O governo, já disse alguém, é um Midas ao contrário.
Calma lá, antes que alguém interprete mal o que eu disse, esclareço.
O crescimento no Brasil deveria se fazer à base de investimentos produtivos.
O governo prefere estimular o crédito para o consumo.
Os investimentos, por sua vez, deveriam se fazer com base na poupança privada e num bom ambiente de negócios, com regras estáveis, para estimular os tais "espíritos animais" que parecem caracterizar os empresários (não os de quatro patas, claro).
O governo prefere anunciar que vai investir, recolhe dinheiro da sociedade -- pois ele, não é preciso lembrar, não produz um centímetro quadrado de riqueza, um só grama de renda nova -- e depois não investe nada, pois é incompetente para fazê-lo.
A poupança privada deveria ser canalizada para investimentos produtivos, justamente, mas o governo prefere transformar em salários do funcionalismo (que já ganha cinco vezes mais do que no setor privado, para uma produtividade medíocre), e novas contratações de companheiros na máquina pública, além do repasto dos políticos.
Como querem que o Brasil cresça?
E os Brics? Fizeram chabu?
Paulo Roberto de Almeida
Mobilidade emperrada
Editorial O Estado de S.Paulo, 20 de julho
de 2012
O Brasil seria um animado canteiro de
obras, se o governo da presidente Dilma Rousseff mostrasse tanta competência
para executar programas e planos quanto para lançá-los. Dado esse retrospecto,
pouco se pode esperar da nova promessa de obras de mobilidade para cidades com
populações entre 250 mil e 700 mil pessoas. Estão previstos R$ 7 bilhões para
aplicação nesses projetos, mas nada assegura a efetiva aplicação desses
recursos. A presidente, no entanto, prometeu resultados com a maior rapidez
possível, ao apresentar, ontem, o PAC Mobilidade Médias Cidades, a mais nova
extensão do Programa de Aceleração do Crescimento. A execução desse programa,
criado em 2007, tem sido muito lenta e continua tão ineficiente na atual gestão
quanto foi no governo anterior.
Ao apresentar o novo ramo do PAC, a presidente
mencionou a possibilidade de usar o Regime Diferenciado de Contratações (RDC)
para ganhar tempo na implementação dos projetos. O RDC foi criado como exceção
à Lei de Licitações para facilitar a execução das obras da Copa. Foi um lance
arriscado, porque aumentou o risco de mau uso de recursos públicos. O risco já
era crescente, mesmo sem essa mudança, por causa do grande atraso na execução
das obras.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esforçou-se
para trazer para o Brasil a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Cuidou de sua projeção internacional, mas negligenciou as providências para
dotar o País de aeroportos, estradas, estruturas de transporte urbano e outras
instalações necessárias a grandes eventos internacionais.
Atribuir o atraso das obras aos critérios da Lei de
Licitações é distorcer a história, mascarando o desleixo e a incompetência
administrativa do governo Lula. Mas essa distorção ocorreu e assim surgiu o
RDC. O passo seguinte foi o esforço para estender as facilidades de contratação
às obras do PAC, como se isso tornasse mais eficiente a elaboração e a execução
dos projetos. Essa tentativa é mais uma mistificação, porque os atrasos do PAC
se devem a outro fator - a má qualidade da gestão pública.
Antes do programa especial para cidades médias, o
governo federal já dispunha de planos de obras de mobilidade urbana. Foram
previstos para essas obras R$ 2,1 bilhões no Orçamento-Geral da União deste
ano. De janeiro a junho, no entanto, só foram desembolsados pelo Ministério das
Cidades R$ 64,8 milhões, correspondentes a 3% da verba autorizada para 2012. O
total empenhado - R$ 324,9 milhões - equivaleu a apenas 15,5% dos recursos
previstos. Os números, divulgados pela ONG Contas Abertas, apenas confirmaram a
deficiente execução dos programas. Resposta do Ministério das Cidades: das 43
ações pesquisadas, somente 8 estavam vinculadas ao PAC e, além disso, as
aplicações de recursos foram dificultadas pelo contingenciamento de verbas.
Péssima resposta. Afinal, as obras de mobilidade urbana são ou não
prioritárias? Se a resposta for afirmativa, por que o governo se mostra incapaz
de preservá-las, quando congela parte das verbas orçamentárias?
Mas todo o PAC vai mal, como sempre foi, desde seu
lançamento há cinco anos. Neste ano, até junho, foram pagos R$ 18,6 bilhões, ou
42,9%, da verba orçamentária prevista para os 12 meses (R$ 43,4 bilhões). Mas a
maior parte dos desembolsos, no valor de R$ 14,6 bilhões, correspondeu a restos
a pagar. Além disso, 52,6% do total pago foi composto de financiamentos a
programas habitacionais. É muito menos complicado liberar esse dinheiro que
cuidar da elaboração de projetos e da condução de obras.
Enfim, o próprio governo parece muito desconfiado da
própria capacidade de avançar na execução dos projetos. Afinal, o valor
previsto para o PAC de 2013, na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do
próximo ano, é pouco maior que o autorizado para este exercício fiscal. Mudar o
regime de contratações poderá simplificar uma parte do processo, mas será
preciso muito mais que isso para desemperrar o PAC. Para cuidar do problema
realmente importante - a incompetência do governo - a presidente pouco tem
feito. Para isso, seria preciso abandonar a concepção de governo implantada por
seu antecessor, padrinho e mentor político.
2 comentários:
E isso, porque a atual presidente foi a principal executiva do governo anterior desde 2003, quando assumiu o ministério de Minas e Energia.
Ou seja, todos os projetos do governo anterior de alguma maneira passaram pelo seu crivo técnico e/ou político.
O interessante é que isso é tão pouco divulgado que parece não ter nem existido.
Tal como as obras do PAC ou o Brasil liderando o Brics e dando as cartas geo-políticas no G-20.
Enfim, um modelo que não deu certo.
Perfeito o texto.
Gestão pública tem que ser levada a sério, mas não é interessante para aqueles que usam e abusam da falta dela, né?
Uma pena.
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