Chávez não investe na PDVSA e torna-se mais dependente do petróleo
Benedict Mander - Financial Times, de Caracas
Valor Econômico, 18/07/2012
Há poucas coisas que o prolixo presidente da Venezuela Hugo Chávez fala mais do que como sua "revolução bolivariana" reconquistou a independência do país ante ao "império ianque". "Precisamos reconhecer que somos os novos libertadores e construtores da nova pátria", disse o ex-comandante de tanque a soldados em uma parada militar neste mês.
Mas o país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) continua mais do que nunca dependente de algo menos fácil de ser demonizado pelo exaltado líder socialista - o petróleo. Faltando menos de 100 dias para a eleição presidencial de 7 de outubro, o problema da crescente dependência do petróleo e o histórico de má administração econômica do governo passaram a ser o centro das atenções. "Não há dúvidas. A Venezuela não só está mais dependente do petróleo, como também está mais dependente dos preços do petróleo, uma vez que a produção não aumentou", afirma Jorge Piñon, pesquisador visitante da Universidade do Texas.
A alta dos preços do petróleo desde que Chávez assumiu, em 1999, tem sido uma bênção. Permitiu-lhe aumentar a popularidade com gastos excessivos em programas sociais, para os quais a estatal de petróleo PDVSA canalizou US$ 53 bilhões entre 2006 e 2010.
O problema é que a PDVSA menosprezou os investimentos em seus principais negócios, levando a uma queda da produção - ela aplicou apenas US$ 1 bilhão em atividades de exploração no mesmo período. A Venezuela produziu 2,72 milhões de barris de petróleo por dia em 2011, segundo análise estatística anual da BP, contra 3,48 milhões de barris/dia em 1998. Isso tornou a economia mais dependente da permanência dos preços em alta. "Os preços do petróleo são o calcanhar de Aquiles da economia venezuelana", disse Piñon.
Os preços do petróleo venezuelano atingiram o patamar de baixa de US$ 86,17 o barril no mês passado, após o pico de US$ 116,85 em março. Apesar da fantasiosa previsão feita recentemente por Chávez, de que os preços vão se estabilizar em torno de US$ 100, temores de que novas quedas despertam preocupações com a economia de US$ 340 bilhões da Venezuela, cujo petróleo responde por 95% das receitas de exportações.
A consultoria Capital Economics de Londres calcula que, se os preços do petróleo do tipo Brent caírem a US$ 85 o barril, como esperado, a queda nas receitas da Venezuela com o petróleo será equivalente a 2,5% do PIB.
Isso não deverá afetar a farra nos gastos que Chávez vem empreendendo antes das eleições. Analistas estão cada vez mais preocupados com sua atitude de varrer o problema para debaixo do tapete. "A Venezuela vai precisar de um ajuste significativo no ano que vem, que vai envolver em primeiro lugar a desvalorização da moeda", diz Boris Segura, analista da Nomura Securities. Os gastos também terão que ser significativamente cortados, com menos dólares designados para as importações, o que possivelmente vai agravar a falta de bens básicos, acrescenta.
Paradoxalmente, uma importação que poderá ser pressionada é a de derivados de petróleo. A falta de investimentos pela PDVSA levou a uma queda na atividade de refino e a Venezuela está importando 40.000 barris por dia de produtos petrolíferos dos Estados Unidos, incluindo gasolina, contra 32.000 barris/dia em 2011, segundo dados do governo americano.
Como a gasolina é vendida no varejo a 9 centavos de dólar o galão na Venezuela, ou US$ 5 o barril, mas custa cerca de US$ 200 pelos preços internacionais. A Venezuela está perdendo US$ 2,5 bilhões por ano com esta política, afirma Juan Cristóbal Nagel, um economista venezuelano. Ainda assim, se o governo quiser impedir um agravamento da falta do produto, ele sempre pode recorrer a tomar dinheiro emprestado de países como a China, em troca do fornecimento futuro de petróleo, além de emitir mais dívida.
José Guerra, um consultor econômico da oposição, alerta que o governo está mal preparado para uma queda nos preços do petróleo, e a economia estaria mais bem administrada pela oposição, que entende melhor os mercados.
"Este governo conhece apenas uma maneira de resolver o problema: imprimir dinheiro e se endividar", disse ele. "A Venezuela está extremamente vulnerável."
Guerra calcula que para cada dólar que o preço do petróleo cai, o governo deixa de ganhar US$ 800 milhões em receitas por ano.
Essas preocupações pode pesar sobre as chances de Chávez nas eleições. Uma pesquisa feita pela Consultores 21 entre 15 e 26 de junho mostra que ele tinha um apoio de 45,9% do eleitorado, contra 45,8% para Capriles, embora outras deem ao presidente uma vantagem de dois dígitos.
Chávez não é o primeiro presidente a não conseguir reduzir a pesada dependência que a Venezuela tem do "excremento do diabo", conforme disse em declaração que ficou famosa Juan Pablo Pérez Alfonso, um ex-ministro do Petróleo da Venezuela e membro fundador da OPEP. Ele usou a frase ao prever que o petróleo seria a ruína de sua nação.
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