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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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quinta-feira, 21 de julho de 2022

O cercadinho dos embaixadores - Elio Gaspari (O Globo)

O cercadinho dos embaixadores

A diplomacia mambembe de Bolsonaro

Elio Gaspari

Presidente Jair Bolsonaro em reunião com embaixadores sobre o sistema eleitoral brasileiro 

 

Há 200 anos, antes do Grito do Ipiranga, José Bonifácio de Andrada e Silva criou a semente da diplomacia brasileira. Em agosto de 1822, ele encaminhou um “Manifesto aos Governos e Nações Amigas”, em que Dom Pedro mencionava a “vontade geral do Brasil que proclama à face do universo a sua independência política”. Sempre antes do 7 de Setembro, Andrada mandou representantes a Londres e Paris.

Passaram-se 200 anos, e Jair Bolsonaro apequenou a diplomacia fundada por José Bonifácio. Reuniu embaixadores estrangeiros para recriminar o sistema eleitoral brasileiro, atacando nominalmente os ministros Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes.


Ele disse coisas assim: 

— Por que um grupo de apenas três pessoas quer trazer instabilidade para o nosso país, não aceita nada das sugestões das Forças Armadas, que foram convidadas? São perfeitas, chega a perfeição absoluta? Talvez não. Nem um sistema informatizado pode dar garantia de 100% de segurança. As Forças Armadas, das quais sou comandante supremo, ninguém, mais do que nós, quer estabilidade em nosso país.

Bolsonaro pode dizer coisas desse tipo onde bem entender, menos para uma plateia de diplomatas estrangeiros formalmente convidados. O processo eleitoral de um país pode ter observadores internacionais, caso essa seja a vontade de seu governo. Chamar diplomatas estrangeiros para ouvir uma peroração como a do Alvorada não chega a ser alienação de soberania, é apenas tolice, menos para quem esteja planejando uma crise institucional. Vale lembrar que, na posse dos presidentes do Estados Unidos, os embaixadores estrangeiros não são convidados para a cerimônia, pois se trata de assunto doméstico.

Desde 1822, quando Andrada e Silva se preocupava com as nações amigas, não há precedente de um governante brasileiro ter reunido embaixadores para defender suas opiniões, atacando integrantes de outro Poder da República. Seria ingenuidade achar que Bolsonaro reuniu esses senhores para convencê-los de seja lá o que for. Bolsonaro falou para sua base. Uma coisa é certa: a ideia desse “brienfing”, como dizia a transparência, não partiu do Itamaraty.

Todos os diplomatas reunidos por Bolsonaro transmitiram relatos para suas chancelarias, e é possível imaginar alguns aspectos factuais do evento:


1) Nem todos os embaixadores foram convidados. Ficaram de fora a China, a Argentina, o Chile e o Reino Unido;

2) Bolsonaro se fez acompanhar pelo chanceler e pelos generais-ministros da Defesa, do Gabinete de Segurança Institucional e da Secretaria-Geral da Presidência, mais seu provável candidato a vice. Os presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recusaram o convite;

3) O protocolo não previa perguntas da plateia (ainda bem);

4) Só foram admitidas equipes de emissoras de televisões que se comprometeram a transmitir a fala de Bolsonaro na íntegra, ao vivo. A emissora estatal fez a transmissão;

5) Horas depois, o ministro Edson Fachin, presidente do TSE, e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, rebateram a fala do presidente.


Se algum embaixador concluiu que o evento do Alvorada fortaleceu o compromisso democrático do presidente Bolsonaro diante do resultado das urnas de outubro, será chamado de volta a bem do serviço público de seu país.

 


sábado, 18 de junho de 2022

Revista InterAção: número especial sobre as eleições brasileiras: apelo a contribuições - Prof. Dr. José Renato Ferraz da Silveira

Convite para colaboração com a Revista InterAção: 

Prezados colegas: 

Convido a comunidade epistêmica de Relações Internacionais a produzir artigos, ensaios e resenhas sobre as eleições brasileiras em outubro para a Revista InterAção (2357-7975). 


 Há profecias tímidas, hesitantes, sombrias, decepcionantes e do gênero “mais da mesma coisa”. Profecias otimistas, realistas e pessimistas. 

As profecias se proliferam. 

Lembro que Chesterton dizia que a história só tinha uma lei: sempre acontece o que ninguém previu. 

Muitos “profetas” para pouparem-se diante da humilhação dos grandes desmentidos preferem pensar pequeno, prever coisas normais, medíocres, pois se arriscam menos. 

No entanto, este século XXI nos premia com um novo mal estar (que se repete na História da Humanidade como um ciclo recorrente): o temor diante de um mundo novo e ameaçador. 

Pois bem, a mediocridade e a falta de inspiração dominam os governos nacionais em diversas partes do mundo. 

E há questionamentos: a democracia liberal está ameaçada? A democracia representativa? Precisamos inovar na democracia participativa? E a democracia de opinião? Qual o futuro do Brasil nas eleições de outubro? O que desejamos? O que ansiamos? O que queremos? 

Neste sentido, a Revista InterAção conta com contribuições nacionais e internacionais sob a forma de artigos, ensaios e resenhas nesta edição em especial

Receberemos artigos, ensaios e resenhas até 24/08.

Data: 10/06/2022 – 24/08/2022

Prof. Dr. José Renato Ferraz da Silveira


segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Grandes derrotados das eleicoes brasileiras - Paulo Roberto de Almeida

Grandes derrotados das eleições brasileiras

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: ironia com os derrotados; finalidade: postagens no Facebook]


1) Derrotados nestas eleições (1): institutos de pesquisa (não todos):
"Cadê a vantagem e o empate técnico de Haddad?
O Antagonista, Brasil 28.10.18 21:43
Na cidade de São Paulo, Jair Bolsonaro teve mais de 60% dos votos....

2) Derrotados nestas eleições (2): intelequituais brasileiros, convertidos em mortadelas do PT:
Desprezaram, estupidamente, a maioria do eleitorado brasileiro, achando que o povo faria vista grossa à imensa roubalheira da organização criminosa que tentava voltar ao poder.
Esses acadêmicos gramscianos nunca entenderam o ânimo da maior parte do eleitorado.
Foram aplastados por uma motoniveladora e ainda não sabem por que...

3) Derrotados nestas eleições (3): grandes jornais internacionais (com exceção do Wall Street Journal).
Digeriram acriticamente todas as mentiras do PT sobre o fascismo tomando o poder no Brasil.
Que vergonha Economist, que vergonha NYTimes, que vergonha Le Monde: como é que vocês publicaram tanta bobagem escrita por correspondentes e editorialistas, desprezando absolutamente a realidade brasileira?
Estavam dormindo, ou a ideologia cegou-os?

4) Derrotados nestas eleições (4): jornalistas brasileiros
Continuam mantendo um discurso contrário ao candidato vencedor a partir de frases, suposições, acusações sobre uma suposta ameaça de ditadura fascista.
O único FATO que não recordam é a GIGANTESCA CORRUPÇÃO da organização criminosa cujo chefe está na cadeia.
Vão continuar cegos, continuando a confundir suposições com fatos?

5) Derrotados nestas eleições (5): mortadelas em geral, inclusive estrangeiros
Claro: havia os "mortadelas" nacionais, comprados a R$ 50 por dia, mais transporte e sanduíche de mortadela, tudo pago pelos sindicatos mafiosos.
Mas, também apareceram "mortadelas" estrangeiros: acadêmicos de grandes universidades (enganados pelo PT), jornalistas, adevogados pagos, e uma série de voluntários dispostos a agitar o fantasma do fascismo no Brasil...

6) Derrotados nestas eleições (6): inocentes inúteis pensando defender a democracia no Brasil.
Nunca a cegueira "premiou" tanta gente que caiu na conversa de que era "importantíssimo" votar no candidato do PT, do contrário o Brasil amanheceria em janeiro de 2019 com uma ditadura fascista batendo às portas.

7) Derrotados nestas eleições (7): cientistas políticos que continuaram na estratosfera.
Cansei de ler manifestos de "intelequituais" defendendo direitos de minorias, e esquecendo os direitos da imensa maioria da população...
(Mas eles ainda não perceberam isso)


O candidato derrotado ainda não percebeu a enormidade da mentira que lhe foi servida, ou continua sendo um ignorante exemplar: declarou em seu discurso de "derrotado" – no qual aliás não teve sequer a cortesia de reconhecer a vitória do adversário –  que o Brasil "descumpriu determinação da ONU" para que Lula concorresse às eleições. 
Uma estupidez desse tamanho merece ser registrada e repetida: o PT não renuncia a contar grandes mentiras desenfreadamente. Deve ser uma segunda natureza...

- A grande decepção desta eleição: a revista Economist
Deixou-se levar por conceitos abstratos de "populismo" e por uma imagem falsa do Brasil, como suscetível de recair numa ditadura militar. Ou seus jornalistas são profundamente ignorantes sobre a realidade brasileira, ou o seu correspondente (aliás de esquerda) conseguiu enganar direitinho os editores, levando-os a assinarem editoriais absolutamente esquizofrênicos...
O mesmo aconteceu com o New York Times, mas esse jornal já é dominado por um jornalismo "progressista", o que não era o caso da Economist, que sempre foi equilibrada. Desta vez, escorregou feio na maionese...


Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 29 de outubro de 2018

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Miséria das elites brasileiras (e do povao) - J. R. Guzzo

O povão é ignorante? Certamente, embora iss não seja desculpa.
A atitude das elites é que é indesculpável.
Paulo Roberto de Almeida

Elites sem nexo
O The Economist virou uma espécie de Almanaque Capivari para os empresários brasileiros da modalidade "civilizada-liberal-contemporânea". Mestre J. R. Guzzo, no alvo, em artigo publicado na edição impressa da revista Exame:

O que aconteceria num país que teve quase catorze anos seguidos da mais ruinosa administração econômica que se possa imaginar, com direito à maior recessão na história de sua economia? Além das repetidas tentativas de suicídio econômico, armou-se ao longo deste período o que provavelmente tenha sido o mais alucinante sistema de corrupção jamais visto na administração pública mundial. A máquina do Estado foi privatizada em favor dos partidos que apoiavam os governos, primeiro o do ex-presidente Lula e depois o de Dilma Rousseff. Milhares de cargos públicos foram entregues a militantes do PT e outros coletivos de esquerda. Bilhões de reais desapareceram do Tesouro Nacional e foram acabar nos bolsos de dirigentes de “movimentos sociais”, ONGs, governantes de países estrangeiros que não se submetem à lei internacional, ditadores africanos, filhos de ditadores africanos que são pegos na alfândega do Brasil com malas abarrotadas de dinheiro vivo. O ex-presidente está na cadeia, condenado a doze anos por corrupção e lavagem de dinheiro. Estão presos ex-ministros, diretores de estatais e outros barões do seu governo, quase todos réus confessos ─ e por aí afora. Muito bem. A única resposta possível para a pergunta feita no parágrafo inicial, dentro da lógica comum, é a seguinte: na primeira eleição que aparecesse, os responsáveis diretos pelas calamidades descritas acima receberiam da maioria dos eleitores uma ordem clara de cair fora do governo e ficar o mais longe possível dele, de preferência para sempre. Mas o país dessa história é o Brasil, e no Brasil as coisas raramente fazem nexo.

O problema não está tanto no comportamento do eleitorado, que segundo as “pesquisas de intenção de voto” põe numa situação privilegiada, quase de favorito, o candidato que promete abertamente ressuscitar a catástrofe dos governos Lula e Dilma. Num eleitorado em que a maioria dos 150 milhões de votantes não têm nenhum preparo para escolher nada, qualquer farsante bem treinado para mentir mais que os outros candidatos sempre terá chances excelentes de ganhar. O curioso, na atual eleição presidencial, é que grande parte da elite empresarial brasileira ─ aquela que se imagina mais avançada, vê a si própria como merecedora de uma cota de sócia no mundo civilizado, lê os jornais e revistas de Nova York ou Londres, etc., etc., etc. ─ esteja achando que o candidato que promete voltar ao governo passado é o mais adequado para ocupar o governo futuro. Não que Fernando Haddad seja o homem ideal, claro. Nossos mais distintos magnatas e seus guias espirituais prefeririam um Emmanuel Macron, digamos, ou coisa que o valha; mas Monsieur Macron não está disponível. A saída, então, é se arrumar com esse Haddad mesmo. É verdade que ele tem, entre todos os candidatos, o mais bem armado projeto de destruição do Brasil. O que se vai fazer, porém? A alternativa é eleger um homem de extrema direita ─ e isso deixa passando mal os nossos capitães de indústria, comércio e finanças ─ ou, pelo menos, é o que dizem. Haddad, imaginam, é uma pessoa com quem daria “para conversar”.

De mais a mais, é essa a instrução que recebem no momento do The Economist─ e nos últimos anos, por razões de ordem psicológica que talvez sejam melhor esclarecidas no futuro, o The Economist virou uma espécie de Almanaque Capivari para os empresários brasileiros da modalidade “civilizada-liberal-contemporânea”. Acreditam no que é publicado ali como se acredita na tábua de marés da Marinha Nacional ─ e ali estão dizendo que Haddad, além de ter sido um prefeito “de êxito” em São Paulo, poderia inclinar-se para uma abordagem mais liberal da economia. Quem pode levar a sério um disparate desses? Mais gente do que você pensa. Empreiteiros de obras públicas, banqueiros preocupados em manter o monopólio que tanto dinheiro lhe deu nos governos Lula-Dilma, fornecedores de sondas nacionais para a Petrobras, Joesleys, Eikes e todo o resto da turma estão prontos para assinar embaixo.

Eleicoes no Brasil = eleicoes nos EUA? Isso pode ser muito preocupante... - Annabelle Timsit (Quartz)

Quartz, Nova Iorque- 27.9.2018
Brazil’s presidential election is so crazy that it’s even drawing comparisons to the US
Annabelle Timsit

Faced with two bad choices, people often go for the lesser of two evils. But Brazil’s voters are so unhappy with their options in this year’s presidential election that they may opt out entirely.
On Oct. 7, more than 147 million Brazilian people will be eligible to vote in the first round of state and federal elections. (In the likely event of a second round, the next vote is set for Oct. 28.) The two presidential frontrunners are Jair Bolsonaro, a far-right, evangelical politician and member of the Social Liberal Party (PSL), and Fernando Haddad, the former mayor of São Paulo and a member of the center-left Workers’ Party (PT).
The choice is less than thrilling for a lot of Brazilian citizens: The Financial Times reports that 11% of voters plan to vote null or blank—the highest figure in 16 years—and another 5% are undecided.
High voter abstention rates are not unusual in Brazil, according to Anthony Pereira, director of King College’s Brazil Institute in London. He says there’s a much bigger problem with this election, one that will sound familiar to many Americans: Whatever its outcome, a large part of the population is going to hate their president from the get-go.
Bolsonaro, the far-right candidate, has been called the Brazilian Donald Trump. Much like Trump, he markets himself as an “authentic” candidate and a straight talker who refuses to bend to political correctness, while critics accuse him of misogyny, homophobia, racism, and xenophobia. And much like Trump, political analysts see Bolsonaro as a symptom of his country’s deepening democratic crisis. Much of his popular success is owed to the corruption scandals that have plagued the Brazilian government in recent years as well as its recent recession, the worst in the country’s history.
Bolsonaro’ candidacy is evidence of the rise of an ideological right in a country that has long gone without one. ”You’ve got a campaign that’s about God, and patriotism, and guns–all the kind of stuff we’re used to seeing in the Tea Party in the US—that’s coming into Brazilian politics now,” says Pereira.
But while many Brazilians are loathe to vote for Bolsonaro, some say the other top candidate is no better.Fernando Haddad, the former minister of education and mayor of São Paulo, suffers from his association with the Workers Party (PT) and its former leader, Lula Da Silva, who is currently serving a 12-year sentence for corruption and money laundering. “Some people fear that, if Haddad wins, he could pardon Lula, or he could lead some attempts for the PT to get revenge,” says Pereira, “because they have this discourse of the impeachment of 2016 having been a coup … and there may be some fear that they would try to settle scores.”
Pereira warns that if voters are left with a choice between a far-right extremist and a man seen as a symbol of establishment-sanctioned corruption, Brazilian democracy may suffer: ”Even if people vote, and if we have the second round that everyone is predicting now … you’re going to have up to a third, maybe a slightly larger, portion of theelectorate that doesn’t accept the election of one of these two candidates.”
Given the tight poll numbers, if even some voters who would normally vote for the center-left Haddad decide to abstain in order to protest their choices, that could swing the election in favor of Bolsonaro. The Economist rather dramatically declared earlier this month, “Bolsonaro, whose middle name is Messias, or ‘Messiah,’ promises salvation; in fact, he is a menace to Brazil and to Latin America.”

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Quadro eleitoral confuso no Brasil - Paulo Roberto de Almeida e Financial Times

O Financial Times se inquieta, por nós, em vista das profundas indefinições, dúvidas, angústias, preocupação, desespero, esperança, contradições, oposições, possíveis enfrentamentos e outras consequências, eventualmente benéficas, mais seguramente maléficas, que advirão de uma das eleições mais contestadas, talvez a mais difícil, já enfrentada pelo Brasil em mais de cem anos de regime republicano, pelo menos em situação relativamente democrática. Digo relativamente porque o Brasil é uma democracia de baixa qualidade, eu até diria de baixíssima qualidade, e tudo indica que, independentemente de quem seja o próximo presidente, de centro, de direita, de esquerda, mais ou menos sensato ou completamente maluco, poste ou independente, razoável ou aloprado, independentemente de quem assuma o Palácio do Planalto em 1ro de janeiro de 2019, a política brasileira, em sua essência, não mudará muito, na verdade, parece que não mudará nada, o que quer dizer que ela vai continuar piorando, pois esta é a tendência dos últimos anos, ou décadas. O Congresso, que é o núcleo central do sistema político, muito mais do que o presidente, não mudará quase nada, e oportunistas, idealistas, bandidos e honestos, corruptos e responsáveis, serão eleitos com os mesmos problemas, distorções, deformações que já existem.
Acho que não só o Financial Times, mas outros órgãos da imprensa internacional, e também da imprensa nacional, vão continuar se preocupando com o destino do Brasil. Eu, pessoalmente, estou preocupado com o que possa acontecer a partir de outubro, pois tudo o que o Brasil precisa, no contexto da atual crise econômica e política, profundas ambas, devastadoras mesmo, se nada for feito, tudo o que o Brasil precisa é, antes de mais nada, de um presidente centrado, sensato, capaz de pacificar o país, os movimentos políticos, reconciliar as atuais oposições, cicatrizar ferimentos da atual campanha, e sobretudo exibir capacidade de formular rapidamente políticas de ajuste fiscal, de reformas estruturais, capazes de fazer o Brasil retomar o caminho do crescimento sustentado, com abertura econômica, liberalização comercial, nova inserção internacional, continuidade do processo de "limpeza" do sistema político, pois a sociedade não mais suporta os mafiosos no poder. A Justiça é um outro problema, que não será fácil de resolver, pois ela é constitucionalmente autônoma e independente, ainda que fragmentada, confusa, autista, prebendalista, patrimonialista, personalista, arrogante.
O Brasil é um país dominado pelo corporativismo de baixo clero, e extorquido pelos mandarins na república, os marajás do serviço público. Também exibe capitalistas promíscuos, dispostos a qualquer combinação com os políticos no poder para obterem vantagens para si mesmos e suas empresas, indiferentes à esbórnia geral que transforma o poder político um verdadeiro balcão de negócios, sempre sujos, por definição.
Este é o meu diagnóstico da atual situação, triste, do Brasil, sem muita esperança de que a situação melhore significativamente nos próximos quatro anos. Infelizmente. Espero estar errado, mas não errarei por otimismo não fundamentado.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26 de setembro de 2018

'Financial Times' alerta para 'cenário de pesadelo' na eleição brasileira

Para publicação britânica, disputa se trata de uma das eleições mais imprevisíveis e polarizadoras da história recente
Célia Froufe, correspondente, O Estado de S.Paulo
26 Setembro 2018 | 14h20

LONDRES - A pouco mais de uma semana para as eleições 2018, o jornal britânico de economia Financial Times apresenta um raio X dos principais candidatos, salientando que eles estão pulverizados da esquerda até a extrema direita. "Para os mercados, dizem alguns analistas, (a eleição) está se transformando em um 'cenário de pesadelo' - a esquerda contra a extrema direita - e poderia condenar o Brasil a mais quatro anos de lutas políticas terríveis", trouxe o diário.
Salientando que se trata de uma das eleições mais imprevisíveis e polarizadoras da história recente da maior economia da América Latina, a publicação enfatiza que os investidores estão cada vez mais preocupados que os eleitores possam eleger um presidente que não esteja disposto ou seja incapaz de implementar reformas econômicas necessárias, mas politicamente difíceis, para consertar os desequilíbrios fiscais.
Depois de ser esfaqueado em um comício de campanha no início deste mês, Jair Bolsonaro, nacionalista de extrema direita e líder do primeiro turno da eleição presidencial do Brasil em 7 de outubro, tem empunhado seus dedos em fotos postadas nas redes sociais. "Eu nunca me senti melhor na minha vida", disse ele em um vídeo no Twitter na semana passada. Ele encerrou sua transmissão na mídia social com um grito lembrando "até a vitória!", de Che Guevara.
Enquanto isso, o esquerdista Fernando Haddad, o candidato substituto do Partido dos Trabalhadores, do popular ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, subiu nas últimas pesquisas, com menos de duas semanas da votação no primeiro turno. Atrás deles estão o candidato veterano de centro-esquerda Ciro Gomes, o favorito do mercado, Geraldo Alckmin, e a ambientalista Marina Silva.
"A seguir estão os principais candidatos presidenciais, segundo pesquisas recentes, que na próxima semana enfrentarão 147 milhões de eleitores - muitos dos quais estão desencantados com o status quo político do Brasil", diz a publicação. 
O primeiro apresentado pelo FT é Bolsonaro, descrito como um ex-capitão do Exército que se comprometeu a manter uma agenda econômica liberal. Ele recrutou o banqueiro que estudou na Universidade de Chicago, Paulo Guedes, para administrar seu portfólio econômico. O candidato do PSL prometeu reprimir a criminalidade, conforme o periódico, e sua mensagem anticorrupção ecoa a ascensão dos movimentos populistas nos EUA e na Europa. "Mas seu estilo político faz Donald Trump parecer gentil. Ele já elogiou o ex-presidente peruano Alberto Fujimori, que virou soldados contra o Congresso e o Judiciário. Especialistas já disseram no passado que ele era muito radical para vencer, mas as pesquisas recentes indicam o contrário", aponta reportagem.
Haddad foi escolhido pelo PT depois que Lula foi desqualificado de concorrer. Advogado, economista e filósofo, herdou uma parte considerável da popularidade de Lula, que liderou as pesquisas até ser impedido de participar da eleição. Mas o ex-prefeito de São Paulo, conforme a publicação, também pode ser prejudicado por sua associação com Lula, que foi condenado no começo do ano por corrupção e cumpre pena de 12 anos de prisão. "Haddad é visto como um conservador fiscal e busca seduzir os eleitores de centro - e, ao mesmo tempo, afastar as suspeitas dos membros radicais de seu próprio partido."
Ciro Gomes, veterano candidato de centro-esquerda do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e ex-governador, apela aos eleitores que estão desiludidos com toda a roubalheira, que atribuem aos 13 anos de governo do PT no governo de Lula da Silva e de sua sucessora Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em 2016 por supostamente esconder um problema do déficit fiscal do Brasil.
Gomes é visto como um centrista em questões macroeconômicas, conforme o veículo britânico, mas indicou que poderia se alinhar à esquerda em outras políticas, como a ampliação dos gastos públicos. Um político do nordeste, do Estado do Ceará, ele ocupou cargos no Congresso e no Senado, mudando de partidos ao longo de sua carreira.
Geraldo Alckmin, ex-anestesiologista e favorito dos investidores, até agora não conseguiu ganhar força com os eleitores. Analistas dizem que o ex-governador de São Paulo parece estar prestes a fracassar em sua segunda tentativa à Presidência do Brasil. O FT recorda que muitos observadores dizem que sua incapacidade de ganhar terreno se deve à falta de carisma, juntamente com a desilusão dos eleitores com os políticos do establishment, após uma série de escândalos de corrupção envolvendo a maioria dos grandes partidos - incluindo o próprio PSDB.
Marina Silva, ambientalista de centro-esquerda, disputa a Presidência pela terceira vez (Rede). O jornal salienta que a evangélica ganhou 22 milhões de votos há quatro anos, mas não conseguiu causar um impacto tão grande entre os eleitores desta vez, de acordo com pesquisas recentes. Embora Marina - que começou sua carreira política na década de 1980 trabalhando ao lado do ativista assassinado Chico Mendes - tenha mais seguidores no Twitter do que a sensação de mídia social do Brasil, Bolsonaro, ela tem sido incapaz de capitalizar esse poder e também está lutando com pouco tempo de campanha na televisão. 

domingo, 23 de setembro de 2018

De um turno a outro: o que dizer, o que fazer? - Paulo Roberto de Almeida

De um turno a outro: o que dizer, o que fazer?

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: digressões ex-ante; finalidade: planejar o ex-post]

Introdução: olhando a “coisa” algumas semanas à frente
Decidido o primeiro embate, e antecipando sobre o próximo, já não é mais hora de tergiversar, enganar, prometer, ou seja, ser candidato. A hora é de se mostrar como um verdadeiro estadista, falar a verdade, expor e abordar os principais problemas, e dizer exatamente o que pretende fazer, uma vez convertido em responsável maior pelos problemas do país. Não cabem mais frases vagas, de que vai abrir centenas de creches ou investir tantos milhões neste ou naquele setor. Isso é demagogia barata. O que se tem de prometer é unicamente, e justamente, uma única coisa: trabalho, trabalho, trabalho.
Cabe em primeiro lugar apresentar um cenário realista da crise brasileira, que vai continuar no próximo governo – não há porque esconder isto –, mencionar quais são as perspectivas para o primeiro ano e meio de governo, esclarecendo devidamente quais são as raízes da crise atual, e porque é difícil corrigi-las em pouco tempo, e depois, aí então, dizer exatamente o que pretende oferecer como o conjunto de medidas corretivas para superar a crise e deixar as bases para o crescimento numa fase posterior ao seu mandato. Deixar de pronto muito claro que o tamanho da destruição foi de tal monta que, infelizmente, sua correção exigirá provavelmente a extensão completa do próximo governo. Anunciar que em 2022, quando se comemorará o bicentenário da formação do Estado independente, a situação econômica não será muito diferente daquela conhecida antes da crise, mas esta é infelizmente a verdade pura e simples. Dito isto vamos ao que interessa: (a) o cenário da crise; e (b) as perspectivas de um mandato de puro trabalho.

1. O cenário da profunda crise brasileira
A crise brasileira não é apenas conjuntural, ou tão somente derivada da queda de crescimento a partir dos desajustes provocados por políticas econômicas equivocadas implementadas pelos três governos anteriores do lulopetismo; trata-se de uma crise estrutural, não apenas econômica – aqui essencialmente no plano fiscal, ou seja, interno, sem qualquer conexão com uma alegada “crise internacional”, apresentada como a fonte da recessão pelos seus responsáveis –, mas também política, resultante de uma cisão nos círculos dirigentes, todos ele operando num ambiente profundamente disfuncional, que surgiu a partir da descoordenação entre os poderes e seus líderes, incapazes de propor e implementar um projeto comum de reformas e de inovações no sistema político e nas bases das políticas econômicas (macro e setoriais). Mas trata-se, também e sobretudo, de uma profunda crise moral, confirmada por investigações, indiciamento e condenação de inúmeros atores da vida política, dos meios empresariais, ou seja, das próprias elites dirigentes. A Justiça, por sua vez, tampouco está isenta de críticas, na medida em que ou delonga processos que envolvem esses personagens, ou adota liminares especialmente rápidas, que parecem demonstrar complacência e leniência com práticas de corrupção. 
 Cabe indicar precisamente os responsáveis pela maior recessão da história do Brasil, que provocou perda considerável de renda, desemprego recorde e retraimento ainda maior do Brasil nos fluxos internacionais de comércio de bens, de serviços e de investimentos. A atribuição de responsabilidades pela crise é essencial para evitar novos exercícios de demagogia política e de populismo econômico e para evitar a repetição dos mesmos erros, derivados das mesmas políticas equivocadas, que conduziram o país ao desastre atual. O componente principal do desastre é o fiscal, e se manifesta na persistência dos déficits orçamentários, no crescimento da dívida pública e na redução dramática da capacidade de investimento do setor público, convertido em responsável pela crise e ainda agora em núcleo obstrutor das reformas necessárias, pela força dos seus mandarins, pelo monopólio irresponsável dos políticos eleitos, e pelo extremo dirigismo e intervencionismo a que chegamos com o atual modelo constitucional. 
Este é o quadro de impasses, de bloqueios e da falta de consenso em torno de uma agenda factível de recuperação e de retomada do crescimento e da normalidade da vida política. Relevante para explicar o estado atual de quase anomia no sistema político é o ânimo e as práticas divisionistas permanentemente promovidas pelo partido que encarna a recusa do jogo democrático como princípio da governança, que é o PT: este sempre apostou na divisão do país, em termos de classes sociais, de renda, de raças, e acabou criando, justamente, o fracionamento da nação em torno de duas propostas situadas aparentemente nos extremos, mas que se encontram na solução polarizada que é a da recusa absoluta das propostas situadas na outra ponta (aparente) do sistema.
Este é o triste resultado de processo fragmentado de representação política, exacerbado pela permissividade da legislação eleitoral e partidária, pela promiscuidade corruptora demonstrada por alianças espúrias entre donos do dinheiro e donos do poder, e que promete se manter na próxima legislatura, a despeito justamente do desprezo que lhe devotam grande parte dos eleitores, e que por isso mesmo se refugiaram numa opção aparentemente fora do sistema (como pode ter sido a percepção em 1989, com os efeitos e consequências frustrantes que se lhe seguiram). Tal cenário impõe como prioritária uma reforma política, mesmo presumivelmente tão difícil quanto a reforma tributária, como agora se passa a debater no quadro das propostas de correções que se impõem.

2. O que se tem de fazer para corrigir os problemas?
Qualquer que seja a orientação ideológica ou as preferências políticas do próximo presidente – de centro, de “direita” ou de “esquerda”, com as ressalvas que cabem nesse tipo de dicotomia –, uma coisa é certa: ele terá de corrigir imediatamente a tendência de déficits orçamentários crescentes, sob risco de precipitar a economia numa crise mais devastadora do que a atualmente enfrentada. O ajuste do déficit, não para o superávit, mas simplesmente para o equilíbrio nominal, consumirá provavelmente todo o seu mandato, o que implica um regime de emagrecimento rigoroso, cujo componente principal é, obviamente, a reforma previdenciária. Os inimigos principais dessa reforma estão encastelados no próprio Estado, com suas corporações mandarinescas, dispondo de recursos suficientes para sustentar campanhas mentirosas contra uma reforma que deveria, em primeiro lugar, instaurar a igualdade cidadã, ademais de reduzir benefícios e instaurar um regime progressivo de capitalização para se colocar de acordo com as tendências irreprimíveis da demografia. É uma luta difícil, mas essencial para o destino ulterior do imenso conjunto de reformas que são imprescindíveis para o futuro do país.
Ao lado de uma reforma previdenciária radical, eliminando todos os regimes especiais e tratamentos abusivos, figura um início de reforma tributária que sempre esteve na retórica dos governantes, mas que nunca foi de fato empreendida, dadas as complexidades do sistema federativo e da própria estrutura tributária atual. Como um entendimento sobre as diferentes mudanças no imenso cipoal de impostos, taxas e contribuições divididas nos três níveis da federação será necessariamente delongado e difícil, senão impossível, uma proposta rudimentar, mas em todo caso indicativa do sentido para o qual se deve caminhar – que não é o do aumento ou da manutenção dos níveis correntes da carga fiscal total –, seria a da aprovação consensual de uma redução gradual, progressiva, extremamente moderada, dos diferentes tributos, mediante o decréscimo (anual ou semestral) de alguns pontos percentuais das alíquotas ou níveis aplicados em todos os impostos, taxas e contribuições (talvez meio por cento cada vez) até que um grande acordo parlamentar possa ser encontrado (digamos em dez anos). 
Uma reforma política é absolutamente indispensável para se reduzir o quantum de irracionalidade existente no atual sistema político-eleitoral-partidário-representativo, o que exigiria, obviamente, uma enorme pressão popular sobre o parlamento. A extrema fragmentação partidária poderia ser imediatamente corrigida por um gesto ousado e corajoso – que provavelmente não virá – tendente a aprovar, simplesmente, o fim de dois fundos, o partidário e o eleitoral, na suposição de que partidos são entidades de direito privado, e devem ser sustentados unicamente por seus membros e militantes, assim como os seus candidatos a quaisquer cargos eletivos. Aos que recusam tal tipo de reforma radical invocando o abuso do poder econômico, cabe retrucar com a evidência do poder inconteste que possuem atualmente as corporações de ofício, já que o Brasil é um país eminentemente corporativo, mais até do que associativo ou representativo. A eliminação de tais fundos faria convergir o sistema partidário a limites razoáveis, assim como a adoção de um sistema distrital misto faria diminuir o custo das eleições, fonte principal, senão exclusiva, da imensa corrupção que hoje grassa nos meios políticos.
Quaisquer que sejam os resultados eventuais das três reformas, previdenciária, tributária e política – absolutamente indispensáveis para melhorar, modestamente, a baixíssima qualidade de nossa democracia –, o fato é que os níveis de prosperidade e de bem-estar da população melhorarão ainda mais modestamente no horizonte previsível, em vista da mediocridade do crescimento econômico. O Brasil precisar incrementar de modo significativo seus indicadores de produtividade, sobretudo a do fator trabalho, uma vez que a do capital pode ter um componente importado mais fácil de adquirir. O elemento crucial nessa equação é a qualidade da educação fundamental, sem a qual não se poderá melhorar o capital humano e sua contribuição para a inovação tecnológica. O sistema de ensino no Brasil não requer simples reformas adaptativas, mas uma grande revolução, nos métodos, nos conteúdos, na gestão e na organização do sistema público, sendo que o setor privado teria de ganhar maior autonomia para que as induções do próprio mercado contribuam para esse esforço gigantesco de reforma e modernização. 
Muitas outras medidas urgentes e até emergenciais precisariam ser consideradas, sobretudo no terreno da segurança pública e no funcionamento dos serviços básicos sob responsabilidade da União e das instâncias federativas, assim como, entre outras, a abertura econômica e a liberalização comercial. Mas sua complexidade dificulta uma apresentação sintética como a aqui feita para as quatro grandes reformas que devem figurar entre as prioridades máximas do próximo governante. Voltaremos a elas...

Paulo Roberto de Almeida 
(Brasília, 23 de setembro de 2018)

Aproveito para divulgar a brochura que compus com base em trabalhos escritos nas últimas décadas sobre os processos eleitorais no Brasil e os grandes temas da política externa, cuja capa figura ao alto: 

3237. Eleições presidenciais no Brasil: Relações internacionais, política externa e diplomacia brasileira, 1985-2018, Brasília, 25 janeiro 2018, 299 p. Compilação de artigos, ensaios e postagens sobre a interface da política externa com o sistema político, publicados e inéditos. Sumário no blog Diplomatizzando (http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2018/01/politica-externa-e-eleicoes.html) e o arquivo na plataforma Academia.edu (https://www.academia.edu/s/01644a871c/eleicoes-presidenciais-no-brasil-arelacoes-internacionais-politica-externa-e-diplomacia-brasileira-1985-2018) e Research Gate (https://www.researchgate.net/publication/322775393_Eleicoes_presidenciais_no_Brasil_Relacoes_internacionais_politica_externa_e_diplomacia_brasileira_1985-2018), com a geração do seguinte DOI:10.13140/RG.2.2.10413.18404.

domingo, 15 de julho de 2018

Uma revelacao surpreendente, uma explicacao necessaria - Paulo Roberto de Almeida

Uma revelação surpreendente, uma explicação necessária

Paulo Roberto de Almeida
 [Objetivo: retirar fundamento de um boato; finalidade: esclarecimento público]

Minha atenção foi chamada, recentemente, para uma revelação surpreendente, feita em tom de confidência por um amigo que a ouviu, direta ou indiretamente, de algum colega diplomata, segundo a qual eu estaria integrando a equipe de apoio de um dos candidatos às próximas eleições presidenciais – ou seja, fazendo parte de um grupo de formulação de políticas – e que eu poderia vir a ser membro de seu ministério, na área das relações exteriores, se por acaso esse candidato, classificado à direita no âmbito do espectro político, viesse a ser eleito. Não sei exatamente de onde pode ter saído tal “informação”, mas ela não corresponde absolutamente à minha postura, na atual campanha eleitoral, por motivos que julgo relevante explicar, por simples cuidado de transparência, aliás confirmada em relação a minha produção intelectual e atividades públicas, objeto de registro e divulgação em minhas ferramentas de comunicação social, como por exemplo o blog Diplomatizzandoe o meu site pessoal, nos quais estão consignadas minhas listas de trabalhos originais e os publicados. 
Não estou, por razões de ética profissional e de simples acatamento a uma postura totalmente independente em relação a partidos e movimentos políticos, a serviço de qualquer um dos atuais ou futuros candidatos à presidência da República, assim como não postulo, e não desejo, por razões eminentemente práticas, exercer qualquer cargo executivo em eventual governo que venha a tomar posse em janeiro de 2019. Preservo total autonomia de pensamento e ação no terreno da política e, embora seja um cidadão consciente de minhas obrigações cívicas nessa área, não aspiro cargos ou assessorias em qualquer governo que venha a se formar a partir das eleições de outubro do corrente ano. Pretendo manter minha atitude de distanciamento crítico em relação a qualquer um dos candidatos à presidência do Brasil, em especial em relação ao candidato ao qual pretendem, contra a minha vontade, me vincular politicamente.
Essa revelação surpreendente pede algum esclarecimento sobre suas prováveis origens, assim como minha postura aqui exposta apela a uma explicação credível; é a isto que se destina a presente nota. Meus colegas de carreira estão quase amplamente informados, mas não necessariamente o público externo, de que, dentre os diplomatas que, na vigência dos governos do PT, foram considerados como “adversários políticos” de um regime que eu nunca hesitei em considerar nefasto ao Brasil, eu fui o único que permaneci, na inteira vigência daquele “reinado”, sem qualquer cargo ou função na Secretaria de Estado, aliás até o presente momento. Desde o início de 2003, quando fui expressa e deliberadamente vetado para um cargo no Itamaraty, ao qual eu tinha sido convidado em razão de minha capacitação na área, atravessando os dois governos Lula e um e meio de sua sucessora, e até o momento mesmo do impeachment, em maio de 2016, eu nunca exerci qualquer função na Secretaria de Estado, vetado que estava para o exercício das atividades às quais eu estava vinculado por dever de ofício, e isso contrariamente a normas administrativas a que o Ministério deveria estar adstrito. Já me expliquei, em diversas ocasiões, mas especialmente em dois textos divulgados em meu blog pessoal – uma primeira vez em 18 de dezembro de 2016, uma segunda em 26 de junho de 2018: https://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/uma-longa-travessia-do-deserto.htmlhttps://diplomatizzando.blogspot.com/2018/06/duas-pedras-no-meio-do-caminho-paulo.html– sobre como transcorreu essa longa travessia do deserto funcional a que estive relegado, um exílio involuntário que durou exatamente o dobro de meu primeiro exílio, voluntário, a que fui levado durante o período da ditadura militar. 
Pois bem, a que se poderia atribuir a “informação” em questão, dado que sempre fui extremamente discreto quanto às minhas escolhas políticas, mas deliberadamente aberto e transparente quanto ao que penso em relação a políticas e políticos em geral? Provavelmente ao fato que nunca escondi o que pensava – e isto está registrado em inúmeros trabalhos publicados desde antes de 2003 – sobre o partido companheiro e suas políticas esquizofrênicas para a administração do país. Paralelamente às minhas atribuições profissionais na carreira diplomática, exerço desde sempre atividades complementares no mundo acadêmico, sendo autor de muitos livros e artigos sobre os mais diversos assuntos de interesse em meu universo de preocupações intelectuais. Pode-se dizer que fui o único diplomata a ter escrito e publicado artigos e livros que podem ser classificados como objetivamente – e até subjetivamente – críticos em relação ao regime e suas políticas públicas, especialmente sua política externa, que sempre chamei de “lulopetismo diplomático”. 
Entendo que devo a essa postura de objeção pessoal à maior parte das políticas companheiras, em especial na área externa, o fato de ter sido agora alinhado “à direita” do espectro político, posição que rejeito não apenas por convicções ideológicas, mas também porque ela não corresponde absolutamente à verdade dos fatos. Aliás, eu nunca fui crítico do PT e das políticas companheiras porque estas e o seu partido seriam “de esquerda”, o que eu considero plenamente admissível no terreno das opções políticas disponíveis a qualquer cidadão consciente e participante ativo do jogo político, como aliás eu mesmo sou, mesmo sem estar integrado a qualquer partido, o que nunca fiz e não pretendo fazer. Sempre fui opositor daquelas políticas e de seus promotores pelo fato singelo de que sempre considerei que eles fossem totalmente ineptos na condução das políticas públicas, e por saber, de antemão – o que depois se revelou amplamente – que eles eram tremendamente corruptos no exercício do poder, além de dominados por um inaceitável espírito totalitário. 
Creio que os inúmeros textos meus divulgados a esse respeito – a maior parte deles livremente disponíveis nas ferramentas pessoais e na plataforma Academia.edu, e os mais representativos no livro Nunca antes na diplomacia...: a política externa brasileira em tempos não convencionais(Appris) – podem ter causado essa impressão de que eu estaria identificado com, ou trabalhando para, um desses candidatos também crítico aos companheiros, o que eu desminto formalmente. Recentemente formulei algumas propostas de política econômica externa – notadamente o capítulo sobre “relações internacionais” no livro organizado por Jaime Pinsky, Brasil: o futuro que queremos(Contexto, 2018) – o que pode, mais uma vez, ter aberto espaço para esse tipo de associação que absolutamente inexiste. 
Se ouso ser ainda mais transparente quanto às minhas preferencias políticas, posso confirmar, formalmente, que não sou, nem pretendo ser, eleitor do candidato em questão, por divergir filosoficamente, e absolutamente, de suas posturas gerais em uma variedade muito ampla de terrenos e políticas públicas. Se existe algum candidato que se aproxima mais ou menos daquilo que eu mesmo penso quanto à natureza e sentido das medidas que deveriam ser implementadas por algum estadista (até aqui inexistente) eventualmente alçado à condição de presidente, esta pessoa seria o candidato do partido Novo, com o qual a minha interface de ideias é mais ampla e bem mais convergente. Depois de ter sido marxista na juventude, sou, na idade madura, um libertário puro. 
Espero que estas minhas explicações sejam suficientes para eliminar qualquer questionamento quanto às minhas preferências políticas, ou qualquer “revelação” de que eu estaria interessado em exercer cargos executivos, mesmo em minha área de trabalho. Sou, e pretendo continuar sendo, um espectador engajado, e não mais do que isso. 

Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 15 de julho de 2018

domingo, 20 de maio de 2018

Objetivos estratégicos do Brasil: propostas PRA

O que eu acho que o próximo governo deveria fazer. Escolhi apenas três áreas, mas elas são abrangentes. Em educação, por exemplo, não é nem o caso de reforma, e sim de uma revolução.
Não confio que ela ocorrerá.
Nos demais setores, tenho claro o que precisa ser feito, mas abaixo eu listei apenas os headlines. O conteúdo total ainda não foi terminado, por isso não coloco nada aqui além dos itens-títulos.
O resto virá, a seu tempo...
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 20 de maio de 2018

Objetivos estratégicos do Brasil

1) Desenvolvimento social como prioridade máxima:
Processo de crescimento sustentado do PIB, com transformações estruturais do sistema produtivo (aumento da produtividade e inovação) e efeitos sociais vinculados ao processo, notadamente via qualificação do capital humano.
Esse processo passa por:
1.1. Estabilidade macroeconômica (políticas macro e setoriais);
1.2. Competição microeconômica (fim da cartelização e da proteção setorial);
1.3. Boa governança (reforma das instituições: três poderes, administração);
1.4. Alta qualidade do capital humano (revolução educacional);
1.5. Abertura ampla a comércio e investimentos internacionais.

2) Segurança pública:
Preocupação prioritária da cidadania, como das empresas privadas.
2.1. Integração dos serviços de segurança nos três níveis da federação;
2.2. Reforma dos códigos processuais e do sistema penitenciário;
2.3. Reequipamento das forças de segurança; treinamento.

3) Política externa:
Revisão dos conceitos básicos da política externa, no sentido da abertura.
3.1. Abertura comercial unilateral, concomitante a reforma tributária interna;
3.2. Revisão do processo de integração com perspectiva de inserção externa;
3.3. Análise das “alianças estratégicas” em sentido puramente pragmático.

(dez páginas escritas deve subir a 20...)

sábado, 12 de maio de 2018

Russia: o exercito das fake news se prepara para entrar em acao nas eleicoes brasileiras

Como faço a cada grande processo eleitoral, como as campanhas presidenciais, preparo-me para seguir atentamente os programas de cada candidato, comentar seus programas econômicos e de política externa, criando para isso um blog especializado, ainda que temporário.
Fiz isso para diversas eleições desde duas décadas, e repeti a iniciativa desta vez criando este blog:
Ele permanece pouco frequentado, inclusive porque não tenho feito "publicidade" em torno dele.
Hoje, no entanto, ao postar os resultados de uma nova pesquisa eleitoral, resolvi consultar as estatísticas de acesso, e deparei-me com este quadro:

Visualizações de página por país

Gráfico dos países mais populares entre os visualizadores do blog
EntradaVisualizações de página
Rússia
84
Estados Unidos
6
Alemanha
1

Parece que o centro produtor das Fake News, a Rússia de Putin, está investigando meu site, para ver se conseguem ganhar algum dinheiro em torno disso.
Vou continuar seguindo as estatísticas de acesso, apenas para ter confirmação dessa "atração"  inesperada...
Paulo Roberto de Almeida

Addendum:
Aproveito para informar sobre o livro de autor que compus a partir de meus trabalhos conectados às eleições e campanhas presidenciais e temas de política externa:
Eleicoes presidenciais no Brasil: relacoes internacionais, politica externa e diplomacia brasileira, 1985-2018
https://www.academia.edu/35761286/Eleicoes_presidenciais_no_Brasil_relacoes_internacionais_politica_externa_e_diplomacia_brasileira_1985-2018