…
Cada ministério foi acionado a apresentar uma lista de obras paradas e projetos que poderão fazer parte do plano. A ideia de retomar a construção de eixos de infraestrutura em todas as frentes – rodoviário, ferroviário, aquaviário – voltará com força.
Obras que proporcionem impacto imediato no emprego e renda serão prioridade, mas outros empreendimentos complexos, hoje travados por legislações ou em estudo serão previstos.
O governo diz que fará tudo com mais eficiência, responsabilidade e controle que as gestões petistas. Precisará convencer a audiência de que tocar grandes obras com menos regulação, menos controle e menos licenças resultará em algo melhor que o estrago petista.
Idealizado pela ala política da Esplanada, o plano oferece a Bolsonaro um recomeço no governo que ele mesmo admitiu outro dia parecer terminar antes da hora. Em uma entrevista, ele citou Michel Temer, que liderava uma agenda reformista até o escândalo da delação da J&F explodir, transformando os dias seguintes numa luta pela sobrevivência. Bolsonaro, como Temer, também teria dias para lutar pela sobrevivência do governo até 2022, se continuasse na pauta de Guedes. Preferiu virar a mesa e apostar num plano de gastos públicos formatado em 24 horas para reverter os estragos econômicos da pandemia. Se vai funcionar, é outra história. Guedes, como dito no início do texto, não acredita que vá. A conferir.

[Agora a visão da esquerda:]

Plano Marshall' de Braga Netto enterra a era Paulo Guedes na economia

General determina investimentos de R$ 300 bilhões em infraestrutura. Derrotado, Guedes fala que é a volta do 'modelo Dilma Rousseff'. Chamado de pró-Brasil, o programa, que chegou a ser apelidado inicialmente de Plano Marshall brasileiro, prevê um incremento de R$ 300 bilhões – R$ 250 bilhões em concessões e parceria público privada e outros R$ 50 bilhões de investimento públicos. A coordenação será do ministro Braga Netto.

247 - 23 de abril de 2020


 O governo federal decidiu retomar o Programa de Aceleração do Crescimento, que marcou a gestão da ex-presidente Dilma Rousseff, renomeando o mesmo de 'Pró-Brasil'. Este novo 'Plano Marshall' representa uma derrota decisiva para o modelo neoliberal de Paulo Guedes, que é incapaz de oferecer saídas para a crise econômica. O novo PAC será conduzido pelo general Braga Netto, que assume o papel de homem forte da economia. O programa Pró-Brasil, que o governo anuncia como a panaceia para a recuperação econômica do país após a pandemia do coronavírus, foi lançado nesta quarta-feira (22) pelo ministro da Casa Civil, general Braga Netto. O ministro da Economia, Paulo Guedes não participou do anúncio.  Ele e sua equipe divergem do plano por implicar o aumento do gasto público.

Reportagem de O Estado de São Paulo informa que Braga Netto falou sobre a aceitação unânime do programa em todos os ministérios, mas a ausência de Paulo Guedes é um sinal das divergências. Além disso, não houve anúncio do volume de recursos públicos que pode ser desembolsado.

A primeira reunião de trabalho será na próxima sexta-feira, 24, quando cada ministro vai levar as suas propostas. A fase de estruturação será feita entre maio a julho. Os detalhes dos projetos serão feitos em setembro para a implantação a partir de outubro.

sábado, 14 de março de 2020

Tolices e erros do Governo Bolsonaro (PRA) - Jorge Henrique Cartaxo (14/03/2019)

Um registro tardio, que eu não havia feito no momento em que foi publicado.
Um artigo do colunista Jorge Henrique Cartaxo, sobre minha exoneração do IPRI no Carnaval de 2019. Grato Cartaxo.
Paulo Roberto de Almeida

Tolices e erros

Jorge Henrique Cartaxo
Política Real, 14/03/2019
Avaliação semanal vê equívocos desnecessários

Embaixador Paulo Roberto Almeida( Foto: Exame)
A confusão por tolices no governo Bolsonaro é tamanha que já há quem a considere uma espécie de estratégia para desviar a população dos grandes e fundamentais temas como a previdência, os juros, a segurança, a prometida abertura dos mercados....etc.
Não faz sentido, por exemplo, nem a forma e menos ainda o conteúdo,  da presença do senhor Olavo de Carvalho – que mora nos Estados Unidos – nas questões internas de alguns ministérios da República, notadamente o da Educação e das Relações Exteriores. Ainda ontem o secretario do MEC, Luiz Antônio Tozi, foi afastado do cargo. Há rumores de que 20  outros técnicos serão exonerados e que até o ministro pode ser destituído. É fato que o senhor Ricardo Vélez Rodrigues não tem sido exatamente feliz nas suas raras manifestações. Percebe-se também que há uma certa paralisia na área da educação no País. Em principio, esse desconforto deveria ser tratado pelo Congresso, o mundo acadêmico, a mídia...enfim.  Mas jamais pelo senhor Carvalho e setores militares do governo.
Ainda no carnaval, mais uma vez por suposta ordem indireta do senhor Olavo de Carvalho, o ministro das Relações Exteriores, o bizarro Ernesto Araújo, afastou da direção do IPRI – Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais – o embaixador Paulo Roberto de Almeida, um dos melhores quadros da diplomacia brasileira. Paulo Roberto integra a mais nobre linhagem do Itamaraty do qual fazem parte Rubens Ricupero, Rubens Barbosa, José Guilherme Merquior, Gelson Fonseca dentre outros.  São diplomatas cultos, eruditos que pensam de forma refinado o País e o mundo.
Também no carnaval, o presidente Jair Bolsonaro republicou um vídeo indecente de dois homossexuais. A indignação do presidente é plenamente compreensível e justificável ao ver aquelas cenas, mas não cabia a ele divulga-las. O gesto não foi condizente com o cargo. O ruído foi enorme e absolutamente desnecessário. Seus desencontros com o vice-presidente Hamilton Mourão, de tão frequentes oscilam entre o desconforto e a piada. Não é razoável!
É natural e desejável que esses fatos sejam observados e devidamente tratados pela mídia e os brasileiros de um modo geral. Mas deve ser observável também o conteúdo e a tramitação da reforma da Previdência. A tramitação e o conteúdo do plano de segurança, já encaminhado ao Congresso pelo ministro Sérgio Moro. A caixa preta, de certa forma aberta, do BNDES. As suspensões de contratos suspeitos em vários órgãos do novo governo...acompanhar e vigiar!
  
Twiter: @JorgeCartaxo6 


quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Novos ventos no Planalto (?) - Rubens Barbosa

Os ventos sopram para todos os lados, inclusive movendo aquelas birutas de aeroporto, que possuem uma incrível semelhança com o quê mesmo? 
Paulo Roberto de Almeida

NOVOS VENTOS NO PLANALTO

Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 25/022020 

Os ventos no Palácio do Planalto poderão mudar com a nomeação do general Braga Neto para a chefia da Casa Civil e do Almirante Flavio Rocha para a Secretaria de Assuntos Estratégicos.
A Casa Civil, que deve coordenar todas as ações do governo federal, sai fortalecida e tem o potencial de transformar a maneira como o Executivo lida com o Legislativo e o Judiciário.  Com uma reviravolta nas atribuições ministeriais, a SAE passa a ter a responsabilidade da elaboração de subsídios para a formulação do planejamento estratégico e de ações externas de governo
A SAE, agora vinculada diretamente ao presidente da República, foi significativamente fortalecida. As atribuições da Assessoria Internacional passam para a SAE que deverá assistir o Presidente da República no desempenho de suas atribuições e, especialmente, na realização de estudos e contatos por ele determinados em assuntos que subsidiem a coordenação de ações com organizações estrangeiras; assistir o Presidente da República, em articulação com o Gabinete Pessoal do Presidente da República, na preparação de material de informação e de apoio, de encontros e audiências com autoridades e personalidades estrangeiras; preparar a correspondência do Presidente da República com autoridades e personalidades estrangeiras; participar, em articulação com os demais órgãos competentes, do planejamento, da preparação e da execução das viagens internacionais do Presidente da República; e encaminhar e processar as proposições e os expedientes da área diplomática, em tramitação na Presidência da República. O assessor internacional, Felipe Martins, passa a ser subordinado do secretário da SAE, o Almirante Flavio Rocha.
            A recomposição do equilíbrio de poder no Planalto enfraquece a influência do grupo ideológico e familiar. Será interessante acompanhar a reação do núcleo olavista palaciano à decisão presidencial. A mudança de cadeiras tem o potencial de facilitar a busca de maior racionalidade e de resultados para as iniciativas na área internacional, além do relacionamento com o Congresso e o Judiciário, sujeitos a fortes turbulências na semana passada. 
           Cabe ressaltar a volta dos militares ao centro do processo decisório do atual governo. Logo depois da posse, houve a ocupação de um importante espaço por militares, que exerceram um papel moderador.  Depois de um período de baixa visibilidade, o retorno dos oficiais generais, três deles da ativa, desperta a expectativa de que algumas ênfases deverão mudar. Se a eles se acrescentar o papel do Vice-Presidente como coordenador do Conselho da Amazônia, tem-se a extensão do poder e da influência da militarização do Planalto. A Instituição, contudo, procura se manter independente das ações do governo como um todo.
            E de se esperar também, um discurso mais conciliador com o Congresso e o Judiciário e uma ação menos ideológica do Itamaraty na política externa. O interesse nacional acima da pregação ideológica.  Isso não significa que a retórica do atual governo vai mudar. Ela deve continuar para alcançar objetivos políticos internos do interesse presidencial, mas é possível especular que foram criadas condições para que o governo possa desenvolver políticas internas e externas mais pragmáticas com visão de médio e longo prazo.
            Os mais de dez militares, nas funções públicas que ocupam atualmente, tem reiterado suas convicções democráticas, apesar de alguns excessos retóricos, e atuam acima de interesses clientelísticos ou partidários, como vimos nesse primeiro ano de governo.        
Resta saber como a alta assessoria militar do presidente vai enfrentar os desafios a que está sendo submetida.
A coordenação com o Congresso no encaminhamento, discussão e votação das reformas tributária e administrativa e as políticas a serem aprovadas em âmbito federal no Conselho da Amazônia serão talvez os desafios mais importantes do grupo militar. A política ambiental e as ações na Amazônia tendo em vista a mudança no cenário internacional e a vinculação de empréstimos e investimentos e de boicote de consumidores a políticas de desenvolvimento sustentável, deverão estar no centro das preocupações do Planalto nos próximos anos. Inclusive pela necessidade de convencimento de alguns governos e parlamentos europeus para a ratificação do acordo do Mercosul com a União Europeia. 
Na área externa, pelos efeitos internos e externos imediatos, podem ser lembradas as tratativas com o novo governo da Argentina, em especial, no comércio exterior e no processo de integração regional; com Israel, no tocante à mudança da embaixada para Jerusalém, de interesse dos evangélicos; as incerteza no tocante ao alinhamento com os EUA à luz das eleições presidenciais norte-americanas e de decisões que poderão ter efeito sobre o relacionamento com a China, como, por exemplo, a estratégica e urgente decisão sobre a licitação do 5G; e, pelas relações entre as Forças Armadas dos dois países, à Venezuela, onde o Brasil poderia ter um papel relevante nas negociações para a democracia, sem abrir mão da posição crítica ao governo de Maduro - como estão fazendo os EUA e o Canadá. 

Rubens Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Governo Bolsonaro aprofunda divisões políticas na sociedade (OESP)

Um presidente que constrói sua política dividindo a sociedade é algo nocivo para o país e em primeiro lugar para o funcionamento do sistema político.
Quem faz isso atua contra seus próprios interesses.

Santos Cruz critica uso de montagem com generais em convocação para ato anti-Congresso

Ex-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República denunciou o uso do Exército em imagem que circula em redes bolsonaristas

O Estado de S. Paulo, 25/02/2020
Carlos Alberto Santos Cruz
General Santos Cruz, demitido da chefia da Secretaria de Governo em 2019. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, criticou, nesta segunda-feira, o uso do Exércitopara uma convocação de atos de rua contra o Congresso. No Twitter, ele classificou como “montagem irresponsável” o compartilhamento de fotos de quatro militares do governo acima da frase: “Fora Maia e Alcolumbre”. A montagem tem circulado em redes sociais de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. 
"Não confundir o Exército com alguns assuntos temporários. O uso de imagens de generais é grotesco. Manifestações dentro da lei são válidas." Minutos antes, o general havia postado um texto diferente, em que não citava a palavra "montagem" e afirmava: "Confundir o Exército com alguns assuntos temporários de governo, partidos políticos e pessoas é usar de má fé, mentir, enganar a população." 
A convocação para o protesto ganhou força semana passada, após o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, dizer, durante uma reunião que teve o áudio vazado, que Bolsonaro não deve ceder a “chantagens” do Congresso. Ele também afirmou que o presidente deveria “convocar o povo às ruas”. Heleno é um dos generais que aparecem na montagem, ao lado do vice-presidente Hamilton Mourão e do deputado federal General Peternelli. 

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

A guerra cultural no Brasil - Daniel Peres (Public Seminar)

The Cultural Counter Revolution in Brazil

Fascism’s advance in education

On February 7, The Guardian published a very important Open Letter, signed by more than 2000 artists, intellectuals, and journalists — among then Caetano Veloso, Noam Chomsky, Nancy Fraser, and Julian Schnabel — to denounce the attacks perpetrated by Bolsonaro’s government against Brazilian democracy and freedom of expression. This open letter was ignited by a Facebook live video by Roberto Alvim — at that moment, federal minister of culture — quoting Goebbels and presenting the government’s plan for a “national and heroic art.”
The government is not only restricting our freedom of expression, though. It is more than that. They are attacking our educational system, and thus attacking our common culture. Brazil is a very diverse country, in terms of culture, and unequal, in terms of wealth and opportunities. It is not at all clear, with such diversity, that one can speak of a common culture. Since the end of our dictatorship, we have been struggling for achieve such commonality, in order to support democracy. But on the other hand, we need democracy to build a common culture, a democracy that respects our diversity at the same time that fights against our inequalities. Now, as the title of Petra Costa’s film states, we are at the edge.
The attacks referenced in the open letter have been very effective. The federal government is pushing to transform common sense, and trying to normalize hideous moral views. Bolsonaro goes on Twitter daily and suggests things like that HIV+ people should stop receiving public health treatment, not only because of its a high cost for taxpayers, but also because of the supposedly immoral behavior attached to HIV. He also recently stated that our indigenous people, especially those still living in the Amazon Forest and National Reserves, are not humans. Paulo Guedes, his minister of finance, now trying to enact an administrative reform, attacks public servants as parasites. Ernesto Araújo, minister of international affairs, keeps defending the idea that the military dictatorship we had from the 1960s until the 1980s never existed, that it is at the most a matter of interpretation.
The actions of Abraham Weintraub, the minister of education, have undoubtedly played a most prominent role. In his policies, he is advancing a counter-revolution in everyday Brazilian life. Since the first day he took office, Weintraub made clear that his objective is to tear apart our public education system, from kindergarten to the University. The government views our school public system as captured by Gramsci and The Frankfurt School, and they see themselves as the crusaders that will free Brazil from the plague of cultural-Marxist infidels, restoring Christianity and true family values in our Schools.
No doubt there is much hypocrisy in all this, but hypocritical or not, the policies — or lack of them — is real. Even though our constitution divided the responsibility for the public education system between municipal (K12), state (High-School), and federal (Universities) governments, that fact is that due to regional disparities, the Federal Government has a prominent role in all the system. The executive branch is particularly vital to all this work. In 2006, working together with congress, our executive created a Public Fund, called FUNDEB, that helps municipalities and states to open, maintain, and improve their schools.
FUNDEB is a fund that must be renewed periodically, and that is when the executive and legislative must come together and compromise concerning our educational system and policies. This fund is set to expire, and the federal government has given no sign that it intends to work with the congress to renew it. So we are now facing the real possibility of a total collapse. The reason for the executive branch not to play ball is only one: to force local governments to adopt the only educational program this fascist government has to offer, the militarization of our schools. The program is called Civic-Military School, and it was created by executive decree on September 2019. To imagine that any country will give its educational system to the military is absurd. To propose to a society that not long ago was facing a brutal military dictatorship do it is even more so.
At the other point in our public educational system, we have our public universities, responsible not only for undergraduate courses but almost for all good graduate ones. More than 90% that our scientific research, in all areas, is done by public Universities. Last year we faced serious budget cuts. This is in itself a huge problem, of course. However, there is more, and it may be useful to make a distinction that is not precisely correct but may help to understand where the danger comes from.
The budget for undergraduate courses comes from one source; that money that pays for everything, from electricity to staff salaries, etc. The budget for graduate courses and all research comes mainly from two other sources, CAPES, that is responsible for M.A. and Ph.D. financing, and CNPq, responsible for financing scientific research. The government doesn’t have much latitude to nominally reduce the budget that keeps — at least for now — the University open and working in its undergrad courses, but it can simply shut down all our public graduate system.
In the presidency of CAPES we now have a true believer in creationism. If this was a private matter, no problem at all. However, it is not, since he is committed to giving creationism the same status as evolutionary theory. The government may want to create a Center for the Research of Intelligent Design, the problem is not that. The problem is that they are trying to blur the difference between what is science and what is not, what is a matter of objective knowledge, and what is only a question of simple — no matter how profound — belief, faith. We do not need to start a discussion about the objectivity of knowledge to see how dangerous this is, in particular for the humanities. Though it should not surprise us given that a high government official said that whether or not a dictatorship occurred is a matter of interpretation. No, it is not! It is a historical fact!
The government launched a further attack against our Universities, however. At the very end of 2019, they presented a law that changes the way the Presidents of the Universities are appointed. If this law passes through congress, the government will have an even stronger hold on our academic life and freedom. They will not only appoint the President of the Universities they chose, but they will outright control all the University, even our University Council.
Brazilian democracy is facing another hard year in 2020, but we will keep fighting and resisting. This moment is a harsh lesson we are passing through, but we will learn. Last week some representative members of Congress, from parties that go from right to left, present an appeal to our Supreme Court to remove Abraham Weintraub from office. Fascism is insidious and grows like cancer. But cancer is not undefeatable, and we can defeat our fascists. Resisting the attacks on education is an important starting point.

Daniel Peres is Professor of Philosophy at Federal University of Bahia (UFBA), Brazil.
Related Names:  Abraham WeintraubJair Bolsonaro