Chefe de gabinete de Ernesto Araújo cobra presença física no Itamaraty e diz: “pandemia não é desculpa”
Bela Megale
O Globo | 17/12/2020, 14h20
Uma mensagem enviada na terça (15) a secretários do Itamaraty, pelo embaixador Pedro Wollny, chefe de gabinete do ministro Ernesto Araújo, causou grande desconforto entre alguns diplomatas.
No texto enviado por Whatsapp, Wollny cobra a presença física de funcionários. “É absolutamente VITAL que, ao menos em unidades chaves, como as secretarias, haja ao menos um diplomata operacional em horário comercial”. Na mensagem, afirma que a “pandemia não é desculpa” e que seu gabinete, “que trabalha com 100% do seu contingente presencial, é prova disso”.
O embaixador encerra o pedido afirmando que “seria muito boa” a aplicação dessa orientação em outras áreas, como departamentos e divisões.
O aviso foi lido como uma “ordem“ aos funcionários do Itamaraty. Diplomatas ouvidos pela coluna demonstraram preocupação com a retomada do trabalho presencial, mesmo em esquema de revezamento. A determinação acontece em uma fase de aumento de casos de Covid-19 no Brasil. A orientação causou mais preocupação entre aqueles que atuam em áreas com um número menor de pessoas alocadas. A orientação de Wollny, conforme relatos de integrantes da pasta, exigiria uma presença quase que diária de alguns funcionários.
Outro ponto que chamou atenção internamente é que o pedido não foi formalizado em uma portaria do ministério, como seria praxe, mas feito por uma mensagem informal. O movimento foi visto como uma tentativa de Wollny de se blindar de um desgaste político que a formalização da ordem traria.
Além disso, diplomatas entendem que a demanda do embaixador contradiz a portaria número 166 do Ministério das Relações Exteriores, de abril deste ano. O documento diz que os servidores devem comparecer às dependências da pasta “apenas quando necessário o trabalho presencial” e que a atuação in loco deve acontecer em “atividades que não possam ser desempenhadas remotamente”. Diplomatas relataram à coluna que, nos últimos sete meses, seguem trabalhando normalmente de suas casas.
Procurado, Wollny confirmou o envio da mensagem e reiterou que “a pandemia não é desculpa para todo mundo ficar trancado em casa”. O embaixador disse que “nem todos trabalhos podem ser feitos remotamente” e que é preciso ter ao menos uma pessoa operacional, em esquema de revezamento, em cada Secretaria.
O embaixador disse que se guia pelo “espírito público” e que “o horror das pessoas a trabalhar é tamanho, que fazem essa marola toda” com seu pedido.
– Acho que minha atitude é mais do que louvável. Como funcionários públicos, temos que dar o exemplo de procurar manter as atividades. Não acho que a pandemia é desculpa para todo mundo ficar trancado em casa. Se seguir o protocolo, ter cuidados, não há motivo para a pessoa não vir trabalhar. – disse.
O embaixador disse que todas as normas determinadas pelo Ministério da Economia estão sendo seguidas e que funcionários que integram grupos de risco da Covid-19 estão proibidos da trabalhar presencialmente. Afirmou também que os parâmetros de distanciamento entre as pessoas em ambientes de trabalho estabelecidos pela pasta da Economia estão sendo cumpridos e “o que não é permitido, em hipótese nenhuma, não é feito”.
Wollny disse que sua mensagem foi “um apelo aos colegas” e que essa “é uma norma não escrita” que será interpretada de acordo com circunstâncias de cada ambiente.
– É uma questão de bom senso. Uma das grandes críticas que fazem ao funcionário público é que ele não é dedicado. Qual o problema dele trabalhar todos os dias? Sou cercado de cuidados e, desde o primeiro dia, vim trabalhar por vontade própria. Passo álcool nas mãos, tenho uma sala só para mim, abro portas e janelas. Ninguém que trabalha comigo teve Covid. Não estou diminuindo o risco, o que eu fiz foi um apelo informal. – disse.