Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Ascensao e declinio do novo (agora quase velho) sindicalismo no Brasil: um livro a conferir
Mesmo sem conhecer o conteúdo exato, e os argumentos do autor, não sei se concordo com o título, pois NÃO acredito que o "novo sindicalismo" -- que já ficou velho desde os anos 1990 -- está em declínio, ao contrário.
Ele parece mais vitorioso do que nunca, tendo alcançado o poder, se instalado gostosamente e solidamente nele, e não parece querer dele sair, numa reprodução não semelhante, mas talvez similar, ao fenômeno peronista na Argentina.
Em todo caso, se as "mensagens" do "novo sindicalismo" já foram abandonadas -- e elas não são velhas, se julgarmos que se pedia liberdade sindical, fim do imposto e da subordinação dos sindicatos ao Estado, etc. -- esse sindicalismo que se deturpou, de prostituiu e virou praticamente um sindicalismo mafioso, ou quase isso, não se encontra perto do declínio, ao contrário; ele tem cada vez mais sucesso, a julgar pela "indústria dos sindicatos", uma das que mais proliferam no Brasil.
Eu até diria que temos ainda muito peronismo de araque pela frente, com um poder sindical cada vez mais disseminado, e talvez cada vez mais mafioso, como na Argentina.
Essa é a origem de um "pacto perverso" sobre o qual falarei em próxima oportunidade.
Paulo Roberto de Almeida
New Book: Rise and Decline of Brazil’s New Unionism
Jeffrey Sluyter- Beltrão
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PETER LANG - International Academic Publishers
are pleased to announce a new book by Jeffrey Sluyter-Beltrão:
RISE AND DECLINE OF BRAZIL’S NEW UNIONISM: The Politics of the Central Única dos Trabalhadores
(Oxford, Bern, Berlin, Bruxelles, Frankfurt am Main, New York,
Wien, 2010; XVI, 465 pp., num. tables and graphs; Trade Unions Past, Present and Future. Vol. 6; Edited by Craig Phelan; ISBN 978-3-0343-0114-5 pb.; sFr. 85.00 / EUR* 58.20 / EUR** 59.80 / EUR 54.40 / £ 49.00 / US-$ 84.95)
This book explores the political trajectory of Latin America’s most important contemporary labor movement. The New Unionism played a central role in Brazil’s struggle for democracy in the 1980s and recast the country’s subsequent party politics through its creation of the innovative Workers’ Party (PT). The author breaks new ground by analyzing this celebrated prototype of «social movement unionism» as a heterogeneous alliance of component factions that evolves in relation to shifting economic, political, and ideological contexts. Through the prism of internal politics, he shows how Brazil’s transitions – from military–authoritarian to liberal–democratic rule, from statist to free-market economic policies, and from a Leninist to a post-Leninist left – undermined the independent labor movement’s commitments to internal democracy, political autonomy, and societal transformation. The book concludes with a comparative assessment of Brazilian, South African, and South Korean social movement unionisms’ shared dilemmas, arguing that an adequate understanding of their relative declines demands more rigorous attention to the dynamic nexus between internal movement politics and shifting external environments.
Contents:
Brazil’s New Unionism: Late Twentieth-Century Movement and Early
Twenty-First-Century Vestige
Movement Actors, Labor
Institutions, and the Dynamics of Distinction
Convergence
(1978-1984): Organizing Civil Society against the State
Turbulence (1985-1989): Between Civil and Political Society
Divergence (1990-1995): The Bid for Constructive Integration into Political Society
Dilemmas of Decline: The Politics of Brazil’s
Social Movement Unionism in Comparative Perspective.
Jeffrey Sluyter-Beltrão is an Assistant Professor of Political Science at Alfred University in New York State.
sábado, 3 de julho de 2010
A esquerda brasileira rumo à irrelevância politica - Ethan Edwards
A jornada da esquerda petista em direção à irrelevância
por Ethan Edwards
Blog de Augusto Nunes, 03/07/2010
“A cada vez que Lula sentia necessidade de enforcar alguém, parte da esquerda corria a lhe oferecer um pedaço de corda, outra lhe trazia um pescoço”, constata Ethan Edwards em mais um texto admirável, que amplia e ilumina o post sobre a subordinação do PT à vontade de Lula e à cupidez do PMDB. É o tipo de leitura que não se adia:
Em 1980, a esquerda entregou a Lula a direção do processo de construção do PT. Compreendia que, de outro modo (isto é, com base nos princípios do marxismo ─ na hipótese de que alguém os conhecesse), não conseguiria construir o partido com que sonhava. Ou entregava a chefia do partido a Lula e seus amigos despolitizados (sabendo que daquilo adviria, na melhor hipótese, um partido populista) ou ficava à margem desse processo onde já se encontravam embarcados os militantes da Teologia da Libertação e o “novo sindicalismo”.
Optou, depois de pensar um pouco (na verdade, bem pouco), por associar-se a estes e ajudar a construir o partido que se dizia “dos trabalhadores”, reservando-se a ilusão de que, com o tempo, acabaria por arrebatar do operário personalista e seus cortesãos o comando do processo. Essa capitulação tinha um fundo realista. A esquerda já suspeitava (embora nunca tenha examinado de frente essa suspeita) que, em vez de complicados problemas teóricos, o que tornava impossível, no Brasil, a construção de um partido “verdadeiramente revolucionário” era algo bem mais difícil de “equacionar”: o povo brasileiro.
Cristão, conservador, respeitador das hierarquias, profundamente ligado à família, avesso a regras impessoais, o máximo de “comunismo” a que o brasileiro comum alguma vez se permitiu foi o de Dias Gomes e de João Saldanha, que estavam para Lênin e Trotsky assim como a umbanda está para a reforma protestante. Quem insistisse em construir no Brasil um partido marxista estaria condenado a viver num gueto. Lula, ao contrário da esquerda que o cercava, falava diretamente ao coração do “brasileiro médio”. O mais inteligente era entregar-lhe a chefia do novo partido.
Trinta anos depois, a situação da esquerda petista não melhorou. Na verdade, deteriorou-se por completo. Se lhe serve de consolo, entretanto, deve-se registrar que nessa jornada em direção à irrelevância a esquerda jamais pediu ajuda a ninguém. Caminhou sempre com as próprias pernas. A cada vez que Lula sentia necessidade de enforcar alguém, parte da esquerda corria a lhe oferecer um pedaço de corda, outra lhe trazia um pescoço. O executado quase sempre era um dos seus – mas isso não tinha importância.
O que importava, então? Boa pergunta. Aceitemos, por generosidade, que tudo não passou de um enorme erro de cálculo. Mas a pergunta que realmente interessa, no entanto, é outra, e não se refere ao passado: por que, trinta anos depois daquela decisão infeliz, a esquerda continua, como um velho serviçal desfibrado, a apoiar todos os atos, mesmo os mais desprezíveis, de um governo banalmente populista, que enriqueceu os milionários e se aliou ao que havia de pior na política brasileira, e que evidentemente jamais abrirá caminho para a “revolução”, qualquer que seja a revolução que a esquerda diz almejar?
A pessoa ideal para responder a essa pergunta já faleceu: a Dra. Nise da Silveira. Ex-trotskista, dedicou toda sua vida madura a tratar de esquizofrênicos. Ela provavelmente compreenderia, melhor do que ninguém, o que se passa na alma de um petista que continua a se imaginar “revolucionário”. Ela lhe daria tinta e pincel e o estimularia: “Pinte, meu filho. Pinte mandalas. Você vai se sentir muito melhor”.