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quinta-feira, 17 de junho de 2021

Pandemia, vacinas: enquanto o Itamaraty informava corretamente, Presidente e Sargento Tainha sabotavam os esforços para adquirir vacinas

 Os telegramas confidenciais revelados pela CPI da Pandemia confirmam que o Itamaraty atuou corretamente nos contatos e nas informações, mas o Planalto e a Saúde foram além de INCOMPETENTES, praticamente criminosos nas negociações para aquisição de vacinas, com tomadas de decisão ESCANDALOSAS.

Paulo Roberto de Almeida


Governo Bolsonaro negociou Covaxin três vezes mais rápido que vacina da Pfizer, mesmo após alertas do Itamaraty

Negociação foi concluída em 97 dias, mas telegramas diplomáticos apontaram dúvidas sobre eficácia e segurança do imunizante indiano

Natália Portinari, Júlia Lindner e Paula Ferreira

17/06/2021 - 12:33 / Atualizado em 17/06/2021 - 13:16

BRASÍLIA —  O governo brasileiro foi alertado em sucessivas ocasiões sobre "dúvidas" em relação à eficácia, à segurança e ao preço da vacina indiana Covaxin, mostram telegramas diplomáticos enviados à CPI da Covid pelo Itamaraty. Ainda assim, o processo de aquisição do imunizante foi o mais célere de todos, segundo documento do próprio Ministério da Saúde.

Enquanto o período entre a negociação e a assinatura do contrato para aquisição da  Covaxin levou 97 dias, o processo para compra do imunizante da Pfizer demorou 330 dias, o prazo mais longo entre todas as vacinas. Nenhuma outra negociação demorou menos de 100 dias, aponta uma nota informativa da Saúde enviada à CPI.

A pressa ocorreu mesmo após alertas da Embaixada do Brasil em Nova Déli sobre dúvidas envolvendo as condições da aprovação da vacina na Índia. Os problemas foram informados ao Itamaraty no mesmo período em que o presidente Jair Bolsonaro citava a vacina como uma das "escolhidas" pelo governo brasileiro, junto à da Oxford, em carta ao premiê indiano.

A CPI investiga os detalhes envolvendo a compra da Covaxin — o imunizante mais caro adquirido pelo país, a R$ 80,70 por dose, quatro vezes o valor unitário da AstraZeneca. A comissão quer saber como a representante da fabricante no Brasil, a empresa Precisa, alvo de inquéritos do Ministério Público, lucrou com a transação avaliada em R$ 1,6 bilhão para fornecer 20 milhões de imunizantes. A vacina é produzida pela Bharat Biotech, companhia indiana.

Com o atraso para a aprovação do laboratório pela Anvisa, as 20 milhões de doses adquiridas pelo Brasil ainda não foram enviadas. Em março, o Ministério da Saúde tentou importar três lotes da Covaxin com prazo de validade perto do fim, mas foi impedido pela Anvisa.

A Embaixada do Brasil em Nova Déli informou os problemas no mesmo período em que o presidente Jair Bolsonaro citava a vacina como uma das "escolhidas" pelo governo em carta ao premiê indiano.

Em 5 de janeiro deste ano, a Embaixada informou que a autoridade sanitária da Índia havia aprovado a Covaxin e uma outra vacina, a Covishield (também conhecida como Oxford/AstraZeneca). Enquanto a vacina de Oxford já estava com a fase 2 e 3 de pesquisa em andamento, a fase 3 da Covaxin ainda não havia começado. O diplomata apontou que, segundo a imprensa local, seria difícil confiar nos dados finais de eficácia da Covaxin coletados após a aprovação.

"A imprensa (indiana) celebrou o iminente processo de vacinação e saudou os esforços  dos  cientistas indianos, mas levantou dúvidas com relação à aprovação sem dados finais de eficácia para ambas as vacinas e ao processo alegadamente opaco de deliberação dos órgãos oficiais, uma vez que não foram publicados os documentos que embasaram a decisão do painel de especialistas e do DGCI (autoridade sanitária indiana)", diz o telegrama enviado à CPI.

"Enquanto o 'The Hindu' destacou que a aprovação da Covaxin, ainda não testada, quase impossibilitaria uma boa condução da fase 3 de testes, o 'Mint' afirmou que a recusa do DGCI em receber perguntas após a coletiva de imprensa de anúncio da aprovação teria sido uma oportunidade perdida para afastar dúvidas com relação à eficácia e segurança das vacinas", aponta o documento de 5 de janeiro.

Os periódicos locais repercutiram também a desconfiança de especialistas em saúde "quanto à rapidez do processo de aprovação, que poderia minar a confiança do público na segurança das vacinas e levar a problemas no processo de vacinação". A embaixada notou ainda que quem tomaria a vacina deveria assinar um termo de responsabilidade e ser monitorado, já que a eficácia não era comprovada.

Em seguida, em 7 de janeiro, a Embaixada do Brasil em Nova Déli recebeu o presidente da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, para uma reunião em que ele defendeu o negócio com a Bharat. Um dia depois, o presidente Jair Bolsonaro informou por carta ao primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que a Covaxin havia sido uma das vacinas "escolhidas", junto com a AstraZeneca, pelo governo brasileiro.

Em 15 de janeiro, a embaixada relatou questionamentos sobre o preço da Covaxin. "Especialistas em saúde pública têm criticado o alto preço que o governo informou teria pagado por cada dose da vacina (USD 2,70 para Covishield, USD 4,10 para Covaxin), superior ao que os governos europeus estariam desembolsando pela vacina Oxford/Astrazeneca, sobretudo considerando-se os menores custos de fabricação na Índia." No Brasil, a vacina custou 15 dólares a dose, mais de R$ 80.

O mesmo telegrama informa ao Brasil que governos estaduais indianos questionaram a aplicação da Covaxin, preferindo optar pela vacina da AstraZeneca. "Após alguns Estados, a exemplo de Chhattisgarh, terem manifestado preocupação com relação à falta de dados de eficácia da Covaxin (...) o vice-ministro da saúde, Rajesh Bhushan, informou que nem governos estaduais, nem indivíduos poderão optar entre as duas vacinas", registrou a correspondência da embaixada.

Após os avisos, o governo assinou o contrato com a Precisa Medicamentos em 25 de fevereiro de 2021. Fechou o negócio, portanto, antes da Janssen e da Pfizer, vacinas cuja documentação sobre a eficácia era mais robusta, segundo especialistas.

https://oglobo.globo.com/brasil/governo-bolsonaro-negociou-covaxin-tres-vezes-mais-rapido-que-vacina-da-pfizer-mesmo-apos-alertas-do-itamaraty-25065263



Bolsonaro atacava OMS enquanto Brasil pedia à instituição socorro por vacinas, mostram documentos da CPI

Por Amanda Almeida

17/06/2021 • 12:28

Oito dias depois de Jair Bolsonaro chamar a OMS de “desacreditada”, em mais um ataque desferido à instituição durante a pandemia, o então ministro da Saúde Eduardo Pazuello pediu socorro ao organismo multilateral pela antecipação de vacinas.

O relato está em um documento sigiloso, em posse da CPI da Covid, encaminhado pelo Itamaraty às delegações permanentes do Brasil em Washington e Genebra.

Em uma carta enviada ao diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, no dia 19 de março passado, reproduzida às delegações pelo Ministério das Relações Exteriores, Pazuello dizia que o país enfrentava “momento crítico da pandemia de Covid-19, com aumento significativo de número de casos e de óbitos”.

Segundo o então ministro da Saúde, “a melhor maneira de fazer frente a essa situação é seguramente por meio da vacinação acelerada de toda a população”.

E concluía: “é nesse contexto que peço pela antecipação do recebimento das doses de vacinas contra a Covid-19 contratadas pelo Brasil no marco da iniciativa Covax Facility. Do total de 42,5 milhões de doses contratadas, temos alocadas 9.122.400 doses da vacina AZD1222, com apenas 2.997.600 doses com entrega prevista para março corrente."

No consórcio internacional, o Brasil optou por somente metade das doses que poderia contratar, desistindo de mais de 40 milhões delas.

Uma semana antes do apelo de Pazuello à OMS, que citou a Tedros Adhanom as "prósperas relações" entre o Brasil e a instituição, Bolsonaro distorceu falas de dirigentes da organização para chamá-la de “desacreditada”, depois de já ter anunciado que o Brasil poderia deixar de fazer parte dela.

https://blogs.oglobo.globo.com/lauro-jardim/post/bolsonaro-atacava-oms-enquanto-brasil-pedia-instituicao-socorro-por-vacinas-mostram-documentos-da-cpi.html


quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Desastre diplomatico em Washington: embaixador informa errado sobre eleições (OESP)

 Não esperava isso de Nestor Forster, um rapaz inteligente quando foi meu aluno no Instituto Rio Branco, e que parece ter ficado transtornado por “excesso de olavismo”, um barbitúrico poderoso que embota o pensamento. Dá para se recuperar, desde que se afaste da droga.

Paulo Roberto de Almeida


Embaixador  nos EUA orientou Brasil a não admitir triunfo de Biden

Apenas na terça-feira, 15, 38 dias após vitória democrata, Planalto reconheceu resultado

Estadão | 16/12/2020, 5h

BRASÍLIA - Com um atraso de 38 dias, Jair Bolsonaro reconheceu na terça-feira, 15, a vitória de Joe Biden na eleição dos EUA. Foi o último dos países que compõem o G-20 a fazer isso – instruído pelo embaixador Nestor Forster, conforme telegramas a que o Estadão teve acesso com exclusividade. Na contramão de observadores americanos e europeus, o diplomata enviou a Brasília, ao longo da contagem dos votos, descrições baseadas em análises e notícias falsas que questionavam a lisura da disputa vencida por Joe Biden.

Durante a apuração, o presidente brasileiro demonstrou sintonia ao discurso eleitoral de Trump, algo incomum na história da diplomacia nacional, a ponto de não comentar a derrota do aliado. Por sua vez, Forster Junior escreveu mensagens informativas que Bolsonaro queria ouvir. Uma série de cinco telegramas obtidos pelo Estadão, por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), revela a atuação do embaixador na missão de orientar o governo. Nelas, o diplomata repassou, num primeiro momento, análises que enfatizavam a desconfiança no processo eleitoral e, depois, com a confirmação do resultado favorável ao democrata, relatos que apostavam numa virada de mesa nos tribunais.

As mensagens enviadas entre 5 e 12 de novembro pelo embaixador, num total de 22 páginas, destacaram comentários e expectativas de aliados do candidato republicano. A reportagem teve acesso ainda, via LAI, a outros dez telegramas, 54 páginas, enviados em julho e agosto, meses das convenções partidárias. Procurado, o embaixador disse que não comentaria o conteúdo dos seus textos.

Na noite de 6 de novembro, horas antes do anúncio da vitória de Biden, Forster Junior informou a Brasília que “estreitas margens tornam quase certos processos de recontagens e ações judiciais adicionais”. “A campanha do presidente Donald Trump já robustece sua assessoria legal para promover a recontagem nos Estados-chave e ações judiciais relativas a percebidas irregularidades e denúncias de fraude na apuração de votos”, comunicou Forster Junior. No dia seguinte, um sábado, o democrata era declarado vencedor e analistas políticos dos EUA consideravam improvável uma mudança do resultado.

Foster Junior ignorava até mesmo as posições dos corpos diplomáticos em Washington. Nos telegramas obtidos via LAI, o embaixador só relatou a 12 de novembro que o Reino Unido, a Alemanha e a França tinham reconhecido a vitória de Biden. Os governos desses países cumprimentaram o democrata ainda no dia 7. As mensagens não sinalizaram recomendações para Bolsonaro fazer o mesmo. Questionado em entrevistas sobre a postura de outros dirigentes de cumprimentar Biden, o presidente brasileiro rebatia com a pergunta se a disputa tinha acabado.

Só na tarde de terça-feira Bolsonaro cumprimentou Biden pelo Twitter. “Saudações ao presidente, com melhores votos e a esperança de que os EUA sigam sendo ‘a terra dos livres e o lar dos corajosos’”, escreveu na sua rede social. “Estarei pronto a trabalhar com o novo governo e dar continuidade à construção de uma aliança Brasil-EUA, na defesa da soberania, da democracia e da liberdade em todo o mundo, assim como na integração econômico-comercial em benefício dos nossos povos.”

Ainda no dia 6 de novembro, Forster Junior alertou em relação a “diversos relatos” de fraudes em Michigan, Pensilvânia, Arizona e Nevada. Comentaristas políticos dos Estados Unidos acusavam Trump de divulgar fake news e enfatizavam que as ações dele na Justiça seriam derrotadas. Naqueles dias, emissoras de TV chegaram a interromper entrevistas do presidente na Casa Branca para alertar sobre mentiras ditas ao vivo.

Nas mensagens a Brasília, Forster Junior atribuiu as acusações de fraudes sempre a “relatos” que disse ter ouvido. Sem citar fontes, ele registrou, no mesmo dia 6, “tráficos de cédulas eleitorais em pequena escala”, “intimidação e restrição de acesso de observadores eleitorais a locais de contagem de votos” e critérios de segurança “insuficientes” para verificação de assinaturas de eleitores em envelopes com cédulas enviados pelo correio. O diplomata relatou ainda ter ocorrido “correção de cédulas preenchidas incorretamente por eleitores, de modo indevido, por mesários”.

Informações

Em entrevista no dia 29 de novembro, no segundo turno das eleições municipais no Brasil, Bolsonaro colocou em dúvida o resultado das urnas nos Estados Unidos e disse ter “informações” seguras de que houve fraude no pleito. “A imprensa não divulga, mas eu tenho minhas informações, não adianta falar para vocês que vocês não vão divulgar, que realmente teve muita fraude lá. Teve, isso ninguém discute”, afirmou.

O embaixador brasileiro informou a Brasília, no dia 10, que Trump permanecia firme no propósito de rejeitar o resultado das urnas, ignorando mais uma vez que os analistas davam como certo um fracasso do republicano em levar o caso à Justiça. “Na tarde de hoje (10/11), o secretário de Estado Mike Pompeo afirmou, em resposta a pergunta de jornalista, que o Departamento de Estado estaria preparado para uma “suave transição para uma segunda administração Trump”. 

Ao citar o advogado pessoal de Trump, o ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, o embaixador brasileiro afirmou, em outro telegrama, que a primeira ação judicial de “escopo abrangente” havia sido protocolada junto à corte federal na Pensilvânia. “Na ação, os advogados do presidente argumentam que o sistema eleitoral do Estado criara um ‘sistema de dois trilhos de votação’, em que eleitores foram tratados de maneira distinta: os votos depositados pessoalmente teriam sido submetidos a critérios de transparência e verificação, ao passo que ‘a massa de votos’ enviada pelo correio estaria ‘envolta em obscuridade’”, destacou.

Segundo Forster, os “votos presenciais” teriam sido submetidos à rigorosa verificação de assinaturas e observação eleitoral, o que não teria ocorrido no caso de votos recebidos pelos correios. “Entre as irregularidades, é mencionado o acesso insuficiente de observadores eleitorais ao processo de verificação, legitimação e contagem dos votos pelo correio. Tais falhas teriam, segundo os autores, violado a ‘cláusula constitucional de proteção igualitária’”.

O telegrama reforça que o advogado de Trump solicitou ao juiz federal, “à luz das alegadas irregularidades”, liminar para impedir que Biden fosse considerado vencedor das eleições no Estado e a desconsideração de votos pelo correio enviados pelos condados da Filadélfia e de Allegheny. “Ambos os condados, de esmagadora maioria democrata, teriam processado mais de 600 mil votos recebidos pelo correio”.

Sobre a falta de provas sobre as supostas irregularidades, o embaixador disse que elas não foram apresentadas, pelos advogados de Trump, “nesse primeiro momento”. “Mas foram levadas ao conhecimento do juízo notícias veiculadas na imprensa e declarações de observadores eleitorais republicanos. Se o juiz do caso acatar o pedido de liminar republicano, será indício de abertura do juízo para análise mais detida de provas e do eventual êxito do processo”.