"...a criação de um fundo de 'várias centenas de milhões de dólares' para ajudar empresários locais a exportar aos sócios do bloco."
Ou seja, como seus empresários, por razões de ambiente deletério de negócios, não conseguem ser competitivos, Chávez, na sua inefável candura e generosidade, se propõe ajudá-los para que eles se tornem competitivos à golpes de petrodólares chavistas.
O grande economista, por acaso presidente dessa vaca petrolífera que atende pelo nome de Venezuela (com perdão da expressão, mas o "vaca" deve ser tomado no sentido metafórico, claro; mas se trata exatamente disso: a Venezuela, ou melhor Chávez, pois nada naquele país acontece sem que Chávez ordene, ordenha a sua vaca petrolífera, literalmente assim, embora o úbere esteja secando por falta de cuidados), mas como eu dizia, esse grande economista, inventor do "socialismo do século XXI", do qual só ele detém o copyright, decidiu que os empresários do seu país (sim, dele, e os empresários são os que sobraram, claro), por generosidade dele, e só dele, poderão dispor de um fundo de "centenas de milhões de dólares" para exportar ao Mercosul.
Não precisa de orçamento, aprovação do Congresso, nada: Chávez decide, Chávez faz, Chávez a tudo vela, tudo ouve, tudo sabe...
Nosso "economista do século XIX" certamente não ouviu falar que tal tipo de medida é estritamente proibida desde 1947 pelo Gatt (não sei se ele ouviu falar), e portanto não pode existir nem no Mercosul, nem em qualquer outro lugar. Enfim, ele pode consultar o texto do Gatt, livremente disponível, ou algum de seus conselheiros lembrá-lo disso, ou será que lá ninguém sabe dessas coisas?
Acho que os líderes do Mercosul terão de lembrá-lo desse pequeno detalhe, a não ser que pretendam, em detrimento de seus próprios empresários, admitirem comércio desleal no bloco, além de serem coniventes com uma transgressão às regras do livre comércio, algo próximo de ser cúmplices de um crime, se me permitem a expressão. Será que eles vão fazer isso, ou só estavam esperando que alguém os lembrasse disso, assim como já se anunciou que Chávez (sim, Chávez) não havia ratificado nenhum dos instrumentos mais relevantes do Mercosul, aliás sequer o seu próprio protocolo de acesso.
Alguém precisa lembrar essas coisas elementares (de nada).
Paulo Roberto de Almeida
PS.: Se o ingresso no Mercosul é uma "benção", o que seria uma desgraça, para ele e para nós?
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