Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
sexta-feira, 21 de agosto de 2015
De volta ao ja conhecido: Ponha-se na Rua
Brasil e Mexico: por que continuam pobres? - Edmar Bacha, Regis Bonelli
Edmar Bacha e Regis Bonelli
Edmar Bacha é diretor do IEPE/Casa das Garças.
Regis Bonelli é pesquisador do Ibre-FGV.
Já se tornou um clichê entre os economistas parafrasear a abertura de Anna Karenina, que todas as famílias felizes são parecidas; as infelizes são infelizes cada uma a sua maneira. Mas a citação é pertinente para descrever as economias do Brasil e do México desde 1980.
Depois de um longo período de prosperidade, ambos os países viram suas taxas de crescimento afundar quase sincronicamente. Tiveram uma década perdida nos anos 1980 e introduziram reformas econômicas liberalizantes nos anos 1990. A ascensão da China fez suas fortunas diferirem na primeira década deste século, beneficiando o Brasil e prejudicando o México. Mas depois da Grande Recessão ambos estão tendo dificuldade para alcançar taxas decentes de crescimento.
Os dois países experimentaram contrações na acumulação de capital que foram profundas e duradouras, associadas aos colapsos do crescimento do PIB a partir do início dos anos 1980. As quedas na acumulação de capital não se deveram, entretanto, a declínios nas taxas de poupança, porque essas permaneceram constantes ou mesmo aumentaram depois de 1980. Os principais culpados pelos desastres foram quedas pronunciadas na produtividade do capital no México e fortes aumentos nos preços relativos do investimento no Brasil. Esses movimentos coincidiram com a crise da dívida do início da década de 1980 e com as subsequentes respostas de política: substituição ineficiente de importações de bens de capital no Brasil e políticas sociais que resultaram em aumento da informalidade no México.
Para se tornar rico um país tem que conseguir integrar-se tanto doméstica quanto internacionalmente
Apesar dessas semelhanças macroeconômicas, quando olhamos a evolução das respectivas estruturas econômicas mais a fundo, descobrimos que Brasil e México se tornaram infelizes cada um a sua maneira.
Na dimensão regional, observamos uma tendência para a desigualdade da renda entre os Estados aumentar no México e diminuir no Brasil desde a década de 1990. A razão aparente é que a atividade manufatureira floresceu no Norte do México, bem integrada com os EUA, mas com poucas ligações com o resto do país. No Brasil, ao contrário, a atividade manufatureira, altamente concentrada em São Paulo, perdeu dinamismo. Enquanto isso, a agricultura e a mineração, que são melhor distribuídas regionalmente, ganharam tração com o superciclo das commodities. Além disso, transferências de renda e políticas de salário mínimo foram mais eficazes para redistribuir renda do que programas similares no México. Mesmo assim, o Brasil continuou sendo um país mais desigual do que o México.
Dados sobre o comportamento da produtividade dos setores que participam ou não do comércio exterior mostram uma tendência para convergência das produtividades relativas no Brasil. Enquanto isso, no México a tendência é de divergência, com os setores que não entram no comércio exterior (serviços, em geral) se atrasando substancialmente em relação aos que participam do comércio exterior (manufaturas e petróleo, predominantemente). Esse resultado é consistente com a visão de que no México os setores que participam do comércio exterior são muito dinâmicos, mas esse dinamismo não extravasa para os setores voltados para o mercado doméstico. Enquanto isso, no Brasil os setores que entram no comércio exterior lutam para alcançar a produtividade dos setores voltados para o mercado interno (basicamente por causa da importância da agricultura nas exportações).
Quando se compara a evolução da produtividade por tamanho das firmas, o quadro para o México é bastante claro: o crescimento da produtividade das firmas grandes é muito maior do que o das firmas médias e pequenas, cuja produtividade, reduzida como já era, caiu ainda mais. A implicação é que, no México, o problema da baixa produtividade deveu-se de forma clara às pequenas e médias empresas, uma proporção alta do emprego nas quais é informal. No Brasil, o quadro é muito diferente: o crescimento da produtividade das empresas pequenas e médias na indústria de transformação foi similar ao observado nas empregas grandes. Lamentavelmente, em empresas de todos tamanhos o crescimento da produtividade foi extremamente baixo.
Constatamos, finalmente, que o México tem uma taxa de informalidade do trabalho mais alta do que o Brasil apesar de ter uma renda per capita mais alta do que a de nosso país. Além disso, lá a informalidade tem permanecido relativamente constante. Isso contrasta com o Brasil, onde a taxa de informalidade declinou substancialmente de 60% para 47% do emprego total no início deste século.
Concluímos que há diferenças relevantes na experiência recente de baixo crescimento dos dois países. O México abriu sua economia para comerciar com o resto do mundo e assim teve sucesso em desenvolver um setor industrial de primeira classe na região Norte mais rica do país. Uma integração doméstica similar não acompanhou essa integração externa. O dinamismo das grandes firmas exportadoras do Norte não se difundiu para as empresas médias e pequenas, informais, voltadas para o mercado interno, das regiões mais pobres do Sul. Como estas geram a maior parte do emprego e uma parte importante da produção total, a consequência foi uma taxa muito baixa de crescimento da produtividade do trabalho como um todo.
A disparidade entre os setores "moderno" e "tradicional" parece haver se ampliado no México. No Brasil, em diversas dimensões esse dualismo diminuiu. O Norte mais pobre cresceu mais rápido do que o Sul mais rico. A agricultura se deu melhor do que a manufatura. As grandes firmas não se sobressaíram em relação às firmas médias e pequenas. A informalidade diminuiu na última década. O problema do Brasil parece ter sido que, em contraste com o México, suas grandes firmas manufatureiras não se integraram à economia mundial e assim viram sua produtividade crescer quase nada. Isso resultou numa alavanca muito fraca para conseguir fazer mover o resto da economia para cima. Deste modo, o país permaneceu numa trajetória de baixo crescimento, exceto quando premiado pela loteria das commodities.
A conclusão é que para se tornar rico um país tem que conseguir integrar-se tanto doméstica quanto internacionalmente. Os colapsos de crescimento do Brasil e do México mostram como é difícil fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
A volta das politicas alopradas da anacronica "matriz economica"- Felipe Miranda (Empiricus)
Caro leitor,
Acabamos de ter a comprovação de mais uma tese econômica.
Foi dado o pontapé no "Terceiro Mandato".
O governo, sem sustentação na Câmara, sem apoio da população e boicotado pela própria base aliada, partiu para o que era a sua última alternativa: a guinada às esquerdas e retomada da agenda da "nova matriz econômica".
Dilma resgatou a política de privilégios concedidos a setores específicos utilizando estatais como instrumento.
O exemplo mais recente é gritante.
A Caixa anunciou concessão de R$ 5 bi em "empréstimos em condições especiais" para a cadeia automotiva, setor altamente estimulado, cujo impacto marginal de novas medidas já provou-se nulo, mas, cuja visibilidade da onda de demissões e sindicalização incomodam.
Mesmo após anos de benefícios fiscais e linhas especiais de Finame/BNDES, a cadeia produtiva de autos roda com retração de -18,5% no primeiro semestre deste ano.
Ou seja, foi tomada mais uma medida que desperta desconforto de ingerência política sobre estatais e com efeito praticamente nulo sobre o setor alvo.
É, novamente, enxugar gelo com dinheiro das estatais, sem ter esse dinheiro em conta.
Repete-se o expediente das pedaladas fiscais.
O brilhante economista Mansueto de Almeida chamou atenção para o mesmo fato.
As pedaladas fiscais que colocam em risco a legitimidade do Governo Dilma continuam sendo feitas em 2015.
Embora a magnitude seja menor este ano, o princípio é o mesmo: Caixa e Banco do Brasil financiando saldos negativos do Tesouro.
Como previsto, a política de ajuste fiscal de Joaquim Levy cedeu ao expediente da chamada nova matriz...
... a mesma que nos colocou em situação de anos consecutivos de recessão, inflação em dois dígitos, dólar a R$ 3,50, Bolsa em dólares próxima do piso de 2008 e rápida deterioração do mercado de trabalho.
Corremos risco moral (e financeiro) ao continuarmos permitindo a maquiagem do superávit primário.
Em breve, as agências de rating serão obrigadas a reconhecer isso em suas notas de crédito, e sofreremos novos rebaixamentos.
A tese foi comprovada.
O alerta, dado há algum tempo.
Dilma partiu para o que era a sua única alternativa.
Agora, é hora de eu e você lidarmos com as consequências.
Felipe Miranda (Empiricus)
A irracionalidade tributária da Receita, e a extorsão do Brasil contra o mundo - PRAlmeida a propósito de um Editorial da FSP
O Pescoção do PIS/Cofins
Editorial da Folha de S. Paulo, 21/08/2015
http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2015/08/1671552-o-pescocao-do-piscofins.shtml?cmpid=newsfolha
Comento (PRA):
A irracionalidade total, absurda, surrealista, perversamente extratora do sistema tributário brasileiro, mais bem qualificado como CONFISCATÓRIO, se revela quase que por inteiro neste Editorial da FSP, mas que trata apenas do absurdo do PIS/Cofins, uma extorsão disfarçada de financiamento à seguridade social (como se esta devesse incorrer sobre o faturamento das empresas, tornando-as menos rentáveis). Mas nem esse editorial, xinfrim, por sinal, escapa de um outro absurdo, que se revela nesta passagem: "Talvez a única deformação razoável a respeito do PIS/Cofins, uma vez que o mal parecia inamovível, tenha sido sua extensão para abranger bens importados. A providência veio em 2004, de modo a compensar a desvantagem competitiva dos produtos brasileiros."
Não há nada de absolutamente razoável nessa deformação grotesta do tributo, e o editorialista não se dá conta do equóvoco imenso que escreveu, ao dizer que a imposição dessa extorsão -- pois se trata de uma -- aos produtos importados vem "compensar a desvantagem competitiva dos produtos brasileiros"!!!! Ora, pitombas, se tenta "corrigir" um absurdo que se comete contra os produtores nacionais ao impor o absurdo -- TOTALMENTE DESCARACTERIZADO em seus objetivos explícitos -- aos produtores estrangeiros. Pergunto: o que eles têm a ver com o financiamento da seguridade social? Por acaso o dinheiro arrecadado será entregue aos produtores estrangeiros para eles financiarem a SUA seguridade social. E um crime cometido contra os produtores nacionais se torna menos crime ao fazê-lo incidir também sobre os estrangeiros? Se trata de uma ILEGALIDADE, e de uma falsa interpretação do sentido do Tratamento Nacional, uma cláusula inscrita nos princípios do Gatt, e que poderia receber contestação na OMC, contra o Brasil, caso os demais Estados membros resolvam contestar o tributo extorsivo, aliás recentemente elevado novamente (e exclusivamente contra os importados). Não pode haver equivalência de tratamento nacional pós-imposição da tarifa de importação, quando a finalidade não tem objetivamente o mesmo objeto. Pode-se considerar, por exemplo, que o ICMS, pode ser cobrado de um bem estrangeiro quando o objetivo (teórico) é manter infraestrutura adequada para a circulação de bens e serviços nacionais e estrangeiros. Mas nem IPI, nem PIS/Cofins poderiam ser cobrados de bens importados quando sua produção, e o financiamento de sua seguridade social NÃO TEM NADA A VER com a existência e a oferta desses bens. Que o Brasil mantenha absurdos tributários, isso é em detrimenteo do Brasil e dos brasileiros, mas que o governo pretenda impor seus absurdos contra os bens importados, isso já é matéria a ser contestada no Gatt-OMC.
Finalizo com a absurda decisão do STJ de dar ganho de causa à Receita no caso das girafas importadas. O nosso fascismo tributário só poderia redundar em mais um absurdo...
Paulo Roberto de Almeida
Halifax, 21 de agosto de 2015
quinta-feira, 20 de agosto de 2015
Mercosul fortalecido??? Em que planeta vivem certos professores?
Como este trecho, por exemplo, de uma entrevista sobre o Mercosul dada por um professor de RI em alguma universidade deste nosso Brasil.
"Pergunta: Como os países do Mercosul, agora com a Bolívia integrando a organização como um Estado-parte, podem fazer frente aos avanços políticos e econômicos dos EUA?
Resposta: Na última década, o fortalecimento do Mercosul foi visto como uma alternativa à expansão econômica norte-americana. E o próprio fato de a Aliança de Livre Comércio das Américas, a Alca, não ter sido implementada simboliza um pouco isso, esse freio a uma integração que beneficiasse os interesses econômicos norte-americanos. Neste sentido, como a própria pauta que levou a que o projeto da Alca se estancasse, o fortalecimento do Mercosul fez parte deste processo e quando a gente pensa o Brasil, o Fernando Henrique Cardoso, principalmente nos últimos dois anos do seu segundo mandato, revitalizou uma política externa brasileira direcionada a fortalecer o Mercosul. A ascensão de governos de esquerda, ou de centro-esquerda, nos países sul-americanos, na primeira década do século XXI, destacadamente a Venezuela, a Bolívia, a Argentina, com os Kirchner, contribuiu para que o Mercosul fosse fortalecido e, muito mais do que isso, ganhasse novos adeptos, no caso a Venezuela e a Bolívia, o que deu mais capilaridade ao bloco. O fortalecimento do Mercosul é uma forma de fortalecer os países sul-americanos contra os interesses econômicos dos EUA, e isso contribuiu decisivamente para que o projeto Alca fosse enterrado ou paralisado, a gente não sabe o que pode vir a acontecer, mas de fato fortaleceu o Mercosul. E fortalecer a relação do bloco com os BRICS ou com os países asiáticos como a China é uma forma de frear possíveis dependências da economia norte-americana, uma forma de quebrar esta dependência histórica que a América Latina tem em relação aos EUA. Neste aspecto, quanto mais fortalecido o Mercosul, melhor para o Brasil e para os demais países da América do Sul. Por mais que tenha força econômica, ainda é necessário que o Mercosul se amplie e consiga atrair outros países da América do Sul para dentro do bloco, ainda que seja difícil, já que sabemos que Peru e Chile se alinhavaram junto com o México e com a Colômbia na Aliança do Pacífico. Quem sabe no futuro poderemos ter um grande bloco – quer seja com a denominação do Mercosul ou com uma outra denominação – que contribua com o fortalecimento das economias sul-americanas e diminua a dependência em relação às transações econômicas e comerciais com os EUA."
Sinceramente, eu nem sei o que dizer...
Dependência de transações??? Já ouviram algo semelhante?
Tenho dó dos alunos, apenas isso...
Paulo Roberto de Almeida
Sobre a atual falta de dinheiro para a diplomacia - Editorial Estadao, Paulo Roberto de Almeida
Em dois momentos de nossa história econômica, o Brasil se viu na contingência de suspender temporariamente pagamentos externos. Na primeira, em 1982, foi por causa do aumento dos juros em dólar, decretados a partir de 1978 pelo dirigente do FED, Paul Volcker, que aumentaram enormemente o serviço da dívida externa denominada em dólar, num momento em que o preço do barril do petróleo duplicava novamente (depois de ter triplicado em 1973), e chegou um momento em que os recursos em dólar das exportações não bastavam mais. Pode-se dizer que fomos duplamente penalizados por choques externos: petróleo (quando o Brasil importava 80% de suas necessidades) e juros determinados pelo Federal Reserve, ou seja, nada que tenhamos criado por nossa própria conta, embora o aumento da dívida foi feito pelos tecnocratas num momento em que havia abundância de dinheiro, situação que não poderia perdurar. A segunda vez, foi cagada mesmo, a política populista e demagógica de Sarney, de congelar preços, e de importar alimentos, por causa dessas medidas malucas. Ele anunciou uma "moratória soberana", que não tinha nada de soberana: foi por falta de dinheiro mesmo. Mas não precisava ser moratória, e não precisava fazer demagogia em cima: bastava ter negociado de boa fé com os credores, o Clube de Paris e o FMI, de um lado, os credores comerciais (bancos) de outro. Deu no que deu: cortamos os pagamentos de juros, eles cortaram os créditos. Nas duas vezes ficamos chupando os dedos, e os atrasos de pagamentos se prolongaram por três meses, mais ou menos, até acertar a situação. Agora, a cagada é tripla e não reconhecida por quem a provocou, causas inteiramente internas, e resultando de... cagadas da soberana, com perdão da expressão. Não há falta de dinheiro, nem no mundo, nem no Brasil, que tem 370 bilhões de dólares de reservas (mas muito comprometido com swaps cambiais). Em todo caso, a falta de dinheiro para as embaixadas e o Itamaraty, não decorre de falta de dólares, apenas bagunça, má vontade, inacreditável displicência e desprezo da incumbente pela política externa. Ou seja, diferentemente das duas vezes anteriores, quando deixamos de pagar porque não tinhamos dinheiro, desta vez, não é falta de dinheiro, é inépcia e má vontade mesmo, ou seja, não se paga porque não se quer...
Paulo Roberto de Almeida
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Mau pagador
Editorial O Estado de S. Paulo, 20 Agosto 2015Não é apenas internamente que o governo brasileiro vem fazendo um papelão. Na esfera internacional, o Palácio do Planalto tem deixado, com sua reiterada inadimplência, uma imagem para lá de negativa. Desde compromissos com agências e órgãos internacionais a contas de água e de luz de representações diplomáticas, o governo brasileiro vem deixando suas contas no fiado. A mais recente notícia é o não pagamento das limusines utilizadas pela comitiva da presidente Dilma Rousseff na visita aos Estados Unidos, no final de junho deste ano.
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Eduardo Marciano, proprietário de uma empresa de aluguel de veículos na Califórnia, afirmou que o governo brasileiro lhe deve quase US$ 100 mil referentes ao aluguel de 22 limusines, 2 ônibus e 1 caminhão, utilizados pela comitiva da presidente. Eduardo Marciano alega que o preço foi combinado com antecedência com o Consulado do Brasil em São Francisco, mas até o momento não há previsão para o pagamento da conta. “Até agora não recebi um centavo”, afirma o brasileiro. A justificativa do Consulado, segundo Marciano, é que no momento não há dinheiro disponível e estão aguardando a liberação de verbas pelo Itamaraty.
A conta em atraso do aluguel das limusines é um nítido retrato do atual governo. Planeja mal, gasta o que não pode e acaba por não honrar seus compromissos. Há despesas que necessariamente devem ser feitas e há despesas que não precisam ser feitas. Alugar limusine enquadra-se, sem sombra de dúvida, no segundo tipo de despesas, especialmente quando o governo já não vem honrando outros compromissos.
Conforme reportagem do Estado, atualmente as dívidas do Brasil com a Organização das Nações Unidas (ONU) chegam a quase R$ 1 bilhão – são US$ 285 milhões que o governo brasileiro deveria ter destinado à ONU e não o fez.
É a contribuição de cada país que sustenta a ONU, cujos recursos são utilizados tanto para o pagamento de gastos operacionais, salários e sedes, bem como para a ajuda humanitária que presta em diversas regiões do planeta, como, por exemplo, auxílio no resgate de pessoas, distribuição de alimentos, construção de escolas e hospitais, etc. O valor da contribuição de cada país é calculado de acordo com o Produto Interno Bruto (PIB), sua renda per capita e outros indicadores sociais. Na última revisão, feita em 2011, a contribuição brasileira passou de 1,4% do total do orçamento da ONU para 2,9%.
Só nos últimos oito meses, a dívida brasileira com a ONU aumentou em quase US$ 100 milhões. O País nunca deveu tanto à ONU. Responsável pelo pagamento dessas verbas, o Ministério do Planejamento reconhece o débito, mas contesta os valores. Informa que, em suas contas, a dívida está em US$ 247,5 milhões e que “pretende regularizar o mais rapidamente possível o pagamento do valor devido”.
Em razão das dívidas, desde 1.º de janeiro de 2015, o Brasil perdeu em caráter temporário o direito de votar na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e na Assembleia dos Estados Partes do Tribunal Penal Internacional. Por exemplo, o País não pode participar na escolha de novos juízes da Corte penal.
Em setembro do ano passado, para diminuir o constrangimento criado pela inadimplência do Brasil na ONU, o governo brasileiro fez às pressas um cheque de US$ 36 milhões à entidade, uma semana antes do discurso da presidente Dilma Rousseff na abertura da 69.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas. A ONU agradeceu o gesto, mas lembrou que ainda havia uma vultosa dívida a ser paga. Na época, o valor girava em torno de meio bilhão de reais.
Também é notório o descaso do Palácio do Planalto com as despesas das representações diplomáticas no exterior. Houve casos de atraso no pagamento da conta de luz. Outras vezes, funcionários precisaram usar parte de seu salário para fazer frente a despesas de aluguel. Enquanto isso, a presidente e sua comitiva andavam de limusine. Sem pagar.
Raizes da Grande Destruição: causas estruturais, sistêmicas e conjunturais - Fernando Dantas (OESP)
Fernando Dantas/OESP
Economistas de prestígio discutem origens da crise econômica brasileira: responsabilidade de Dilma ou do modelo de crescimento explosivo dos gastos desde a redemocratização?
Existe um interessante debate em curso sobre a responsabilidade da presidente Dilma Rousseff na grande crise econômica do País. Recentemente, três narrativas distintas, sustentadas por economistas de prestígio, digladiaram entre si, com repercussões nos principais órgãos nacionais de mídia.
A mais destacada delas, da qual esta coluna já tratou, está em trabalho recente dos economistas Mansueto Almeida, Marcos Lisboa e Samuel Pessôa. De forma bem simplificada, eles veem os problemas atuais como derivados de duas causas fundamentais.
A primeira pré-data em muito governo Dilma, tendo se iniciado na Constituição de 1988. Durante todo o período pós-redemocratização, o Estado brasileiro – empurrado pela vontade popular regularmente expressa nas urnas – impulsionou seus gastos a uma velocidade maior do que o crescimento da economia. Este aumento de despesa envolve tanto demandas legítimas de setores historicamente excluídos como privilégios para grupos de interesse. O crescimento dos gastos foi bancado pelo aumento da carga tributária, mas recentemente este processo bateu nos seus limites, precipitando a atual crise fiscal. Evidentemente, o cenário internacional foi decisivo para delimitar a duração e o fim do sucesso do modelo de aumento permanente do gasto.
A segunda causa é a “nova matriz econômica”. Embora suas raízes estejam no governo Lula, especialmente no segundo mandato, esta mudança da política econômica acentuou-se com Dilma Rousseff na presidência. Ela é composta pelo relaxamento da política fiscal; pela tentativa de forçar a desvalorização do câmbio e a queda dos juros; e pelo aumento e reforço de uma série de mecanismos de intervenção do Estado na economia.
Na visão dos três economistas, Dilma seria a grande responsável por esta segunda causa, isto é, pela nova matriz; mas não pela primeira, a expansão contínua do gasto além do produto, que seria mais uma preferência da sociedade brasileira que pôde se manifestar e se impor com a democratização.
Luiz Guilherme Schymura, diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), apresentou recentemente uma interpretação que vai mais longe do que a de Almeida, Lisboa e Pessôa. Para Schymura, de fato a gestão econômica da presidente Dilma está longe da perfeição, especialmente na área microeconômica (grosso modo, de intervenção do Estado), mas isso não teria o poder de representar uma causa relevante dos problemas econômicos atuais. Ele nota que o Brasil, ao contrário dos Estados Unidos, sempre foi marcado por políticas públicas pouco calibradas em termos de privilegiar a eficiência econômica. Assim, mesmo se admitindo alguma piora com a nova matriz, o diferencial não seria significativo o suficiente para explicar uma desaceleração tão pronunciada da economia brasileira nos últimos anos.
Por outro lado, o aumento sistemático do gasto público acima do PIB, pelo qual Dilma não pode ser responsabilizada, levou à atual crise fiscal e é o grande desafio a ser enfrentado. A agenda principal, para Schymura, é a de reformar o aparato de bem estar social brasileiro, de forma a manter todos os programas que legitimamente atendam às demandas da sociedade – um processo que ele vê como o simples aprofundamento da democracia –, mas restringir aqueles que não passam de privilégios injustificáveis. A melhor forma de obter apoio popular e político para esta agenda é dar transparência aos objetivos de cada programa, de tal forma que os próprios eleitores consigam separar o trigo do joio.
Dilma e a deterioração fiscal
Mas há também uma terceira posição, no pólo oposto ao de Schymura. Recente artigo na imprensa do economista Rogério Werneck, da PUC-Rio, é um exemplo dessa visão – que, no entanto, pode ter variantes.
Resumidamente, o argumento é de que Dilma pode ser responsabilizada tanto pela nova matriz quanto pelo aumento contínuo do gasto público. Neste segundo caso, ela foi em 2005 peça fundamental para a derrota do projeto de ajuste fiscal de longo prazo, que justamente visava ajustar o ritmo da despesa ao da economia. O plano era dos então ministros da Fazenda, Antônio Palocci, e do Planejamento, Paulo Bernardo. Dilma, que era ministra da Casa Civil, chegou a classificar a ideia como “rudimentar”. O ajuste fiscal de longo prazo jamais foi adiante.
Adicionalmente, Dilma, já como presidente, presidiu um forte impulso extra de gastos fiscais e parafiscais: centenas de bilhões de reais de empréstimos do Tesouro para o BNDES, subsídios do PSI/BNDES, desonerações tributárias agressivas, forte expansão de programas como Minha Casa Minha Vida e Fies, grande liberalidade para nova rodada de endividamento de Estados e municípios, entre outros. Um agravante foi permitir que a equipe econômica fizesse contabilidade criativa para tentar mascarar a intensidade da deterioração fiscal.
Na verdade, a visão de Almeida, Lisboa e Pessôa não está tão distante da de Werneck. Eles também consideram que Dilma é responsável pela piora fiscal adicional das contas públicas dos últimos anos, mas enfatizam que o processo de deterioração fiscal de longo prazo tem origem e determinação que transcendem o governo da atual presidente.
Essa terceira visão, porém, pode ser ampliada em seu escopo. Na verdade, mais do que discutir a responsabilidade de Dilma na crise fiscal, é possível se questionar se a contínua expansão do gasto público na redemocratização tem como causa uma inclinação da sociedade – que Pessôa costuma chamar de “contrato social” e Schymura considera o “aprofundamento da democracia” – sobre a qual a ingerência dos políticos é passiva.
Explicado de outra forma, há duas possibilidades. Se de fato essa é uma demanda profunda da sociedade, ligada à histórica injustiça social no Brasil, a atitude possível dos políticos é atendê-la, e ganhar eleições; ou rejeitá-la, e perdê-las. Este ponto de vista tem uma narrativa consistente sobre os resultados eleitorais desde a redemocratização. Os tucanos conseguiram dois mandatos por derrotar a inflação, que afetava desproporcionalmente os pobres, mas os petistas obtiveram quatro por se sintonizarem melhor com o pleito da população por redistribuição.
Mas é possível fazer uma segunda leitura, que atribui mais peso à influência que a classe política e os formadores de opinião têm sobre as inclinações do eleitorado. Assim, é possível pensar que, desde a Assembleia Constituinte, a esquerda continuamente lutou para estabelecer uma narrativa populista que dá ênfase tão grande na distribuição que cria entraves ao crescimento, a melhor arma contra a pobreza no médio e longo prazo.
Também desde a Constituinte, a esquerda – que não apenas defende o aumento do Estado, mas também luta por vantagens para os funcionários públicos – aliou-se aos políticos sem ideologia, especializados na corretagem de favores para grupos de interesse. Assim, muito cedo na nova democracia brasileira estabeleceu-se uma potente aliança ideológica-fisiológica na direção do aumento acelerado da despesa pública.
O papel do discurso político
Nos anos liberais que vão de Fernando Henrique até o início do governo Lula, com Palocci, houve a contrapartida de um projeto de modernização que, com o respaldo do sucesso do Plano Real, conseguiu reunir maiorias no Congresso para reformas econômicas – que, ainda assim, sempre passaram muito atenuadas em relação aos objetivos dos seus formuladores.
A partir da queda de Palocci, porém, retomou-se a supremacia da corrente populista e gastadora. Nesse sentido, o discurso histórico do PT e da esquerda em sentido mais amplo, demonizando as políticas liberais e de cautela fiscal, pode ter contribuído para forjar na mentalidade da maior parte da população a preferência pela redistribuição agressiva. Neste caso, o eleitorado não “escolheu” a distribuição em detrimento do crescimento. Na verdade, foi a corrente vitoriosa da classe política e dos formadores de opinião que conduziu o eleitorado a julgar que uma melhora contínua dos padrões de vida seria possível com um ritmo excessivamente acelerado de expansão de benesses estatais, que acabaria levando a economia ao atual colapso.
Conselhos financeiros para quem ainda nao comecou a poupar... - Rodolfo Amstalden (Empiricus)
Mas nunca é tarde para seguir...
Paulo Roberto de Almeida
A carta que me fez refletir sobre meu próprio futuro:
“Quero que meu filho não cometa os mesmos erros financeiros que eu cometi”
Caro leitor,
Em 24 de junho recebi uma carta de um senhor chamado Nestor, que acompanha a série de Aposentadoria da Empiricus.
Isso mesmo, uma carta. Daquelas que você cola selo e leva ao correio.
Seu Nestor me pediu um favor inusitado.
Ele escreveu contando que seu filho está hoje com 35 anos. Do mesmo modo que Seu Nestor agia nessa idade, o filho se acha muito esperto para ouvir os conselhos de um senhor “ultrapassado”.
Disse ele: “Talvez se você escrevesse para meu filho sobre as armadilhas financeiras que ele vai enfrentar…”
Eu, Rodolfo, ainda não tenho filhos. Mas tenho quase a mesma idade do filho do Seu Nestor e sei como é difícil ouvir aqueles que realmente se preocupam com a gente e que têm muito a ensinar.
Quando eu fui comprar meu primeiro carro, meu pai me aconselhou a nunca medir a capacidade de compra simplesmente pelo valor do veículo, mas sim pelos custos recorrentes (gasolina, pedágios, seguros, revisões, etc.). Eu não fiz isso e fui obrigado a vender o carro.
Por sorte, errar na compra de um carro é muito mais fácil de corrigir. O impacto desse erro ao longo da vida é mínimo.
Porém, existem erros que nos acompanham até o fim dos nossos dias…
Vou reproduzir um trecho da carta do Seu Nestor:
O Nestor não falou o nome do seu filho. Mas tenho certeza que tudo que escreverei abaixo serve para milhares de filhos que estão cometendo os mesmos erros.
Poucas pessoas conseguem imaginar muito além do presente.
A imensa maioria mede a felicidade e o bem-estar pautada apenas na situação do momento.
Se estiver bom agora, ótimo. Amanhã será ainda melhor.
É algo que chamamos de otimismo excessivo. Uma crença de que tudo vai sempre melhorar. Característica muito presente nas pessoas que estão no auge produtivo, entre os 30 e os 50 anos.
Uma vez que, naturalmente, a vida profissional desses indivíduos vem em uma crescente. Mas é bom lembrar que as árvores não crescem até o céu…
Esse otimismo relega a segundo plano uma necessidade fundamental da vida: envelhecer com saúde financeira para ter uma aposentadoria que permita mais do que apenas sobreviver.
O próprio sistema previdenciário do Brasil induz ao trabalhador a sensação de que os quatrocentos e poucos reais que o governo desconta da folha de pagamento são o passaporte para um futuro maravilhoso num lugar chamado INSS.
Em países como os EUA, o cidadão aprende desde cedo a montar sua carteira de investimentos para chegar aos 65 anos com um montante que lhe permita viver bem até o fim da vida.
Talvez por não ser obrigatório, faça a pessoas agirem a respeito. Diferente daqui.
Pesquisa divulgada pelo jornal Valor Econômico de 7 de abril deste ano revela que 57% dos brasileiros não poupam para aposentadoria.
Fonte: Valor Econômico
É um dado muito preocupante.
Pela carta do Nestor, interpretei que a ajuda que ele me pediu é justamente essa:
Desenvolver no filho uma necessidade de formar um patrimônio sólido para no futuro gozar de uma vida sem privações.
Escrevo sobre aposentadoria há um bom tempo e nesse período consegui identificar aqueles que são os principais inimigos da formação de patrimônio e, consequentemente, de uma aposentadoria tranquila.
A boa notícia para o Seu Nestor – e principalmente para o seu filho – é que 35 anos é uma idade muito boa para mudar os hábitos e iniciar a construção de uma carteira de investimentos focada no longo prazo.
Com essa idade, a pessoa já tem uma posição relevante na carreira, muitas vezes já resolveu as questões de estudo (com pós-graduações, MBA, etc), já casou e já possui casa própria. Agora é focar na formação do patrimônio.
Qual o melhor caminho para atingir o objetivo de uma aposentadoria milionária?
Os 8 Arrependimentos de Nestor
Separei as 8 lições que considero fundamentais para que qualquer pessoa atinja um patrimônio milionário e assim consiga se aposentar sem abrir mão de um padrão de vida excelente.
São pequenas mudanças que TODOS nós devemos fazer.
Quem evita esses erros está praticamente selando um futuro de tranquilidade e bem-estar.
1 – Não confie na aposentadoria pública
Já comentei um pouco sobre esse assunto. Não faltam exemplos que nos mostram que a situação do INSS vai piorar a cada ano.
Você ainda pode ficar totalmente desamparado, pois o rombo da previdência compromete as contas públicas:
Fonte: Valor Econômico
Basta você puxar na memória os inúmeros ajustes que são feitos a cada mandato presidencial. Sempre aparece um fator previdenciário, uma idade mínima ou uma nova fórmula de cálculo que dificulta o acesso de novos trabalhadores.
Mas os problemas da aposentadoria pública não se restringem ao acesso de novos aposentados.
Os que já fazem parte do INSS e recebem mais de um salário mínimo sentem na pele o que é ficar na mão de um sistema público deficitário.
Com uma projeção de inflação média de 5% e crescimento do PIB de 2%, até 2024 o teto do INSS será de apenas 5 salários mínimos.
Fonte: Folha de S. Paulo
Ou seja, em 20 anos, a diferença entre o máximo que o INSS paga a seus aposentados e o valor do salário mínimo foi reduzido à metade.Há quem diga que, num futuro não tão distante, todos que são aposentados ou pensionistas do INSS estarão recebendo um salário mínimo. Não sei se chegaremos a isso, mas a diferença tende a ficar muito baixa.
Isto já afeta o Nestor. Mas ele não deseja que essa realidade afete seu filho.
E eu não quero que afete você. Então, não dependa do INSS.
2 – Não deixe de poupar um mês sequer
Não existe mágica. O seu patrimônio será formado por um cálculo bem simples:
Para formar um patrimônio sólido, você precisa fazer suas despesas serem menores do que as suas receitas. Em outras palavras, você precisa poupar.
Via de regra, todo mundo sabe disso.
Mas apenas 4 em cada 10 brasileiros agem assim.
Segundo a carta enviada pelo Seu Nestor, seu filho pertence hoje ao grupo dos 57% que não poupam para a aposentadoria.
Acredito que o maior inimigo para que essa meta seja realizada está no constante adiamento do ato de separar uma parte do salário para os investimentos.
“Esse mês está ruim. Mas no mês que vem eu começo.”
Porém, o mês bom nunca chega. E não vai chegar.
Se você não colocar prioridade em reservar uma parte da sua receita mensal, sempre vai haver promoções imperdíveis, aquele presente que você queria dar a você mesmo ou qualquer outro gasto que vai transformar esse mês num mês ruim.
Você precisa poupar todos os meses.
Não existe um percentual ideal que possa ser aplicado a todos. Mas eu defendo que um pai de família deva poupar mensalmente entre 15% e 30% da sua renda.
É claro que esse percentual depende de uma série de fatores, como a faixa de renda, o número de filhos, a idade, entre outros.
Contudo, mais importante que o valor poupado é criar o hábito de separar uma parte da renda para os investimentos.
Passado algum tempo, a recompensa de ver o patrimônio crescendo a cada dia é o maior estímulo que existe. É como se o indivíduo criasse uma dependência de poupar. Nesse caso, uma dependência sadia.
Seu Nestor passou a vida esperando um mês bom para começar a poupar. Hoje, tudo que ele quer é que o seu filho não cometa o mesmo erro.
3 – Não confie no gerente do banco
Tivesse o Seu Nestor sido uma pessoa disciplinada e se ao longo da vida guardasse uma parte do salário, o próximo passo seria definir a forma de investimento mais adequada.
Muitas pessoas repassam essa decisão para um sujeito simpático e amigável chamado “o gerente do banco”.
Afinal de contas, a função desse valoroso profissional é verificar as melhores opções de investimento e levar até o poupador a melhor forma de ver o seu dinheiro render… certo?
Certo. Mas há um porém…
Assim como analistas do banco e de corretoras, eles ganham se cumprirem metas.
As receitas dessas instituições vêm dos produtos que eles comercializam. Nenhum desses profissionais vai indicar um produto de banco ou corretora concorrente, mesmo que seja vantajoso para você.
E o crescente lucro das instituições financeiras é a prova de que nossos amigos gerentes estão cumprindo muito bem esse papel.
Em 2014, o lucro líquido dos 5 principais bancos brasileiros foi de mais de R$ 60 bilhões. Para se ter uma ideia do tamanho desse montante, é valor superior ao PIB de 12 das 27 unidades federativas do Brasil.
Muitos poupadores acabam sendo levados a fazer um título de capitalização ou uma aplicação qualquer com taxas de administração caríssimas. Tudo isso para que o gerente atinja as suas metas.
“Mas, se o gerente não me dá os melhores conselhos, quem deve ser o responsável pelos meus investimentos?”
Você mesmo!
Ninguém vai cuidar do seu dinheiro melhor do que você mesmo.
Não transfira essa responsabilidade para ninguém.
Mesmo que você se ache um leigo em finanças. É muito simples montar uma carteira e investir ao longo da vida. Falaremos mais sobre isso daqui a pouco.
4 – Não assuma toda a responsabilidade sozinho
Eu não sei o que acontecia no dia a dia da casa do Seu Nestor, mas arrisco um palpite:
Talvez Nestor fosse um sujeito centralizador que nunca dialogou sobre as economias domésticas com a esposa e com os filhos.
Isso é um erro muito comum.
Quem não conversa com a família sobre a necessidade de poupar para a aposentadoria acaba carregando uma pressão desnecessária sobre os ombros.
É claro que a sensação de comprar uma roupa nova é mais agradável do que passear no shopping e voltar de mãos vazias.
Mas seus familiares conhecem o seu projeto de aposentadoria?
Talvez se conhecessem, muitos incômodos poderiam ser evitados.
Minha sugestão é que você faça uma planilha com metas individuais para cada membro e mensalmente você cruze os dados alcançados com os projetados.
Além de um estímulo, essa prática mostra quanto a família terá daqui a alguns anos.
Com todo mundo participando, o objetivo é alcançado com muito mais facilidade.
5 – Não gaste dinheiro com juros
Pense em algo óbvio. Algo que talvez nem precisasse ser dito.
Não gaste dinheiro com juros é uma dessas coisas. Tão óbvio que às vezes até esquecemos de seguir…
Não existe 12 vezes sem juros.
Se a loja que você está comprando insistir que o valor à vista é o mesmo do valor em 12x, vá até a loja concorrente.
É claro que existem momentos que a taxa de juros pode valer a pena. Mas você precisa fazer os cálculos.
Enquanto escrevo este texto, leio na tela ao lado que os juros ao consumidor batem novo recorde.
Fonte: O Financista
No famigerado rotativo do cartão de crédito, as taxas anuais atingem 372% ao ano, segundo o Banco Central.
Nunca caia na armadilha do crédito fácil. Quanto mais fácil, mais vantajoso para o banco.
Por isso que um cartão de crédito você consegue fazer apenas atendendo uma ligação. Já um crédito imobiliário com taxa de 8% ao ano, você só consegue fazer passando horas na agência.
Lembre-se dos R$ 60 bilhões de lucro. Boa parte deles vem dos juros que pagamos.
6 – Não subestime o seu número mágico
Eu costumo chamar aquele valor que sonhamos alcançar ao longo da vida para não precisar trabalhar mais de número mágico.
Muita gente faz esse exercício ao jogar na Mega-Sena, pensando que, se ganhar os milhões do prêmio, viverá apenas dos juros.
Infelizmente, os juros que você receberá do banco ao aplicar a bolada são infinitamente menores dos que os 372% cobrados do seu cartão de crédito.
Por isso é importante que você não subestime o seu número mágico.
Já ouviu falar do caso da família Guinle?
Foi a família que construiu, entre outras coisas, o Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, e o Porto de Santos.
Um dos herdeiros da fortuna dos Guinle chegou a dizer que “o segredo do bem viver é morrer sem um centavo no bolso. Mas errei o cálculo e o dinheiro acabou antes da hora.”
Estima-se que Jorginho Guinle tenha torrado US$ 80 milhões ao longo da vida. Toda a herança que o pai, Carlos Guinle, havia lhe deixado.
Seu filho Gabriel se tornou agente penitenciário em Bangu 3 após ter dificuldades de pagar a própria faculdade. Nem de longe o seu modo de vida lembra a extravagância que fez parte do dia a dia de seu pai Jorginho.
É claro que essa história é um caso extremo de alguém que decidiu viver como um playboy durante a vida inteira.
Mas serve para ilustrar bem o que acontece quando o dinheiro acaba antes do esperado.
Eu sempre digo isso aos meus leitores: “você deve ter o suficiente para usar apenas os juros e nunca o próprio capital.”
Vamos dar um exemplo: digamos que, aos 60 anos de idade, você tenha R$ 2 milhões aplicados e queira parar de trabalhar.
Caso você invista de forma a conseguir 6% ao ano + inflação, você teria anualmente disponíveis R$ 120 mil + inflação. Ou seja, R$ 10 mil por mês.
Dessa forma, você sabe que não pode viver como um playboy e gastar mais de R$ 10 mil mensais. Caso contrário, o risco do dinheiro acabar antes do esperado é grande.
De quebra, você deixaria para seus herdeiros os R$ 2 milhões corrigidos pela inflação.
7 – Não troque de ativos toda hora
Tão importante quanto criar um hábito de poupar mensalmente é investir esse dinheiro de forma inteligente.
Em períodos como os atuais, com a Selic batendo na casa dos 15%, a renda fixa facilita muito a nossa vida.
Mas lembre-se de que poupar e investir para a aposentadoria é um processo que dura décadas.
A farra dos títulos públicos com essas taxas não vai durar para sempre. E quando acabar, você vai recorrer à Poupança?
Claro que não.
É fundamental que o poupador que busca uma aposentadoria milionária tenha sua carteira de investimentos diversificada e adequada para cada momento econômico.
Ter ações de boas empresas dá um excelente empurrão e faz os objetivos serem alcançados muito mais rápido.
Eu não sou adepto das práticas compulsivas de trocar de ativos ao sabor do vento.
Defendo que o investidor deve escolher muito bem o seu portfólio e manter a mesma estratégia por bastante tempo.
Se necessário, fazer pequenos ajustes no percurso.
Com a prática de trocar os ativos a toda hora, um investidor amador que não esteja bem assessorado tem grandes chances de cometer o maior dos pecados:
Comprar na alta e vender na baixa.
Uma série de fatores comportamentais corroboram para isso. Não vem ao caso explicá-los agora.
Mas o conselho que dou a você e ao filho do Seu Nestor é: não troque de ativos toda hora.
Às vezes é muito doloroso passar por um período de turbulência e ver o ativo caindo na tela do computador sem fazer nada. Porém, no fim das contas vale muito a pena ser forte.
8 – Não pense que aposentadoria é coisa para idosos
Como escrevo a série de Aposentadoria da Empiricus, é muito comum ouvir coisas do tipo:
“Achei o texto dessa semana sobre aposentadoria muito interessante, até enviei para o meu pai.”
Nessas hora eu não sei se fico feliz com o elogio ou se choro por não ter conseguido passar uma das principais mensagens da série:
Aposentadoria é para hoje. É para você. Não é para seus pais ou avós.
A proposta da séria Aposentadoria Milionária é trilhar uma jornada de investimentos ao longo da vida, maximizando os rendimentos, para chegar à velhice com tranquilidade financeira.
Então não pense que a palavra “aposentadoria” é coisa de idoso. Se você está trabalhando ainda, aposentadoria é uma da palavras mais importantes.
Esteja você com 20 anos, 35 como o filho do Seu Nestor ou com 50 anos.
Dito isso, espero que o filho do Seu Nestor nunca encaminhe um email sobre aposentadoria para seu pai.
Já que estamos de acordo que o momento para agir é agora… o que você pode fazer para não virar um aposentado como o Seu Nestor?
Um conselho de pai para filho
Acabamos de falar sobre os erros financeiros mais comuns que levam uma pessoa a envelhecer com arrependimentos e frustrações.Que presente maravilhoso é o pai vendo seu filho construir um patrimônio robusto…
Quem sabe até ajudar o “seu velho” a completar a aposentadoria do INSS nos dias mais difíceis.
Mas tudo isso só será possível se você atacar em duas frentes fundamentais:
- Poupar mensalmente uma parte dos seus rendimentos;
- Aplicar seu dinheiro de forma inteligente e segura.
É essa fórmula que meu pai me ensinou.
Acreditando nela, eu estudei muito para poder indicar aos meus leitores a melhor forma de potencializar os investimentos.
(...)
Ninguém pode controlar a macroeconomia, nem prever quem será o próximo presidente ou o que vai acontecer com a Bolsa.
Sequer temos a garantia de estarmos bem empregados daqui a 10 anos.
Mas podemos perfeitamente ser um pouco mais ricos amanhã do que somos hoje.
Fazendo agora a sua assinatura e seguindo os passos e as recomendações do projeto, posso lhe assegurar sem medo que daqui a um ano você já estará substancialmente mais rico.
O mesmo se dará em 2016. E em 2017, 2018, 2019… até chegar o ano de sua independência financeira.
Mas não adianta ficar olhando pro teto, chorando por causa da crise e esperando uma vida de marajá cair no colo.
(...)
Um abraço,
Empiricus Consultoria & Negócios
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Companheiros franceses do seculo 18 antecipam companheiros neobolcheviques no superfaturamento
Ed
Louisbourg was also known for its fortifications, which took the original French builders 28 years to complete. The engineer behind the project was Jean-Francois du Vergery de Verville. Verville picked Louisbourg as his location because of its natural barriers. The fort itself cost France 30 million French livres, which prompted King Louis XV to joke that he should be able to see the peaks of the buildings from his Palace in Versaille. The original budget for the fort was four million livres.
Mudancas de regime economico na historia do Brasil - Paulo Roberto de Almeida
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
"O governo acabou" (mas ainda nao se deu conta) - Entrevista Jose Serra
A Grande Destruição do lulopetismo está diminuindo a riqueza nacional, distribuindo desemprego para todos os setores e deixando um cenário de desastres em todos os campos, com essa corrupção gigantesca premeditada, deliberada, construída pelos mafiosos do poder.
O que se vê pela frente é só escuridão, ou seja, não se vê nada, e nada de bom. Não temos uma liderança forte que possa nos tirar do pesadelo da Grande Destruição lulopetista.
Paulo Roberto de Almeida
(1) TV CULTURA / Roda Viva entrevista José Serra : " A maioria é contra o governo, o país não está dividido, esse sentimento está dominando o país”.- Perguntado se Temer teria mais condições de governar do que a presidente, o senador afirma que “Dilma, na prática, não tem governado; o principal programa é evitar sair do governo", diz. Em matéria de economia, para ele, “a situação está calamitosa”, e o Planalto ajudou a piorar. “Num outro governo, poderia se tentar outro esquema, pelo menos para definir um rumo. Se a Dilma sair, quem ficar na presidência vai comer o pão que o diabo amassou, quem quer que seja”, vaticina.
01h21m06s
http://tvcultura.cmais.com.br/rodaviva/jose-serra-e-o-entrevistado-do-roda-viva
(2) VALOR
Há um "vácuo de poder" na Presidência, diz Serra em entrevista ao Valor Econômico
Por Raquel Ulhôa | De Brasília
17 Agosto de 2015
"Não tenho dúvida que o país gostaria que ela renunciasse. Mas ela não vai fazer isso".
Serra: " Se o fator militar na política hoje fosse semelhante ao que era no período 1946/64, estaríamos tendo perturbações gravíssimas
O senador José Serra (PSDB-SP) prevê aprofundamento da crise econômica e considera fruto de "flutuações intersemanais" o aparente alívio à presidente Dilma Rousseff, na semana passada, após movimentos do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Para o tucano, é tal a fraqueza do governo e a combinação de crise econômica, política e moral que, "se o fator militar estivesse presente hoje, como em 64, estaríamos tendo perturbações gravíssimas nessa área". Ele ressalta a inexistência desse risco hoje.
Na crise do governo Collor, Serra, então líder do PSDB na Câmara, defendeu a renúncia do presidente como melhor solução para o país. Desta vez, fala do tema com mais cautela.
"A renúncia é prerrogativa da Dilma. Não tenho dúvida que o país gostaria que ela renunciasse. Mas ela não vai fazer isso". Para ele, o problema da crise é o "vácuo de poder" na Presidência da República. O senador esteve pela primeira vez presente nas manifestações de rua contra Dilma, ontem, na avenida Paulista, em São Paulo.
O senador considera o governo "muito ativo na área econômica, só que de forma errada". Classifica de "ativa e burra" a política de ajuste e fala em "insanidade" da política monetária-cambial. Alerta que a ameaça de bombas fiscais continua.
Ex-governador de São Paulo e duas vezes candidato à Presidência, Serra diz que disputar pela terceira vez não faz parte de suas "cogitações de hoje".
A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor:
Valor: Qual a avaliação da crise?
José Serra: Ela tem uma particularidade interessante se comparada, por exemplo, com a de 1964 e a do Chile, de 1973, que desembocaram em golpes militares. Eu vivi as duas experiências. Politicamente, esses países estavam divididos quase meio a meio. Antes de cair, Jango, numa pesquisa do Ibope, tinha mais de 40% de popularidade. O presidente chileno, Salvador Allende, seis meses antes de ser derrubado, tinha obtido 42% dos votos nas eleições parlamentares. A particularidade da situação brasileira de hoje é que praticamente não há divisão. A esmagadora maioria do povo é contra o governo. A rejeição [ruim e péssimo] é mais de 70% e o ótimo e bom, um décimo disso.
Valor: Governo mais fraco que os outros, alvos de golpe?
Serra: Uma grande conquista da democracia pós-85 foi o desaparecimento do fator militar na política. Eu não tenho dúvida de que, se o fator militar na política hoje fosse semelhante ao que era no período 1946/64, estaríamos tendo perturbações gravíssimas nessa área, tal é a fraqueza do governo, e tal a combinação de crise econômica, política e moral. Não estamos tendo perturbação militar e não vamos ter. Isso deve ser comemorado.
Valor: Embora há setores que defendam intervenção.
Serra: São mínimos. Tudo o que os comandos militares não querem é interferir na política, descumprir a Constituição.
Valor: A economia explica a rejeição?
Serra: É a fraqueza do governo. Temos crises econômica, política e moral. O governo é incapaz de enfrentar com um mínimo de eficiência os transtornos da economia, fazer articulação política eficiente com Congresso e partidos. E deve suportar a desintegração do lulopetismo, de cujo ventre nasceu. Ao contrário do que se imagina, o governo está muito ativo na economia, só que de forma errada.
Valor: Como?
Serra: Primeiro, na fixação de metas irrealistas no plano fiscal. Segundo, grande ativismo na política monetária, cujo propósito consistente é derrubar a atividade econômica e elevar o desemprego, com suposta finalidade de conter expectativas sobre a inflação futura e comprazer as agências de risco internacionais. Os aumentos de juros são a demonstração mais clara.
Valor: Principalmente o último?
Serra: Você eleva juros quando tem atividade econômica aquecida, inflação de demanda e crise do balanço de pagamentos. Nenhum desses fatores está presente. Pelo contrário. Mesmo assim, o juro básico da economia foi aumentado em meio ponto, a um custo de R$ 7,5 bilhões anuais. Vai derrubar mais a atividade econômica e aumentar desemprego, relação dívida bruta-PIB e déficit público, que vai chegar a 8,4% do PIB até o fim do ano. Os juros explicam a quase totalidade desse valor.
Valor: É o que chama de 'política de ajuste que aprofunda o desajuste'?
Serra: É. Política ativa e burra. E olhe que a meta do Banco Central e da Fazenda, sempre anunciada e nunca cumprida, é a de estabilizar a relação dívida-PIB. Estão fazendo o oposto. A insanidade da política monetária-cambial e sua vocação para elevar os gastos públicos se revela com clareza na questão dos swaps. O Brasil tem US$ 350 bilhões de reservas, que custam caríssimo, e o governo, em vez de usá-las, faz operações com dólar futuro, para amenizar perdas dos investidores privados, que acham que o dólar vai continuar subindo. Mas não há nenhum motivo econômico objetivo para o câmbio explodir, fora a especulação propriamente dita e a ansiedade pela não existência de governo.
Valor: O que deveria ser feito?
Serra: Se tem gente achando que o dólar vai chegar a R$ 4 a R$ 5, vende. Vamos parar de vender dólar futuro, em operações cujo prejuízo neste ano, contabilizado como dívida do Tesouro Nacional, foi de R$ 57 bilhões, superior aos resultados que se pretendia obter em matéria de melhora das finanças públicas. Isso mesmo: R$ 57 bilhões a mais de déficit público, por causa de política errada.
Valor: A crítica é focada no Banco Central?
Serra: É na área econômico-financeira. A responsabilidade é do governo. O Banco Central é do governo, não é uma filial do Vaticano. A descoordenação entre Fazenda e BC vem do governo.
"Houve um quase-pânico entre os empresários (...) No entanto a ameaça das bombas fiscais não acabou"
Valor: Qual a culpa do Congresso?
Serra: Com relação ao ajuste fiscal, a frustração da meta é responsabilidade do Executivo, que fixou meta sem saber os números do ano passado e supôs que a receita tributária cresceria 7,5% real em 2015. Só no primeiro semestre deste ano ela caiu 4,5%. O Congresso ainda não votou o projeto da reoneração de tributos sobre as empresas e diminuiu os cortes em seguro desemprego, pensões e abono salarial. Isso não passa de 25% do que se queria. Ou seja: as medidas que o governo elaborou para obter maior ajuste fiscal representavam R$ 135 bilhões e somente R$ 32 bilhões dependem do Congresso.
Valor: E as "bombas fiscais"?
Serra: Existem e podem pôr a perder o futuro do Brasil, mas não afetaram a conjuntura do governo. Até agora, exceto o fim do fator previdenciário, cujo efeito é a longo prazo, nenhuma estourou. Mas criam maior pessimismo para os próximos anos. Se tudo for aprovado, o futuro será vítima deste presente de irresponsabilidade fiscal.
Valor: Empresários vieram a Brasília atuar contra a pauta-bomba. O medo é grande?
Serra: Houve um quase-pânico entre os empresários diante da questão desses artefatos. Não porque afetariam todos diretamente. O sistema financeiro tem tido rentabilidade altíssima, em função da política monetária do governo. Mas tem grande ansiedade com relação ao médio e ao longo prazos. O que dizer, então, dos setores empresariais que já não vão bem? Dentro do Congresso também cresceu a preocupação. No entanto, a ameaça das bombas fiscais não acabou. Até agora, nenhuma foi desativada.
Valor: E podem ser usadas para desgastar o governo?
Serra: Isso não pode ser analisado em termos do que é bom e do que é ruim para Dilma. Não é necessário fazer bombas fiscais no país para que o governo se desgaste mais. O que preocupa são as consequências futuras. Dinheiro não nasce em árvore nem é clara de ovo, que você vai batendo e fazendo crescer. Não entro na discussão da justiça de cada medida, mas há impossibilidades econômicas e dificuldades estatísticas de medir a implicação de todas. Na maior parte dos países, o Congresso é populista do ponto de vista fiscal. O fator de equilíbrio tem que ser puxado pelo Executivo.
Valor: O que não acontece hoje?
Serra: Não, devido à fragilidade do governo e à ideologia do lulopetismo. E tem presente aquilo que chamei, desde a constituinte, de 'Fuce', 'frente única contra o erário', que pega todos os partidos, de esquerda e direita. A 'Fuce' se fortaleceu recentemente, porque, vamos ter claro: aquilo que se chama de direita, no Brasil, é tudo menos austera. E a esquerda apenas pensa que é esquerda, mas é porta-voz de corporações, em geral alheias às grandes massas do povo. E o PT nunca foi partido de esquerda. Sempre foi um partido de corporações organizadas e fortes.
Valor: Com governo fraco, a 'Fuce' se fortalece?
Serra: É a maior da história. Paralelamente, as finanças dos governos estaduais e municipais estão esfrangalhadas, devido à queda de receitas; e os serviços sociais se deterioram sem parar. Há também um círculo vicioso. Nos fins de semana, os parlamentares ouvem falar muito mal do governo nos seus redutos. Os da base voltam descolados dela e os que não são, estimulados a fazer oposição mais aguerrida, às vezes exagerando no 'quanto pior, melhor'.
Valor: É o que acontece hoje?
Serra: Mas não é só isso. O PT não tem o que dizer a respeito do Brasil. O governo Lula deu grande impulso à desindustrialização, sobretudo a partir da crise internacional de 2008. A nossa indústria regrediu, em matéria de peso na economia, aos anos 40. E o governo, o que está fazendo? Tem alguma política, mesmo difícil de implantar? Não há rumo. Como no país de Alice: se você não sabe para onde vai, todos os caminhos o levarão a lugar nenhum. É o que está acontecendo.
Valor: O governo termina o mandato?
Serra: Se alguém disser que sabe com certeza o que vai acontecer neste ano, está por fora. A principal característica da situação atual são as incertezas. Mas é fácil saber que governo fraco como esse, sem capacidade de iniciativa, só fará com que a crise se aprofunde no futuro próximo. Claro que, em economia, há o fenômeno dos ciclos. Quando a coisa vai muito mal, depois de um tempo há desaceleração da queda, alguma reativação. Mas não vejo uma retomada do crescimento de verdade.
Valor: Na crise do governo Collor, o senhor defendeu a renúncia como melhor solução.
Serra: Sim, dei a entrevista no final de junho de 1992. Collor não tinha partido. Dilma tem. Ele não tinha base formal de sustentação. Agora, [a presidente] tem. Ele era um 'lone ranger' -cavaleiro solitário. Quando dei aquela entrevista, faltavam evidências que nas semanas seguintes iriam comprometê-lo pessoalmente. Curiosamente, durante o seu governo o Congresso não armou bombas fiscais, apesar de ele ter minoria. Na época, eu era líder do PSDB na Câmara e Fernando Henrique, no Senado. E influenciamos muito no sentido de que não se fizessem coisas que iriam comprometer o futuro.
Valor: Prevendo o futuro?
Serra: Como se tivéssemos bola de cristal, porque, na época, ninguém sonhava que Fernando Henrique iria ser ministro da Fazenda e presidente. Mas me lembro que, quando Eduardo Jorge e José Genoino eram líderes do PT, mesmo quando seu partido propunha loucuras, eles diziam ter consciência disso e, no fundo, não faziam muita questão de que as bombas explodissem, pois tinham expectativa de pegar o governo nas eleições de 1994.
"Temer aceitou um verdadeiro abacaxi, que é essa coordenação política do governo junto ao Congresso"
Valor: A crise era menos grave, por ser focada no presidente?
Serra: Era. Hoje não. A presidente Dilma vai junto com uma estratégia política, partidária e governamental - o lulopetismo, que naufraga. Se você perguntasse reservadamente para o Lula se o lulopetismo naufragou, creio que até ele diria que sim.
Valor: Agora não considera a renúncia a melhor solução?
Serra: A renúncia é prerrogativa da Dilma. E, ao que tudo indica, pelo que ela tem reiterado numerosas vezes, não cogita de renunciar. Mas não tenho dúvida que a esmagadora maioria do país gostaria que ela renunciasse.
Valor: O senhor tem conversado com o vice-presidente, Michel Temer, sobre uma saída da crise?
Serra: Veja, não vejo o Temer há mais de um mês, mas é óbvio que falamos sobre política. Não cabe a mim dizer o que Michel pensa, mas, em nenhum momento, diga-se, o senti conspirando contra a presidente. Aliás, aceitou um verdadeiro abacaxi, que é essa coordenação política do governo junto ao Congresso. Uma das tarefas mais ingratas que alguém poderia ter.
Valor: Há acordo possível?
Serra: O ocupante de nenhum outro cargo tem a capacidade de assumir o papel do presidente da República, porque não detém suas prerrogativas, suas possibilidades. A presidente é quem tem a caneta, mas não sabe o que fazer com ela. Ela terceirizou a articulação política, o comando da economia e a definição da agenda. Terceirizou o trabalho de ser presidente. Depende da boa vontade alheia para tocar o governo. As instituições começam a derreter e suas áreas fronteiriças tendem a se misturar, causando confusão. É como se ninguém soubesse mais qual é o papel de quem e responsabilidades e limites de cada um.
Valor: O Senado pode ajudar?
Serra: Em resumo, o problema todo da crise atual, política ou econômica, é o vácuo de poder na Presidência da República. Isso continua, com ou sem tentativas de entendimento com o Senado. É esse vácuo que alimenta as discussões sobre impeachment ou renúncia. Não tenho dúvida que o país gostaria que ela renunciasse. Mas não vai fazer isso.
Valor: Seu mandato tem alta taxa de sucesso. É campeão de propostas aprovadas. A parceria com o presidente do Senado, que comanda a pauta, ajuda?
Serra: Tenho tido um trabalho produtivo no Senado, como tive quando deputado e constituinte. Esse trabalho envolve, naturalmente, o presidente Renan, a Consultoria do Senado, que é muito boa, meu partido -que sempre me apoia-, os líderes de outros partidos, os presidentes de comissões e a maioria dos senadores. Quando há votação de projeto meu, visito colegas no seu gabinete, encontro-os no salão do café e vou de cadeira em cadeira, pedindo voto. Quando preciso de assinaturas para requerimento, peço-as pessoalmente. Trabalho bastante.
Valor: A "Agenda Brasil", com propostas para animar a economia, pode dar resultado?
Serra: Olha, [o efeito] é maior ou igual a zero. Não tem efeito negativo. Caberia ao governo trazer a agenda ao Congresso e não o contrário. Mas o governo é fraco e tem baixa capacidade de articulação. Claro que, na política, há sempre intenções por trás dos gestos e das conversas. Mas está se sofisticando demais a análise nesse caso.
Valor: A movimentação de Renan parece ter dado um alívio ao governo.
Serra: São as flutuações intersemanais, naturais na política.
Valor: Não acredita em melhora de fato?
Serra: Não estou torcendo para que não haja, mas, sinceramente, a chance me parece pequena.
Valor: O PSDB será a força mais forte em 2018? E os outros partidos?
Serra: Sem dúvida, o PSDB será um partido forte em 2018. Mas, francamente, a essa altura fazer um ranking de possíveis pesos dos diferentes partidos em 2018, é quase como especular o que tem do outro lado da lua.
Valor: Acredita em mudança grande do quadro?
Serra: Evidente. A crise é profunda. Há uma frase do Paul Valéry que vira e mexe me vem à cabeça: 'Le futur ne sera pas comme il était' - o futuro não será mais como ele era. Basta dizer que o lulopetismo está nos seus estertores, que o Brasil se desindustrializou, que as multidões vão às ruas sem o patrocínio de partidos, governos ou sindicatos. Alguém previa isso em 2010? A história é feita de excentricidades. O improvável comanda os grandes acontecimentos, as mudanças históricas.
Valor: Mantém a pretensão de disputar novamente a Presidência da República?
Serra: Hoje? Nenhuma. Não faz parte das minhas cogitações de hoje disputar ou não disputar. Estou concentrado no trabalho do Congresso e junto à sociedade. Nos projetos e na política. 2018 é longuíssimo prazo, acredite. Caraminholar com candidaturas, a esta altura, só atrapalha mais ainda a batalha para sairmos da crise.
Valor: Planeja propor adoção do parlamentarismo?
Serra: Defendo a implantação desse sistema a partir das eleições de 2018. Se há algo que está no programa do PSDB, é o parlamentarismo. Mas não se deve usá-lo para resolver crise imediata, como no episódio da renúncia de Jânio Quadros. Alguns dizem que hoje teríamos um parlamentarismo branco. Nada mais falso. O suposto triunvirato formado por Renan, [Eduardo] Cunha e Temer não substitui governo. Muito menos este, que parece perdido.