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segunda-feira, 11 de abril de 2022

Museu do Ipiranga conclui obras de restauro de seu edifício-monumento - Adriana Cruz, Adrielly Kilryann (Jornal da USP)

Museu do Ipiranga conclui obras de restauro de seu edifício-monumento

 Jornal da USP, 08/04/2022

https://jornal.usp.br/institucional/museu-do-ipiranga-conclui-obras-de-restauro-de-seu-edificio-monumento/

Juntamente às obras de restauro e ampliação, acontecem os trabalhos de conservação do acervo  - Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Museu será reinaugurado em setembro com prédio reformado, o dobro da área construída e 12 exposições com itens de acervo inteiramente restaurados

Autor: Conteúdo Comunicação/Colaboração: Adriana Cruz

Arte: Adrielly Kilryann/Jornal da USP

No final do mês de março, foram concluídas as obras de restauro do edifício-monumento do Museu do Ipiranga. Desde outubro de 2019, o prédio, que foi inaugurado em 1890, tem passado por uma reforma total, com reparos em todos os detalhes da arquitetura, incluindo os 7.600 metros quadrados das fachadas, que, pela primeira vez em sua história, passaram por limpeza, decapagem, recuperação dos ornamentos, aplicação de argamassa, tratamento de trincas e pintura.

Para pintar, foi utilizada uma tinta mineral, desenvolvida especialmente para o museu, que permite a troca de umidade entre o prédio de cal e o ambiente. Um estudo estratigráfico [ramo da geologia que estuda as camadas de rochas] e o processo de decapagem também tornaram possível recuperar a cor original da construção do século 19.

Tetos e paredes do interior receberam tratamento similar. Os elementos de marcenaria, como as 450 portas e janelas, foram catalogados, retirados e restaurados em oficinas no canteiro de obras, e recolocados no mesmo lugar, bem como os 1.900 metros quadrados de assoalho que revestem o piso da edificação. Os pisos de ladrilho hidráulico franco-alemão também passaram por restauro. Com a instalação de elevadores, o edifício-monumento será, enfim, totalmente acessível.

Os elementos de marcenaria, como as 450 portas e janelas, foram catalogados, retirados e restaurados em oficinas no canteiro de obras - Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Outro quesito essencial no projeto são os métodos para prevenção de incêndios. O sistema de sprinklers adotado é do tipo “pré-ação” com tecnologia que antevê alarmes falsos, evitando disparos acidentais. Já o sistema de detecção de fumaça utiliza a técnica de aspersão (sucção do ar em intervalos fixos) para constante análise, podendo identificar partículas de resíduos queimados que podem prenunciar um incêndio. Os sistemas comuns de detecção de fumaça são acionados apenas em caso de muita fumaça, ou seja, após o incêndio ter tomado certa proporção. Dessa forma, com a técnica de aspersão, garante-se a proteção do prédio por meio de um sistema mais efetivo.

Agora, o prédio caminha para a conclusão de sua última etapa de obras antes de sua reabertura em setembro, para a celebração do bicentenário da Independência do Brasil: a de ampliação. Foi realizada uma escavação em frente ao edifício, que abrigará a nova entrada, bilheteria, auditório para 200 pessoas, espaço educativo, café, loja e sala de exposição temporária. Na esplanada, o assentamento do piso em mosaico português da área central avançou e tem previsão de finalização para este mês de abril. Pela primeira vez na história do museu, a instituição estará apta a receber acervos de outras instituições, inclusive internacionais, graças à instalação de ar-condicionado.

O projeto abarca também o Jardim Francês, localizado em frente ao edifício-monumento. Estimada em R$ 19 milhões e custeada pelo governo do Estado, a proposta prevê a restauração de toda a área construída e de paisagismo, além da reforma do espaço da antiga administração para instalação de um restaurante, criação de infraestrutura para food bikes, restauro e modernização da iluminação pública, requalificação das vias de acesso, contemplando também equipamentos de acessibilidade, e a reativação da fonte central. Até o momento, os 14 delfins e cachepôs que adornam as fontes foram restaurados e reinstalados. Os ornamentos tiveram suas trincas reparadas em laboratório com o mesmo material de origem e já foram religados às mangueiras das novas instalações.

 

“Este projeto é superlativo em todas as suas dimensões, pois envolve a preservação, a restauração e a ampliação de um patrimônio histórico brasileiro do século 19. A conclusão desta primeira fase da obra representa um importante passo para que possamos entregar o Novo Museu do Ipiranga para a população em setembro, neste que é um ano emblemático para a história de nosso país”, destaca o reitor da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior.

Carlos Gilberto Carlotti Junior - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Carlos Gilberto Carlotti Junior - Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Rosaria Ono - Foto: Arquivo pessoal

Rosaria Ono - Foto: Arquivo pessoal

“A restauração do edifício-monumento só foi possível graças à equipe multidisciplinar que atua nas obras. O trabalho envolveu desde pesquisa em fotografias e documentos históricos, até estudos e testes in loco, sempre com o acompanhamento de profissionais de restauro e dos órgãos de patrimônio, para que juntos chegássemos - o mais próximo possível - às feições do prédio inaugurado no século 19”, comenta a diretora do Museu Paulista, Rosaria Ono. 

Acervo restaurado e novas exposições

Simultaneamente às obras de restauro e ampliação acontecem os trabalhos de conservação dos itens que estarão expostos na reabertura. São mais de 3 mil objetos do acervo que estão passando ou já passaram por restauração. Dentre eles, encontram-se 122 pinturas e duas maquetes de grande porte. Do número total de peças a serem expostas, 2.800 já tiveram seus restauros finalizados.

 

Todo o acervo artístico do chamado Eixo Monumental, que inclui o Salão Nobre, as escadarias e o saguão do prédio do museu é patrimônio cultural tombado pelos órgãos de preservação - Foto: Reprodução/Helio Nobre

O quadro mais conhecido do acervo do museu – a tela Independência ou Morte, de Pedro Américo – foi um dos primeiros trabalhos a serem restaurados, em 2019. Mas a pesquisa para o restauro do quadro começou ainda em 2017. O restauro foi realizado no Salão Nobre, espaço onde o quadro permaneceu, devido ao seu tamanho. A tela, com dimensões de 415 cm x 760 cm, é maior do que as portas e janelas do salão e foi montada originalmente no local onde está até hoje, sem nunca ter sido retirada. A equipe do museu teve a tarefa de protegê-la dos resíduos do restauro da sala, com um tecido especial que impede a entrada de pó, permitindo que a obra “respire”.

Na inauguração do Novo Museu do Ipiranga, o público terá a oportunidade de visitar 12 exposições – 11 de longa duração e uma mostra temporária. As de longa duração são divididas em dois eixos temáticos: Para entender a sociedade e Para entender o museu. A exposição de curta duração, denominada Memórias da Independência, estará aberta por quatro meses. O tema foi escolhido por estar diretamente relacionado ao ano de reabertura do museu e ao bicentenário da Independência, e trará acervos de outras instituições brasileiras, especialmente do Rio de Janeiro e da Bahia.

Foto: Reprodução/José Rosael

Foto: Reprodução/José Rosal

Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Foto: Reprodução/Helio Nobre

Foto: Reprodução/Helio Nobre

Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Foto: Reprodução/José Rosael

Foto: Reprodução/José Rosael

Foto: Reprodução/José Rosael

Foto: Reprodução/José Rosael

Foto: Reprodução/José Rosael

Foto: Reprodução/José Rosael

Foto: Reprodução/José Rosael

Foto: Reprodução/José Rosael

Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

Foto: Reprodução/Concrejato; José Rosael; Helio Nobre

No total, serão expostos 3.058 itens pertencentes ao acervo do museu, 509 itens de outras coleções e 76 reproduções e fac-símiles. A maior parte dos objetos data dos séculos 19 e 20, mas há itens mais antigos, que remontam ao Brasil colonial. São pinturas, esculturas, moedas, documentos textuais, fotografias, objetos em tecido e madeira que foram conservados e preparados para fazer parte do novo projeto expográfico. Outro aspecto importante das novas exposições do museu é a tratativa com a presença de monumentos que homenageiam figuras e situações controversas, como estátuas de bandeirantes e quadros com representações que celebram a destruição de missões e populações indígenas.

Outra das premissas do novo projeto é a acessibilidade. Haverá telas táteis, reproduções em metal, dioramas (maquetes tridimensionais feitas a partir das obras do museu), plantas táteis para localização dos visitantes, dispositivos olfativos, reproduções visuais e táteis (reproduções de imagens com aplicações de texturas para o toque), reproduções 3D e em outros materiais semelhantes aos objetos originais (como pedra e metal), cadernos em braile, amostras de texturas e objetos originais adquiridos especificamente para o manuseio dos visitantes. O processo ainda se completará na programação educativa a ser oferecida, com ações e estratégias de mediação que visam a contemplar distintos perfis de público.

Na esplanada, o assentamento do piso em mosaico português da área central avançou e tem previsão de finalização para este mês de abril - Foto: Reprodução/Helio Nobre

Parceiros e patrocinadores

Fechado desde 2013, o Museu do Ipiranga seguiu em atividade com eventos, cursos, palestras e oficinas em diversos espaços da cidade. As obras de restauro, ampliação e modernização do museu são financiadas via Lei de Incentivo à Cultura e conta com os seguintes parceiros e patrocinadores: BNDES, Fundação Banco do Brasil, Vale, Bradesco, Caterpillar, Comgás, CSN, EDP, EMS, Itaú, Sabesp, Santander, Banco Safra, Honda, Raízen, Postos Ipiranga, Pinheiro Neto Advogados, Atlas Schindler, Novelis, B3, GHT, Nortel, Dimensional, Goldman Sachs, Rede D’Or e Too Seguros. O custo da reforma é estimado em R$ 211 milhões.

A gestão do projeto Novo Museu do Ipiranga é feita de forma compartilhada pelo Comitê Gestor Museu do Ipiranga 2022, pela direção do Museu Paulista e pela Fundação de Apoio à USP (Fusp). Para mais informações sobre o restauro, acesse o site do museu.


domingo, 29 de agosto de 2021

A restauração da diplomacia na gestão atual - Leonardo Lellis (Revista Veja)

 Política

Carlos França retoma pragmatismo no Itamaraty para reconstruir pontes

  • Após encontrar uma pasta contaminada pelos delírios ideológicos do bolsonarismo, chanceler tenta recuperar o diálogo com parceiros

Ainda na campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro fez uma das promessas que viria a descumprir assim que empossado no cargo: retirar o que considerava ser “viés ideológico” das relações exteriores do Brasil. Aconteceu exatamente o contrário. Nomeou Ernesto Araújo, que pautou a condução de sua política externa pelas teorias conspiratórias do escritor Olavo de Carvalho, priorizou relações com governos à imagem e semelhança de seu ideário ultraconservador e criou atritos com parceiros históricos até o ponto em que a sua permanência se tornou insustentável. Agora, o chanceler Carlos França, que se aproxima de completar cinco meses à frente do Itamaraty, tenta consertar o estrago. Ainda que empreendida de forma discreta, a mudança é sentida tanto nas questões internas quanto nos discursos e gestos de aproximação de países antes hostilizados. “O ministro trabalha para reconstruir as pontes que foram dinamitadas e recuperar o nível de confiança no Itamaraty”, obser­va Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington.

O sinal dos novos tempos foi dado já no discurso de posse, quando França se descolou do negacionismo do antecessor ao reconhecer a gravidade das crises ambiental e sanitária. Em um movimento interno, trocou o comando da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag). De respeitado órgão dedicado às questões acadêmicas, ele havia se tornado na gestão Araújo uma máquina de promover desinformação sobre a Covid-19 e espalhar boatos conspiratórios associando a China à disseminação da doença. As sandices foram tantas num passado recente que a Funag acabou entrando no radar das investigações da CPI da Pandemia. Cicerone de olavistas e suas teses nos eventos que promovia, o presidente Roberto Goida­nich foi exonerado por França.

FORA DO CIRCUITO - Eduardo Bolsonaro (em visita a Donald Trump) e o assessor Filipe Martins (abaixo, com o guru Olavo de Carvalho): eles perderam o espaço que tinham com Ernesto Araújo e a influência na política externa -
FORA DO CIRCUITO – Eduardo Bolsonaro (em visita a Donald Trump) e o assessor Filipe Martins (abaixo, com o guru Olavo de Carvalho): eles perderam o espaço que tinham com Ernesto Araújo e a influência na política externa – @bolsonaro.enb/Facebook; @filgmartin/Instagram

O movimento mais delicado até aqui envolveu afastar gradativamente do raio de influência do Itamaraty dois nomes de maior peso, a começar pelo assessor especial da Presidência, Filipe Martins, outro discípulo de Olavo. Nos tempos de Araújo, dizia-se que Martins, um dos mais empenhados na cruzada ultraconservadora, tinha mais poder que o próprio ministro e havia se tornado até um conselheiro influente do presidente. Hoje, França nem sequer o recebe em seu gabinete. Com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), o ministro tem apenas uma relação protocolar. A frieza é recíproca: se cada gesto de Araújo era celebrado e replicado pela dupla para a horda de seguidores no Twitter, França não conta com a mesma deferência. Apesar disso, Martins e o filho Zero Três do presidente continuam com a pretensão de terem interlocução fora das fronteiras, mas hoje ela se resume a laços com o ex-­presidente americano Donald Trump e movimentos internacionais de direita — um exemplo é a organização da CPAC, evento de extrema direita que acontece nos dias 3 e 4 setembro em Brasília (e que terá entre os palestrantes o próprio Ernesto).

Com o afastamento da dupla e da influência olavista na pasta, diplomatas e servidores celebram nos corredores do Itamaraty que o clima de caça às bruxas tenha se dissipado. O mesmo alívio se nota nas relações com outros países. Foi França, por exemplo, quem convenceu o presidente a escrever uma carta a Joe Biden para reduzir as desconfianças em relação à política ambiental brasileira. Também são marcas dessa inflexão a posição em organismos internacionais. O país se absteve de votar pela abertura de investigação contra Israel por crimes de guerra em Gaza, aprovada no Conselho de Direitos Humanos da ONU, e para condenar o embargo econômico a Cuba. “Essas abstenções já representam uma guinada que seria inimaginável sob Ernesto Araújo”, diz o professor da FGV Guilherme Casarões, especialista em relações internacionais.

HISTÓRICO - Oswaldo Aranha: o brasileiro preside a Assembleia-Geral da ONU que definiu a partilha da Palestina em 1947 -
HISTÓRICO - Oswaldo Aranha: o brasileiro preside a Assembleia-Geral da ONU que definiu a partilha da Palestina em 1947 – Bettmann Archive/Getty Images

Considerando-se a lista de problemas criados pela gestão anterior, o maior trabalho até o momento tem sido normalizar as relações com a China, o principal parceiro comercial e alvo dos piores ataques de membros do governo, incluindo o próprio Araújo. “O diálogo está restabelecido e agora há mais boa vontade por parte da China, mas a desconfiança está plantada”, pondera o diplomata Valdemar Carneiro Leão, ex-embaixador em Pequim. O primeiro chanceler a receber um telefonema do novo ministro foi o chinês Wang Yi. “O embaixador da China no Brasil mantém contatos frequentes com o chanceler brasileiro, que tem reiterado que as relações com a China são uma prioridade da diplomacia brasileira e que o relacionamento bilateral é amplo, mutuamente benéfico e estratégico”, relata o porta-voz da embaixada chinesa, Qu Yuhui. Os dois países se preparam para promover, ainda neste ano, a reunião de cúpula da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban). Entre representantes do agronegócio, a sensação é de otimismo por poder projetar um futuro com menos solavancos com o maior destino de nossas exportações. O mesmo se dá com o papel ativo que o Itamaraty passou a exercer na busca de imunizantes contra a Covid-19, ao contrário de Araújo. França se reuniu com o colega chinês na primeira reunião do Fórum Internacional sobre Cooperação em Vacinas.

Sob todos os aspectos e frentes, trabalho não falta. Mesmo a relação com aliados históricos está sendo refeita, como com a Argentina, onde o presidente Alberto Fernández tem a oposição de Bolsonaro desde a sua campanha. Existem questões práticas a resolver com os hermanos, como diminuir as resistências à redução da tarifa externa comum do Mercosul. Para avançar nas discussões, França se reuniu três vezes com Felipe Solá, ministro das Relações Exteriores argentino. No Senado, fonte das pressões que levaram à queda de Araújo, França também tenta recompor o diálogo. Já participou de duas reuniões convocadas pela senadora Kátia Abreu (PP-TO), presidente da Comissão de Relações Exteriores, que processou Ernesto por insinuar que ela fazia lobby em favor dos chineses — ela venceu.

OSTRACISMO - Ernesto Araújo: a atuação se resume a dar palestra para radicais -
OSTRACISMO - Ernesto Araújo: a atuação se resume a dar palestra para radicais – Evan Vucci/AP/Imageplus/.

O desafio maior do novo chanceler é avançar ainda mais nessa faxina diplomática, já que ele não pode contrariar frontalmente as diretrizes do Palácio do Planalto. “Não vejo como França será capaz de melhorar a posição do Brasil internacionalmente. Qualquer grande mudança terá de vir de Bolsonaro, e isso também provavelmente não terá credibilidade. A visão em Washington é a de que o Brasil hoje é mal administrado em muitas frentes e, provavelmente, incapaz de mudar enquanto Bolsonaro estiver na Presidência”, avalia o brasilianista Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano, instituição dedicada a discutir a América Latina.

Muito embora não possa ter sucesso na impossível tarefa de controlar o presidente, França tem a seu favor a proximidade que alcançou ao conviver com Bolsonaro quando era chefe de cerimonial do Palácio do Planalto. Não estimular os arroubos presidenciais e costurar nos bastidores já é um bom começo para que o Itamaraty retome um rumo mais razoável. A relevância histórica do Brasil na área de relações internacionais foi delineada desde que o Barão do Rio Branco atuou para definir as fronteiras do país e teve momentos grandiosos como o papel de Oswaldo Aranha na Assem­bleia-Geral da ONU em 1947 que definiu a partilha da Palestina e abriu caminho para o Estado de Israel. O que se espera é que o Itamaraty reencontre a sua história de respeito às outras nações e devolva ao Brasil o protagonismo que o país se esforçou por décadas para construir.

Publicado em VEJA de 1 de setembro de 2021, edição nº 2753