O
Financial Times se inquieta, por nós, em vista das profundas indefinições, dúvidas, angústias, preocupação, desespero, esperança, contradições, oposições, possíveis enfrentamentos e outras consequências, eventualmente benéficas, mais seguramente maléficas, que advirão de uma das eleições mais contestadas, talvez a mais difícil, já enfrentada pelo Brasil em mais de cem anos de regime republicano, pelo menos em situação relativamente democrática. Digo relativamente porque o Brasil é uma democracia de baixa qualidade, eu até diria de baixíssima qualidade, e tudo indica que, independentemente de quem seja o próximo presidente, de centro, de direita, de esquerda, mais ou menos sensato ou completamente maluco, poste ou independente, razoável ou aloprado, independentemente de quem assuma o Palácio do Planalto em 1ro de janeiro de 2019, a política brasileira, em sua essência, não mudará muito, na verdade, parece que não mudará nada, o que quer dizer que ela vai continuar piorando, pois esta é a tendência dos últimos anos, ou décadas. O Congresso, que é o núcleo central do sistema político, muito mais do que o presidente, não mudará quase nada, e oportunistas, idealistas, bandidos e honestos, corruptos e responsáveis, serão eleitos com os mesmos problemas, distorções, deformações que já existem.
Acho que não só o
Financial Times, mas outros órgãos da imprensa internacional, e também da imprensa nacional, vão continuar se preocupando com o destino do Brasil. Eu, pessoalmente, estou preocupado com o que possa acontecer a partir de outubro, pois tudo o que o Brasil precisa, no contexto da atual crise econômica e política, profundas ambas, devastadoras mesmo, se nada for feito, tudo o que o Brasil precisa é, antes de mais nada, de um presidente centrado, sensato, capaz de pacificar o país, os movimentos políticos, reconciliar as atuais oposições, cicatrizar ferimentos da atual campanha, e sobretudo exibir capacidade de formular rapidamente políticas de ajuste fiscal, de reformas estruturais, capazes de fazer o Brasil retomar o caminho do crescimento sustentado, com abertura econômica, liberalização comercial, nova inserção internacional, continuidade do processo de "limpeza" do sistema político, pois a sociedade não mais suporta os mafiosos no poder. A Justiça é um outro problema, que não será fácil de resolver, pois ela é constitucionalmente autônoma e independente, ainda que fragmentada, confusa, autista, prebendalista, patrimonialista, personalista, arrogante.
O Brasil é um país dominado pelo corporativismo de baixo clero, e extorquido pelos mandarins na república, os marajás do serviço público. Também exibe capitalistas promíscuos, dispostos a qualquer combinação com os políticos no poder para obterem vantagens para si mesmos e suas empresas, indiferentes à esbórnia geral que transforma o poder político um verdadeiro balcão de negócios, sempre sujos, por definição.
Este é o meu diagnóstico da atual situação, triste, do Brasil, sem muita esperança de que a situação melhore significativamente nos próximos quatro anos. Infelizmente. Espero estar errado, mas não errarei por otimismo não fundamentado.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 26 de setembro de 2018
'Financial Times' alerta para 'cenário de pesadelo' na eleição brasileira
Para publicação britânica, disputa se trata de uma das eleições mais imprevisíveis e polarizadoras da história recente
Célia Froufe, correspondente, O Estado de S.Paulo
26 Setembro 2018 | 14h20
LONDRES - A pouco mais de uma semana para as eleições 2018, o jornal britânico de economia Financial Times apresenta um raio X dos principais candidatos, salientando que eles estão pulverizados da esquerda até a extrema direita. "Para os mercados, dizem alguns analistas, (a eleição) está se transformando em um 'cenário de pesadelo' - a esquerda contra a extrema direita - e poderia condenar o Brasil a mais quatro anos de lutas políticas terríveis", trouxe o diário.
Salientando que se trata de uma das eleições mais imprevisíveis e polarizadoras da história recente da maior economia da América Latina, a publicação enfatiza que os investidores estão cada vez mais preocupados que os eleitores possam eleger um presidente que não esteja disposto ou seja incapaz de implementar reformas econômicas necessárias, mas politicamente difíceis, para consertar os desequilíbrios fiscais.
Depois de ser esfaqueado em um comício de campanha no início deste mês, Jair Bolsonaro, nacionalista de extrema direita e líder do primeiro turno da eleição presidencial do Brasil em 7 de outubro, tem empunhado seus dedos em fotos postadas nas redes sociais. "Eu nunca me senti melhor na minha vida", disse ele em um vídeo no Twitter na semana passada. Ele encerrou sua transmissão na mídia social com um grito lembrando "até a vitória!", de Che Guevara.
Enquanto isso, o esquerdista Fernando Haddad, o candidato substituto do Partido dos Trabalhadores, do popular ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, subiu nas últimas pesquisas, com menos de duas semanas da votação no primeiro turno. Atrás deles estão o candidato veterano de centro-esquerda Ciro Gomes, o favorito do mercado, Geraldo Alckmin, e a ambientalista Marina Silva.
"A seguir estão os principais candidatos presidenciais, segundo pesquisas recentes, que na próxima semana enfrentarão 147 milhões de eleitores - muitos dos quais estão desencantados com o status quo político do Brasil", diz a publicação.
O primeiro apresentado pelo FT é Bolsonaro, descrito como um ex-capitão do Exército que se comprometeu a manter uma agenda econômica liberal. Ele recrutou o banqueiro que estudou na Universidade de Chicago, Paulo Guedes, para administrar seu portfólio econômico. O candidato do PSL prometeu reprimir a criminalidade, conforme o periódico, e sua mensagem anticorrupção ecoa a ascensão dos movimentos populistas nos EUA e na Europa. "Mas seu estilo político faz Donald Trump parecer gentil. Ele já elogiou o ex-presidente peruano Alberto Fujimori, que virou soldados contra o Congresso e o Judiciário. Especialistas já disseram no passado que ele era muito radical para vencer, mas as pesquisas recentes indicam o contrário", aponta reportagem.
Haddad foi escolhido pelo PT depois que Lula foi desqualificado de concorrer. Advogado, economista e filósofo, herdou uma parte considerável da popularidade de Lula, que liderou as pesquisas até ser impedido de participar da eleição. Mas o ex-prefeito de São Paulo, conforme a publicação, também pode ser prejudicado por sua associação com Lula, que foi condenado no começo do ano por corrupção e cumpre pena de 12 anos de prisão. "Haddad é visto como um conservador fiscal e busca seduzir os eleitores de centro - e, ao mesmo tempo, afastar as suspeitas dos membros radicais de seu próprio partido."
Ciro Gomes, veterano candidato de centro-esquerda do Partido Democrático Trabalhista (PDT) e ex-governador, apela aos eleitores que estão desiludidos com toda a roubalheira, que atribuem aos 13 anos de governo do PT no governo de Lula da Silva e de sua sucessora Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em 2016 por supostamente esconder um problema do déficit fiscal do Brasil.
Gomes é visto como um centrista em questões macroeconômicas, conforme o veículo britânico, mas indicou que poderia se alinhar à esquerda em outras políticas, como a ampliação dos gastos públicos. Um político do nordeste, do Estado do Ceará, ele ocupou cargos no Congresso e no Senado, mudando de partidos ao longo de sua carreira.
Geraldo Alckmin, ex-anestesiologista e favorito dos investidores, até agora não conseguiu ganhar força com os eleitores. Analistas dizem que o ex-governador de São Paulo parece estar prestes a fracassar em sua segunda tentativa à Presidência do Brasil. O FT recorda que muitos observadores dizem que sua incapacidade de ganhar terreno se deve à falta de carisma, juntamente com a desilusão dos eleitores com os políticos do establishment, após uma série de escândalos de corrupção envolvendo a maioria dos grandes partidos - incluindo o próprio PSDB.
Marina Silva, ambientalista de centro-esquerda, disputa a Presidência pela terceira vez (Rede). O jornal salienta que a evangélica ganhou 22 milhões de votos há quatro anos, mas não conseguiu causar um impacto tão grande entre os eleitores desta vez, de acordo com pesquisas recentes. Embora Marina - que começou sua carreira política na década de 1980 trabalhando ao lado do ativista assassinado Chico Mendes - tenha mais seguidores no Twitter do que a sensação de mídia social do Brasil, Bolsonaro, ela tem sido incapaz de capitalizar esse poder e também está lutando com pouco tempo de campanha na televisão.
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