Diplomatizzando

Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).

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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Meus livros podem ser vistos nas páginas da Amazon. Outras opiniões rápidas podem ser encontradas no Facebook ou no Threads. Grande parte de meus ensaios e artigos, inclusive livros inteiros, estão disponíveis em Academia.edu: https://unb.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida

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quarta-feira, 29 de julho de 2020

O Paradoxo do PT - Thomas Piketty (Piaui)

EDIÇÃO 166 

questões classistas

O PARADOXO DO PT

A politização inacabada da desigualdade no Brasil

THOMAS PIKETTY
  
A favela paulistana de Paraisópolis e, ao fundo, um edifício de classe média: entre 2003 e 2015, os pobres melhoraram de vida à custa da classe média, e não dos 10% mais ricos
A favela paulistana de Paraisópolis e, ao fundo, um edifício de classe média: entre 2003 e 2015, os pobres melhoraram de vida à custa da classe média, e não dos 10% mais ricos
FOTO: TUCA VIEIRA_2020
Tradução de Dorothée de Bruchard e Maria de Fátima Oliva Do Coutto
No Brasil, a exemplo do que aconteceu na Índia, também assistimos, ao longo do período entre 1989 e 2018, à formação de um sistema partidário específico de tipo classista, apresentando desafios ainda maiores em termos de redistribuição e de influências cruzadas com os outros partidos do mundo.
Lembremos que o Brasil foi a última nação do espaço euro-atlântico a abolir a escravidão, em 1888, e que, em termos gerais, o país continua a ser um dos mais desiguais do planeta. Cabe lembrar também que foi preciso esperar o fim da ditadura militar (1964-85) e a Constituição de 1988 para que o direito ao voto fosse estendido a todos. A primeira eleição presidencial com sufrágio universal ocorreu em 1989, quando o exsindicalista Luiz Inácio Lula da Silva disputou o segundo turno, conseguindo conquistar 47% dos votos para sua candidatura, apoiada pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Sua triunfal eleição em 2002, com 61% dos votos no segundo turno, e sua reeleição em 2006, com 60,8% dos votos – dele, que tinha sofrido tanto escárnio das elites brasileiras tradicionais por não ter educação formal, e de quem se dizia não poder representar o país no exterior –, marcam de certa maneira a entrada simbólica do Brasil na era do sufrágio universal. O PT arrebatou duas novas vitórias nas eleições presidenciais, depois de Lula deixar o cargo para Dilma Rousseff, ainda que com margens cada vez mais reduzidas (56% em 2010 e 52% em 2014). Por fim, a vitória do candidato nacionalista-conservador Jair Bolsonaro em 2018, com 55% de votos no segundo turno, contra 45% para o candidato do PT, Fernando Haddad, marcou uma nova reviravolta na história política do país.
É interessante notar que a estrutura do eleitorado do PT e, em termos mais gerais, do sistema partidário brasileiro só se estabeleceu progressivamente nas três décadas posteriores ao fim da ditadura. No começo dos anos 1980, o PT era de início um partido que obtinha maior número de votos entre os trabalhadores do setor industrial e os assalariados urbanos modestos e médios, assim como entre as classes intelectuais que haviam se mobilizado contra a ditadura. Em escala nacional – e levando-se em conta o fato de que os níveis mais baixos de instrução e de renda encontravam-se principalmente nas zonas rurais e nas regiões mais pobres do país –, ainda nos anos 1990, o eleitorado do PT agregava um maior número de eleitores com um grau de instrução mais alto do que a média do país (mas com rendas um pouco menores que a média). Em outras palavras, ao fim da ditadura militar, como na Índia depois da independência em 1947, a estrutura do voto não era espontaneamente classista no Brasil. Após a ascensão de Lula ao poder, a composição social do voto no PT evolui de forma clara. Ao longo das eleições de 2006, 2010, 2014 e 2018, constatamos que o partido obtém, de forma sistemática, mais votos entre os eleitores com menor grau de instrução e rendas menos elevadas.

Essa evolução é também assombrosa em nível regional. Nas regiões brasileiras mais pobres, em particular no Nordeste, os eleitores votam no PT de forma cada vez mais consistente, enquanto nas regiões mais ricas a situação progressivamente se inverte. Durante as eleições de 2014 e 2018, o Nordeste continuou a dar grande maioria de votos a Dilma Rousseff e Fernando Haddad, enquanto regiões e cidades do Sul e Sudeste (como São Paulo) rejeitaram de modo claro o PT. Essa estrutura social e geográfica do voto é acompanhada de uma divisão racial bastante acentuada. A partir de 2006, constatamos que os eleitores que se declaram pretos ou pardos (ou seja, pouco mais da metade da população) votam muito mais fortemente no PT do que os que se descrevem como brancos, mesmo após levar em conta os efeitos das outras características socio-econômicas individuais.
O fato de o voto no PT ter evoluído nessa direção é coerente com as políticas em vigor no período. Desde 2003, os governos do PT concentraram seus esforços na redução da pobreza, sobretudo com o programa de redistribuição de renda Bolsa Família.
Constatamos nos dados brasileiros um forte crescimento da renda das camadas mais baixas, em particular nas regiões mais desfavorecidas do país, daí a alta popularidade do Bolsa Família e do PT entre essa população (trabalhadores agrícolas, camponeses pobres, empregadas domésticas e assalariados menos abastados dos setores de serviços ou de construção etc.). Em contrapartida, entre os empregadores os programas sociais são em geral percebidos como excessivamente dispendiosos, alimentando exigências salariais nefastas. Na época, os governos do PT também implantaram grandes aumentos do salário mínimo, cujo valor real tinha desabado sob a ditadura e que voltou a atingir, no início dos anos 2010, o nível já alcançado nos anos 1950 e no início dos anos 1960. O PT também desenvolveu mecanismos de acesso preferencial às universidades para as classes populares pretas e pardas, até então muito ausentes dos campi universitários.
É quase impossível contestar que essas políticas de redistribuição e esse crescimento da clivagem classista contribuíram para engendrar certo desejo de retomada do controle da situação por parte das elites tradicionais brasileiras, movimento explicitado na destituição de Dilma Rousseff, em 2016, e na eleição de Bolsonaro, em 2018. Este se apresenta como o presidente que livrará o país da tendência socialista. Ele não esconde sua simpatia pela ditadura militar e sua preferência pela ordem social, pelo respeito à propriedade e pelas políticas duras de segurança pública. Como Trump, Bolsonaro também se fundamenta na exploração das diferenças raciais e da nostalgia da ordem do homem branco, em um Brasil onde os “brancos” oficialmente deixaram de ser maioria. Por outro lado, é evidente que o desgaste natural do poder numa democracia eleitoral teve seu papel nessa reviravolta política, tanto quanto as evidentes insuficiências das políticas executadas pelo PT entre 2003 e 2016.
Pensamos naturalmente na incapacidade do PT de combater seriamente o problema da corrupção no Brasil, quando até ele contribuiu para perenizar o sistema, beneficiando-se de caixa dois, num país onde a questão do financiamento das campanhas políticas e das mídias nunca foi objeto de uma regulação adequada. Decerto, essas insuficiências estão, em parte, ligadas ao fato de que os sistemas eleitoral e institucional brasileiros tornam dificílima a formação de uma maioria parlamentar. Apesar das vitórias presidenciais repetidas e substanciais, com mais de 50% dos votos nos segundos turnos de 2002 a 2010, o PT nunca contou com a maioria dos deputados para executar sua política. O partido teve que se aliar a vários outros para poder aprovar leis e orçamentos. O fato é que esses desafios em termos de transparência da vida pública e de reforma dos financiamentos políticos nunca foram explicados com clareza ao país, tanto assim que o PT deu a impressão de se adaptar ao sistema em vigor e a suas zonas cinzentas.
Cabe também assinalar o resultado pouco expressivo do PT na luta contra a desigualdade. Se está claro que as pessoas de baixa renda foram beneficiadas com as políticas realizadas – proporcionando um aumento da participação dos 50% mais pobres entre 2003 e 2015 –, o problema é que essa melhora foi toda feita em detrimento da classe média ou, mais precisamente, dos grupos sociais compreendidos entre os 50% mais pobres e os 10% mais ricos, sem nunca prejudicar os 10% mais ricos, que conseguiram manter sua posição (já normalmente elevada no Brasil). Quando se trata do 1% mais rico, observamos entre 2002 e 2015 um crescimento de sua parcela na renda total, parcela esta duas vezes maior que a detida pelos 50% mais pobres. Esses resultados decepcionantes e paradoxais têm uma explicação simples: o PT nunca realizou uma verdadeira reforma tributária. As políticas sociais foram financiadas pela classe média e não pelos mais ricos, pela única e simples razão de que o PT nunca conseguiu enfrentar a regressividade estrutural do sistema tributário do país, que impõe pesadíssimos impostos e taxas indiretas sobre o consumo (chegando a 30% nas contas de luz), enquanto os impostos progressivos sobre as rendas e os patrimônios mais altos são, historicamente, pouco desenvolvidos.
Também neste ponto as insuficiências das políticas praticadas têm como origem tanto as limitações doutrinárias e ideológicas quanto a falta de uma maioria parlamentar pronunciada. No Brasil, como na Europa e nos Estados Unidos, é impossível reduzir a desigualdade como seria desejável sem modificar também os regimes político, institucional e eleitoral. Notaremos, por outro lado, como na Índia, a importância das influências externas. Pelas evidências disponíveis, parece que teria sido mais fácil para Lula e o PT promoverem o imposto progressivo sobre a renda e a propriedade num contexto político e ideológico mundial em que essas políticas estivessem indo de vento em popa – o que pode vir a acontecer no futuro. Em contrapartida, a intensificação do 

Assim como o da Índia, o caso do Brasil mostra o quanto é essencial se afastar do contexto ocidental para melhor compreender as dinâmicas políticas em jogo em torno da desigualdade e da redistribuição. Ao longo dos anos 1990-2020, enquanto o sistema esquerda-direita de clivagem classista que prevaleceu na Europa e nos Estados Unidos nos anos 1950-80 desaparecia, ameaçado de destruição, na Índia e no Brasil as clivagens classistas passaram a imperar, seguindo percursos sociopolíticos específicos e com fragilidades e potencialidades também específicas. Essas diferentes trajetórias ilustram o caráter fundamentalmente multidimensional dos conflitos políticos e ideológicos.
Em cada um dos casos estudados, é possível distinguir com clareza uma divisão ao estilo identitário e outra ao estilo classista. A clivagem identitária diz respeito à questão da fronteira, ou seja, aos limites da comunidade política com a qual se identificam e às origens e identidades étnico-religiosas de seus membros. A clivagem classista diz respeito às questões de desigualdade socioeconômica e de redistribuição, em especial da propriedade. Essas divisões tomam formas diversas na Europa e nos Estados Unidos, na Índia e na China, no Brasil e na África do Sul, na Rússia e no Oriente Médio. Mas na maioria das sociedades encontramos essas duas dimensões, em geral com múltiplas ramificações e subdimensões.
De modo geral, a clivagem classista só pode prevalecer se conseguirmos superar a clivagem identitária: para que o conflito político possa se concentrar nas desigualdades de propriedade, de renda e de grau de instrução é preciso, em primeiro lugar, chegar a um acordo quanto às fronteiras da comunidade. Ora, a divisão identitária não é simplesmente uma invenção dos atores políticos no intuito de instrumentalizá-la para ascender ao poder (embora possamos detectar facilmente tais atores em todas as sociedades). A questão da fronteira engloba questionamentos complexos e fundamentais. Numa economia global em que as diferentes sociedades são ligadas por inúmeros fluxos comerciais, financeiros, migratórios e culturais, embora continuem a operar como comunidades políticas separadas ao menos em parte, é crucial descrever como essas relações devem funcionar numa perspectiva dinâmica. O mundo pós-colonial deu origem a interações e misturas no âmbito das mesmas sociedades de grupos humanos antes sem qualquer contato entre si (a não ser por intermédio das armas ou das relações de dominação colonial). Trata-se de um progresso civilizacional considerável, ainda que tenha levado ao surgimento de novas clivagens identitárias.
Em paralelo, o colapso do comunismo tendeu a enfraquecer, ao menos por um tempo, a esperança na possibilidade de uma economia justa e da erradicação do capitalismo pela justiça social e tributária. Em outras palavras, no exato momento em que a clivagem identitária aumentava, a clivagem classista se dissipava. Aí reside, sem dúvida, a principal explicação para o crescimento da desigualdade observado a partir dos anos 1980-90. As explicações fundamentadas na tecnologia ou na economia carecem do essencial, ou seja, o fato de sempre existirem várias formas de organizar as relações econômicas e de propriedade, como o demonstra a extraordinária diversidade político-ideológica dos regimes desigualitários.
Fortalecimento da clivagem identitária e dos conflitos sobre a fronteira, enfraquecimento da clivagem e dos debates sobre a propriedade: esse esquema encontra-se em quase todas as regiões do mundo. Mas, além desse esquema geral, as variações entre as sociedades são profundas. Longe dos determinismos de todo tipo, a diversidade das trajetórias mostra a importância das estratégias de mobilização social e política. A perspectiva de longo prazo e comparativa é essencial. Transformações profundas dos regimes desigualitários ocorreram na história muito antes das duas guerras mundiais do século XX, e seria particularmente conservador e inapropriado tentar reproduzir tais choques para vislumbrar um novo movimento de redução histórica da desigualdade. O estudo da Índia e do Brasil também mostrou que a predominância das clivagens identitárias sobre as divisões classistas nada tinha de inevitável. Nesses dois países, as classes populares, de origens e de identidades diversas, puderam se unir nas mesmas coligações políticas redistributivas. Tudo depende das ferramentas institucionais e das políticas sociais e fiscais adotadas a fim de permitir que grupos de origens diversas compreendam que o que os une se sobrepõe ao que os separa.
O estudo das configurações eleitorais de outros países proporciona ilustrações diferentes dessa realidade geral. Sem dúvida, o caso de Israel oferece o exemplo mais radical de uma democracia eleitoral em que o conflito identitário prevaleceu sobre todo o resto. A questão da relação com as populações palestinas e os árabes israelenses passou a ser basicamente a única questão política relevante. Ao longo do período compreendido entre 1950 e 1980, os trabalhistas israelenses ocuparam papel central no sistema de partidos e enfatizaram a redução da desigualdade socioeconômica e o desenvolvimento de modelos cooperativos originais. Por não ter conseguido pensar em tempo hábil numa solução política viável e adaptada para as comunidades humanas em jogo, o que teria implicado a criação de um Estado palestino ou o desenvolvimento de uma forma original de Estado federal binacional, o Partido Trabalhista quase desapareceu do cenário eleitoral israelense, cedendo lugar a facções, em incessante ascensão, voltadas para a segurança pública.
No âmbito das nações muçulmanas, constatamos que as dimensões religiosas e sociais do conflito eleitoral se combinaram de modo diferente de acordo com a época e os países. Na Turquia, o partido kemalista CHP (Partido Republicano do Povo)
Mas, ainda que as margens de autonomia próprias de cada área cultural e de cada trajetória nacional ou regional sejam significativas, não se deve negligenciar o papel-chave do contexto ideológico dominante no nível planetário. Já o vimos no caso da Índia e do Brasil: a capacidade das forças políticas presentes de promover estratégias de redistribuição dignas de crédito e de dar voz à clivagem classista depende em grande parte das evoluções em curso nos países ocidentais. Tendo em vista o peso econômico, comercial e financeiro dos Estados Unidos e da União Europeia, e seu impacto determinante no âmbito legal no qual se organizam os comércios, as transformações político-ideológicas em curso nesses dois conjuntos terão um peso decisivo. As futuras evoluções na China e na Índia, e a médio prazo no Brasil, na Indonésia ou na Nigéria, também terão um papel crescente no âmbito de um cenário ideológico mundial cada vez mais conectado entre si. Não resta dúvida de que a importância da ideologia está longe de diminuir, muito pelo contrário. Nunca a complexidade das questões inerentes ao regime de propriedade e do sistema de fronteiras foi tão forte; nunca as incertezas quanto às respostas dadas foram tão extremas, nessa era que se pretende pós-ideológica, mas que na realidade está por inteiro dominada pela ideologia. Ainda assim, estou convencido de que, ao final deste percurso histórico, será possível se basear nas experiências conhecidas para tentar traçar os contornos de um socialismo participativo e internacionalista, ou seja, identificar, graças às experiências do passado, as novas formas de organização do regime de propriedade e do sistema de fronteiras que poderiam contribuir para a implantação de uma sociedade justa e para a atenuação das ameaças identitárias.

Evitei ao máximo recorrer à noção de “populismo”. A razão é simples: esse conceito não permite analisar corretamente as evoluções em curso. Os conflitos político-ideológicos observados nas diferentes regiões do planeta são profundamente multidimensionais. Estão em jogo, sobretudo, clivagens no sistema de fronteiras e no regime de propriedade. Ora, a noção de “populismo”, tal como utilizada no debate político recente, por vezes até o seu esgotamento, tende a misturar tudo numa espécie de sopa indigesta.
Com muita frequência, a noção é instrumentalizada pelos atores políticos para designar tudo de que não gostam e de que desejam se desligar. Consideram “populista” um partido contra os imigrantes ou um partido condescendente com a estigmatização de estrangeiros. Porém um discurso que vise exigir dos mais ricos o pagamento de impostos mais altos será igualmente qualificado como “populista”. E, se um partido menciona a possibilidade de uma dívida pública não ser paga em sua totalidade, será chamado sem hesitação de “populista”. Na prática, esse termo se tornou a arma suprema que permite a categorias sociais objetivamente muito privilegiadas desqualificar de antemão toda crítica a suas opções políticas e programáticas. Não há mais necessidade de debater a fundo, por exemplo, o fato de existirem várias políticas fiscais ou sociais possíveis e inúmeras maneiras de organização da globalização. Basta denominar quem os contradiz de simpatizantes do “populismo” para encerrar a discussão e manter a consciência limpa. Na França também se tornou comum, desde a eleição presidencial de 2017, colocar na mesma categoria de “populista” os eleitorados reunidos no primeiro turno por Jean-Luc Mélenchon e por Marine Le Pen, esquecendo-se de que o primeiro agrupa, em média, os eleitores mais favoráveis à imigração e o segundo, os mais ferozmente hostis a ela. Nos Estados Unidos, em 2016, não era raro rotular de “populista” tanto o socialista internacionalista Bernie Sanders quanto o empresário nativista Donald Trump. Na Índia, poderiam escolher qualificar como “populista” tanto o BJP de Modi, contrário aos muçulmanos, quanto os partidos socialistas e comunistas ou os movimentos das castas baixas, que propunham plataformas e opções rigorosamente opostas. No Brasil, o rótulo de “populista” às vezes é usado para designar alternativamente o movimento autoritário-conservador personificado por Bolsonaro ou o PT do ex-presidente Lula.
Parece-me que a noção de “populismo” deve ser evitada por completo, pois não permite pensar a complexidade do mundo. Tal noção ignora o caráter multidimensional do conflito político e omite que as decisões tomadas quanto à questão da fronteira e da propriedade podem ser muito diferentes. Ao contrário, faz-se necessário reconhecer com atenção essas diferentes dimensões de questionamento e, sobretudo, analisar com precisão e rigor as diferentes respostas políticas e institucionais de fato em jogo. O primeiro problema do debate relativo ao populismo é o seu vazio: a noção não autoriza a dizer nada de preciso. O debate em torno da dívida pública, em especial no contexto da zona do euro, ilustra, sem dúvida, o ponto mais baixo que o uso dessa noção já atingiu. Tão logo um ator político, um manifestante ou cidadão menciona a possibilidade de que as dívidas não sejam total e imediatamente pagas, a ira dos comentaristas esclarecidos se abate sobre o insolente: eis a ideia mais “populista” que se pode ter.
Assim agindo, os esclarecidos comentaristas em questão parecem ignorar por completo a história da dívida pública, em particular os inúmeros cancelamentos ocorridos há séculos, sobretudo no século XX, em geral com sucesso. As dívidas públicas superiores a 200% do Produto Interno Bruto (PIB) observadas em vários países ocidentais em 1945-50, em especial na Alemanha, no Japão, na França e na maioria dos países europeus, foram anuladas em poucos anos graças a uma mistura de impostos excepcionais sobre o capital privado, cancelamentos puros e simples, adiamentos de longo prazo ou inflação. A construção europeia se deu nos anos 1950 com base no esquecimento das dívidas do passado, permitindo assim se concentrar nas novas gerações e investir no futuro. Cada situação é diferente, e agora é preciso encontrar novas soluções para superar os problemas causados pelas dívidas públicas atuais aprendendo com os sucessos e as limitações das experiências do passado. Mas chamar de “populistas” os que abrem um debate necessário e imprescindível, quando vivemos numa situação de ignorância histórica que beira a inconsciência, é intolerável. Em termos concretos, os representantes da Lega e do M5S

Concluamos observando que a pior consequência do debate em torno do populismo talvez seja o fato de ele acabar gerando novos conflitos identitários e bloqueando qualquer deliberação construtiva. Se o termo é usado de modo pejorativo, seu uso também é reivindicado por algumas das pessoas acusadas de populistas como elemento positivo, permitindo-lhes definir sua identidade, em geral de modo tão nebuloso quanto os que o usam para depreciá-los, o que, como é natural, só aumenta a confusão reinante. O termo “populista” é usado por certos movimentos contra a presença de imigrantes para demonstrar sua preocupação com o “povo” (considerado, por unanimidade, hostil à imigração) e não com as “elites”, desejosas de impor fluxos migratórios sem limites a todo o planeta.
Mas certos movimentos da esquerda intitulada “radical”, como o Podemos na Espanha ou o LFI
Entretanto, toda a história dos regimes desigualitários demonstra o contrário. As mudanças históricas de grande magnitude decorrem do encontro das lógicas de eventos e de mobilizações de curto prazo, e das evoluções político-ideológicas e de desafios institucionais de prazo mais longo. No final do século XIX e no início do século XX, o movimento mobilizado em torno do People’s Party nos Estados Unidos assumiu um papel de destaque não por reivindicar o termo “populista” (que em si não é necessário nem suficiente), mas por de fato se inscrever num movimento político e ideológico de base, o que levou à Décima Sexta Emenda da Constituição
Por todas essas razões, me parece importante desconfiar dos impasses e das armadilhas do debate sobre o “populismo” e concentrar-se nas questões de conteúdo, em particular na reflexão acerca do regime de propriedade, do sistema tributário, social e educacional, e do regime de fronteira, ou seja, nas instituições sociais, fiscais e políticas capazes de contribuir para a implantação de uma sociedade justa e permitir que as clivagens classistas se sobreponham às clivagens identitárias.
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Trecho do livro 

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THOMAS PIKETTY

Economista francês, é autor de 
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segunda-feira, 29 de julho de 2013

O mito dos programas sociais como garantia de votos - Ricardo Guedes

O mito do voto nos programas sociais
Ricardo Guedes
Blog Ricardo Noblat, 29/07/2013

Os programas sociais determinam o voto popular? A resposta é não.
Os programas sociais do governo atingem, hoje, aproximadamente 18% do eleitorado. Dos beneficiados, 2/5 se encontram no grupo de renda familiar mensal de até 01 salário mínimo, e 3/5 entre 01 e 05 salários mínimos.
75% da população aprovam os programas sociais do governo federal. Com aprovação tão alta, seria lícito pensar que voto é então determinado para o governo. Em verdade, a maioria da população apoia os programas sociais porque não seria “politicamente correto” dizer que não, o que na prática não implica necessariamente na alocação do voto.
Se a aprovação de 75% dos programas sociais garantisse o voto, Dilma não estaria hoje com somente com 30% nas pesquisas.
Da mesma forma que Dilma Rousseff há pouco apresentava aprovação de governo da ordem de 65% caindo para 30%, a aprovação de 75% da população em relação ao programas sociais do governo não é firme, mas bamba.
Se os movimentos sociais brasileiros não tivessem ocorrido, Dilma veria minguar paulatinamente a sua popularidade ao longo do período pré-eleitoral e eleitoral, chegando aos percentuais atuais.
Nos grupos de discussão das pesquisas qualitativas existe um forte cansaço em relação aos programas sociais do governo, naquilo que os participantes dos grupos chamam de “Bolsa Tudo”.
Reclama-se por mais fiscalização, e o consenso é de que os programas sociais não se constituem em soluções econômicas para o país, mas paliativos à espera de soluções permanentes. Os programas sociais devem ser mantidos, mas como política coadjuvante ao desenvolvimento e renda.
Margareth Tatcher, na Inglaterra, teve a ousadia de colocar as políticas sociais do Partido Trabalhista à época como empecilhos ao desenvolvimento econômico, com ganhos eleitorais e restituição do Reino Unido à condição de uma das economias de mercado de maior vigor do planeta.
A solução encontra-se na educação e na saúde, tão demandadas pelos movimentos sociais brasileiros, e tão mal atendidas pelo governo federal. A educação de qualidade é o instrumento básico para a geração da mobilidade social e renda, e a saúde é a depositária última do bem estar social e da garantia da continuidade da família.
É digno de se notar que nas eleições para prefeito de 2010 os candidatos do PT perderam em capitais significativas do país, como Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Fortaleza.
Em São Paulo, a eleição se deu por exclusão, onde o candidato de menor rejeição foi finalmente eleito, apesar de estar sua rejeição em níveis proibitivos de mais de 40%. O ponto de equilíbrio do voto nessas eleições mudou.
Dilma Rousseff apresenta, hoje, aprovação de governo de 30% e intenções de voto em 30%, com rejeição de 45%, proibitiva para a sua reeleição.
As oposições irão crescer, de acordo com a aceitação de suas propostas.


Ricardo Guedes, Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, é Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisa Sensus.
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sábado, 20 de abril de 2013

Mentiras oficiais, verdades oficialescas - Jose Roberto Guzzo


Efeitos Colaterais
J. R. GUZZO
Revista Veja, 20/04/2013

O governo brasileiro viciou-se em confundir estatísticas com realidades. Está escrito em algum papel oficial? Então é verdade. Como fomos todos informados pela presidente Dilma Rousseff, não há mais miseráveis no Brasil desde o dia 31 de março, quando foi riscado do cadastro federal o nome do último cidadão brasileiro com renda inferior a 70 reais por mês. A partir daí, quem ganha 71 mensais deixou de ser miserável, pois para a ciência estatística a miséria acaba naqueles 70 reaizinhos — ou cerca de 1,25 dólar por dia, pela média dos critérios internacionais. Daí para a frente o sujeito é promovido a pobre e deixa de incomodar tanto.
“O cadastro foi zerado”, anunciou Dilma. Conclusão: como não existem mais nomes no cadastro, não existem mais miseráveis no Brasil. Ah, sim, ainda há um probleminha com gente que ganha menos de 70 reais por mês e que não estava inscrita na lista oficial; é mera questão de tempo até o governo encontrar todo mundo, dar um dinheirinho a mais para eles e acabar não apenas com a “miséria cadastrada”, como falam os técnicos do Palácio do Planalto, mas com o problema inteiro.
Nada disso faz nexo no mundo do bom-senso, mas o governo tomou-se dependente de um outro vício — massagear números aqui e ali e fazer uso deles para tratar como retardado mental todo brasileiro que foi à escola, prestou um pouco de atenção às aulas e acabou aprendendo alguma coisa. O problema de meter-se por essa trilha é que, com frequência, os especialistas em fazer mágicas aritméticas têm de experimentar o próprio veneno. Acaba de acontecer, mais uma vez, com as últimas cifras da ONU sobre o índice de Desenvolvimento Humano em 187 países — uma medida que informa o nível de bem-estar da população, e não da “economia”. em termos de vida saudável, acesso ao conhecimento e padrão de vida decente, traduzido em dinheiro no bolso do povo.
O Brasil pegou o 85° lugar em 2013, dezesseis postos abaixo do Cazaquistão e outras potências do mesmo quilate. Não é um desastre. É apenas aquilo que realmente somos — a mediocridade em estado puro. Só na América Latina, ficamos atrás de Argentina, Chile, Uruguai. Cuba, Panamá. México, Venezuela e Peru, com a Colômbia prometendo passar à frente já no próximo levantamento. Sobra o quê, aqui em volta? Só os casos de subdesenvolvimento que já estão num leito de UTI.
A coisa não para aí. Já que o negócio é ficar refogando números, como a presidente Dilma tanto gosta, por que não servir a salada inteira? Em 1980, mais de vinte anos antes de o ex-presidente Lula decidir que o Brasil tinha sido inventado por ele, o IDH brasileiro era de 522, numa escala que começa no zero e chega ao máximo de 1000; subiu sem parar nesse tempo todo, chegando a quase 700, ou perto de 35% a mais, no Ano I da Nova História do Brasil — 2003 —, quando Lula começou sua primeira Presidência.
Nestes dez anos de Lula, Dilma e PT, o índice foi para os 730 onde está hoje. Mais: durante os dois anos do governo Dilma, o IDH brasileiro ficou perto do nível de pressão zero por zero. com crescimento praticamente nulo. O que toda essa tabuada está dizendo, no mundo das coisas reais, é o contrário do que diz o mundo da propaganda oficial: com a sexta ou sétima maior economia do mundo em volume, o Brasil simplesmente não consegue repassar o bem-estar dessa grandeza, nem de longe, para os brasileiros que a constroem.
O governo, assim que recebeu os últimos números, entrou no seu modo habitual de indignação automática: a ONU está errada, as cifras são injustas etc. Quer que a população acredite na demência segundo a qual um cidadão que ganha 71 reais por mês não é mais miserável; ao mesmo tempo, não quer que acredite nos números da ONU. Mais que tudo. ignora o fato de que “a revolução na renda” registrada nos governos petistas. e patenteada como invenção pessoal e exclusiva de Lula, é uma mentira: o mundo inteiro, mesmo nos casos mais desesperados da África, viveu uma rápida e inédita redução da pobreza durante os dez anos de governo lulista.
De 2000 para cá, 70 milhões de pessoas saem da miséria a cada ano pelo mundo afora. Em apenas seis anos, de 2005 a 2011, a pobreza mundial foi reduzida em meio bilhão de seres humanos. Desde 2003, os países pobres vêm aumentando em 5% ao ano, em média, a sua renda per capita. De onde Lula e Dilma foram tirar a lenda segundo a qual fizeram o que ninguém jamais havia feito? Vá com calma ao mexer em estatísticas, presidente. É um produto que pode ter efeitos colaterais indesejáveis.
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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A pobreza do combate 'a pobreza - editorial do Estadao

O governo, a república dos companheiros, os keynesianos de botequim privilegiam, indisfarçavelmente, a distribuição, mesmo ao custo da eficiência.
O que temos tido, desde o início da era gloriosa do nunca antes, foi o aumento da redistribuição via Estado (e não via mercado), com sua contrapartida de aumento da carga tributária para todos, inclusive para os mais pobres, mas sobretudo para os empresários e a classe média, que se beneficiaram menos do que os mais pobres. Tudo isso é muito bonito, mas o sistema perde eficiência, dai o debate sobre a desindustrialização e a perda de competitividade da economia brasileira como um todo.
Pois é, se quiserem mais distributivismo estatal, o resultado vai ser a mediocridade de crescimento e a baixa prosperidade relativa no médio e longo prazo.
Seria isto que todos os brasileiros desejam?
Pode até ser, mas eu acho que estadistas responsáveis precisariam ter consciência de que estão levando o país para um impasse, no médo e no longo prazo.
Ou seja, vamos ficar mais pobres do que a média do mundo dinâmico...
Aliás, o segundo editorial do Estadão, transcrito in fine, confirma isso.
Tem gente que acha que isso não tem importância, que o mais importante é a diminuição da desigualdade. Eu não acho, e até acho que as pessoas estão equivocadas.
A desigualdade não está sendo diminuida pelas "bolsas" do governo. O que estão fazendo, simplesmente, é subsidiar o consumo dos pobres, o que pode até ser considerado justo, meritório, positivo, etc. Não conseguem perceber que ao se retirar esse subsídio, as pessoas voltam para o mesmo patamar de pobreza e de desigualdade estrutural.
Ou o Brasil pretende manter indefinidamente um terço da população na assistência pública?
Paulo Roberto de Almeida

A miséria que não acaba

21 de fevereiro de 2013 | 2h 03

Editorial O Estado de S.Paulo
Em 2010, o então presidente Lula tinha a levar aos palanques da sua candidata à sucessão, Dilma Rousseff, um alentado embornal de realizações na área social, combinadas com a elevação das taxas de crescimento - graças, sobretudo, ao ciclo de prosperidade global que antecedeu o colapso financeiro de 2008. No seu governo, o Brasil ficou mais rico e os brasileiros, em geral, também, apesar da persistência de índices humilhantes de desigualdade. Milhões puderam emergir dos estratos inferiores de renda a que pareciam confinados. Mais importante do que isso, quem sabe, os seus lugares foram ocupados por outros tantos que até então mal conseguiam manter a cabeça acima da linha que separa a pobreza da indigência.
Sob o governo Dilma, os níveis de emprego e renda ainda se sustêm, garantindo à sua titular índices lulistas de popularidade. Mas, na campanha reeleitoral do próximo ano, ela não terá a ostentar o "pibão" de seus sonhos. A expansão da economia nacional no atual período não só ficará aquém da registrada na quadra precedente, como ainda será inferior à da média dos países com os quais o Brasil é comparável.
Em consequência, a propaganda dilmista deverá se amparar nas proezas do seu criador, tratando de amalgamar o seu mandato aos oito anos de Lula. O estratagema é necessário, porém insuficiente para rebater as críticas dos opositores - não ao desempenho do criador, mas ao da criatura. Ciente disso, ela procurou um feito para chamar de seu - e acaba de apresentá-lo numa operação de marketing que, demagogicamente, exacerba o que é bom e esconde tudo o mais.
Trata-se do espetáculo com que a presidente celebrou em palácio, na terça-feira, a conclusão do resgate de 22 milhões de brasileiros da pobreza extrema, mediante a elevação do mínimo mensal per capita pago às famílias inscritas no Bolsa-Família. A partir de março, esse valor terá de superar R$ 70, instituído em 2009 como indicador oficial da miséria no País. O reajuste beneficiará 2,5 milhões de assistidos - segundo Dilma, "os últimos dos brasileiros extremamente pobres, inscritos no cadastro do Bolsa-Família, a transpor a linha da miséria". Outros já haviam sido alcançados pelo plano Brasil sem Miséria, lançado em junho de 2011, que aumentou em 45% o dispêndio com os 36 milhões cadastrados no programa federal de transferência de renda e estendeu de três para cinco o número de filhos passíveis de ser incluídos. Em maio do ano passado, o Brasil Carinhoso estipulou um complemento para as famílias com crianças de até 6 anos - teto depois ampliado para 15 anos.
A nova medida proclamada anteontem, sob o slogan "O fim da miséria é só um começo", criado pelo marqueteiro do Planalto, João Santana, custará ao erário cerca de R$ 773 milhões por ano, aumentando para perto de R$ 8,7 bilhões o orçamento do Bolsa-Família. "Fim da miséria", em termos, porém. Conquanto o programa seja um êxito reconhecido em todo o mundo, por sua abrangência, sistema de recebimento do benefício e baixos índices de desvio, o fato é que continuam fora de seu alcance 700 mil famílias miseráveis dispersas pelo País. Decerto esse contingente diminuirá com o tempo. Mas o que se mantém inatacado em ampla escala - e sem sinal de mudança no horizonte - é a miserável qualidade de vida das populações "bolsistas". Elas comem melhor, vestem-se melhor e têm mais bens domésticos do que antes. O dinheiro dos auxílios anima a economia dos respectivos municípios.
Mas nada disso supre as carências de que padecem, omitidas nos festejos reeleitorais da presidente. Um dado resume a esqualidez do ambiente típico onde vivem os assistidos: segundo números recentes do IBGE, 21,9 milhões de crianças de até 14 anos - 48,5% da população nessa faixa de idade - não têm acesso a serviços básicos de saneamento. Delas, 4,8 milhões correm sério risco de contrair doenças. Mesmo onde não falta água, o esgoto é inadequado ou nenhum, a coleta de lixo é precária ou inexistente, a escola é ruim. E, como sempre, a infraestrutura melhora menos onde mais precisaria melhorar. "A transferência de renda", comenta o economista Cláudio Dedecca, da Unicamp, "é a parte mais fácil do combate à pobreza."
==========

Cenário de estagnação

21 de fevereiro de 2013 | 2h 03
Editorial O Estado de S.Paulo
 
A economia brasileira continuará travada em 2013, crescerá pouco mais que 3% no ano e menos que 7% no primeiro triênio da presidente Dilma Rousseff, segundo projeções captadas na semana passada pela pesquisa Focus, do Banco Central (BC). Se as estimativas estiverem certas, o Brasil se manterá como o menos dinâmico dos Brics e um dos menos ágeis entre os países em desenvolvimento. As previsões talvez melhorem nos próximos meses, mas os dados conhecidos até agora confirmam o desempenho muito fraco em 2012 e são pouco animadores em relação às perspectivas de curto prazo.
A informação mais recente é o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-BR), publicado mensalmente. Para os analistas, esse dado serve como antecipação, embora imperfeita, do PIB calculado a cada trimestre pelo IBGE. Aquele indicador cresceu 0,26% de novembro para dezembro, descontados os fatores sazonais, e acumulou no ano uma expansão de 1,35%.
Este número é maior que as estimativas de aumento do PIB, quase todas em torno de 1%, mas, apesar disso, também é muito ruim. Informações mais detalhadas e mais completas sobre a economia brasileira só serão publicadas dentro de algum tempo pelo IBGE, mas dificilmente surgirá um quadro muito diferente daquele conhecido até agora e confirmado, de modo geral, pelo índice mais recente do BC. O IBGE divulga todo mês levantamentos nacionais da produção industrial e das vendas do comércio varejista, além de informações sobre o emprego.
Os últimos dados, referentes a dezembro, confirmaram, de modo geral, o cenário observado ao longo do ano. O emprego se manteve elevado e a massa de rendimentos à disposição das famílias continuou maior que a de um ano antes. Essa condição, somada à expansão do crédito e aos estímulos fiscais ao consumo, permitiu a expansão do comércio. O volume das vendas do varejo restrito (sem veículos, peças e materiais de construção) diminuiu 0,5% de novembro para dezembro, mas acumulou no ano um crescimento de 8,4%. No caso do varejo ampliado, as vendas de 2012 foram 8% maiores que as do ano anterior. Os resultados do emprego e do consumo privado contrastaram fortemente, no entanto, com os da produção industrial.
Segundo o IBGE, a indústria ficou estável de novembro para dezembro e acumulou em 12 meses uma redução de 2,7% em relação ao período anterior. No resultado global de 2012 houve queda em todas as grandes categorias de bens industriais, até porque uma parte relevante do consumo foi suprida por mercadorias importadas. Mas o dado mais preocupante quando se tenta avaliar a perspectiva de expansão econômica é o recuo da fabricação de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos destinados à reposição e à ampliação da capacidade produtiva e, em geral, à modernização tecnológica. Em dezembro, a produção desses bens foi 0,8% menor que no mês anterior e 14,7% inferior à de igual mês de 2011. A redução acumulada no ano chegou a 11,8%. A importação de máquinas e equipamentos foi obviamente insuficiente para compensar a retração das compras de bens de capital nacionais.
A queda do investimento limita fortemente a capacidade de crescimento do País. A expansão do PIB poderá ser um pouco maior a curto prazo, mas o impulso logo se esgotará, por falta de capacidade produtiva. Se o consumo privado e o custeio do governo continuarem aumentando, haverá um aumento das pressões inflacionárias, combinado, provavelmente, com uma piora das contas externas.
Uma sondagem do clima econômico da América Latina, realizada em janeiro, mostrou melhora na avaliação das condições imediatas em 5 dos 11 países cobertos. Em relação às perspectivas, a avaliação melhorou em 7. Nas duas listas, o Brasil aparece do lado da piora. Apesar disso, o índice de expectativas dos especialistas brasileiros entrevistados ficou em 7,2, acima da média de 10 anos (6). Esse otimismo pode ajudar. Difícil mesmo é explicá-lo, diante dos dados - especialmente dos investimentos - conhecidos até agora.
Posted by Paulo Roberto de Almeida at 03:34 Nenhum comentário:
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Labels: crescimento, editorial O Estado de S.Paulo, programas sociais, redução da pobreza
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Doutor em Ciências Sociais, com vocação acadêmica voltada para os temas de relações internacionais, de história diplomática do Brasil e para questões do desenvolvimento econômico. Profissionalmente, sou membro da carreira diplomática desde 1977. Minhas preocupações cidadãs voltam-se para os objetivos do desenvolvimento nacional, do progresso social e da inserção internacional do Brasil. Entendo que cinco das condições básicas para que tais objetivos sejam atingidos podem ser resumidas como segue: macroeconomia estável, microeconomia competitiva, boa governança, alta qualidade dos recursos humanos e abertura ao comércio internacional e aos investimentos estrangeiros. Este blog serve apenas de divertissement. Para meus trabalhos mais sérios, ou pelo menos de caráter acadêmico, ver o site http://www.pralmeida.org/.

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Recomendações aos cientistas, Karl Popper:
Extratos (adaptados) de Ciência: problemas, objetivos e responsabilidades (Popper falando a biólogos, em 1963, em plena Guerra Fria):
"A tarefa mais importante de um cientista é certamente contribuir para o avanço de sua área de conhecimento. A segunda tarefa mais importante é escapar da visão estreita de uma especialização excessiva, interessando-se ativamente por outros campos em busca do aperfeiçoamento pelo saber que é a missão cultural da ciência. A terceira tarefa é estender aos demais a compreensão de seus conhecimentos, reduzindo ao mínimo o jargão científico, do qual muitos de nós temos orgulho. Um orgulho desse tipo é compreensível. Mas ele é um erro. Deveria ser nosso orgulho ensinar a nós mesmos, da melhor forma possível, a sempre falar tão simplesmente, claramente e despretensiosamente quanto possível, evitando como uma praga a sugestão de que estamos de posse de um conhecimento que é muito profundo para ser expresso de maneira clara e simples.
Esta, é, eu acredito, uma das maiores e mais urgentes responsabilidades sociais dos cientistas. Talvez a maior. Porque esta tarefa está intimamente ligada à sobrevivência da sociedade aberta e da democracia.
Uma sociedade aberta (isto é, uma sociedade baseada na idéia de não apenas tolerar opiniões dissidentes mas de respeitá-las) e uma democracia (isto é, uma forma de governo devotado à proteção de uma sociedade aberta) não podem florescer se a ciência torna-se a propriedade exclusiva de um conjunto fechado de cientistas.
Eu acredito que o hábito de sempre declarar tão claramente quanto possível nosso problema, assim como o estado atual de discussão desse problema, faria muito em favor da tarefa importante de fazer a ciência -- isto é, as idéias científicas -- ser melhor e mais amplamente compreendida."

Karl R. Popper: The Myth of the Framework (in defence of science and rationality). Edited by M. A. Notturno. (London: Routledge, 1994), p. 109.

Uma recomendação...

Hayek recomenda aos mais jovens:
“Por favor, não se tornem hayekianos, pois cheguei à conclusão que os keynesianos são muito piores que Keynes e os marxistas bem piores que Marx”.
(Recomendação feita a jovens estudantes de economia, admiradores de sua obra, num jantar em Londres, em 1985)

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