Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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quarta-feira, 12 de março de 2014
Brasil: um pais improdutivo? Assim parece... - Editorial Estadao
domingo, 22 de setembro de 2013
Por Que Nao Me Ufano da Setima Economia Mundial: o Brasil
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/as-fraquezas-da-7-economia-mundial-10085118#ixzz2fcisttn9
segunda-feira, 9 de setembro de 2013
Brasil: sempre o problema da produtividade - Editorial Estadao
Podem achar que sou pessimista, mas quando olho -- e constato - os problemas da educação brasileira, e verifico os dados da produtividade, minhas conclusões só podem ser extremamente negativas para o nosso futuro. Espero estar errado, mas um pessimista pode perder por grau, não por natureza...
Paulo Roberto de Almeida
O desafio da produtividade
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quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Brasil: decrescimo anual da produtividade na era do "nunca antes" - Ipea
Ipea: Produtividade da indústria diminuiu 0,8% ao ano de 2000 a 2009
domingo, 4 de agosto de 2013
O Brasil e sua globalização involuntária - Gustavo Franco
O Brasil e sua globalização involuntária
Autor: Gustavo H. B. Franco
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013
Politica industrial companheira: da frigideira para o fogo, ou do brejo para o pantano... - IEDI
Cada vez que o governo anuncia, doravante, uma nova política industrial, imagino que os industriais já começam a tremer: "Ah, não por favor, desta vez não; por que o governo não faz uma política para os serviços, para a infraestrutura, reduz os impostos e deixa a gente em paz?"
Será que eles, todos eles, companheiros e industriais, não percebem que o principal inimigo da indústria é o próprio governo? Com seus impostos extorsivos? Sua infraestrutura pavorosa? Sua regulação bizantina e kafkiana? Sua completa indefinição de objetivos, de propósitos, de metas?
Os companheiros são stalinistas industriais, e agem como tal.
Que tal passar a um modesto keynesianismo, para começar?
Enfim, eu seria pela ausência completa de política industrial, mas com redução radical dos impostos, da regulação intrusiva, oferta de serviços gerais, infraestrutura de boa qualidade, energia barata, mão-de-obra capaz, bem formada, suficiente?
Por que o governo não faz o que apenas ele pode fazer?
Por que não deixa o resto para a sociedade mesma, para os agentes econômicos?
Por que o BNDES está sempre apoiando ricaços e monopolistas?
Paulo Roberto de Almeida
Produtividade da Indústria em 2012
Carta do IEDI 560, 22/02/2013
Mesmo com medidas de política econômica voltadas para incentivar o setor ao longo do ano, além da queda na taxa básica de juros, a oferta abundante de crédito e o estímulo à desvalorização da moeda no segundo semestre, a produção e a produtividade industrial não demonstraram recuperação. Na comparação contra igual mês do ano anterior apenas em outubro de 2012 a produção e a produtividade superaram os níveis obtidos em 2011. A performance de 2012 assume uma perspectiva mais negativa se considerarmos ainda que em 2011 os resultados da produção e da produtividade ficaram estagnados em relação a 2010. Assim, desde o impacto da crise financeira internacional em fins de 2008 e em 2009, a indústria não encontrou uma rota de crescimento minimamente sustentável, comprometendo sua competitividade, tendo em vista o caráter pró-cíclico da produtividade.
O emprego industrial recuou em 1,4% no ano passado, sinalizando um movimento defensivo das empresas industriais frente um cenário de baixas expectativas de crescimento. O emprego em 2011 havia crescido 1,0%, com a produção praticamente estagnada. O recuo no emprego reforça o quadro recessivo da indústria, pois há relativa escassez de mão de obra com qualificação profissional, como registrado pelas baixas taxas de desemprego nas principais regiões metropolitanas. Este recuo não impediu que o custo do trabalho se elevasse em 6,6% em 2012, a maior taxa dos onze anos da série e mais do dobro da verificada em 2011 (3,2%). Todos os setores tiveram aumento de custo do trabalho, com exceção do de Madeira.
Avaliando o comportamento da indústria desde a crise financeira internacional, um possível diagnóstico para os problemas de falta de crescimento e queda na produtividade em 2012 pode ser a persistência de um desalinhamento do câmbio, que gera desequilíbrios tanto pelo lado da demanda, ao transferir para o exterior parte da demanda doméstica, como pelo lado da oferta, ao enfraquecer os elos de encadeamento na manufatura, reduzindo sua contribuição ao valor adicionado total. Enquanto do ponto de vista da firma individual a substituição de insumos domésticos por importados, a custos mais favoráveis, é um comportamento racional, o resultado agregado é o enfraquecimento dos elos de cadeias produtivas dentro da indústria de transformação, que são fonte de ganho de escala dinâmicos. Assim, o avanço da desindustrialização com especialização da indústria em setores de baixa agregação de valor contribuiu para o baixo desempenho da produtividade.
Em termos setoriais em 2012, 10 setores, de um total de 18, apresentaram aumento na produtividade, mas destes apenas um – Produtos Químicos - com expansão na produção física, horas pagas e emprego. Há uma concentração de setores produtores de bens intermediários no grupo com produtividade positiva em 2012, com exceção da Indústrias Extrativas. Dois setores produtores de bens finais – Calçados e Couro e Textil – também apresentaram produtividade positiva, mas com quedas muito expressivas na produção e nas horas pagas. O comportamento dominante na indústria foi o de contração na produção física: dos 18 setores só 4 expandiram o produto industrial. Os custos do trabalho foram positivos em todos os setores, com exceção de Madeira.
Do ponto de vista regional a maioria dos locais também registrou diminuição da produtividade. As maiores contrações foram as verificadas na indústria do Paraná (-5,7%), seguida por Rio de Janeiro (-4,4%) e Espírito Santo (-3,6%). As indústrias do Rio Grande do Sul (-1,5%), Santa Catarina (-1,2%) e São Paulo (-0,9%) registraram diminuições menores, um pouco acima da média nacional. As melhores marcas ficaram com os parques manufatureiros da Bahia (8,7%) e Pernambuco (4,8%). Ceará (0,6%) e Minas Gerais (0,6%) apontaram aumento de produtividade de pouca expressão. Os parques industriais do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul registraram pela primeira vez diminuição na produtividade. O resultado de Paraná (-5,7%) foi o pior de sua série histórica e do da Bahia (8,7%) o melhor já alcançado.
Nos locais com retração na produtividade predominou um padrão recessivo de queda na produção física acompanhada de uma diminuição, de magnitude menor, das horas pagas. A exceção foi a indústria do Paraná que registrou variação negativa na produção e ao mesmo tempo aumento das horas pagas. Nos locais com incremento da produtividade não houve um padrão definido: expressivo aumento da produção física e queda das horas pagas (Bahia); pequeno aumento da produção física e grande queda das horas pagas (Pernambuco); aumento das horas pagas de magnitude menor do que o incremento na produção física (Minas Gerais) e diminuição das horas pagas maior que da produção física (Ceará). Portanto só na indústria mineira houve desempenho típico de momentos de expansão da produção com aumento pró-cíclico da produtividade.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Crescimento da produtividade: desafio brasileiro - Mansueto Almeida
Paulo Roberto de Almeida
Desafio do aumento da produtividade
Desafio do aumento da produtividade
Por Mansueto Almeida
Valor Econômico, 06 de fevereiro de 2013
Há hoje no Brasil uma preocupação com o aumento da produtividade. Uma economia cresce pela incorporação de mão de obra no processo produtivo, pelo aumento do investimento em capital físico (máquinas e equipamentos) e pelo uso mais eficiente que se faz desses fatores, o que os economistas chamam de “produtividade total dos fatores (PTF)” – produzir mais produtos com a mesma quantidade de mão de obra e capital empregados.
Não há na teoria econômica uma lei rígida que diga que o crescimento da produtividade antecede ou decorre da acumulação de capital e trabalho. É possível que surtos de crescimento comecem pelo maior uso de fatores de produção ociosos, que levaria a um crescimento da produtividade, como é possível o contrário, reformas econômicas tornariam a economia mais eficiente (aumento de produtividade), o que estimularia o aumento do investimento.
É consenso entre economistas que o crescimento sustentável de uma economia está ligado ao crescimento da produtividade total dos fatores. Mas exatamente o que um país pode fazer para que a produtividade cresça mais depressa não é consensual.
Para alguns economistas, a forma de aumentar a taxa de crescimento da produtividade é deslocando fatores de produção de atividades “tradicionais” para as que, pela sua própria natureza, exigem o emprego de mão de obra mais qualificada e investimento maior em pesquisa e desenvolvimento (P&D), o que levaria a mais inovação. Em uma linguagem mais simples, seria melhor investir na indústria farmacêutica e em indústrias intensivas em tecnologias do que no setor de vestuário e calçados.
O problema com esse tipo de argumento é que, se todos os países do mundo quisessem incentivar apenas um conjunto de empresas em atividades intensivas em tecnologia, quase todos produzirão medicamentos e eletrônicos e uns poucos produzirão alimentos. No final, pode até ser mais vantajoso para alguns países produzirem soja e cobrar um fortuna do resto do mundo.
Adicionalmente, o mundo do século XXI é diferente da dicotomia clássica da primeira metade do século XX, quando atividades agrícolas e extrativas eram necessariamente sinônimos de baixa produtividade. Esse não é mais o caso. Alguns produtos agrícolas são mais intensivos no uso de tecnologia do que a montagem de alguns produtos eletrônicos.
No mundo atual é cada vez mais difícil apostar em setores. A tecnologia está embutida tanto em remédios e carros, quanto em roupas, sapatos e alimentos. Assim, a preocupação não deveria ser com o que um país produz, mas como se produz.
Outro grupo de economistas argumenta que é muito difícil planejar a composição setorial de um país. Assim, o que possibilitaria um crescimento mais rápido da produtividade seria maior abertura da economia, que levaria a uma melhor alocação dos fatores de produção; a melhoria do ambiente de negócios, que permitiria que as firmas de baixa produtividade fossem expulsas do mercado pelas de maior produtividade; maior investimento em educação e reformas que tornassem mais flexíveis o funcionamento do mercado de trabalho; recuperação de dívidas, etc.
É verdade que o termo “reformas econômicas” é genérico demais para se transformar em uma agenda clara de política econômica. Por exemplo, as reformas econômicas feitas na China desde 1978 foram todas parciais, um conjunto de “remendos mal acabados” em um país com o mínimo de segurança jurídica, mas que funcionaram. Nem por isso, deve-se desprezar ou subestimar a importância das reformas macro e microeconômicas.
Primeiro, melhorar os investimentos em educação e ter um esforço contínuo de melhoria da qualidade, mesmo que depois o trabalhador queira plantar maçã e não produzir circuitos integrados, ajuda o crescimento da produtividade da economia. Adicionalmente, uma mão de obra mais escolarizada torna mais fácil a transferência de tecnologia de outros países e inovação no “chão da fábrica”.
Segundo, facilitar a abertura e fechamento de empresas e diminuir a burocracia não será a solução para o nosso problema de competitividade, mas contribui com esse objetivo.
Terceiro, incentivar P&D e inovação em todos os setores é algo que também ajuda o crescimento da produtividade, ainda mais se incentivos à inovação forem acompanhados de maior concorrência decorrente da maior abertura comercial. O Brasil ainda é uma economia excessivamente fechada e o país com menor relação importação e Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Banco Mundial.
O que ninguém pode garantir é a magnitude do efeito das “reformas econômicas” no crescimento do PIB, nem mesmo a defasagem entre aprovação de reformas e o seu efeito no crescimento. A agenda de reformas não deve ser entendida como uma “força tarefa” para mudar a economia em um ou dois anos, mas como um esforço contínuo para melhorar o funcionamento da economia de mercado. A agenda de reformas nunca termina.
Adicionalmente, no caso do Brasil, não há como o Estado ajudar individualmente as mais de 4,5 milhões de empresas que existem, segundo Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) do IBGE. Não é solução também dar tratamento privilegiado para algumas poucas e criar “enclaves de produtividade”. É por isso que medidas horizontais são importantes.
No curto prazo, a melhor forma de aumentar o crescimento do Brasil é com o aumento do investimento privado e público. No longo prazo, que perpassa o governo atual, não há alternativa que não seja a retomada da agenda de reformas, mesmo que essa retomada ocorra de forma gradual.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Gerar empregos sempre e' bom? Nem sempre... - Marcos Mendes
Paulo Roberto de Almeida
Gerar empregos é sempre uma boa ideia?
Na recente campanha presidencial dos EUA, o fenômeno se repete, o Presidente-candidato Barack Obama afirmou que “o propósito do American Job Act é simples: colocar mais pessoas de volta ao trabalho e mais dinheiro no bolso de quem está trabalhando. Ele vai criar mais empregos na construção, mais empregos para professores, mais empregos para veteranos, e mais empregos para quem está desempregado há muito tempo”[1]. O candidato de oposição, Mitt Romney, não tinha discurso muito diferente: “não é complicado ou profundo saber o que o nosso país precisa (…). O que a América precisa é de emprego. Muitos empregos!”[2]
O desejo de criar empregos é forte o suficiente para que governantes defendam, por exemplo, a expansão da indústria de armamentos, com base na ideia de que ela cria empregos, como fez recentemente o Primeiro Ministro Inglês, David Cameron[3].
No Brasil, Governadores de Estado se digladiam para atrair empresas para seus territórios, por meio da guerra fiscal, para que seu eleitorado tenha mais empregos. Outros são mais pragmáticos e aumentam o emprego simplesmente contratando mais funcionários públicos que o necessário.
Mas afinal, o que será mais importante: gerar empregos ou gerar produtos e serviços que sejam úteis para a sociedade? Nem sempre as duas coisas andam juntas. Muitos avanços tecnológicos, capazes de gerar mais e melhores produtos e aumentar a prosperidade da sociedade, simplesmente resultam em cortes em vagas de trabalho. Pelo menos no curto prazo. Quando a revolução industrial introduziu teares mecânicos e máquinas a vapor, milhares de artesãos ficaram sem emprego. Quando a informática permitiu a criação de caixas eletrônicos nos bancos, reduziu-se o mercado de trabalho para bancários. A mecanização da agricultura ceifou inúmeras vagas de trabalho de colheita manual. A luz elétrica acabou com o romântico emprego de acendedor de lampiões!
Se a geração de emprego fosse sempre boa, em qualquer circunstância, então seria preciso barrar esses avanços tecnológicos, em diversos momentos da história, para preservar o emprego de artesão, bancários, trabalhadores do campo e tantas outras profissões que perderam espaço em decorrência de inovações. Mas nesse caso, você estaria até hoje entrando em fila de banco para sacar dinheiro, em vez de economizar seu tempo fazendo um rápido saque em um terminal eletrônico. Ou estaria pagando uma fortuna por um quilo de arroz ou feijão, porque a oferta de produtos agrícolas seria muito menor do que a que temos hoje.
É compreensível que os trabalhadores que estão ameaçados pela perda de renda ou de emprego reajam e tentem manter o status quo. Todos nós tememos mudança que nos tragam prejuízos no curto prazo e incertezas. Isso explica porque os artesãos se mobilizaram para destruir máquinas durante a revolução industrial, porque bancários fizeram greves e resistiram à informatização dos serviços bancários, ou porque empregados de empresas estatais costumam resistir à privatização.
Também é compreensível que os políticos queiram atender à demanda de curto prazo de seus eleitores prometendo empregos. Em artigo publicado no Valor Econômico de 9 de agosto de 2007, Cláudio Haddad deu um exemplo bem humorado, contando a história de um economista que foi visitar a construção de uma represa na China e percebeu que, em vez de retroescavadeiras os operários estavam usando pás. Ao questionar o mestre de obras sobre esse fato, teve como resposta que o uso de equipamentos desempregaria muitos operários. Ao que o economista respondeu: “”Pensei que vocês estivessem construindo uma represa. Se estiverem querendo criar emprego, por que não lhes dar colheres?””. Certamente seria necessária uma parcela significativa da população chinesa para cavar um reservatório de hidrelétrica com colheres, e com isso qualquer político teria cumprido a sua promessa de gerar tantos milhões de empregos.
O fato é que os empregos que são perdidos quando ocorrem inovações tecnológicas, em um processo conhecido como “destruição criativa”, termo cunhado pelo economista Joseph Schumpeter, acabam por ser compensados pelo fato de que as inovações abrem novos mercados, que antes não existiam.
Por exemplo, as vagas de emprego de bancário, que foram fechadas pela informatização dos serviços financeiros, foram compensadas por outras vagas de programadores, designers, engenheiros de computação, etc., que passaram a ser necessários para a provisão de tal serviço. E note que a maioria dessas especialidades exige maior escolaridade e formação técnica que a exigida para o emprego de bancário, pagando salários mais elevados.
Muitos se lembram da resistência dos empregados de empresas estatais durante o processo de privatização, nos anos 90. Temerosos de perder seus empregos, ou de perder a estabilidade de que gozavam, fizeram ampla campanha política contra a privatização. Tivessem sido bem sucedidos, ainda estaríamos pagando US$ 5.000,00 por uma linha de telefone fixo, ou usando orelhões com fichas. Os empregos que foram perdidos, ou os salários que foram reduzidos, provavelmente foram mais do que compensados pelo gigantesco mercado de telefonia celular que se desenvolveu após a privatização (desde quiosques que vendem capas e baterias nos shopping centers, até a engenharia de sistemas e produção física de aparelhos celulares). Isso sem falar nos ganhos produtividade proporcionados a todos os setores da economia, que passaram a contar com diversificados meios de comunicação instantânea.
Mas não são apenas empregados e sindicatos que reagem à possibilidade de perder empregos. Empresas cuja lucratividade esteja sob ameaça de produtos importados costumam correr para o governo, pedindo proteção (em geral aumento de tarifas de importação), argumentando que a concorrência estrangeira irá ceifar empregos gerados pelas empresas nacionais. E o governo (seja ele qual for), que na campanha eleitoral prometeu gerar tantos mil empregos, corre para atender a demanda da indústria nacional. A consequência é que a intervenção governamental impede que os consumidores e empresas tenham acesso a produtos de maior qualidade e/ou menor preço. Essa interferência também permite que recursos econômicos (capital, trabalho, espaço físico, consumo de recursos naturais) sejam alocados para uma produção que gera produtos piores a preços maiores.
Nesse ponto do texto já dá para perceber que a resposta à pergunta do título (gerar emprego é sempre uma boa ideia?) é negativa. O que é relevante é gerar produtos e serviços que sejam úteis para a sociedade, ainda que isso se faça por meio de destruição criativa. Proteger empregos e empresas que já não são a melhor opção produtiva para o país significa barrar a entrada do novo, do mais produtivo. Se há interesse em proteger aqueles que foram negativamente afetados pelas mudanças, é mais barato, do ponto de vista social, utilizar políticas compensatórias (como seguro-desemprego ou bolsa-família) do que manter artificialmente o emprego.
Alguns economistas argumentam que a alocação ineficiente dos recursos de uma sociedade pode ser responsável por grande parte da diferença de produtividade entre as economias mais atrasadas e as mais desenvolvidas.
Pete Klenow, da Universidade de Stanford, por exemplo, apresenta evidências da existência de cinco tipos de problemas que podem ser fontes de má alocação de recursos em uma sociedade, gerando perda de produtividade e, consequentemente, menor capacidade de geração de produtos e serviços (sobre a definição de produtividade ver, neste site, o texto “O que é produtividade e como conseguir seu incremento?”, que é complementar ao presente texto)[4].
O primeiro desses fatores refere-se à dificuldade que as economias enfrentam para se adaptar às inovações que ocorrem cotidianamente. Como evidência desse fenômeno, ele mostra que a rotatividade no mercado de trabalho norte-americano (economia de alto nível de produtividade) é muito superior à dos países que impõem regulação distorciva ao mercado de trabalho (multas para empresas que demitem, estabilidade no emprego garantida em lei, etc.). Como o mercado de trabalho dos EUA é considerado um dos mais desregulamentados do mundo, esta é uma evidência de que o intuito governamental (em vários países) de garantir empregos de quem já está empregado pode estar sendo atingido às custas de menor criação de emprego para quem está desempregado.
Em segundo lugar está a presença de empresas estatais na economia. Tais empresas são, em geral, menos produtivas que as suas contrapartes privadas e, portanto, representam uso menos produtivo dos recursos escassos da sociedade. Klenow mostra evidências de que as privatizações na China são responsáveis por parte relevante da aceleração do crescimento daquele país.
Em terceiro lugar vem a soma de informalidade com tamanho médio de empresas. Nos Estados Unidos, assim como nas demais economias desenvolvidas, predominam as grandes e médias empresas, que aplicam métodos de trabalho de alta produtividade. Nos países menos desenvolvidos abundam as pequenas empresas, em geral informais.
Por que a informalidade predomina? Primeiro porque ser pequeno permite ao empresário escapar da tributação. Assim, mesmo sendo menos produtivo que uma empresa grande, a empresa pequena se mantém competitiva pois a grande empresa é mais visível para o fisco e tem que pagar seus impostos. No Brasil, aliás, ser pequeno (ainda que formal) vale a pena, pois a empresa se beneficia da tributação pelo sistema SIMPLES. Quando começam a ficar lucrativas e têm a oportunidade de crescer, as empresas se dividem em duas (com todos os custos e complicações burocráticas que isso implica) para não perder o benefício tributário. Em vez de aproveitar os ganhos de escala do crescimento, para produzir mais e melhor, a empresa se escora nos benefícios fiscais para manter seu lucro.
Ser pequeno e improdutivo também compensa porque o empregador pode fugir às leis trabalhistas com menor probabilidade de ser apanhado pela fiscalização governamental. A informalidade é ainda recompensada por evitar todos os custos e burocracias envolvidos na criação de uma empresa 100% de acordo com a legislação. A consequência é uma só: a empresa pequena e informal consegue sobreviver no mercado, sendo menos eficiente que a grande e média empresa formal porque não incorre em diversos custos pagos por estas. E, com isso, a destruição criativa de empresas menos produtivas não ocorre. Coexistem no mercado empresas de alta e de baixa produtividade.
O quarto fator são as já comentadas barreiras tarifárias ao comércio, que protegem empresas e setores econômicos menos eficientes. E, finalmente, o quinto fator é a alocação de talentos. Se supusermos que inteligência e capacidade são distribuídos de acordo com uma distribuição normal entre os membros da sociedade, então se alguns grupos sociais são impedidos de assumir funções profissionais que requerem habilidade e inteligência, parte da capacidade intelectual desta sociedade estará sendo desperdiçada. Isso ocorre, por exemplo, em regimes racistas que impedem que negros tenham acesso à escolaridade e a profissões de alto nível técnico. Os talentosos que nasceram negros não poderão dar sua contribuição à sociedade, o mesmo acontecendo com mulheres ou indivíduos de castas inferiores, em sociedades que bloqueiam a ascensão de tais grupos.
Outra forma de má alocação de talentos se dá por meio do subdesenvolvimento do mercado financeiro e de capitais. Quando não se desenvolvem mecanismos capazes de oferecer às empresas a oportunidade de abrir seu capital e profissionalizar a gestão, a tendência é que as empresas sejam geridas por dinastias familiares, o que já se comprovou ser menos eficiente.
Em suma, em vez de se preocupar em gerar empregos no curto prazo, os governos deveriam se preocupar em incentivar as empresas e a mão-de-obra a serem mais produtivas. Isso significa evitar legislação que bloqueie a concorrência e evite a destruição criativa, a facilitar a realocação de capital e mão de obra entre os setores decadentes e os ascendentes, estimular o desenvolvimento do mercado financeiro e de capitais, democratizar o acesso ao ensino, controlar o tamanho do setor público e garantir serviços públicos que garantam a produção a baixo custo (estradas sem buracos, escolas que efetivamente ensinem, hospitais que atendam e curem os doentes, etc.). Além disso, é importante dar algum suporte a empregados e empresas que estejam em setores decadentes ou não competitivos. Políticas como garantia de emprego por um prazo determinado em empresas privatizadas, ou redução gradual e programada de barreiras comerciais são mecanismos que aliviam a tensão social e reduzem os custos de curto prazo da destruição criativa.
Download:
- veja este artigo também em versão pdf (clique aqui).
[2]Tradução livre. Discurso obtido em http://www.guardian.co.uk/world/2011/sep/09/barack-obama-usa
[3]Tradução livre. Discurso obtido em http://www.foxnews.com/politics/2012/08/30/after-convention-warm-up-romney-to-make-his-case-in-nomination-speech/
[4] http://www.caat.org.uk/press/press-release.php?url=20121112prs
Ver apresentação e slides da argumentação de Klenow em http://www-2.iies.su.se/Nobel2012/page_nobel_slides_java.html#Klenow
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Produtividade, uma aula - Marcos Mendes (01/10)
O que é produtividade e como conseguir seu incremento?
- veja este artigo também em versão pdf (clique aqui).
- Marcos MendesDoutor em economia – USP. Editor do site "Brasil, economia e governo".