O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

quinta-feira, 21 de julho de 2022

O cercadinho dos embaixadores - Elio Gaspari (O Globo)

O cercadinho dos embaixadores

A diplomacia mambembe de Bolsonaro

Elio Gaspari

Presidente Jair Bolsonaro em reunião com embaixadores sobre o sistema eleitoral brasileiro 

 

Há 200 anos, antes do Grito do Ipiranga, José Bonifácio de Andrada e Silva criou a semente da diplomacia brasileira. Em agosto de 1822, ele encaminhou um “Manifesto aos Governos e Nações Amigas”, em que Dom Pedro mencionava a “vontade geral do Brasil que proclama à face do universo a sua independência política”. Sempre antes do 7 de Setembro, Andrada mandou representantes a Londres e Paris.

Passaram-se 200 anos, e Jair Bolsonaro apequenou a diplomacia fundada por José Bonifácio. Reuniu embaixadores estrangeiros para recriminar o sistema eleitoral brasileiro, atacando nominalmente os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes.


Ele disse coisas assim: 

— Por que um grupo de apenas três pessoas quer trazer instabilidade para o nosso país, não aceita nada das sugestões das Forças Armadas, que foram convidadas? São perfeitas, chega a perfeição absoluta? Talvez não. Nem um sistema informatizado pode dar garantia de 100% de segurança. As Forças Armadas, das quais sou comandante supremo, ninguém, mais do que nós, quer estabilidade em nosso país.

Bolsonaro pode dizer coisas desse tipo onde bem entender, menos para uma plateia de diplomatas estrangeiros formalmente convidados. O processo eleitoral de um país pode ter observadores internacionais, caso essa seja a vontade de seu governo. Chamar diplomatas estrangeiros para ouvir uma peroração como a do Alvorada não chega a ser alienação de soberania, é apenas tolice, menos para quem esteja planejando uma crise institucional. Vale lembrar que, na posse dos presidentes do Estados Unidos, os embaixadores estrangeiros não são convidados para a cerimônia, pois se trata de assunto doméstico.

Desde 1822, quando Andrada e Silva se preocupava com as nações amigas, não há precedente de um governante brasileiro ter reunido embaixadores para defender suas opiniões, atacando integrantes de outro Poder da República. Seria ingenuidade achar que Bolsonaro reuniu esses senhores para convencê-los de seja lá o que for. Bolsonaro falou para sua base. Uma coisa é certa: a ideia desse “brienfing”, como dizia a transparência, não partiu do Itamaraty.

Todos os diplomatas reunidos por Bolsonaro transmitiram relatos para suas chancelarias, e é possível imaginar alguns aspectos factuais do evento:


1) Nem todos os embaixadores foram convidados. Ficaram de fora a China, a Argentina, o Chile e o Reino Unido;

2) Bolsonaro se fez acompanhar pelo chanceler e pelos generais-ministros da Defesa, do Gabinete de Segurança Institucional e da Secretaria-Geral da Presidência, mais seu provável candidato a vice. Os presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recusaram o convite;

3) O protocolo não previa perguntas da plateia (ainda bem);

4) Só foram admitidas equipes de emissoras de televisões que se comprometeram a transmitir a fala de Bolsonaro na íntegra, ao vivo. A emissora estatal fez a transmissão;

5) Horas depois, o ministro Edson Fachin, presidente do TSE, e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, rebateram a fala do presidente.


Se algum embaixador concluiu que o evento do Alvorada fortaleceu o compromisso democrático do presidente Bolsonaro diante do resultado das urnas de outubro, será chamado de volta a bem do serviço público de seu país.

 


quarta-feira, 20 de julho de 2022

A Associação dos Diplomatas Brasileiros e as eleições eletrônicas (ADB)

 A ADB reitera sua plena confiança na justiça eleitoral brasileira e no sistema eletrônico de votação do País. Por décadas, os diplomatas brasileiros têm atuado em apoio às autoridades eleitorais do País para a organização e a realização das eleições presidenciais. Em mais de 200 cidades espalhadas pelo mundo onde há repartições consulares, além de 33 seções adicionais em localidades em que não há representação permanente. A missão eleitoral do Ministério das Relações Exteriores, que inclui desde o alistamento de eleitores até a transmissão dos votos, mobiliza não apenas servidores do Itamaraty, mas também as comunidades brasileiras. Para 2022, há mais de 600 mil eleitores alistados no exterior.

Desde sua implantação, em 1996, o sistema brasileiro de votação eletrônica é objeto de reiteradas demandas de cooperação internacional de transferência de conhecimento e tecnologia. Ao longo desse tempo, a diplomacia brasileira testemunhou sempre elevados padrões de confiabilidade que se tornaram referência internacional indissociável da imagem do Brasil como uma das maiores e mais sólidas democracias do mundo. Essa é uma conquista da sociedade brasileira no processo de consolidação de suas instituições democráticas, para a qual a diplomacia nacional muito se orgulha de contribuir no exercício de suas atividades.

ADB/SINDICAL 

Uma petição para afastar os militares da vida política

Pela defesa do processo eleitoral e pela exclusão dos militares da política

Está mais do que evidente o erro que foi convidar as Forças Armadas para integrar Comissão de Fiscalização do Processo Eleitoral. O grau de politização em que se encontram militares de alta patente, em especial aqueles do Exército, tem se revelado como um fator de instabilidade, insegurança e incerteza quanto ao futuro da República e da democracia. 

Presidente da República, o militar Jair Bolsonaro, tem buscado, através de inúmeros meios, desacreditar o processo eleitoral. São mentiras e mais mentiras dirigidas contra o processo eleitoral, num conjunto aterrador de crimes de responsabilidade. O último circo montado tratou de envergonhar o país diante de um número significativo de autoridades estrangeiras. Enquanto isso, os presidentes das casas legislativas, bem como o Procurador Geral da República, fazem a egípcia. 

Parte da alta cúpula militar, se não toda ela, tem realizado ações que caminham no mesmo sentido. Se a orientação vem da alta cúpula, ou do Presidente, é, para os efeitos imediatos, irrelevante, pois ambos traem o princípio maior a que devem estar subordinados, isto é, a defesa do interesse da sociedade brasileira, cujo marco legal está inscrito na Constituição.

Não é função das Forças Armadas garantir a lisura do processo eleitoral. Não é papel das Forças Armadas avalizar qualquer poder civil, muito menos o poder soberano da sociedade na escolha de seus dirigentes.

A sociedade brasileira, desde que restaurada a democracia que nos foi roubada pelos anos de ditadura militar,  sempre depositou confiança em seu processo eleitoral. Não serão, portanto, aqueles que nos roubaram a democracia ontem que serão seus garantidores amanhã.

Solicitamos, portanto, ao Tribunal Superior Eleitora que exclua, de qualquer comissão relativa ao processo eleitoral, todo e qualquer membro das Forças Armadas.

Solicitamos, também, enquanto não é aprovada quarenta para que militares possam concorrer a cargos públicos, que a Justiça Eleitora exija o cumprimento das normas próprias que impedem que militares, mesmo na reserva, se apresente com sua patente hierárquica. Afinal, não há general ou capitão na vida civil; há apenas cidadãos. Se a própria autoridade militar não cumpre seu próprio ordenamento, que seja forçada a tanto.

Precisamos, de uma vez por todas, extirpar o câncer do autoritarismo que insiste em se fazer presente da vida política do país e cujo foco principal está nas Forças Armadas. Chega! Viva a Constituição de 88, viva a Democracia. Em defesa de nosso processo eleitoral!

Vidas Paralelas, como diria algum Plutarco de subúrbio - Paulo Roberto de Almeida

 Vidas Paralelas, como diria algum Plutarco de subúrbio

Putin comete seus crimes porque oligarcas russos bilionários foram manietados e colocados a seu serviço. 

Trump conseguiu deformar terrivelmente a democracia americana porque o Partido Republicano se rendeu inteiramente a um trambiqueiro populista e mentiroso.

Bozo só perpetra as suas barbaridades porque corporações de Estado e caciques políticos corruptos e venais obtêm vantagens de uma submissão vergonhosa a um alucinado no comando do poder!

O mal nunca é cometido isoladamente por algum aventureiro de ocasião: sempre existem conivências por parte das elites dominantes. 

Mussolini foi saudado na sua Marcha sobre Roma pelas oligarquias políticas e econômicas como um necessário “salvador da pátria”.

Salazar construiu o seu Estado Novo com a total colaboração dos dirigentes militares.

Hitler assumiu plenos poderes com o apoio dos grandes industriais e financistas da República de Weimar.

Chávez foi eleito entusiasticamente por todos aqueles que queriam se livrar do partidarismo corrupto fundado sobre o maná maldito do petróleo.

Lula tronou impérvio sobre as massas porque soube reproduzir a esperteza marota de Vargas ao ser, ao mesmo tempo, o Pai dos Pobres e a Mãe dos Ricos.

A história é repleta de exemplos desse tipo: e parece que o Brasil se prepara para recrutar novamente Mircea Eliade no caminho de reproduzir o Mito do Eterno Retorno.

Viveremos em círculos em torno de “mais do mesmo”?

Cosi é si vi pare…

Paulo Roberto de Almeida

Novamente na encruzilhada da História? - Paulo Roberto de Almeida

 Novamente na encruzilhada da História?

Sociedades pouco educadas, tanto nas massas quanto nas pretensas elites, podem ser suscetíveis de seguirem líderes voluntariosos e perigosamente equivocados para a nação, quando pretendem guiá-la por caminhos não exaustivamente mapeados por estudos técnicos abalizados por avaliações rigorosas de custo-benefício para o país.

Corporações de Estado, como FFAA e Itamaraty, quando passivas e submetidas a dirigentes ineptos, podem ser cooptadas e conduzidas a participar de iniciativas políticas altamente prejudiciais ao país. 

Assim ocorreu sob a ditadura militar, o mesmo se reproduziu sob o lulopetismo e também está acontecendo agora, sob o bolsonarismo aloprado. 

Poderia apresentar muitos exemplos de casos concretos que resultaram em desvio de funções e em atrasos para o desenvolvimento material e político-institucional para o Brasil, mas não é o mais conveniente neste espaço. 

Em todo caso, gostaria de aproveitar um dos títulos do mestre Antonio Paim e confirmar que estamos novamente numa encruzilhada crucial para o destino da nação, aquilo que ele chamou de Momentos Decisivos da História do Brasil

Infelizmente, falhamos sob a colônia— o que não estava em nosso poder determinar —, mas igualmente fomos incapazes de corrigir as vias erradas sob o Império e novamente sob a República não soubemos construir as bases fundamentais de uma nação comprometida com o bem-estar e a prosperidade de todos os seus filhos.

Em próximo livro — Construtores da Nação: Projetos para o Brasil, de Cairu a Merquior (LVM, 2022) — examino e discuto as propostas de reformas estruturais e de políticas públicas apresentadas e defendidas por duas dezenas de intelectuais e estadistas nacionais, infelizmente não realizadas a contento nos últimos dois séculos de vida independente.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 20/07/2022

terça-feira, 19 de julho de 2022

Presidente golpista - Editorial da Folha de S. Paulo contra os arreganhos autoritários do aprendiz de golpista

O que a Folha pensa Itamaraty

Presidente golpista

Bolsonaro barganha com Congresso liberdade para atacar a democracia; isso tem de acaba

FSP, 19.jul.2022 às 11h41 

O presidente Jair Bolsonaro com os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco - Fátima Meira/Futura Press/Folhapress

O presidente da República se empenha em destruir as eleições periódicas no Brasil. Como o êxito é improvável, a sua segunda linha de fogo é a de conturbar a vida cívica nacional, o que não dispensa a incitação de arruaças e sublevações.

É preciso que seja impedido pelas forças vivas da democracia.

Organizações de Estado que construíram reputação de profissionalismo ao longo das últimas décadas se atolam na lama da marcha autoritária. As Forças Armadas e o Itamaraty se metem em conspiratas contra as urnas eletrônicas.

Convidaram-se dezenas de embaixadores estrangeiros para um insólito ataque, recheado de mentiras repetidas, do chefe de Estado à cúpula do Judiciário do seu próprio país. Rebaixa-se a diplomacia brasileira às fossas da conivência golpista.

O presidente do Senado apôs à gravíssima investida algumas palavras de bom senso político. Acabou o momento de debater o sistema de votação. A emenda que estabelecia a impressão do escrutínio foi derrotada ainda na Câmara.

O presidente da Casa dos deputados calou-se, como tem se calado sobre os pedidos de impeachment acumulados em sua gaveta. Cúmplice de um chefe de governo que na opinião desta Folha há muito perdeu as condições de permanecer no cargo, acomoda-se ao casamento de interesses com o Planalto, que lhe transfere o controle das manivelas da execução do Orçamento.

Dinheiro em troca da tolerância ao bonapartismo —eis o pacto que sustenta o presidente da República no Congresso Nacional.

O governante não gasta energia com programas, não entra no jogo parlamentar para promover políticas públicas, não batalha por prioridades da gestão. Entrega os impostos cobrados dos brasileiros à rapinagem clientelista desde que o deixem livre para metralhar sustentáculos da Carta democrática.

É um jogo perigoso. Abona o chamamento a rebeliões fascistoides em caso de derrota eleitoral. Flerta com as baionetas a que o tirano gostaria de recorrer na primeira oportunidade. A representação sucumbe ante as rebeliões; o Parlamento morre sob as baionetas.

Da comunidade política, portanto, precisa partir a reação contra a escalada subversiva do presidente da República. Todos os líderes partidários devem uma manifestação urgente de apreço inequívoco pelas regras básicas da democracia.

votação ocorrerá pela urna eletrônica, os resultados serão obedecidos, os eleitos tomarão posse nas datas previstas, e os derrotados insatisfeitos terão a via única do recurso judicial para manifestar suas queixas. A violência e o tumulto não serão admitidos.

Basta de negociar com promotores da ditadura.

editoriais@grupofolha.com.br ​ ​ ​ 


Respostas do TSE às alegações mentirosas do golpista

 A Secretaria de Comunicação e Multimídia do Tribunal Superior Eleitoral produziu alguns conteúdos que explicam alguns dos pontos trazidos pelo presidente Jair Bolsonaro durante reunião com os embaixadores nesta segunda, 18 de julho:

*Alegação 1*: Apenas dois países do mundo usam sistema semelhante ao brasileiro

Resposta: https://www.justicaeleitoral.jus.br/checagens/outros-paises-alem-de-brasil-butao-e-bangladesh-usam-urnas-sem-voto-impresso

*Alegação 2*: Hacker teve acesso a tudo dentro do TSE

Resposta: https://www.justicaeleitoral.jus.br/checagens/tentativa-de-ataque-hacker-ao-sistema-do-tse-nao-viola-seguranca-das-urnas

Resposta: https://www.justicaeleitoral.jus.br/checagens/e-falso-que-hacker-tenha-atacado-sistema-de-votos-do-tse

*Alegação 3*: Hacker poderia excluir nomes de candidatos

Resposta: https://www.justicaeleitoral.jus.br/checagens/urna-nao-pode-ser-manipulada-via-internet-entrevista-com-hacker-preso-desinforma-sobre-sistema-eleitoral

*Alegação 4*: Logs foram apagados

Resposta: https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2021/Agosto/nota-a-imprensa

Resposta: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/08/05/bolsonaro-tse-entrevista.htm

*Alegação 5*: PSDB disse que sistema é inauditável

Resposta: https://www.justicaeleitoral.jus.br/checagens/auditoria-do-psdb-nao-encontrou-fraude-nas-eleicoes-de-2014

*Alegação 6*: TSE não imprime voto mesmo com recomendação da PF

Resposta: https://www.justicaeleitoral.jus.br/checagens/nao-e-verdade-que-o-tse-se-nega-a-cumprir-lei-que-determinava-impressao-do-voto

*Alegação 7*: Observadores internacionais não conseguirão analisar a integridade do sistema, pois não há voto impresso.

Resposta: Organismos internacionais especializados em observação, como OEA e IFES, já iniciaram análise técnica sobre a urna eletrônica. Contarão com peritos em informática, com acesso ao código-fonte e todos os elementos necessários para avaliarem a transparência e integridade do sistema eletrônico de votação.

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Maio/eleicoes-2022-saiba-a-diferenca-entre-observadores-internacionais-nacionais-e-convidados

*Alegação 8*: Min Fachin resolveu tornar Lula elegível

Resposta: O ministro Luiz Edson Fachin ficou vencido no tema da execução da pena após a condenação em segunda instância e na competência da justiça eleitoral para julgar as ações oriundas de grandes esquemas de corrupção. Vencido, no entanto, não se furtou em aplicar a posição consolidada pelo Plenário. Sobre o tema do habeas corpus do ex-Presidente, na semana anterior a que o ministro Fachin proferiu a decisão, foi aplicado o mesmo entendimento para deslocar a competência de uma investigação relacionada à Transpetro.

Resposta: https://www1.folha.uol.com.br/poder/2022/07/bolsonaro-ataca-fachin-e-erra-ao-dizer-que-presidente-do-tse-tirou-lula-da-prisao.shtml

*Alegação 9*: Min Barroso indevidamente acusou Bolsonaro de vazar inquérito sigiloso, quando ele não era sigiloso

Resposta:  Corregedoria da PF disse que o inquérito era sigiloso pelo fato de ainda estar aberto. 

Resposta: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2022-02/pf-inquerito-sobre-tse-estava-em-sigilo-interno-mas-nao-judicial

Resposta: https://noticias.r7.com/brasilia/pf-bolsonaro-cometeu-crime-ao-divulgar-documentos-sigilosos-29062022

*Alegação 10*: É uma empresa terceirizada que conta os votos

Resposta: https://www.justicaeleitoral.jus.br/checagens/supercomputador-do-tse-nao-e-servico-de-nuvem-estrangeiro-que-abre-brecha-para-fraude

Resposta: O sistema de totalização é feito no TSE e é apresentado as entidades fiscalizadoras com 1 ano de antecedência bem como é lacrado em cerimônia pública.

*Alegação 11*: Min Fachin diz que auditoria não serve para questionar resultados

Resposta: Frase retirada de contexto, como descrito em: https://www.uol.com.br/eleicoes/2022/07/01/fachin-auditoria-nao-deve-ser-usada-para-rejeitar-resultado-das-eleicoes.htm

https://www.poder360.com.br/eleicoes/auditoria-nao-serve-para-rejeitar-resultado-das-urnas-diz-fachin/

*Alegação 12*: O Ministro Fachin foi advogado do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra)

Resposta: O Ministro Luiz Edson Fachin nunca foi advogado do MST. https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2022/05/27/bolsonaro-ataque-fachin.htm

*Alegação 13*: O proprio TSE disse que em 2018 números podem ter sido alterados

Resposta: O TSE nunca emitiu tal informação.

*Alegação 14*: TSE não acolheu as sugestões das Forças Armadas

Resposta: https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Junho/mais-de-70-das-propostas-da-cte-foram-acolhidas-para-as-eleicoes-2022

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Julho/veja-os-aprimoramentos-do-processo-eleitoral-a-partir-das-sugestoes-da-cte

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Julho/eleicoes-2022-conheca-as-entidades-que-podem-fiscalizar-e-auditar-o-processo-eleitoral-911834

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2021/Agosto/nota-a-imprensa

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2021/Agosto/fato-ou-boato-hacker-nao-desviou-votos-da-urna-eletronica-nas-eleicoes-presidenciais-de-2018

*Alegação 15* - Institucionalidade Voto impresso 

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2021/Junho/voto-impresso-e-menos-seguro-que-o-eletronico-e-significara-201cusina-de-problemas201d-avalia-barroso

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2021/Junho/video-que-circula-nas-redes-faz-afirmacoes-falsas-sobre-o-voto-impresso

*Alegação 16* - Supercomputador

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2020/Novembro/nota-de-esclarecimento-sobre-nuvem-para-contabilizar-votos

*Alegação 17* - Urna autocompleta voto

https://www.tse.jus.br/hotsites/esclarecimentos-informacoes-falsas-eleicoes-2018/urna-autocompleta-voto.html

*Alegação 18* - Transparência do voto

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2021/Julho/resultados-de-eleicoes-e-boletins-de-urna-estao-disponiveis-para-consulta-no-portal-do-tse

*Alegação 19* - confiabilidade do sistema eleitoral

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Julho/fachin-faz-balanco-do-semestre-e-destaca-dialogo-institucional-com-poderes-da-republica

https://www.tse.jus.br/comunicacao/noticias/2022/Julho/auditoria-do-tcu-conclui-que-nao-ha-riscos-relevantes-a-realizacao-das-eleicoes-gerais-de-2022

*Alegação 20* - A PF disse que o TSE é um queijo suíço uma peneira

Resposta: A Justiça Eleitoral não tem conhecimento de tal afirmação feita pelaPolícia Federal.

Eleições 2022: Bolsonaro escolheu seu caminho na campanha: o da violência - Alberto Bombig

 

Bolsonaro escolheu seu caminho na campanha: o da violência
Alberto Bombig

A primeira metade deste mês de julho, reta final para as convenções partidárias, deixou claro que Jair Bolsonaro (PL) escolheu a violência como eixo de sua campanha para permanecer no poder:

1- Violência física. Por mais que o inquérito da Polícia Civil do Paraná tenha passado um pano para o presidente no caso do assassinato do militante petista em Foz do Iguaçu (PR), é inegável que o histórico das pregações dele pelo confronto com quem pensa diferente e toda a simbologia belicista montada em torno de suas ideias e de sua família, assim como os decretos liberatórios do governo ao acesso às armas, estimulam o confronto direto e armado contra os opositores. Neste último final de semana, houve relatos de intimidação física a apoiadores de Marcelo Freixo (PSB), adversário do clã Bolsonaro, no Rio de Janeiro.

2- Violência verbal. O presidente prossegue em sua toada de vociferar contra as instituições, os adversários políticos e a imprensa. Na sexta-feira passada (15), em um culto evangélico, atacou as minorias com falas homofóbicas. No STF (Supremo Tribunal Federal), a ministra Rosa Weber aceitou a tese de que Bolsonaro pode estar insuflando a violência e mandou a PGR se manifestar.

3- Violência parlamentar. Praticada por uma maioria eventual no Congresso, ela atropela regimentos, impõe sua vontade, como no caso da PEC Kamikaze, e joga por terra o equilíbrio do jogo legislativo, essencial em um regime democrático.

4- Violência eleitoral. Com dinheiro público, Bolsonaro segue com suas motociatas e suas visitas aos estados; a mais recente, no Ceará, é um caso descarado de abuso do poder econômico e de campanha antecipada. Além disso, o Congresso enterrou a lei eleitoral com a permissão de doações, transferências de verbas de obras e outras benesses com dinheiro público.

5- Violência diplomática. A inusitada convocação de embaixadores para acusar o sistema eleitoral brasileiro de fraude não tem precedentes na história do país.

6- Violência institucional. Prossegue, sem sinais de arrefecimento, a campanha do presidente da República e de seus apoiadores para deslegitimar as urnas eletrônicas, mesmo que, como mostrou o UOL, fraudes nesse sistema de votação são improváveis e nunca forma registradas.

Porém, é inegável que as recentes vitórias políticas obtidas pelo governo mudaram o panorama pré-eleitoral brasileiro e alteraram significativamente as projeções dos mundos político, empresarial e jurídico nos últimos dias.

No campo institucional, a despeito das mumunhas e de algumas atitudes valentes da oposição, a aprovação da PEC Kamikaze, ou PEC das Bondades, no Congresso representa um divisor de águas neste ano eleitoral. Ainda é cedo para mensurar os efeitos concretos dessa vitória, mas, por ora, a projeção é de um impacto favorável ao presidente nas pesquisas eleitorais.

E, se essa projeção se confirmar, o que poderá representar? Antes de mais nada, deverá arrastar a disputa eleitoral para o segundo turno, afastando de Bolsonaro a ameaça, registrada em maio pelo Datafolha e pelo Agregador de Pesquisas do UOL, de uma vitória de Lula ainda no primeiro turno.

Jogará ainda mais pressão sobre Ciro Gomes (PDT), o pré-candidato mais bem colocado fora da polarização entre os dois principais líderes. Estará ele, no limite, disposto a renunciar ao seu projeto de candidatura para ajudar Lula, visto que seu partido é do espectro da centro-esquerda? Ou poderá entrar para história como quem levou Bolsonaro ao segundo turno?

Para petistas próximos a Lula, a posição adotada por Ciro após o crime no Paraná indica que o pedetista não está disposto a dialogar nem sobre a defesa da democracia. No Twitter, Ciro condicionou sua adesão a um pacto de não agressão entre as campanhas, proposto pelos partidos de esquerda, a um compromisso a ser firmado pelo líder das pesquisas de comparecer a todos os debates.

O PDT tem convenção marcada para a próxima quarta-feira (20), em Brasília, para referendar Ciro. Há grande expectativa sobre o primeiro discurso oficial dele como candidato, se deixará alguma ponte em pé para eventual composição com Lula ou se dobrará a aposta em atacar o ex-presidente petista.

O acirramento da disputa presidencial entre Lula e Bolsonaro no primeiro turno também deixa em situação delicada a pré-candidatura de Simone Tebet (MDB), que está com dificuldades de decolar e ainda não definiu quem será seu vice. Nos bastidores, a leitura é de que a decisão de Rodrigo Garcia (PSDB) de abrir palanque para Luciano Bivar (União Brasil) em São Paulo pode tirar da senadora sua principal chance de crescer nas pesquisas: a máquina do PSDB no maior colégio eleitoral do país.

Por tudo isso, o nome do jogo jogado por Bolsonaro até aqui é o da guerra aberta e declarada, enquanto seus adversários ainda buscam, dentro das quatro linhas democráticas, formas de se contrapor ao presidente. No xadrez eleitoral, embora em segundo lugar nas pesquisas, o planalto joga com as brancas e mantem a iniciativa na partida.


Manifesto Globalista (para provocar os idiotas) - Paulo Roberto de Almeida

 Recebi um convite para participar de um Dicionário dos Antis, e o meu verbete, por um desses acasos que se colam ao meu perfil intelectual, será o Antiglobalismo. Não será difícil fazer, tanto porque tenho escrito sobre essa baboseira desde que ela apareceu no cenário brasileiro, pela peças absolutamente ridículas do falecido Rasputin de Subúrbio, aquele subsofista da Virgínia que vivia enganando incautos com suas aulinhas de filosofia que lhe permitiam viver à larga como expatriado na pátria da globalização, mas que influenciou alguns idiotas no Brasil, entre eles o primeiro chanceler do desgoverno do Bozo, o desequilibrado discípulo que queria não só lutar contra o globalismo como também contra o multilateralismo.

Vou reproduzir aqui um texto escrito anteriormente, nessa fase em que a paranoia andava solta na chancelaria e no desgoverno, feito só para provocar os idiotas: 

3584. “Manifesto Globalista”, Brasília, 15 fevereiro 2020, 11 p. Mais um da série “clássicos revisitados”, retomando a estrutura do “Manifesto Comunista” de 1848 para defender o globalismo, a globalização e atacar o antiglobalismo de alguns ingênuos no poder. Inserido no livro O Itamaraty num labirinto de sombras. Divulgado no blog Diplomatizzando (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/02/manifesto-globalista-paulo-roberto-de.html) e novamente em 16/03/2020 (link: https://diplomatizzando.blogspot.com/2020/03/manifesto-globalista-2020-paulo-roberto.html) e também na plataforma Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42231177/Manifesto_Globalista_2020_).


Manifesto Globalista

  

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.orghttp://diplomatizzando.blogspot.com)

 [Objetivo: paródia; finalidade: contrarianista]

  

Introdução: um manifesto em defesa do globalismo?

Um “manifesto globalista”? Na linha do Manifesto Comunista (1848), de Marx e Engels? Sim, exatamente, mas com algumas diferenças de espírito e de conteúdo. 

Como o globalismo vem sendo atacado de maneira superficial e simplista por alguns espíritos neogóticos, com argumentos totalmente equivocados, vou divulgar o meu manifesto globalista, especialmente voltado para o mundo diplomático brasileiro, onde o besteirol antiglobalista que está sendo disseminado desde algum tempo é bem maior. A estrutura do presente ensaio provocador pode parecer semelhante, ou similar, à do texto gótico de 1848, mas os argumentos são bastante diferentes.

Mas antes uma precisão: o título original do pequeno panfleto de 1848 – feito muito rapidamente, inclusive com alguns “empréstimos” deliberados – preparado por dois jovens hegelianos radicais, era Manifesto do Partido Comunista. Só que não ainda não existia nenhum “partido comunista”: o texto havia sido encomendado pela Liga dos Justos, uma associação de trabalhadores alemães sediada na Inglaterra. Os partidos comunistas surgiram bem mais tarde, no seguimento da primeira grande divisão dos socialistas, seja na Primeira Internacional, em face do embate entre anarquistas-bakuninistas e marxistas-marxianos, seja depois, com o surgimento dos socialistas-reformistas – Lassale, Liebknecht, Kautsky, Bernstein –, agrupados na Segunda Internacional, que logo foram combatidos pelos bolcheviques-leninistas da Terceira Internacional. A partir de 1919, quem quisesse apoiar o primeiro “Estado trabalhador” da História tinha de mudar o nome do seu partido para comunista, e acrescentar o subtítulo: “seção [nacional] da Internacional Comunista”, como foi o primeiro nome do Partido Comunista do Brasil: seção brasileira da Internacional Comunista (1922, nome recuperado depois, sem o subtítulo, pelo PCdoB). 

Marx e Engels aprovariam, quase certamente, a distinção entre comunistas e socialistas, para logo em seguida criticar os discípulos pouco instruídos nas coisas econômicas (pois que conduziram o comunismo a uma situação insustentável). Para os propósitos do presente ensaio, como nem o globalismo, nem o bizarro antiglobalismo constituem partidos, no sentido etimológico e funcional da palavra, este novo manifesto não é do “Partido Globalista” e sim apenas um “Manifesto Globalista”; se quiserem acrescentar algo, eu não me oporia a este subtítulo: “contra o antiglobalismo”. Feitos os esclarecimentos históricos, vamos a um novo “clássico revisitado” de minha série, que já comporta uma paródia do velho Manifesto, adaptado aos vibrantes novos tempos da globalização capitalista (o novo Manifesto, e o livro completo, estão disponíveis aqui: https://www.academia.edu/41037349/Velhos_e_Novos_Manifestos_o_socialismo_na_era_da_globalizacao_1999_).

 

1. O grande temor dos reacionários: o espectro do globalismo

Um espectro percorre a comunidade adepta das teorias conspiratórias: o espectro do globalismo. Todos os poderes de velhas correntes ultraconservadoras, da extrema direita e dos reacionários sem qualquer doutrina, mas também da esquerda antiglobalizadora, se aliaram em uma campanha contra o fantasma do globalismo. Este seria, no precário entendimento dos que estão coligados ou convergentes no combate a esse novo monstro metafísico, um alegado complô de ricaços de esquerda e de burocratas da ONU — sem esquecer alguns ideólogos, como este que aqui escreve — devotado a retirar soberania aos Estados nacionais e a construir um governo mundial dirigido por burocratas não eleitos de organismos internacionais. 

Qual entidade de burocratas dedicados à interdependência global não foi vilipendiada pelos seus adversários no poder como globalista? Quantos diplomatas sinceramente devotados ao seu trabalho internacionalista já não foram acusados de globalistas pelos novos cruzados reacionários da causa antiglobalista?

Desse fato concluem-se duas coisas.

O globalismo passou a ser identificado por esses adeptos de teorias conspiratórias como um novo poder.

Já é tempo dos globalistas engajados – como este que aqui escreve – exporem perante o mundo inteiro – ou pelo menos aos true believers e outros ingênuos seduzidos pela causa antiglobalista – a sua visão do mundo, seus objetivos e tendências, e de contraporem à lenda do espectro do globalismo um manifesto do próprio punho. Um manifesto que examine cada uma das alegações dos antiglobalistas e confirme que eles estão indo na direção contrária ao sentido tomado pela grande trajetória da interdependência global, ao pretenderem fazer girar para trás a roda da História.

 

2. Globalistas e antiglobalistas (ou internacionalistas conscientes e nacionalistas tacanhos)

Adeptos de teorias conspiratórias sempre existiram ao longo dos séculos: são geralmente mentes simples, almas cândidas, pessoas ingênuas que, induzidas por profetas de algum desastre iminente – gurus alucinados pelas dificuldades naturais, estruturais ou conjunturais, sistêmicas ou acidentais, contingentes, das economias sociedades – tentam ver, nesses soluços de uma longa e lenta evolução para estágios diferentes de organização econômica, política e social, a ação de sociedades secretas, entidades poderosas que manobrariam em surdina justamente contra o Estado ao qual pertencem. 

Para eles, se algo estranho – ou seja, coisas que eles não conseguem explicar – está acontecendo no mundo, ou no cantinho em que eles vivem, é porque um pequeno grupo de espertalhões, geralmente ricos e poderosos, mas sempre mal intencionados, está tentando (e conseguindo) tomar o controle do mundo e de suas vidas, para impor não se sabe bem que tipo de novo regime ou sistema de vida. Dizer que os “conspiradores” são paranoicos já é uma redundância em si, pois parece haver uma correspondência íntima entre esses dois tipos de alucinados, embora nem todos os paranoicos sejam adeptos de teorias conspiratórias: vários se refugiam em seu mundinho conhecidos, temendo que o céu lhes caia sobre a cabeça, apenas dizendo que “estão vindo atrás de mim”. Paranoicos podem ser recatados e, portanto, não prejudiciais, mas conspiratórios tendem geralmente a perturbar a paz geral e a felicidade da nação anunciando as piores catástrofes que estão para se abater sobre o país e cada um de nós. Os antiglobalistas pertencem a esse gênero perfeitamente alucinado: “Os globalistas vão tirar nossas liberdades, vão retirar a soberania da nação, vão nos converter todos em escravos da poderosa máquina perversa” (que pode ser a do capital ou a do marxismo, à sua escolha), “eles vão destruir as bases das nossas sociedades, já estão fazendo isso, alerta minha gente!”.

Pois é, esses são os antiglobalistas, que seriam apenas ridículos, se não fossem também inutilmente ridículos, pois engajam a sociedade, quando estão no poder, em uma retirada em regra de fluxos, circuitos, correntes, movimentos e outras interações que seriam naturais e benéficas, se deixadas ao sabor das mudanças progressivas e regulares em quaisquer sociedades “normais”, ou seja, aquelas que respondem à dinâmica constante das atividades econômicas ou que reagem positivamente às novas ideias que cérebros educados estão sempre propondo para melhorar a vida de cada um dos cidadãos (ou súditos).

E quem são os globalistas, supostamente pecadores, indivíduos perigosos, propensos, pelo menos potencialmente, a roubar nossas liberdades e a soberania dos países, supostamente em benefício de algum grupúsculo organizado de conspiradores profissionais (que podem ser grandes capitalistas, judeus, marxistas, o que vier à cabeça)? Os globalistas somos todos nós, pessoas normais, que tendem a receber positivamente quaisquer novos influxos que representem agregação de valor, seja material, seja espiritual: produtos (ou seja, bens e serviços, de todas as partes do mundo), ideias novas, hipóteses, pesquisas, desafios, enfim, quaisquer propostas de mais conforto, harmonia, bem-estar, novidades em geral. Globalistas são pessoas abertas ao que o mundo produz de melhor – e, presumivelmente, a soma de novidades do mundo sempre será maior do que as novidades do seu próprio país –, ideias interessantes, até propostas desafiadoras, do ponto de vista das velhas tradições e costumes arraigados nas dobras do tempo. 

Globalistas são receptivos a tudo isso, e não temem perder a liberdade se aceitam provar um novo pudim (salvo se for inglês, pois aí é perigoso), um novo aparelho (mesmo se for chinês, com aquelas coisas embutidas que vão passar a controlar a sua vida), uma nova forma de responsabilização de políticos (esse estamento autocentrado em todos os países), e propensos a se abrirem às migrações de todos os tipos, inclusive as suas próprias. Numa palavra, globalistas são internacionalistas, e antiglobalistas tendem a ser nacionalistas tacanhos (muitos deles obtusos, ou seja, infensos a quaisquer novidades).

Estou sendo maniqueísta? Provavelmente sim, mas cabe recordar que antes de aparecerem os nacionalistas tacanhos, que proclamam abertamente serem não só antiglobalistas, como também nacionalistas de um novo tipo (não carnívoros, se supõe), todos vivíamos felizes, sem sequer ter a consciência de sermos globalistas, ou seja, de estarmos abertos às novidades do mundo. O Brasil é um exemplo disso: acolheu imigrantes de todo o mundo, como uma coisa benéfica à construção do seu próprio Estado-nação – permitindo, por exemplo, no Império, que esses estrangeiros se estabelecessem nas faixas de fronteiras –, como algo natural e positivo; mas, a partir de certo momento, virou um país nacionalista tacanho, agora tudo mais reforçado, depois que essa horda de soberanistas ingênuos e de antiglobalistas que se abateu sobre nós. 

 

3. Globalistas naturais e globalistas profissionais

A distinção pode parecer desprovida de maior significado, ou simplesmente inútil, na medida em que poucas diferenças existem, em princípio, entre aqueles que se adaptam naturalmente ao ritmo das mudanças no mundo contemporâneo – francamente globalista, na letra dos tratados e no espírito dos tempos – e os que se exercem profissionalmente no campo ativo do globalismo assumido e promovido. Vamos explicar.

Globalistas naturais são todos os cidadãos, indivíduos normais, consumidores abertos ao que possa existir de novidade no mundo da oferta dos mercados, sem preconceitos contra itens úteis na sua labuta diária ou no seu lazer cotidiano: são aqueles que não acham que a Coca-Cola é a “água negra do imperialismo” – como alguns anti-imperialistas ainda proclamavam algum tempo atrás –, que o rock não é uma “dança satânica”, que o iPhone é uma das grandes invenções da humanidade, que a China não quer exportar o seu modelo político – apenas inundar nossos mercados de produtos baratos, eventualmente também de uma qualidade aceitável –, que a ONU não vai instalar um governo mundial e que o George Soros não vai destruir o valor da nossa moeda e sugar nossas reservas internacionais. Enfim, são cidadãos como quaisquer outros, sem prevenções contra o que nos vem de fora, e com uma imensa curiosidade de saber o que existe lá fora, sem dividir o mundo entre “nós e o resto do mundo”. 

Globalistas profissionais são justamente aqueles que trabalham nessa interface, entre o nacional e o internacional, entre o doméstico e o externo, entre as nossas vantagens competitivas nacionais e as vantagens comparativas internacionais (sempre relativas, como poderia lembrar Ricardo contra aquele pioneiro, Adam Smith, que acreditava nas vantagens absolutas e na errônea teoria do valor trabalho, e que daí passou para o Marx). Em princípio, todo empresário deveria ser globalista, pois é do grande mundo externo que ele retira ideias, insumos e meios de produção para fazer sua oferta interna, eventualmente externa também. Todo economista sensato também deveria ser globalista, ou seja, a favor do livre comércio, o que não significa sair por aí negociando acordos de livre comércio com países like-minded; não precisa: basta orientar o seu ministro do comércio exterior a adotar a liberalização erga omnes, ou seja, unilateral, sem qualquer necessidade de estabelecer acordos mercantilistas com quaisquer outros países.

Isso seria o normal, e esses seriam os primeiros globalistas profissionais, ou seja, empresários competitivos e economistas simplesmente sensatos empenhados em colocar o país na interdependência global, a melhor situação que qualquer estadista digno desse nome poderia aspirar para o seu país. Mas, hélas, isso não vale para os empresários brasileiros e para os “economistas” do governo Trump, empenhados ferozmente em defender sua reserva de mercado e em “equilibrar”, por quaisquer meios, a balança comercial, tanto a global quanto a bilateral, uma situação impossível, teórica e praticamente (inclusive porque balança comercial não é uma preocupação microeconômica de empresários, nem deveria ser a maior questão macroeconômica a preocupar os economistas governamentais, pois existem outros componentes no balanço de pagamentos).

E quanto aos diplomatas? Ora, não seria preciso nem argumentar como, ou porque, os diplomatas são, necessariamente globalistas profissionais, até compulsórios. Não se trata apenas de conformação “genética”, se cabe alusão a qualquer “fatalidade natural”, ou de alguma “deformação de ofício”, se também cabe a expressão depreciativa; antes de qualquer outro critério, trata-se de um ambiente natural para o exercício de suas funções executivas, sobretudo no caso desses burocratas obrigatoriamente imersos no mundo da globalização. E isso não existe apenas depois da construção da ordem multilateral no pós-Segunda Guerra, ou antes, na criação da Liga das Nações, depois da Grande Guerra e com os acordos de Paris, em 1919: diplomatas integram uma das mais antigas profissões do mundo, mobilizados cada vez que soberanos mais sensatos procuravam evitar guerras ofensivas ou defensivas, em caso de tensões com soberanias vizinhas ou impérios conquistadores. Junto com os soldados, que são seus irmãos naturais e que também precisam ser naturalmente, profissionalmente globalistas, os diplomatas só existem na globalidade, na globalização, no globalismo, sendo inconcebível um diplomata “antiglobalista”.

Aliás, um diplomata antiglobalista não é apenas uma contradição nos termos, é antes de mais nada um ser ridículo, pois não se entende um profissional das relações exteriores que queira se refugiar no nacionalismo tacanho, no provincianismo rastaquera, na recusa da abertura do país a todos os tipos de interações benéficas ao povo, à economia, à cultura nacional. O que é especificamente moderno, ou contemporâneo, no globalismo diplomático, é o multilateralismo, disputando espaços preliminares com o bilateralismo triunfante até o século XIX e explodindo com vigor depois da Segunda Guerra Mundial, com a fundação da ONU e de todas as suas agências especializadas (aliás, até antes, desde Bretton Woods, que iniciou a conformação da ordem econômica multilateral do pós-guerra, que ainda é a base das relações internacionais). Um diplomata que se proclame antiglobalista é mais do que um estranho no ninho, ou um cisne negro, é sobretudo uma aberração teórica e prática, uma vez que mesmo esse ser bizarro terá de se haver com as estruturas multilaterais, portanto globais, que foram sendo estabelecidas progressivamente ao longo das últimas sete ou oito décadas. 

 

4. Literatura globalista e antiglobalista

Literatura antiglobalista não existia até certo tempo atrás, ou então se restringia aos poucos panfletos conspiratórios, daquele mesmo nacionalismo tacanho, que provocaram tantas guerras ao longo da era moderna, até os conflitos globais da primeira metade do século XX. O nacionalismo, segundo estudiosos do tema – Hans Kohn foi o maior de todos – é um fenômeno relativamente moderno, que se desenvolve paralelamente ao crescimento da doutrina liberal, mas que assume feições exclusivistas e excludentes no curso do gradual desenvolvimento paralelo do coletivismo, em suas diversas formas econômicas e políticas, entre elas o pangermanismo, um nacionalismo proto-globalista (se assim cabe a expressão), que provocou, junto com o expansionismo imperialista, a maior guerra de todos os tempos. 

O nacionalismo, assim como o racismo – especificamente antissemita – e o culto do líder e da pátria emergiram no século XIX, tendo sido anteriormente especialmente francês, da era napoleônica – como defesa da pátria atacada pelas monarquias europeias que estavam sendo desmanteladas pelas novas ideias de soberania popular da revolução de 1789 –, tornou-se, na imediata sequência, um produto do romantismo alemão, que teve suas derivações nos círculos wagnerianos até chegar a Rosenberg e Hitler. No decorrer do século XIX, ele se confunde com um dos tipos de darwinismo social, a partir do qual a ideia de raça se torna a base fundamental da nacionalidade e do patriotismo. Em sua obra magna, A Ideia do Nacionalismo (publicada originalmente em 1944), Hans Kohn assim define o nacionalismo: 

Nationalism is a state of mind permeating the large majority of the people and claiming to permeate all its members; it recognizes the nation-State as the ideal form of political organization and the nationality as the source of all creative cultural energy and economic well-being. The supreme loyalty of man is therefore due to his nationality, as his own life is supposedly rooted in and made possible by its welfare. (Hans Kohn, The Idea of Nationalism: A Study in Its Origins and Background. New York: Macmillan, 1961, p.16).

 

Mas antes mesmo de publicar essa sua obra magna, Hans Kohn, um promotor precoce do sionismo – depois abandonado em favor do estabelecimento de um Estado binacional na Palestina –, havia publicado, antes da guerra, uma obra, Force or Reason: issues of the Twentieth Century (Harvard University Press, 1937), na qual dizia o seguinte: 

On a shrinking Earth man should concentrate all his rational forces upon the adjustment of his social and political life to the new conditions. Instead, we hear reason and reasonableness decried and the old battle cries of fierce imperialism and conflict of races raised again. (p. 96)

 

A despeito de discutir, em capítulos do seu livro, “The Cult of Force”, “The Dethronement of Reason”, ou “The Crisis of Imperialism”, Kohn proclamava, ao lado do reconhecimento das dificuldades de se alcançar a equalização concreta das oportunidades entre os homens, sua crença nos valores civilizatórios alcançados pela sociedade contemporânea e sua esperança no prevalecimento da justiça democrática. O que se teve, infelizmente, a partir dali, foi a brutal reafirmação da força, não da razão, trazidos tanto pelo fascismo quanto pelo comunismo, dois movimentos aparentemente guiados por motivações globalistas, mas o primeiro nacionalista ao extremo, o segundo supostamente internacionalista (à sua maneira). Daí se pode perceber certa confusão teórica e conceitual entre os defensores do velho nacionalismo e os do novo antiglobalismo, tendentes a fazer crer que o nacionalismo não foi, como se acredita, o verdadeiro responsável pelas terríveis guerras que ensanguentaram o século XX, e sim forças ainda positivas, que nos poupariam de um suposto flagelo a ser provocado, não pela globalização – o que seria de toda forma inútil –, mas pelo globalismo, que pretenderia, segundo os novos arautos do antiglobalismo, da “ditadura das organizações internacionais”. 

Incapazes de sustentar suas ideias bizarras por meio de trabalhos consistentes, os defensores brasileiros do nacionalismo antiglobalista recorrem a obras de autores estrangeiros (geralmente americanos, europeus e israelenses), como se os novos manifestos nacionalistas trouxessem qualquer contribuição intelectual aos problemas de um país como o Brasil, uma nação que não enfrenta, como muitos desses países, problemas decorrentes de uma grande inserção mundial, de uma imensa atratividade imigratória, terrorismo, um multiculturalismo supostamente nocivo e outras questões próprias vinculadas às suas peculiaridades políticas e ideológicas propriamente nacionais. Assim como o afro-brasileiro é uma importação espúria de tendências peculiares ao ambiente racial dos Estados Unidos, o antiglobalismo atual constitui uma outra importação bizarra de “ideias fora do lugar”, sem qualquer sustentação ou correspondência numa elaboração intelectual própria. 

Num plano puramente “literário”, portanto, antiglobalistas tupiniquins representam bonecos de ventríloquo repetindo ideias alheias que não possuem qualquer embasamento na realidade nacional, muito menos no contexto da atividade diplomática de um país que está praticamente excluído das grandes cadeias de valor da grande interdependência econômica global, e que precisa ainda lugar para superar fortes tendências à introversão e ao espírito mercantilista que ainda permeia sua política comercial e sustenta sua política industrial. O antiglobalismo jabuticabal é, desse ponto de vista “literário”, uma aberração total no quadro de um universo conceitual que deveria apoiar sua ação diplomática e a atividade dos seus profissionais da diplomacia, que são, como já dito, “geneticamente” globalistas.

Em face de tamanha aberração, um “Manifesto Globalista” como o presente texto nem precisaria se apresentar como uma “crítica da razão pura” do globalismo, nem como uma “crítica da razão prática” do antiglobalismo, pois este é inconsistente, irrealista, ou simplesmente absurdo, em seus próprios termos. Como um país insuficientemente inserido nas grandes correntes da modernidade e da economia mundial, como é o Brasil, poderia ser antiglobalista? Como poderia suas elites dirigentes – quaisquer que sejam elas, as políticas, os donos do capital, os intelectuais formadores da opinião pública – poderiam pretender unir os destinos do país à pequena tribo de nacionalistas de extrema-direita que atuam no sentido de desmantelar a ordem mundial criada no pós-guerra e refluir as políticas nacionais para o ambiente estreito das fronteiras domésticas? A recusa do multilateralismo, como princípio fundador da diplomacia contemporânea, não é apenas ridícula, ela é sobretudo inoperante e, mais que tudo, inútil, em vista de todos os compromissos já existentes no plano prático.

 

5. Posição dos globalistas universalistas em face dos antiglobalistas nacionalistas 

À diferença dos antiglobalistas, os globalistas – como este que aqui escreve – não lutam para alcançar os fins egoístas e os interesses exclusivos de uma concepção territorialista de nação, ou para realizar os objetivos estreitos de uma ideia excludente de pátria. Eles se atêm a um conceito mais amplo de interesse coletivo, que não elude noções básicas do pensamento liberal em economia e em política, ou seja, individualismo e ampla defesa das liberdades democráticas, e focam não apenas em metas do momento presente, para um determinado país ou Estado-nacional, mas proclamam um visão vinculada a aspirações mais amplas, que representam, simultaneamente, o futuro da humanidade. À diferença, porém, do nascente liberalismo político do século XIX, os liberais globalistas da atualidade se pautam em muito do que proclamou o grande intelectual da diplomacia brasileira, José Guilherme Merquior, notadamente em sua última grande obra: Liberalism, Old and New (1991). Merquior sabia reconhecer a tensão já detectada desde o século XIX entre os impulsos libertários e os ímpetos igualitaristas, expressas nas correntes políticas contemporâneas. Como ele resumiu ao final desse livro: 

Como foi observado por alguns distintos sociólogos como [Raymond] Aron ou [Ralph] Dahrendorf, a nossa sociedade permanece caracterizada por uma dialética contínua, embora cambiante, entre o crescimento da liberdade e o ímpeto em direção a uma maior igualdade – e disso a liberdade parece emergir mais forte do que enfraquecida. (O Liberalismo, antigo e moderno. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991; tradução do original em inglês por Henrique de Araújo Mesquita; p. 223)

 

Tal postura não tem praticamente nada de nacionalista, e muito menos de antiglobalista, mas representa o espírito do pensamento liberal, como expressão do mais puro universalismo filosófico, ou seja, tudo o que se contrapõe ao nacionalismo estreito defendido pelos antiglobalistas contemporâneos, que nada mais são do que os atuais herdeiros dos antigos nacionalistas, que produziram as grandes catástrofes do século XX. Mas não só do século XX, antes mesmo isso ocorria, como refletido nas obras de pensadores, romancistas, ativistas políticos de todos os matizes e de várias épocas.

Não é preciso remontar à famosa frase de Samuel Johnson, que ainda no século XVIII, rejeitava o patriotismo – a forma mais extrema de nacionalismo – como sendo “o último refúgio dos canalhas”, para rejeitar as formas mais extremas de exclusivismo nacional. O grande romancista russo Leon Tolstoi, assim como sua compatriota Emma Goldman, ativista da causa feminista e anarquista como ele, eram, nos albores do século XX, declaradamente antinacionalistas. Ao final da Grande Guerra, já distinguido como o grande cientista da relatividade, Albert Einstein, ao ser interrogado sobre sua nacionalidade respondeu: “Pela herança eu sou um judeu, pela cidadania um suíço, e por formação um ser humano e apenas um ser humano, sem qualquer vínculo especial a qualquer estado ou entidade nacional de qualquer tipo.” Dez anos depois, novamente questionado sobre se sentia mais como alemão ou judeu, proclamou ser contrário a qualquer tipo de nacionalismo, mesmo sob o disfarce de patriotismo: “Eu me considero um homem. O nacionalismo é uma doença infantil, o sarampo da humanidade”. 

George Orwell, um socialista antiautoritário, se expressava ao final da Segunda Guerra Mundial em termos contundentes contra o nacionalismo em suas “Notas sobre o nacionalismo” (1945). Mais perto da nossa época, o velho semanário liberal The Economist se perguntava, em seu editorial de 19 de novembro de 2016, quando da eleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, a propósito do seu grito de guerra de America First, se ele não era o “último recruta de um perigoso nacionalismo”. Estabelecendo uma comparação entre Trump e Ronald Reagan, que também tinha prometido recuperar os EUA, depois da patética presidência de Jimmy Carter, o editorial da Economistdizia: 

But there is a difference. On the eve of the vote, Reagan described America as a shining “city on a hill”. Listing all that America could contribute to keep the world safe, he dreamed of a country that “is not turned inward, but outward—toward others”. Mr Trump, by contrast, has sworn to put America First. Demanding respect from a freeloading world that takes leaders in Washington for fools, he says he will “no longer surrender this country or its people to the false song of globalism”. Reagan’s America was optimistic: Mr Trump’s is angry. (…) Civic nationalism appeals to universal values, such as freedom and equality. It contrasts with “ethnic nationalism”, which is zero-sum, aggressive and nostalgic and which draws on race or history to set the nation apart. In its darkest hour in the first half of the 20th century ethnic nationalism led to war. (“The new nationalism”, The Economist, November 19th 2016, ênfase agregada; link: https://www.economist.com/leaders/2016/11/19/the-new-nationalism)

 

Sintomaticamente, os antiglobalistas brasileiros, em sua adesão doentia, não aos Estados Unidos apenas, mas ao governo e à personalidade de Trump em particular, também subscrevem às mesmas ideias retrogradas e agressivas desse nacionalismo rastaquera e a um antiglobalismo tão bizarro quanto surrealista, pois que construindo um monstro metafísico a partir do multilateralismo contemporâneo, que eles se propõem combater com a sanha doentia de novos cruzados, na verdade com as armas enferrujadas e os slogans ridículos de um novo “exército de Brancaleone”. Como diria Marx, em seu famoso Manifesto, eles se prendem a velhos grilhões reacionários, não têm nenhum mundo a ganhar e pretendem fazer girar para trás a roda da História.

De minha parte, termino meu pequeno manifesto dando entusiasticamente três vivas ao globalismo! 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 15 de fevereiro de 2020

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Eleições 2022: quando o ridículo sobe à cabeça: sobre o festival de mentiras na exposição do Bozo a embaixadores

Embaixadores são alertados por seus países a não reforçar tese de Bolsonaro em reunião sobre urnas

Por Valdo Cruz
O Globo, 18/0z/2022 11h07  Atualizado há uma hora

Embaixadores convidados por Jair Bolsonaro para uma reunião nesta segunda-feira (18) foram alertados por seus países a não reforçar a tese do presidente sobre urnas eletrônicas. Bolsonaro tem alardeado que quer contar a eles "o que aconteceu no país em eleições passadas".

Segundo representantes de embaixadas em Brasília, os embaixadores vão à reunião com o objetivo de relatar a seus governos qual foi o tom da conversa.

Bolsonaro disse neste domingo (17) que cerca de 40 embaixadores confirmaram presença. Os Estados Unidos devem enviar o encarregado de negócios, Douglas Koneff. O Reino Unido também deve enviar representantes. Há um receio no Palácio do Planalto de que alguns países importantes deixem de enviar representantes.

Segundo o blog apurou, alguns países lembraram a seus embaixadores que já têm uma posição firmada de apoio ao sistema eleitoral brasileiro e não concordam com os ataques que o presidente Bolsonaro faz às urnas eletrônicas. Por isso, segundo um diplomata, o presidente vai acabar “pregando no deserto” e será ouvido apenas por aqueles que têm posições semelhantes à do brasileiro.

O receio de assessores de Bolsonaro é que o encontro possa acabar virando uma agenda negativa para o próprio presidente, a depender do que os embaixadores divulguem depois da conversa.

Bolsonaro decidiu fazer a reunião após o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Edson Fachin, fez uma reunião com embaixadores para falar sobre a eleição deste ano no Brasil. Ele reclamou do encontro e acabou pedindo à sua equipe para organizar um semelhante.

Em uma transmissão ao vivo no dia 7 de julho, o presidente disse que iria apresentar aos embaixadores um power point com dados sobre as eleições de 2014 e 2018, nas quais ele afirma terem ocorrido fraudes, mas nunca apresentou provas para confirmar suas suspeitas.

https://g1.globo.com/politica/blog/valdo-cruz/noticia/2022/07/18/embaixadores-sao-alertados-por-seus-paises-para-nao-reforcarem-tese-de-bolsonaro-em-reuniao-sobre-urnas.ghtml?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=g1

 China e Argentina não receberam convite para reunião de Bolsonaro com embaixadores


São esperados entre 30 a 40 embaixadores; os embaixadores do Reino Unido e da Alemanha não estarão presentes

Por Eliane Oliveira — Brasília
O Globo, 18/07/2022 11h47  Atualizado há 39 minutos

Países importantes para a política externa brasileira, a Argentina e a China não deverão estar representadas na reunião desta segunda-feira, no Palácio da Alvorada, entre o presidente Jair Bolsonaro e embaixadores. Segundo interlocutores do governo, não foram enviados convites a várias embaixadas, inclusive para esses dois postos.

O encontro está previsto para acontecer às 16h, no Palácio da Alvorada. São esperados de 30 a 40 altos funcionários de governos estrangeiros, para ouvir o que Bolsonaro tem a dizer sobre o sistema eleitoral brasileiro. O presidente costuma questionar publicamente a eficácia das urnas eletrônicas sem apresentar provas, o que causa preocupação dentro e fora do Brasil.

China e Argentina estão sem embaixadores efetivos em Brasília, assim como outras representações, como a do Chile. Porém, a embaixada dos Estados Unidos está na mesma situação, mas recebeu convite do cerimonial do Palácio do Planalto e o encarregado de negócios Douglas Koneff estará na reunião.

De acordo com uma fonte do governo ligada à área internacional, o critério para o envio de convites é o “bom senso”. Outro interlocutor disse que outro critério é o nível de interesse do país sobre a eleição no Brasil.

De férias na Europa, os embaixadores do Reino Unido e da Alemanha, Melanie Hopkins e Heiko Thoms, não estarão presentes. Os de Portugal, (Luís Faro Ramos), da Rússia (Alexey Labetskiy), da França (Brigitte Collet), do Uruguai (Guillermo Valles Galmés), entre outros, disseram que vão comparecer.

O embaixador da Espanha, Fernando García Casas, foi convidado, mas ainda não há informação se ele irá ou não ao Alvorada. Alegando compromissos em São Paulo, o embaixador do Japão, Teiji Hayashi, não deve comparecer à reunião.

https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2022/07/china-e-argentina-nao-receberam-convite-para-reuniao-de-bolsonaro-com-embaixadores.ghtml


Bolsonaro fracassou na reunião dos embaixadores antes do encontro

Por Míriam Leitão
O Globo, 18/07/2022 • 09:04

A insólita tentativa do presidente da República de difamar o processo eleitoral brasileiro, convocando os embaixadores para uma reunião sobre supostas fraudes eleitorais, já fracassou. Primeiro, ele queria levar um grande número de embaixadores, falou em 50, depois mandou convite para todos e agora fala em 40 confirmados, sendo que algumas das principais representações não vão. Segundo, ele imaginou uma manobra para constranger o Judiciário, especialmente o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele diria as mentiras que sempre diz na presença do presidente do TSE, e o ministro Luis Fachin teria que ouvir.

O que ele esperava era que, como convite de presidente da República em geral não se recusa, o ministro fosse comparecer. Fachin recusou com uma excelente resposta. Lembrou que como presidente da Corte não pode ir a atos de campanha. Preservou-se de estar nesse teatro de absurdos e ainda deixou claro que tipo de evento é. Bolsonaro fracassou também porque as urnas eletrônicas brasileiras têm um alto grau de confiabilidade e ele nunca apresentou provas do que acusa. O presidente do STF também não vai.

De qualquer maneira, é uma derrota para a democracia brasileira ter um presidente que tenta desqualificar o processo eleitoral diante de representantes de outros países. O Brasil viu tantos absurdos neste governo que foi se acostumando. É de novo inaceitável esse comportamento do presidente da República.

Bolsonaro demonstrou que ficou irritado porque Fachin já tinha chamado os embaixadores para falar da integridade das urnas. Mas esse papel o TSE faz bem de fazer, até porque observadores internacionais sempre houve em qualquer eleição brasileira, e são bem-vindos. Bolsonaro disse que quem faz política externa é o presidente da República. Sim, ninguém discute isso. Essa reunião, além de ser um absurdo institucional, é ridícula.

https://blogs.oglobo.globo.com/miriam-leitao/post/bolsonaro-fracassou-na-reuniao-dos-embaixadores-antes-do-encontro.html