Quatro meses atrás, e mais de um ano de política externa desastrosa, eu fazia um alerta a meus amigos e colegas diplomatas. Desde então a situação só se deteriorou, e a nossa imagem externa só se agravou.
Lamento pelo Brasil, pelo Itamaraty, pelos diplomatas profissionais, nesta ordem...
Paulo Roberto de Almeida
Meu alerta aos colegas: Uma reflexão e um alerta, em meio a um labirinto de incertezas
Paulo Roberto de Almeida
Junho de 2020
Creio ser de meu dever, sobretudo de ordem moral, como diplomata, alertar meus colegas — ou pelo menos todos aqueles que ainda não sucumbiram ao Zeitgeist e às misérias do momento — para o trabalho em curso de destruição dos fundamentos conceituais e operacionais de nossa instituição, o Itamaraty, assim como de desmantelamento das bases intelectuais e espirituais de nossa política externa, cujos padrões de trabalho — o multilateralismo e todos os princípios constitucionais que a sustentam — e os grandes valores e orientações de atuação, que sempre estiveram presentes em suas manifestações concretas, estão sendo sistematicamente solapados desde o início do presente governo.
Não preciso lembrar que uma corporação de Estado, orgulhosa de suas realizações do passado, consciente de suas altas aspirações do presente, e desejosa de bem cumprir com suas obrigações perante as gerações do futuro, não deveria permanecer passiva em face dos ataques de insanidade política e de total incorreção diplomática que vêm sendo constantemente exibidos pela tropa de ineptos que desgoverna o país.
Nunca tive vocação para Cassandra, mesmo em momentos difíceis de ostracismo e isolamento, como também é o caso atualmente. Sempre registrei meu pensamento, minhas reflexões de momento e meus trabalhos mais analíticos em textos de variada dimensão e escopo, e os deixei à disposição dos interessados, como uma espécie de convite a um debate de qualidade sobre os rumos de nossa política externa e de nossa diplomacia, em meus canais de comunicação, em especial no meu quilombo de resistência intelectual que é o blog Diplomatizzando.
Não me recordo de jamais ter sentido a necessidade de formular um alerta dotado de tal gravidade, dirigido expressamente a meus colegas de carreira. Não creio que a História possa ser leniente com qualquer passividade e inação de nossa parte ante o trabalho de destruição que agora contemplamos.
Vale!
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 6/06/2020