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terça-feira, 31 de outubro de 2023

Venezuela: governo chavista tenta barrar vitória da oposição nas próximas eleições: fraude ao acordo feito com Brasil e EUA (Estdão)

 Na Venezuela, Tribunal Supremo suspende resultado das primárias da oposição* 


 Processo eleitoral da oposição venezuelana é freado pelo Tribunal Supremo de Justiça após uma sequência de ataques de Nicolás Maduro Em uma movimentação atípica que afunda na incerteza a viabilidade do processo eleitoral na Venezuela, o Tribunal Supremo de Justiça venezuelano ordenou nesta segunda-feira, 30, a suspensão de “todos os efeitos” do resultado das eleições primárias da oposição, que foram realizadas no último 22 de outubro e conduzidas de forma autônoma pela Comissão Nacional de Primária (CNdP). 

 A eleição, que mobilizou quase 2.5 milhões de venezuelanos e que teve como vencedora a candidata de centro-direita María Corina Machado — com mais de 92% dos votos —, foi questionada pela ditadura de Nicolás Maduro, que através de um recurso apresentado por aliados no aparato judicial, busca frear o processo criticando supostas “irregularidades”, segundo declararam membros do CNdP ao Estadão. “Todos os efeitos das diferentes fases do processo eleitoral conduzido pela Comissão Nacional de Primária estão suspensos”, afirma a decisão emitida nesta segunda-feira pela Câmara Eleitoral do Supremo Tribunal de Justiça (TSJ) da Venezuela. A decisão ordena que a Comissão Nacional de Primária (CNdP) apresente ao judiciário, no prazo de três dias, os “registros administrativos” das fases do processo, incluindo todas as atas do processo — documentos que contém dados sobre a constituição das seções eleitorais, os livros de cédulas, as atas de escrutínio, e até as próprias identidades dos eleitores. “Não podemos fazer isso, não podemos entregar as atas, porque isso seria colocar em risco a identidade dos eleitores. 

Seria violentado o voto secreto”, disse ao Estadão Andrea Tavares, Secretária-Geral do partido La Causa R, que participou do processo eleitoral. Segundo Andrea Tavares, o TSJ também exige que sejam entregues as atas de aceitação da nomeação de María Corina Machado, Freddy Superlano e Henrique Capriles — três candidatos que foram “inabilitados” pelo regime e que, em teoria, não poderiam ser eleitos. Contudo, a oposição considera estas inabilitações “inconstitucionais” e alega que elas têm sido utilizadas pela ditadura como ferramenta para barrar das eleições os principais líderes dissidentes que aspiram a cargos públicos. 

 Na última semana, o deputado da Assembleia Nacional, José Brito, considerado um aliado do regime de Maduro, entrou com um recurso no TSJ para revisar supostas “irregularidades” nas primárias da oposição. Em 2019, Brito havia sido expulso do partido Primero Justicia sob acusações de utilizar uma comissão da Assembleia para impedir a continuidade de investigações contra empresários ligados a Maduro que foram acusados de corrupção, incluindo o colombiano Alex Saab, que foi processado nos Estados Unidos por conspiração para lavagem de dinheiro. 

 “As primárias tiveram um sucesso esmagador que o regime não estava esperando, pois estava sendo subestimada a participação das pessoas no processo. Ao ver este sucesso, agora o regime tenta atacar e desacreditar a eleição, começando uma perseguição contra os cidadãos que tiveram a responsabilidade de organizar o processo eleitoral”, afirmou Tavares. Para a oposição venezuelana, estes ataques marcaram a ruptura do acordo assinado em 17 de outubro junto com a classe governista em Barbados, onde ambos os lados se comprometeram a promover a coexistência política em troca do levantamento gradual das sanções dos EUA. 

O acordo, que contou com a presença de uma delegação brasileira representada por Celso Amorim e que foi saudado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também permitiria eleições livres e democráticas no país, mas era visto com receio por parte da oposição, cujo maior medo — a assinatura de um contrato de fachada que não seria respeitado por Maduro — foi confirmado nesta segunda-feira. “Os partidos reconhecem e respeitam o direito de cada ator político de selecionar seu candidato para as eleições presidenciais livremente e de acordo com seus mecanismos internos, em conformidade com as disposições da constituição e da lei”, diz o primeiro ponto do acordo de Barbados. Nos últimos dias, o regime de Nicolás Maduro acusou a oposição de “inflar” os resultados das primárias, das quais participaram pelo menos 2.440.415 pessoas, de acordo com o CNdP. 

O governo critica os números e afirma que não participaram mais 700 mil pessoas no processo. O procurador-geral do regime, Tarek William Saab, anunciou que seria realizada uma investigação de crimes cometidos pela Comissão, como usurpação de funções eleitorais, usurpação de identidade, lavagem de dinheiro e associação criminosa. De acordo com Saab, as primárias foram “uma fraude total”. Na última semana, membros do CNdP, incluindo seu presidente, Jesús María Casal, bem como membros das diretorias regionais, receberam uma notificação da promotoria que convocava todos os organizadores das primárias para depor nesta segunda-feira. As eleições primárias foram organizadas então de forma independente. 

O chavismo critica a irregularidade das primárias com o argumento de que o Comité Nacional Eleitoral (CNE) não participou do processo. Contudo, de acordo com o presidente do CNdP, quatro meses antes havia sido solicitada a assistência técnica e apoio institucional do CNE, então presidido por Pedro Calzadilla, para organizar a votação. Esta solicitação foi ignorada durante meses, até que o CNE decidiu abandonar suas funções sem responder à solicitação. Em junho passado, uma semana depois do envio da solicitação da oposição, todos os membros do alto escalão do CNE renunciaram a menos de um ano de terem ocupado seus cargos. O motivo das renúncias continua sendo desconhecido.  

sábado, 23 de janeiro de 2016

Venezuela: os impasses politicos e economicos se aprofundam; o que faz o Brasil? - Janaina Figueiredo (O Globo)

Não se sabe o que pretende fazer o governo ou a diplomacia brasileira, em face dos problemas crescentes na Venezuela, com um impasse total entre a Assembleia eleita democraticamente e os dois outros poderes, dominados pelo chavismo e até agora apoiados pelos militares.
Argentina deveria assumir o protagonismo diplomático para tentar resolver os impasses.
Depois do golpe contra o governo Chávez, em 2002, o Brasil dos companheiros, ainda que explicitamente favorável ao governo chavista, liderou um esforço de pacificação, chamado "Amigos da Venezuela" (que era majoritariamente de amigos do Chávez).
E agora, o que se faz?
Aparentemente nada...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília 23 de janeiro de 2016

Rejeição a decreto aprofunda embate entre chavismo e Legislativo
POR JANAÍNA FIGUEIREDO, CORRESPONDENTE
O Globo, 23/01/2016 7:00 / atualizado 23/01/2016 7:00

Maduro fica sem opção na Assembleia para aprovar emergência econômica

BUENOS AIRES - Depois de uma semana de forte tensão e troca de acusações entre Executivo e Legislativo, a bancada majoritária da oposição na Assembleia Nacional (AN) da Venezuela rejeitou ontem, por 107 votos contra 53, o decreto de emergência econômica enviado há uma semana pelo presidente Nicolás Maduro. No debate prévio à votação, congressistas do governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) acusaram a Mesa de Unidade Democrática (MUD) de “estar virando as costas para o país”. Deputados opositores reiteraram que o polêmico decreto daria “amplos poderes ao presidente para, até mesmo, expropriar empresas” e denunciaram o que consideram uma “armadilha” do governo Maduro “para tentar transferir a responsabilidade da crise”.
Já durante a semana, quando as mais altas autoridades da AN anteciparam a rejeição do decreto, o chefe de Estado assegurou lamentar muito “este giro negativo, muito negativo, que tem mais a ver com outros planos e não com os que possam permitir sair desta situação”. O governo chegou a consultar antecipadamente o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), que decidiu pela constitucionalidade do decreto. A maioria opositora na AN, entretanto, avisou que a prerrogativa de aprovar ou rejeitar a medida é do Legislativo, abrindo caminho a um novo embate também com o Judiciário, controlado pelos chavistas.

— Criar um novo confronto seria um erro por parte do governo, a última coisa de que precisamos neste momento é de confronto. Nós estamos dispostos a dialogar e fizemos uma série de propostas ao Executivo — disse ao GLOBO o deputado da MUD Elias Mata, que integrou a comissão parlamentar de avaliação do decreto.
O presidente da comissão, deputado José Guerra, defendeu ontem a necessidade de “ter uma nova política fiscal e, principalmente, de fazer um esforço conjunto para ter um novo modelo de país, um modelo de progresso”.
— Este governo nos colocou num atoleiro e hoje está desnorteado, não sabe o que fazer com o país — afirmou Guerra. — Seria irresponsável aceitar um decreto desta magnitude às cegas, amputaríamos as competências da AN. Quem passou por uma faculdade de Economia não pode redigir um documento como esse.

Em seu relatório entregue ao Legislativo, a comissão comandada pelo deputado deixou claro que o decreto não podia obter sinal verde por várias razões: implicaria a anulação das funções do Parlamento; não protege o gasto social; omite causas centrais da crise econômica, como o modelo cambial; deixa espaço para gastos descontrolados do governo; e não garante a estabilidade da moeda.
— A rejeição do decreto não deveria gerar um conflito, já que a Assembleia está usando suas competências constitucionais e foi dada ao governo a possibilidade de explicar o decreto, algo que o Executivo não fez — disse o deputado da MUD Enrique Márquez.

Com um resultado que era esperado, a minoria parlamentar do PSUV, autoproclamada “bancada patriótica”, aproveitou o debate para insistir num ponto central do discurso chavista: acusar a oposição de não querer colaborar com o governo para superar a crise.
— Ninguém duvida de que estamos atravessando uma emergência econômica, e vocês, como oposição, devem decidir que atitude tomam. Estão contrariando as ações de um governo que pretendem derrubar num prazo de seis meses, como disse próprio o presidente da AN, Henry Ramos Allup — criticou o deputado Héctor Rodríguez, líder do bloco.
Em meio a aplausos de seus colegas de bancada, Rodríguez disse que a oposição venezuelana “deve optar entre estar a favor ou contra o povo venezuelano”. Para os congressistas do PSUV, ontem a MUD “virou as costas para o país”.
As acusações foram rebatidas por vários deputados da oposição, entre eles Omar Barboza, que insistiu na “armadilha de Maduro para tentar se livrar da culpa de uma crise que foi provocada por seu governo”.
— Por que o governo não decretou a emergência econômica antes, quando tinha maioria parlamentar? Por que não discutiu o decreto com a nova AN, sabendo que já não tinha maioria? Vejo muito cálculo político em tudo isso — alfinetou Barboza.
A oposição deixou claro que não vai abrir mão de suas faculdades constitucionais e pediu ao Palácio de Miraflores a negociação de um “pacto para respeitar as atribuições constitucionais de cada um dos Poderes que existe no país”.

A Venezuela viverá um conflito permanente de Poderes que poderia incluir, até mesmo, uma tentativa da Assembleia Nacional (AN) de destituir ministros do governo do presidente Nicolás Maduro. Essa é a avaliação de Luis Vicente León, diretor da empresa de consultoria Datanálisis, que ainda vê o chefe de Estado “com poder político suficiente para permanecer no Palácio de Miraflores”.

A oposição acusou o governo de enviar o decreto de emergência sabendo que seria rechaçado para, assim, poder culpar a Mesa de Unidade Democrática (MUD) pela crise...
Isso está bastante claro. A aprovação do decreto era praticamente impossível. Teria permitido o uso de créditos e recursos do Estado sem controle; a intervenção de empresas privadas sem passar pela Justiça; e até mesmo a implementação de confiscos.
O que vai acontecer agora?
Acho que o governo adotará as mesmas medidas que pretendia aplicar com o decreto, mas sem ele.
Mas isso seria legal?
O governo pode usar o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) para obter a aprovação. Legal não é, porque o decreto foi rechaçado pela AN. Mas na Venezuela de hoje assim é como se governa. Maduro dirá que a oposição é culpada pelo agravamento da crise e isso vai ajudá-lo a unificar o chavismo e confundir setores independentes.
Haverá um choque de Poderes permanente?
Sim. O governo vai continuar usando o TSJ para boicotar a AN.
E a oposição avançará com seu plano de buscar uma maneira de tirar Maduro do poder?
A oposição já disse que vai buscar os mecanismos para tirar Maduro nos próximos seis meses. Mas não está claro se conseguirá isso. O presidente ainda tem poder político para permanecer. Ele controla o TSJ, tem dinheiro, o apoio dos militares, de meios de comunicação...
Qual poderia ser o próximo conflito de Poderes?
A AN poderia pedir o impeachment dos ministros da equipe econômica. Com a maioria qualificada, a MUD pode fazer isso. E o governo pode apelar ao TSJ para impedir uma ação desse tipo. As tensões serão cada vez maiores.