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sábado, 25 de abril de 2020

O futuro do Brasil e os seus generais bem comportados - Paulo Roberto de Almeida, Thais Oyama (UOL)

O futuro do Brasil e os seus generais bem comportados
Paulo Roberto de Almeida

Os generais do salazarismo também ficaram sustentando o regime até quase o final: se beneficiavam das benesses do regime, como os nossos generais. 
Até que vieram os capitães do 25 de Abril de 1974, para acabar com aquela fancaria, que estava condenando vários filhos à morte nas insanas guerras coloniais. Um general, dos mais fascistas – assassino do líder do PAIGC na Guiné Conacri – acabou se desviando ligeiramente do regime, escrevendo um livro meio insosso, chamado "Portugal e o futuro", apenas preocupado com o desgaste da não-descolonização, mas interessado em conservar pratas e baixelas na metrópole. 
Acabou sendo atropelado pelos jovens oficiais, que quase instalaram uma Leningrado sobre o Tejo. Mas, os coronéis logo retomaram o comando, e a coisa toda se encaminhou para uma democracia quase estável, com alguns percalços pelo caminho.
Quando é que os nossos generais vão bater na consciência e concluir que é melhor acabar logo com a loucura do olavo-bolsonarismo antes que os insanos do regime atual consigam destruir metade ou praticamente todo o país? 
Já passou o tempo: estão com medo de serem acusados de golpistas? 
Não precisam dar golpe: basta usar as informações de que dispõem para "renunciar" o capitão.
Vou ser acusado de golpista? 
Pode até ser, mas o destino da nação me interessa mais do que meros conceitos, vazios de significado, ante o desastre a que assistimos...
Paulo Roberto de Almeida​

Os militares vão com Bolsonaro até o fim 
https://noticias.uol.com.br/colunas/thais-oyama/2020/04/25/os-militares-irao-com-bolsonaro-ate-o-fim.htm

Thaís Oyama 
Colunista do UOL,  25/04/2020 

 As incertezas que a vitória do ex-deputado de baixo clero Jair Bolsonaro suscitou nas eleições de 2018 foram amenizadas por uma convicção. O ex-capitão podia não ser o presidente ideal nem mesmo para alguns dos que votaram nele, mas estava apoiado por um tripé que lhe garantia sustentação: o ministro Paulo Guedes na economia, o ministro Sérgio Moro na Justiça e o núcleo militar, como "poder moderador" e executor. 

Treze meses se passaram desde então.
Paulo Guedes nunca esteve tão escanteado. A crise do coronavírus transformou em pó o discurso da responsabilidade fiscal do economista, obrigado a escancarar as comportas do Tesouro que ele vigiava com zelo e obstinação. Junte-se a essa desgraça, a existência de um chefe inconformado com a enorme possibilidade de ter seu capital político erodido pela crise. "Paulo, abra as comportas". Como a ordem de Bolsonaro e a natureza do posto Ipiranga colidissem, a missão foi transferida para o general Braga Netto, de DNA desenvolvimentista e formação que faz de cada missão dada uma missão cumprida. 

Na foto dos ministros que ladeavam Bolsonaro no calamitoso discurso de ontem, o fato de Guedes ser o único ministro de máscara (e sapatos descartáveis de hospital!) parecia querer mostrar que ele já não pertencia mais àquele time.

Moro, o símbolo da luta contra a corrupção e a haste ética do tripé de Bolsonaro, foi-se da pior forma possível. De chancela moral do presidente, passou a seu acusador. O figurino de paladino da Justiça, terror de corruptos e algoz da iniquidade, fez com que cada frase do seu pronunciamento de ontem, emitida na mesma baixa frequência com que costumava interrogar os réus da Lava Jato, entrasse como uma faca no peito de Bolsonaro.

Horas depois da fala de Moro, o presidente sangrava a céu aberto nas redes sociais. Pela primeira vez, perdeu milhares de seguidores nas plataformas da internet. Nos grupos bolsonaristas de Whatsapp, o que se viu foi uma debandada maciça e tristemente silenciosa de apoiadores decepcionados. Com mais ou menos estridência, desembarcaram da canoa do bolsonarismo empresários, comentaristas políticos e tios do zap.
Restaram os militares.
Restaram?

Por enquanto, sim.

Bolsonaro havia se reaproximado do núcleo de generais do Planalto - cujo limite foi expandido com a chegada de Braga Netto, na Casa Civil, e do almirante Rocha, no gabinete presidencial. No Palácio e no comando de programas oficiais, os militares passaram a ser uma onipresença no governo, vozes a legitimar cada escolha do presidente.

A fala de Moro quebrou também essa haste do tripé.

Perplexos e consternados ficaram os militares do Planalto. Ao menos um foi visto tirando um cisco dos olhos molhados durante a fala do ex-ministro da Justiça. Não que os generais desconhecessem as inclinações insubordinadas do ex-capitão. Mas as revelações de suas tentativas de usar a Polícia Federal em benefício próprio -feitas de forma explícita e, acima de tudo, feitas por Sérgio Moro—deixaram os generais no chão.

No Planalto e fora dele, na ativa e na reserva, os militares, em sua esmagadora maioria, veneram o ex-juiz que encarnou a luta anticorrupção, além do antipetismo, sentimento inalienável da categoria.

Os generais do Planalto consideraram "gravíssimas" as acusações de Moro contra o presidente, e "desastroso" o discurso de Bolsonaro feito horas depois da demissão do ex-ministro. Mas consideram que: 

1) Deixar o governo neste momento está fora de cogitação. Significaria abandono de "missão" e a entrega de Bolsonaro aos políticos do Centrão e ao núcleo ideológico, formado por fanáticos olavistas e comandado pelos filhos do presidente.

2) Recomendar a renúncia seria, além de um passo institucional indevido, inútil. Bolsonaro não cogita a possibilidade.

3) O limite para a sustentação do presidente será uma eventual culpabilização de Bolsonaro por crime de responsabilidade ou crime comum. Em quaisquer dos casos, os generais pretendem se manter com o ex-capitão até o fim dos ritos, seja o do impeachment, seja o de um processo iniciado na Procuradoria Geral da República. Como afirma um interlocutor do Palácio do Planalto parodiando a frase dita por um peemedebista no impeachment de Dilma, os militares "segurarão a alça do caixão até a cova". Cumprido o ritual do sepultamento, se houver, terão a consciência do dever cumprido e a satisfação de, agora, sim, estarem em casa. Terão Hamilton Mourão.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Em livro, jornalista diz que Bolsonaro mandou Queiroz faltar a depoimento - Thais Oyama

Em livro, jornalista diz que Bolsonaro mandou Queiroz faltar a depoimento

Seria forma de ‘blindar imagem’
Livro fala sobre ‘crises’ do governo
Será lançado em 20 de janeiro
Planalto diz que não vai comentar
Em 2013, Fabrício José Carlos de Queiroz publicou foto com Jair Bolsonaro em seu perfil do InstagramReprodução/Instagram - 21.jan.2013
Em livro, a jornalista Thaís Oyama diz que foi por ordem do presidente Jair Bolsonaro que Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flavio Bolsonaro (sem partido-RJ) faltou a 1 depoimento ao MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), em 2018.

O livro “Tormenta – O governo Bolsonaro: Crises, Intrigas e Segredo” será lançado em 20 de janeiro, pela Companhia de Letras. As informações foram divulgadas pela coluna de Guilherme Amado, da revista Época, que teve acesso ao conteúdo do livro.

Segundo a obra, os advogados de Queiroz e Bolsonaro haviam acertado que o ex-motorista iria ao interrogatório em dezembro de 2018 e diria aos procuradores que não poderia falar até sua defesa ter acesso ao processo. Faria ainda 1 adendo: que ninguém da família Bolsonaro tinha relação com o caso investigado.
A jornalista afirma que a avaliação do presidente era de que, assim, Queiroz perderia a fama de fujão e blindaria sua imagem e a do filho mais velho do recém-eleito presidente, o senador Flavio Bolsonaro.
No entanto, tudo teria mudado 2 dias antes do depoimento. Bolsonaro resolveu desistir da estratégia e se convenceu, por 1 advogado amigo, que a melhor forma de abafar a história era levar o caso para o STF (Supremo Tribunal Federal).
Em 19 de dezembro de 2018, Flavio Bolsonaro acionou o Supremo para tentar travar as investigações do MP-RJ sobre suposto esquema de ‘rachadinha’ em seu antigo gabinete na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Foi atendido por decisão que suspendeu todos os inquéritos que têm como base dados sigilosos do Coaf (Conselho de Controle Atividades Financeiras) e da Receita Federal sem autorização judicial. O pedido foi aceito pelo presidente do STF, Dias Toffoli, em 16 de julho de 2019.
Procurado, o Planalto disse ao Poder360 que “não comentará” o assunto.

O CASO

Fabrício José Carlos de Queiroz, ex-assessor e ex-motorista do senador, foi citado em relatório produzido pelo Coaf por movimentações financeiras atípicas em uma conta no banco Itaú.
O policial militar teria movimentado R$ 1,2 milhão de janeiro de 2016 a janeiro de 2017. Em uma das transações, 1 cheque de R$ 24.000 foi destinado à hoje primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
O documento é fruto do desdobramento da operação Furna da Onça, ligada à Lava Jato no Rio. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo, que revelou o caso no dia 6 de dezembro.
O próprio Flavio é citado por movimentações financeiras atípicas. Entre elas estão 48 depósitos em espécie de R$ 2.000 –o dinheiro, no total de R$ 96.000, entrou na conta de Flavio no período de 9 de junho de 2017 a 13 de julho de 2017.

IMPEDIMENTO DE DEMISSÃO DE MORO

No livro, a jornalista Thaís Oyama também afirma que Bolsonaro decidiu demitir Sergio Moro em agosto do ano passado ao saber que o ex-juiz criticou a decisão de Dias Toffoli sobre o Coaf.
A autora relata que, em uma reunião ríspida com Moro no Alvorada, o presidente disse ao ministro da Justiça que nunca tinha pedido nada a ele, e tampouco havia recebido oferta de ajuda do ex-juiz de Curitiba.
No fim de agosto, Bolsonaro teria decidido demitir Moro. Mas desistiu depois de ouvir o general Augusto Heleno, ministro do GSI. “Se demitir o Moro, o seu governo acaba”, teria dito Heleno, segundo narra Onyama.

Jornalista revela segredos do primeiro ano do governo - Thais Oyama

Bolsonaro consentiu com estratégia que adiou depoimento de Queiroz e cogitou demitir Moro, diz livro

Em 'Tormenta', jornalista Thaís Oyama relata bastidores do 1º ano do governo Bolsonaro; presidente diz que obra é "fake news"

O Estado de S. Paulo, 15/01/2020

A ausência do ex-policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), em depoimentos convocados pelo Ministério Público (MP-RJ) teria contado com o consentimento do presidente Jair Bolsonaro, segundo um livro-reportagem que será lançado na próxima semana. Na obra, a jornalista Thaís Oyama afirma que Bolsonaro e o advogado Frederick Wasseff atuaram para postergar o depoimento de Queiroz e levar o caso ao Supremo Tribunal Federal (STF), contrariando orientação dos advogados.  
O relato está em Tormenta - O governo Bolsonaro: crises, intrigas e segredos, com lançamento marcado para a próxima segunda-feira, 20, pela Companhia das Letras. Thaís Oyama é atualmente comentarista da rádio Jovem Pan e foi redatora-chefe da revista Veja. Na manhã desta terça-feira, 7, Bolsonaro se negou a comentar a publicação. “O livro é fake news, um livro mentiroso, não vou responder sobre o livro.” 
Sem ser questionado, porém, o próprio presidente havia inserido o tema do livro entre os assuntos da entrevista que concede diariamente na saída do Palácio da Alvorada, em Brasília. Ele entrou no assunto ao se desviar de uma pergunta que tratava sobre uma proposta do governo que pode baratear a conta de luz paga por igrejas. 
“Não tenho opinião para te dar”, disse, sobre o subsídio, e emendou: “Tem uma colega de vocês que fez um livro que leu meu pensamento. Acho que não tenho que conversar com vocês, é só escrever o que você acham”, afirmou. 
De acordo com a autora, a estratégia inicial da defesa de Fabrício Queiroz seria o comparecimento na data em que o depoimento foi marcado. Ainda segundo o livro, Queiroz diria que não poderia prestar esclarecimentos até que seus advogados tivessem acesso à investigação, e assumiria total responsabilidade pelas transferências financeiras – um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) havia identificado transações incompatíveis com sua renda, e depósitos feitos por outros funcionários do gabinete de Flávio na Alerj, conforme revelou o Estado
O plano da defesa, no entanto, teria sido abortado por ordem de Bolsonaro, após ele ser convencido de que deveria levar o caso ao STF. “O presidente eleito fora convencido por um advogado amigo que a melhor estratégia para abafar a história era tirar Queiroz e o Ministério Público Estadual do cenário e, por meio do foro privilegiado de Flávio, jogar o caso para o STF – onde poderiam resolvê-lo ‘de outra maneira’”, escreve Thaís. Ela atribui a estratégia a Frederick Wassef, atual advogado de Flávio e do presidente. Procurado, ele não retornou as ligações. 
Um detalhe que teria surpreendido a cúpula ao redor do então presidente eleito, segundo a autora, foi um depósito de Fabrício Queiroz à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, identificado pelo Coaf. A informação sobre a transferência consta em reportagem publicada pelo Estado em dezembro de 2018. O presidente já havia sido informado sobre a existência do relatório, de acordo com o livro, mas não sobre o repasse.   

Sérgio Moro 

Com base em um pedido da defesa de Flávio, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, decidiu suspender ano passado todas as investigações que utilizavam relatórios do Coaf – decisão depois revertida no fim de 2019. O livro afirma que uma articulação pela derrubada da liminar quase custou o cargo do ministro da Justiça, Sérgio Moro. Segundo a autora, Moro procurou Toffoli para argumentar contra a suspensão, que prejudicava centenas de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. Bolsonaro teria ficado furioso, diz a autora, e dissuadido da demissão pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno.
“O general Heleno, que já tinha gastado seu arsenal de argumentos em defesa do ministro, ao notar a determinação do presidente, descarregou a última bala: ‘Se demitir o Moro, o seu governo acaba’, disse”, escreve Thaís Oyama em Tormenta. Procurado, o Palácio do Planalto disse que não comentaria as afirmações no livro oficialmente. A defesa de Fabrício Queiroz não foi localizada.  

Livro sobre o primeiro ano do governo Bolsonaro - Thais Oyama

Paranoia de Bolsonaro emerge em livro que esmiúça crises do 1º ano de governo

Obra da jornalista Thaís Oyama expõe um político dado a decisões repentinas e com 'raciocínio binário' sobre aliados e inimigos

No livro “Tormenta”, a jornalista Thaís Oyama mostra como Jair Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto e, principalmente, como ele conduziu o governo federal ao longo deste primeiro ano de mandato.
Peça a peça, a autora reúne as principais decisões da administração, as relações com o Congresso, as participações em fóruns internacionais e as crises mais agudas. Ao lembrar esses episódios, Oyama esmiúça os jogos de poder nos bastidores, invariavelmente repletos de intrigas.
Nota-se pelo relato da jornalista, ex-redatora-chefe da revista Veja, que essas peças bolsonaristas formam uma torre instável. E, por ausência ou deficiência de comando, essa torre parece estar sempre prestes a ruir.
O Bolsonaro retratado por Oyama ao longo de 272 páginas é um homem público extremamente desconfiado. Cultiva muitas suspeitas, inclusive, em relação àqueles que o cercam.
Durante a campanha, depois de ser transferido para São Paulo após levar a facada em Juiz de Fora (MG), enfatizou que não queria ser internado no hospital Sírio-Libanês, “um hospital de petistas”, segundo ele. Foi conduzido para o Albert Einstein.
Também em meio à corrida eleitoral, desistiu de convidar Janaina Paschoal —hoje deputada estadual pelo PSL em São Paulo— para compor sua chapa como vice. “Essa mulher vai pedir meu impeachment”, disse à época, de acordo com Oyama.    
Não se tranquilizou, porém, depois de escolher Hamilton Mourão como vice. Ao longo do primeiro ano de governo, sua relação com o general foi marcada pela tensão. O presidente desconfia que o vice cobiça o cargo máximo da República e, por isso, conspira contra ele.
“Num fim de semana de outubro, enquanto tomava água de coco na beira da piscina do Alvorada com um amigo, o presidente disse que, apesar do receio que tinha de ser alvo de drones, gostava de conversar ao ar livre porque dificilmente seria grampeado”, escreve Oyama. “Seu temor, confidenciou, era ser espionado por Mourão."
As paranoias de Bolsonaro alcançam o Congresso. Segundo a jornalista, o presidente determinou que assessores do amigo e deputado federal Hélio Lopes (PSL-RJ), conhecido como Hélio Negão, se dediquem a “caçar esquerdistas” no segundo escalão dos ministérios, o que implica vasculhar redes sociais atrás de menções a Lula, por exemplo.   
“Jair Bolsonaro tem raciocínio binário, dizem conhecidos de longa data”, registra a autora. “Quem não é seu amigo é seu inimigo. E enquanto os amigos de verdade são poucos, os inimigos estão em toda a parte.”
O livro expõe ainda um político dado a decisões repentinas e com enorme dificuldade de dedicar atenção ao interlocutor quando o tema, ainda que seja importante, não lhe interessa.
Além desse retrato pouco lisonjeiro do presidente, “Tormenta” apresenta revelações, como o fato de Bolsonaro ter cogitado demitir o ministro da Justiça, Sergio Moro, em agosto.
Conforme noticiado na época, Moro enfrentou um processo de fritura de Bolsonaro em meio à crise com a Polícia Federal e à interferência do presidente no órgão. Na ocasião Bolsonaro afirmou: "Se eu não posso trocar o superintendente, eu vou trocar o diretor-geral". E completou: "Se eu trocar hoje, qual o problema? Está na lei que eu que indico e não o Sergio Moro. E ponto-final".
“A despeito dos conselhos de auxiliares, Bolsonaro decidiu que iria mesmo demitir Moro. ‘Vou pagar pra ver’, disse. O general Heleno, que já tinha gastado seu arsenal de argumentos em defesa do ministro, ao notar a determinação do presidente, descarregou a última bala: ‘Se demitir o Moro, o governo acaba’, disse”, escreve Oyama.
O ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), aliás, é presença constante no livro. O fato de Bolsonaro e o general Augusto Heleno serem próximos desde os anos 1970 não implica uma paciência ilimitada do alto oficial com o amigo presidente.
Na reta final da campanha, Heleno estava com Bolsonaro em um encontro com empresários em São Paulo. Num intervalo dessa reunião, Heleno se afastou de todos e, sem saber que estava sendo gravado, disse ao celular: “O cara não sabe nada, pô! É um despreparado”.
Também aparecem em “Tormenta” várias menções ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, que se aproximou de Bolsonaro ao longo deste primeiro ano.
De acordo com a jornalista, durante encontros reservados ocorridos em setembro de 2019, o ministro do STF disse que um movimento golpista havia sido articulado por Mourão e outros generais meses antes.
Nessas ocasiões, Toffoli também falou que agiu para abortar a “quartelada” e avisou Bolsonaro, “que tomou suas medidas”.
A autora tentou ouvir Toffoli sobre esse episódio, mas ele não se manifestou.
Outra revelação do livro envolve o presidente e Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) no período em ele era deputado estadual. Queiroz é pivô de uma investigação contra o filho do presidente sobre um esquema conhecido como "rachadinha", que consiste em coagir servidores a devolver parte do salário para os parlamentares. 
Segundo Oyama, o mandatário pediu a Queiroz que faltasse a um depoimento ao Ministério Público do Rio de Janeiro.
De acordo com o livro, "dois dias antes da data estabelecida para o depoimento, Bolsonaro mandou abortar a operação —Queiroz não deveria mais comparecer ao interrogatório. O presidente eleito fora convencido por um advogado amigo que a melhor estratégia para abafar a história era tirar Queiroz e o Ministério Público Estadual do cenário e, por meio do foro privilegiado de Flávio, jogar o caso para o STF —onde poderiam resolvê-lo 'de outra maneira'. O nome do advogado amigo era Frederick Wassef".
Nas páginas finais de “Tormenta”, a jornalista descreve uma reunião de Bolsonaro com deputados aliados no Planalto. Discutiram um acordo do presidente com os partidos do chamado centrão para tirar o Coaf, órgão de inteligência financeira, das mãos de Moro.
Os parlamentares reclamaram com veemência do acerto, em nada condizente com o que anunciavam como “nova política”, e Carla Zambelli (PSL-SP) saiu da sala aos prantos. O presidente não se comoveu.
“Bolsonaro não cedeu à velha política de uma vez: curvou-se a ela aos pouquinhos”, escreve Oyama.       
Nas redes sociais, Bolsonaro criticou o livro, que chega às livrarias no dia 20. "Essa imprensa é uma vergonha. Lê meus pensamentos e ministros se convencem a não demitirem a si próprios", disse nesta terça-feira (14).