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sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Lula-Putin, vidas paralelas? A miséria moral do socialismo — Paulo Roberto de Almeida

Lula-Putin, vidas paralelas, e a miséria moral do socialismo

  

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre certas incongruências do lulopetismo.

  

Lula teve de parar com sua ofensiva sobre temas que não consegue mais impor ao Congresso e se rendeu ao Centrão. Putin não consegue mais derrotar o país invadido e só avança para a retaguarda. Ambos perderam credibilidade no plano internacional. Quais convite para visitas ou perspectivas de viagens eles mantêm na agenda?

A Putin só restou o tirano mais desprezado e isolado do mundo como opção; nem a China pretende mais atar sua diplomacia a serviço de uma causa já notoriamente perdida. Lula teve de aceitar uma ampliação chinesa do Brics, outrora o seu maior projeto diplomático. O que sobrou a Putin no plano diplomático regional ou global? Pouquíssimas opções. O que resta a Lula como novas iniciativas internacionais? Apoiar o candidato peronista na Argentina? Ser líder de um fragmentado Sul Global? Apoiar Putin e Xi no quimérico projeto de uma “nova ordem global”?

Manterem-se no poder, com os meios que tiverem à disposição, parece ser o caminho mais previsível para cada um. Mas Lula vai continuar insistindo em apoiar seu amigo Putin, um ditador notoriamente de direita, inimigo de certas causas defendidas pelos companheiros?

Dito de outra forma: Lula vai insistir em continuar objetivamente apoiando Putin, independentemente do que isso significa para as relações do Brasil com parceiros ocidentais? A verdade é que, matematicamente, paralelas não se encontram nem no infinito!

Antes de ser uma questão geopolítica, diplomática ou econômica, a guerra de agressão da Rússia à Ucrânia é sobretudo uma questão MORAL, pela dimensão dos desastres humanos e sociais inéditos na Europa nos últimos 80 anos, talvez no mundo. O Brasil de Lula, infelizmente para todos nós e para a diplomacia brasileira, ficou do lado i-amoral! 

A longa marcha da Rússia para o declínio, parcialmente contida pela China, que também perpetra um erro estratégico ao lançar-se na aventura da “nova ordem global”. 

Lula, que não tem visão de estadista e tem raiva dos EUA, juntou-se, infelizmente para o Brasil, às duas autocracias. Antes de se dirigir a Nova York, passou por Havana, para uma reunião do G77 e encontros bilaterais com dirigentes comunistas de Cuba.

Cabe aqui minha avaliação dos regimes socialistas que conheci, que visitei, onde morei. As grandes lembranças que tenho de todos os países socialistas que visitei (conheci quase todos, e morei em um) são de estantes vazias de supermercados, uma total carência de itens básicos (supérfluos nem se cogita).

Na verdade, o que mais me impressionou, em todos os socialismos que visitei, conheci e até vivi, não foi nem a miséria material, comum a todos, mas a MISÉRIA MORAL, do Estado policial, do regime de delação, da decrepitude ética e da mediocridade intelectual. Um clima pesadíssimo!

A Rússia ainda vive num semi-stalinismo: pode não ter mais o Arquipélago do Gulag, mas sob Putin tem assassinatos, prisões arbitrárias, repressão total aos opositores, de fato a TODOS os democratas. O atual tirano pretenderia ser um Pedro o Grande e de fato é um Ivan o Terrível, eliminando todos os que possam lhe fazer sombra.

A China libertou-se da miséria típica dos socialismos graças à adoção do sistema capitalista, ainda que com muita intervenção estatal (ou melhor, do partido, que manda em tudo). Não é mais o totalitarismo arbitrário que já foi, mas virou uma autocracia pesada, com um novo imperador à frente do Partido e do Estado.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4479, 14 setembro 2023, 2 p.