O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador maldição do petróleo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador maldição do petróleo. Mostrar todas as postagens

sábado, 25 de agosto de 2012

Oposição promete eliminar venda facilitada de petróleo venezuelano

Uma notícia antiga, que me tinha passado despercebida. Nenhum país deveria viver à margem dos preços de mercado, pois isso tem um alto custo para os cidadãos, ao deformar completamente o funcionamento da economia nacional.
A Venezuela não perde só dinheiro com a venda subsidiada de petróleo. Também tem o contrabando de gasolina a preços absolutamente irrealistas, o que é um crime contra a população venezuelana, nos dois sentidos, para dentro e para fora do país, pois estão desperdiçando o seu bem mais precioso, aliás o mesmo que é responsável pela "maldição" do petróleo, a deformação completa da economia nacional e o estimulador do rentismo petroleiro absolutamente nefasto.
Um dia isso tem de acabar, e vai ser doloroso, em qualquer hipótese.
Paulo Roberto de Almeida

Oposição promete eliminar venda facilitada de petróleo venezuelano



Reuters, 1/08/2012
O candidato único da oposição venezuelana, Henrique Capriles, disse nesta quarta-feira que se vencer as eleições presidenciais suprimirá os mecanismos de financiamento pelos quais a Venezuela fornece petróleo a dezenas de países, programa pelo qual o presidente Hugo Chávez ajuda aliados políticos.
A Venezuela deixa de receber anualmente dezenas de milhões de dólares com a venda do petróleo financiado ou o intercâmbio com países da América do Sul, América Central e Caribe, o que tem forte impacto nas finanças da estatal PDVSA.
A petrolífera venezuelana também paga com petróleo multimilionários créditos obtidos da China e fornece petróleo a aliados políticos de Chávez, como o Irã, Belarus e Síria.
"Para ter um amigo não precisa comprá-lo... A partir de 10 de janeiro de 2013 não sairá um só barril de petróleo presenteado a outros países. Enquanto houver uma cidade que precise dele, não sairá um só barril financiado", disse Capriles, durante a apresentação de seu plano petrolífero na cidade de Porto Cruz, leste do país, perto de refinarias.
Chávez está à frente nas pesquisas com ampla vantagem. Cartazes da campanha chavista adornavam muitas das ruas do município onde Capriles discursou.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Venezuela: uma economia em frangalhos (Valor)


Chávez não investe na PDVSA e torna-se mais dependente do petróleo
 Benedict Mander - Financial Times, de Caracas
Valor Econômico, 18/07/2012

Há poucas coisas que o prolixo presidente da Venezuela Hugo Chávez fala mais do que como sua "revolução bolivariana" reconquistou a independência do país ante ao "império ianque". "Precisamos reconhecer que somos os novos libertadores e construtores da nova pátria", disse o ex-comandante de tanque a soldados em uma parada militar neste mês.
Mas o país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) continua mais do que nunca dependente de algo menos fácil de ser demonizado pelo exaltado líder socialista - o petróleo. Faltando menos de 100 dias para a eleição presidencial de 7 de outubro, o problema da crescente dependência do petróleo e o histórico de má administração econômica do governo passaram a ser o centro das atenções. "Não há dúvidas. A Venezuela não só está mais dependente do petróleo, como também está mais dependente dos preços do petróleo, uma vez que a produção não aumentou", afirma Jorge Piñon, pesquisador visitante da Universidade do Texas.
A alta dos preços do petróleo desde que Chávez assumiu, em 1999, tem sido uma bênção. Permitiu-lhe aumentar a popularidade com gastos excessivos em programas sociais, para os quais a estatal de petróleo PDVSA canalizou US$ 53 bilhões entre 2006 e 2010.
O problema é que a PDVSA menosprezou os investimentos em seus principais negócios, levando a uma queda da produção - ela aplicou apenas US$ 1 bilhão em atividades de exploração no mesmo período. A Venezuela produziu 2,72 milhões de barris de petróleo por dia em 2011, segundo análise estatística anual da BP, contra 3,48 milhões de barris/dia em 1998. Isso tornou a economia mais dependente da permanência dos preços em alta. "Os preços do petróleo são o calcanhar de Aquiles da economia venezuelana", disse Piñon.
Os preços do petróleo venezuelano atingiram o patamar de baixa de US$ 86,17 o barril no mês passado, após o pico de US$ 116,85 em março. Apesar da fantasiosa previsão feita recentemente por Chávez, de que os preços vão se estabilizar em torno de US$ 100, temores de que novas quedas despertam preocupações com a economia de US$ 340 bilhões da Venezuela, cujo petróleo responde por 95% das receitas de exportações.
A consultoria Capital Economics de Londres calcula que, se os preços do petróleo do tipo Brent caírem a US$ 85 o barril, como esperado, a queda nas receitas da Venezuela com o petróleo será equivalente a 2,5% do PIB.
Isso não deverá afetar a farra nos gastos que Chávez vem empreendendo antes das eleições. Analistas estão cada vez mais preocupados com sua atitude de varrer o problema para debaixo do tapete. "A Venezuela vai precisar de um ajuste significativo no ano que vem, que vai envolver em primeiro lugar a desvalorização da moeda", diz Boris Segura, analista da Nomura Securities. Os gastos também terão que ser significativamente cortados, com menos dólares designados para as importações, o que possivelmente vai agravar a falta de bens básicos, acrescenta.
Paradoxalmente, uma importação que poderá ser pressionada é a de derivados de petróleo. A falta de investimentos pela PDVSA levou a uma queda na atividade de refino e a Venezuela está importando 40.000 barris por dia de produtos petrolíferos dos Estados Unidos, incluindo gasolina, contra 32.000 barris/dia em 2011, segundo dados do governo americano.
Como a gasolina é vendida no varejo a 9 centavos de dólar o galão na Venezuela, ou US$ 5 o barril, mas custa cerca de US$ 200 pelos preços internacionais. A Venezuela está perdendo US$ 2,5 bilhões por ano com esta política, afirma Juan Cristóbal Nagel, um economista venezuelano. Ainda assim, se o governo quiser impedir um agravamento da falta do produto, ele sempre pode recorrer a tomar dinheiro emprestado de países como a China, em troca do fornecimento futuro de petróleo, além de emitir mais dívida.
José Guerra, um consultor econômico da oposição, alerta que o governo está mal preparado para uma queda nos preços do petróleo, e a economia estaria mais bem administrada pela oposição, que entende melhor os mercados.
"Este governo conhece apenas uma maneira de resolver o problema: imprimir dinheiro e se endividar", disse ele. "A Venezuela está extremamente vulnerável."
Guerra calcula que para cada dólar que o preço do petróleo cai, o governo deixa de ganhar US$ 800 milhões em receitas por ano.
Essas preocupações pode pesar sobre as chances de Chávez nas eleições. Uma pesquisa feita pela Consultores 21 entre 15 e 26 de junho mostra que ele tinha um apoio de 45,9% do eleitorado, contra 45,8% para Capriles, embora outras deem ao presidente uma vantagem de dois dígitos.
Chávez não é o primeiro presidente a não conseguir reduzir a pesada dependência que a Venezuela tem do "excremento do diabo", conforme disse em declaração que ficou famosa Juan Pablo Pérez Alfonso, um ex-ministro do Petróleo da Venezuela e membro fundador da OPEP. Ele usou a frase ao prever que o petróleo seria a ruína de sua nação.

domingo, 30 de maio de 2010

A maldicao dos recursos naturais: desperdicio, corrupcao

Um boletim recente da OMC, trazendo uma análise empírica do uso de recursos adicionais advindos de um recurso natural, confirma uma velha alegacão da economia prática: a de que abundância de renda, derivada de um produto natural disponível e valorizado nos mercados internacionais, pode ser, em lugar de um elemento positivo de desenvolvimento, uma verdadeira maldição, induzindo comportamentos rentistas, aumentando a corrupção, destruindo a (pouca) ineficiência de sistemas pouco institucionalizados, enfim, prejudicando, em lugar de ajudar, o desenvolvimento de um país.
Esses argumentos podem ser facilmente comprovados em certos países, extraordinariamente ricos em petróleo, por exemplo, e no entanto inacreditavelmente corruptos, desiguais, quase dominados por grupos políticos próximos do gangsterismo organizado. Que o digam nigerianos, venezuelanos, angolanos, entre muitos outros exemplos. Nem sempre é assim: dependendo da educação do país, pode ser extremamente positivo, como demonstrado pelo caso do petróleo na Noruega.
Mas nem todo país pode ser uma Noruega, certamente não o Brasil, como poderá provar, para nossa maior infelicidade, os recursos do pré-sal, que o governo pretende justamente utilizar como moeda política. Espero estar errado, mas as chances de dar errado são muitas.


RECHERCHE ET ANALYSE
The political resource curse
Boletim OMC, May 28, 2010

Is the discovery of natural resources necessarily a good thing? Examining data from Brazil, this column finds that a 10% windfall in government revenues leads to a 12 percentage point increase in corruption and a 3 percentage point reduction in the probability that politicians have a degree. The chance that an incumbent is reelected raises by over 4 percentage points. 

Suppose new oil is discovered in a country, or more funds are transferred to a locality from a higher level of government. Are these windfalls of resources unambiguously beneficial to society?
This is a key question in the study of a variety of issues in macroeconomics and development economics, such as intergovernmental relations, transfers to lagging regions like the EU’s Structural Funds, and international aid to developing countries.
Until a few years ago, the only reason for a negative answer to this question would have been provided by the “Dutch disease literature.” A natural resource windfall can lead to a decline in income via a market mechanism, notably an appreciation of the real exchange rate that renders existing industries uncompetitive. In the last few years, a growing literature and much anecdotal evidence has argued that a windfall of natural resources can have further adverse effects through the political process and the interaction among interest groups, leading for instance to increased rent-seeking (see Tornell and Lane, 1999, Velasco 1999) or even to civil war (see Ross 2006, Besley and Persson 2008, Caselli and Coleman 2008).
In a recent Vox column, Caselli and Michaels (2010) argue that oil discoveries in Brazilian municipalities have a positive impact on public good spending, but little or no effect on the quality of public good provision. They also provide indirect evidence that this might be due to rent-seeking and corruption. Litschig (2008), instead, shows the positive side of windfall government revenues. Exploiting the sharp variation of federal transfers to municipalities at the population thresholds established by the Brazilian constitution, he finds that an increase in funds increases spending on public education and improves literacy rates.
I. The resource-political institutions link
In a recent CEPR working paper (Brollo et al. 2010), we focus on the existence of a “political resource curse,” that is, the possibility that windfall government revenues worsen the functioning of institutions by reducing the degree of political accountability and deteriorating the quality of elected officials. We tackle this political resource curse with both theory and data.
The theory studies the electoral competition between an incumbent and a set of challengers, all with different political abilities and different opportunity costs of entering politics. The incumbent faces a trade-off between using public resources for personal gains (corruption) and maximising the probability of reelection. Our model highlights three specific channels of operation of windfall government revenues through such a political process. First, an increase in resources available to a government leads to an increase in corruption of the incumbent (a moral hazard effect).
This happens because, with a larger budget size, the incumbent has more room to grab political rents without disappointing rational but imperfectly informed voters. Second, a larger budget induces a decline in the average ability of the pool of individuals entering politics (a selection effect). This is a byproduct of the first result (that rents increase with budget size) and of the assumption that political rents tend to be more valuable for low-ability candidates (who have fewer outside alternatives). Third, there is an interaction between these two effects that further increases the adverse consequences of a windfall of revenues on political corruption: an incumbent facing less able opponents can marginally grab more rents without hurting his or her reelection prospects.
We thus take these predictions to the data using a random sample of Brazilian municipalities. The obvious problem in testing the effects of government revenues is, as always, how to identify exogenous changes, that is, changes that are not completely driven by unobservable factors determining both the level of public resources and the outcome of interest. Indeed, one can think of a number of reasons why local government revenues might be correlated with both corruption and the quality of politicians. For instance, corrupt politicians might have a comparative advantage in obtaining higher transfers from other levels of government; or poorer areas might select low-quality politicians and, at the same time, receive higher transfers for redistribution purposes.
To address this empirical problem, we combine three different datasets. The first contains information on a programme of federal transfers to municipal governments, determined in a discontinuous fashion by population size; the second consists of data on a programme of random audits on local governments, with detailed reports on corruption charges; the third provides biographical and electoral information on the incumbent mayors and their opponents in municipal elections. We exploit a key feature of the federal transfers programme that all municipalities in the same state and in a given population bracket should receive the same amount of transfers. As a result, the comparison of municipalities just below and just above each population threshold provides a clean source of exogenous variation in the amount of money received by Brazilian municipalities. This “regression discontinuity” setup allows us to study the impact of a change in revenues on both the corruption of the incumbent mayor (as measured by the random audit programme in the spirit of previous work by Ferraz and Finan 2008) and the composition of the pool of opponents (as captured by their years of schooling and private sector occupation).
The empirical findings accord well with the implications of the theory. An (exogenous) increase in federal transfers to the municipality by 10%:
• Raises the incidence of a broad measure of corruption by 12 percentage points (about 17% with respect to the average incidence);
• Increases a more restrictive measure of corruption, including only severe violation episodes, by 10.1 percentage points (about 24%);
• Worsens the quality of the political candidates challenging the incumbent, decreasing the fraction of opponents with at least a college degree by 3 percentage points (about 7%).
As a result, the incumbent who receives higher transfers experiences a raise in his probability of reelection by 4.1 percentage points (about 7%). We therefore detect evidence of a political resource curse in terms of increased corruption and worsened quality of politicians.
II. Conclusions
These findings have important policy implications. Lagging regions or countries often receive additional funds from higher levels of government or from international organisations, to make up for their underdevelopment. But since a common cause of economic backwardness is precisely the poor functioning of government institutions, the risk that these additional resources could be counterproductive cannot be neglected. Our results, however, are not inconsistent with higher transfers to municipalities increasing the quantity and quality of public services provided to the local population. For example, as discussed above, Litschig (2008) finds that an exogenous increase in funds to Brazilian local governments raises educational outcomes. Nevertheless, our evidence suggests that these specific benefits are accompanied by a general deterioration in the functioning of local government institutions.

Fernanda Brollo (Assistant Professor, University of Alicante), Tommaso Nannicini (Assistant Professor of Economics) Roberto Perotti (Professor of Economics) Guido Tabellini (Professor of Economics), Bocconi University