Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
1420) Brasil, um pais sem lei, e quem patrocina isso é o governo...
Considero, pessoalmente, os setores envolvidos com a aplicação da lei neste país coniventes com esse tipo de ilegalidade. Acredito, também, que os órgãos de informação, que deveriam prevenir e proteger as instituições de Estado que estão sendo atacadas, tanto quanto as empresas privadas, são ou incompetentes totais, ou castrados, simplesmente. Em qualquer hipótese, é uma vergonha, e eu me sinto envergonhado de viver num país como este, onde a lei não impera...
Brasil, uma contradição ambulante
José Pastore*
O ESTADO DE S. PAULO, Terça feira, 13 de outubro de 2009
A economia vai bem, mas as instituições vão mal. Temos democracia, é verdade. Esse é um marco institucional de grande valor. Não podemos perdê-la. Com ela vem a liberdade de ir e de vir e de tantas outras.
Deveríamos ter também liberdade de expressão. Na prática, a realidade é outra. Basta citar a censura imposta a este jornal, que já dura mais de dois meses.
Outra instituição sagrada em um regime democrático é a da propriedade privada. Pois bem. Sete mil laranjeiras carregadas foram derrubadas na semana passada por invasores que usaram o equipamento do dono da fazenda e, de gorjeta, destruíram as casas dos trabalhadores.
As autoridades se limitaram a praticar a surrada retórica, chamando-os de "vândalos", "irresponsáveis", "criminosos", ao mesmo tempo que tratavam de abafar a CPI do Movimento dos Sem-Terra (MST).
Os atos de desrespeito à propriedade privada são incontáveis. O MST já derrubou eucaliptos de uma fábrica de papel e celulose. Seus seguidores devastaram laboratórios, destruindo valiosas pesquisas agropecuárias de longa duração. E continuam assim. Invadem prédios públicos com a maior facilidade. Se não me falha a memória, já acamparam no Congresso Nacional!
Das autoridades de um regime genuinamente democrático esperava-se uma intervenção firme e definitiva. Pois, nada acontece. Ao contrário, a referida CPI quer apurar graves indícios de que o governo federal financia indiretamente esses grupos que ignoram a lei e o direito.
O problema da insegurança afeta seriamente os que precisam da propriedade para produzir, crescer, gerar empregos, impostos e bem-estar. Mas afeta também a maioria dos brasileiros que tem medo de sair às ruas e até ficar dentro de suas casas.
Por essas e outras é que se pode dizer, sem medo de errar, que a economia vai bem, mas as instituições vão mal. Na instituição do Poder Legislativo, tivemos recentemente o vexame dos atos secretos do Senado Federal. Também não foi o primeiro e, como nos casos anteriores, nada aconteceu. As comissões "não conseguiram ver" nenhuma prova de malversação de recursos. A nós, contribuintes e eleitores, restou assistir às malandragens pela televisão - sem poder de agir.
James Madison dizia que o primeiro estágio de uma democracia ocorre quando os governados passam a respeitar os governantes. O segundo, quando os governantes começam a respeitar os governados. O terceiro, quando os governados passam a controlar os governantes. Ah! Como estamos longe dessa democracia. Aos governados sobrou apenas a obrigatoriedade de respeitar quem não os respeita.
Como dizer, então, que nosso quadro institucional é sólido e amadurecido? Vejam a escola. A grande maioria dos professores tem medo de entrar na sala de aula. A violência tomou conta da maioria dos estabelecimentos. Alunos agridem os mestres com palavras e atos de profundo rancor e incontido ódio. Muitos dos pais seguem o mesmo script e investem contra os mestres que tentam corrigir seus filhos. Dá para construir uma sociedade respeitosa diante de tamanha falência institucional?
Se olharmos para o Poder Judiciário, os casos que vêm à tona são os mais deploráveis. Lembram-se do juiz que assaltou a casa onde trabalhava - o Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo? Ele devolveu o dinheiro?
Estarrecidos ficamos sabendo que um magistrado condenado acaba de virar ministro do Supremo Tribunal Federal. O povo que tem, na média, apenas sete anos de escola - e má escola - não consegue entender que a sentença condenatória não transitou em julgado. Será que não haveria outro juiz capaz e em condições mais fáceis de serem compreendidas para ocupar tão alto posto?
Quando se olha para os partidos políticos - peças-chave da democracia - o desânimo nos domina. Eles são reconhecidos pelos próprios políticos como descarados balcões de negócios, com raríssimas exceções.
Partidos que capturam os nossos votos prometendo ética e honestidade são constantemente pilhados nas mais deslavadas falcatruas. Nada disso tem consequência. Já é lugar-comum dizer que o Brasil é o país da impunidade. Pergunto: impunidade casa com democracia?
Que tipo de instituições nós temos para apurar e punir? De fachada estão aí a polícia e a Justiça. Mas, de efetivo, elas só funcionam para os mais fracos, também com poucas exceções. As suspeitas de fraude e corrupção dos poderosos costumam ficar onde sempre ficaram - no limbo!
Ah! Como eu gostaria de ver este país com instituições fortes, atuantes e respeitáveis. Deus nos deu tantas coisas boas. É certo que entregaremos aos jovens uma nação com uma renda per capita mais alta. Um país que vai se transformar em grande exportador de petróleo. E que hospedará a Copa do Mundo e a Olimpíada. Mas, no campo das instituições, valores e ética de conduta, entregaremos o País que recebemos e piorado em vários aspectos.
Enquanto tais instituições não amadurecerem, continuaremos com uma democracia de segunda classe. Os valores básicos se deterioram a cada dia. Quem anda na linha passa por bobo ou desinformado.
Essa é a concepção que grassa em nossa juventude. Vejam estes dados: 30% dos brasileiros confessam que passaram em exames escolares com base na cola. Esses são os que confessam. E os outros? Vinte e sete por cento dizem que não devolvem o troco quando recebem a mais do que o devido. Esses são os que têm a coragem de dizer. E os outros?
O que mais dói é saber que os maiores contraventores nesses "pequenos delitos" são os mais estudados. Vejam o que a escola da violência está produzindo!
Paremos por aqui, reconhecendo que para chegar à verdadeira democracia teremos de enfrentar uma longa trajetória em que o fortalecimento das instituições é essencial.
Por tais motivos, quando vejo a distância que existe entre o sucesso da economia e a pobreza das instituições brasileiras, junto-me ao jurista Célio Borja quando diz: "O Brasil é uma contradição ambulante."
*José Pastore é professor de relações do trabalho da FEA-USP. Site: josepastore.com.br
1419) Climate Change: Freakanomics at rescue
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Paulo Roberto de Almeida
Freakonomics and Climate Change
The Independent, October 13, 2009
Dominic Lawson: Here's another phoney war: the one on climate change
There's no glory in spending $10m a year on giant nozzles that squirt sulphur dioxide
The phrase "publishing sensation" is standard hyperbole from marketing men anxious to push book sales. Sometimes, however, a book comes along which justifies the term. One such is Freakonomics, which since its publication in 2005 has sold well over 3 million copies. This would be a remarkable figure for a popular fiction writer; but the author of this non-fiction work was a university economist called Steven Levitt, aided and abetted by the New York Times journalist Stephen Dubner.
Essentially their book applied basic economic theories of utility-maximisation to social issues which hitherto had been discussed purely in political terms. The essay which caused the most sensation was Levitt's analysis linking falling crime figures to the federal legalisation of abortion via the Roe v Wade constitutional amendment. Levitt claimed that these apparently unconnected statistics in fact represented a significant correlation: unwanted children tended to be neglected and thus turn to crime, so the great increase in abortions from the early 1970s was the main, but unheralded, reason for the drop in US crime rates in the 1990s.
It's fair to say that Levitt's analysis, while rapidly attaining the status of conventional wisdom, remains highly controversial: a number of his fellow economists argue that his "abortion-cut-crime" theory doesn't come close to meeting the burden of proof. It was, however, marvellously mischievous, causing consternation and fury in equal measure among the American religious right, first in downplaying the role of tough penal policies and second in portraying abortion as a socially valuable law-enforcement tool.
Now Levitt and Dubner are launching the follow up to Freakonomics - but this time it is conventional left-liberal thought which will be outraged by their assertions. A clue is given in the work's full title, Superfreakonomics: Global Cooling, Patriotic Prostitutes and Why Suicide Bombers Should Buy Life Insurance. Yes, the authors have this time addressed their dispassionate intellectual blowtorch to the conventional wisdom about climate change, its causes and remedies.
In this investigation they have called upon a number of experts with relevant expertise, including Nathan Myhrvold, a former colleague of Professor Stephen Hawking at Cambridge, who went on to become Bill Gates' futurist-in-chief at Microsoft; and Ken Caldeira, an ecologist from Stanford University and contributor to the Intergovernmental Panel on Climate Change.
Caldeira points out that if our concern is for the planet, and if we choose to measure that concern by biodiversity, then increases in carbon dioxide can be a positive benefit. A rise in atmospheric CO2 means that plants need less by way of water for their growth; Caldera's study demonstrated that doubling the amount of carbon dioxide, while holding steady all other inputs, such as water and nutrients, yielded a 70 per cent increase in plant growth. This would not come remotely as a surprise to people of my generation, who were taught at school that carbon dioxide was the lifeblood of plants, but will perhaps be a shock to the present generation of schoolchildren who are being lectured that man-made CO2 is tantamount to poison.
Myhrvold goes on to tell the freakonomists that while the IPCC is fretting fearfully about the CO2 in the atmosphere increasing from about 280 parts per million to 380, our mammalian ancestors successfully evolved at a time when the atmospheric concentration of CO2 was over 1,000 parts per million. Myhrvold then commits true apostasy by pointing out that "nor does atmospheric carbon dioxide necessarily warm the earth: ice-cap evidence shows that over the past several hundred thousand years, carbon dioxide levels have risen after a rise in temperature, rather than before it."
This might help to explain why the recorded temperature of the planet has not increased at all over the past 11 years. As the BBC's climate correspondent, Paul Hudson, reported with thinly disguised amazement three days ago, "Our climate models did not forecast this." Hudson then spoke to Professor Don Easterbrook of Western Washington University, who explained that global temperatures were correlated much more with cyclical oceanic oscillations of warming and cooling than anything man does. Easterbrook argued that the global cooling from 1945 to 1977 was linked to one of these cold Pacific cycles, and that "the Pacific decadal oscillation cool mode has replaced the warm mode [of 1978 to 1998], virtually assuring us of about 30 years of global cooling."
Hold the front page! Global warming postponed for 30 years! Or possibly much longer! Or, if you prefer to remain terrified by environmental prognostications: hold the front page! New Ice Age approaches! Countless millions set to freeze!
Let's suppose, however, that our political leaders are not mistaken in taking the view that the threat to mankind does come from the greenhouse effect and its consequences. Here is where Levitt's friend Nathan Myhrvold (described by Bill Gates as "the smartest person I know") comes up with a plan almost appalling in its simplicity.
Myrhvold begins with the uncontroversial observation that the biggest sudden natural cooling events are eruptions from "big ass" volcanoes, which shoot vast quantities of sulphur dioxide into the atmosphere, which in turn leads to a decrease in ozone and a diffusing of sunlight, followed by a sustained drop in global temperatures. Why not bring about the same effect through engineering, asks Myhrvold. Thus he has designed a system of pumps, attached to gigantic hoses, which would be taken up into the atmosphere in helium balloons; they would then spray colourless liquid sulphur dioxide which would wrap around the North and South poles in less than a fortnight. Myhrvold estimates that this "save the poles" programme would cost roughly $20m, with an annual operating cost of $10m. Job done.
Alternatively, there is the British Government's suggestion that we spend $1.2 trillion a year globally on a decarbonisation programme. The trouble with this is that even if the British are happy to pay massively more for their electricity by foregoing coal - the world's most plentiful and cheap form of stored energy - the vastly bigger and growing economies of China and India have no intention of denying their people the life-changing benefits of cheap electrification.
You would think that the sort of innovative plan outlined in Superfreakonomics would be welcomed by leaders across the globe, with Nobel prizes in the offing for Myhrvold and his colleagues. You would be wrong. For the modern generation of politicians like to talk grandiloquently about the "war" against climate change (just as they do about the "war against terror" and the "war against drugs"): but there's no glory to be had in spending $10m a year on giant nozzles squirting sulphur dioxide around the poles. For that you need very little by way of international summits, or press conferences to the world's media.
Worse still from their point of view, such a solution would mean that they would be doing absolutely nothing to change the way we lead our lives. We would carry on going about our lives just as we are; and if politicians are doing nothing to change our behaviour they will feel bereft, devoid of mission, even (perish the thought) redundant.
Their fury at such redundancy would be shared by the conventional environmental movement, which regards any solution involving geo-engineering as an "offence against nature" and therefore axiomatically wicked - as if "nature" had the capacity to give a damn one way or the other. The authors of Freakonomics had better put on their hard hats; the ideological ordnance will soon be heading their way.
d.lawson@independent.co.uk
1418) David Fleischer and current moves in Brazilian diplomacy
This posting is a guest contribution by Dr. David Fleischer, Emeritus professor of Political Science at the University of Brasília, and editor of Brazil Focus – a weekly political risk newsletter
CIGI, Monday, October 12th, 2009
In early October 2009, Itamaraty (the Brazilian Ministry of Foreign Relations) is operating a round of “musical chairs” with a rotation of its top three posts – Secretary-General (number two), and the ambassadors to Argentina and the US.
This “rotation” was provoked by the retirement of Amb. Samuel Pinheiro Guimarães as Secretary-General in mid-October as he reaches the mandatory retirement age (70). Apparently, Amb. Guimarães will be appointed Minister of Strategic Affairs, replacing Prof. Roberto Mangabeira Unger who left this position in June 2009 to reassume his duties at the Harvard Law School after two years leave of absence.
Samuel Pinheiro Guimarães is considered the “principal ideologue” at Itamaraty and responsible for installing a rigorous Left ideological “line” since 2003 with stronger emphasis on South-South relations and with an ongoing dialogue with what Pres. Bush called the “axis of evil” – Iran, North Korea, Venezuela, Cuba, etc. Thus, given his interest in the world of conceptual ideas, the Strategic Affairs position is thought to be appropriate.
Reportedly, Brazil’s current Ambassador in Washington Antônio Patriota would be transferred to Brasília to replace Amb. Guimarães as number two under Foreign Minister Celso Amorim. Amb. Patriota replaced veteran diplomat, Amb. Roberto Abdenur (then age 64) in November 2006. This appointment reflected the tone that has come to mark the Itamaraty during President Lula’s administration: Fairly inexperienced diplomats who have close links to the institution’s top echelon are named to the most important embassies while veteran ambassadors – who might voice disagreement with the ministry’s policies – suffer various degrees of ostracism. This was the case with Ambassador Abdenur. He was transferred back to Brasília on a 48-hour notice on justifications that his posture was incongruent with Brazil’s foreign policy “line”. He had “spoken out of turn” regarding Brazil’s enhanced trade relations with China, anticipating possible dumping of Chinese exports (that occurred in 2007-2008 and forced Brazil to impose “quotas” Chinese textile, clothing and shoe exports).
This was a case of “what goes around comes around.” Samuel Pinheiro Guimarães was himself ostracized during the second government of Fernando Henrique Cardoso. He was the Director of IPRI (International Relations Research Institute) and attacked the FTAA in successive public speeches. He was removed from the IPRI position and not assigned to another post.
Roberto Abdenur had served as Brazil’s ambassador in Berlin, Peking, Vienna and Quito, and was replaced by Antônio Patriota (then age 52), a career diplomat who had never before received an assignment as ambassador. A few months previous, another “junior diplomat” (with no previous experience as ambassador) – Mauro Vieira – was appointed Brazil’s ambassador in Buenos Aires. Amb. Patriota had previously worked under Amorim at the UN and in Geneva (WTO), and in 2006 was the under-secretary for political affairs at Itamaraty.
To complete this October 2009 “rotation”, reportedly Mauro Vieira is to be transferred from Buenos Aires to Washington, and Ruy Nogueira, the current under-secretary for Trade Promotion (also closely linked to Amorim) was to be Brazil’s new ambassador to Argentina. However, Ruy Nogueira declined Amorim’s invitation and instead Ênio Cordeiro, the current sub-Secretary-General (number two under Guimarães) was chosen.
In a missed opportunity, a fourth senior diplomat who was also under consideration in this “rotation” was passed over. Vera Machado the former Brazilian ambassador to India and the Vatican would have been the first woman to represent Brazil in Washington or Buenos Aires.
Finally, in late September, Foreign Minister Celso Amorim switched his party affiliation from the PMDB to the PT. This fanned speculations that he might run for office in the October 2010 elections. If so, he would have to “step down” [resign his post] in early April 2010, and President Lula would have to choose a new foreign minister. The second “locus” of Brazilian foreign policy is with the Foreign Affairs Advisor within the presidential office – Professor Marco Aurélio Garcia – who as long-time PT’s national coordinator for international relations has a close relationship with President Lula. Professor Garcia is expected to remain at Lula’s side until January 1, 2011 even if Celso Amorim “steps down” in April 2010. Marco Aurélio Garcia has been chosen to elaborate the campaign program of PT pre-candidate for president in 2010 – Dilma Rousseff.
Thus, there are no concrete indications that this “musical chairs” rotation will produce any major changes in Brazil’s foreign policy posture – bilateral relations with the US and Argentina, or in multi-lateral forums such as the UN, the OAS, the WTO, the G-20, or Global Climate Change.
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
1417) Governos privatizam, para fazer caixa; no Brasil o governo dá calote...
Enquanto isso, no Brasil, o governo além de ser um extrator compulsório, é um devedor caloteiro, pois acaba de anunciar que vai devolver o dinheiro dos contribuintes apenas no ano que vem.
Trata-se de um roubo, pura e simplesmente, pois os particulares e algumas empresas (menos as que optaram pela declaração no final do ano) já recolheram o imposto presumido ao governo (os assalariados, públicos ou privados, sem qualquer opção, pois o dinheiro é subtraído na folha de pagamentos) e teriam direito ao SEU dinheiro pago a mais.
O governo simplesmente se apropria do que não é dele, o que deveria merecer um processo por crime de responsabilidade (suponho que a lei do imposto de renda preveja a devolução logo após a declaração).
É uma situação claramente de arbítrio, pois o dinheiro foi antecipado ao governo a cada mês do ano passado. Uma vez feita a declaração (cinco meses depois do pagamento mais recente e mais de um ano depois do começo das contribuições compulsórias), o governo deveria devolver imediatamente os pagamentos em excesso.
Ele diz que ninguém vai perder pois o governo corrigirá pela taxa Selic.
Ora, isso é um duplo roubo e um escárnio: nenhum particular toma dinheiro à taxa Selic, e se o governo acha justo então faça empréstimo nessa taxa para devolver o que deve aos particulares.
O governo não está sem dinheiro por causa da crise, tanto porque reduziu impostos e estimulou a atividade que voltou a crescer. O governo está sem dinheiro porque gasta muito, contrata demais, cria muitos empregos públicos e torra o dinheiro do contribuinte de forma irresponsável.
Em lugar de privatizar, fica criando mais estatais.
Esse governo é uma piada de mau gosto.
Paulo Roberto de Almeida (12.10.2009)
1416) Os materiais sobre a derrubada do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria do National Security Archive
Abaixo uma informação sobre o último livro eletrônico divulgado sobre o tema.
A Different October Revolution: Dismantling the Iron Curtain in Eastern Europe
National Security Archive Electronic Briefing Book No. 290
Edited by Svetlana Savranskaya and Thomas Blanton
Posted - October 9, 2009
Link: http://www.gwu.edu/~nsarchiv/NSAEBB/NSAEBB290/index.htm
Washington, D.C., October 9, 2009 - Twenty years ago today, crowds of East German demonstrators took to the streets in Leipzig starting their own October revolution that would bring down the Berlin Wall a month later. Ironically, these massive peaceful crowds of about 70,000 people gathered in the streets and squares of Leipzig just two days after the celebrations of the 40th anniversary of the German Democratic Republic and the visit by Soviet leader Mikhail Gorbachev to Berlin. GDR leader Erich Honecker's security forces were faced with a choice—to apply the Chinese Tiananmen model or to go along with their Soviet patron's advice not to use force. They chose the latter, and several days later Honecker was sent to retirement and replaced with reform Communist Egon Krenz on October 17, 1989.
(ver a suite no link acima)
1415) O projeto sobre a Guerra Fria do Wilson Center
Abaixo a relação dos materiais disponíveis no projeto do Wilson Center:
Cold War International History Project
Virtual Archive 2.0
Link: http://www.wilsoncenter.org/index.cfm?topic_id=1409&fuseaction=va2.browse&sort=Collection
Collection :
1945-46 Iranian Crisis
1954 Geneva Conference on Indochina
1956 Hungarian Revolution
1956 Polish Crisis
1980-81 Polish Crisis
Albania and the Indochina War
Albania and the Non-Aligned Movement
Algeria in the Cold War
Anti-Colonialism in the Cold War
Bandung Conference
Bulgaria in the Cold War
China in the Cold War
Chinese Foreign Policy in the Third World
Cold War Origins
Communist Activity in Latin America
CSCE Negotiation Process
Cuba in the Cold War
Cuban Missile Crisis
Czechoslovakia in the Cold War
East German Uprising
Economic Cold War
End of the Cold War
France in the Cold War
Germany in the Cold War
Hungary in the Cold War
Intelligence Operations in the Cold War
Mongolia in the Cold War
North Korea in the Cold War
Nuclear Non-Proliferation
Poland in the Cold War
Post Stalin succession struggle
Romania in the Cold War
Sino-Soviet Relations
Sino-Soviet Split
Sino-US Ambassadorial Talks
Soviet Foreign Policy
Soviet Invasion of Afghanistan
Soviet Invasion of Czechoslovakia
Soviet Nuclear Development
Stalin and the Cold War
The Cold War in Africa
The Cold War in Asia
The Cold War in Latin America
The Cold War in the Middle East
The Horn of Africa Crisis
The Korean War
The Mitrokhin Archive
The Nikita Khrushchev Papers
The Non-Aligned Movement
The Vietnam (Indochina) War(s)
The Warsaw Pact
Todor Zhivkov Papers
US-Cuban Relations
US-Soviet Relations
USS Pueblo Crisis
Warsaw Pact Military Planning
Western Media
Yugoslavia in the Cold War
1414) Teoria da Mais-Valia: a verdadeira paternidade
Como se vê, Marx foi um excelente adepto da teoria do "rouba mas faz (intelectual)"...
E para quem acha que Marx foi o autor de outra frase famosa: "de cada um segundo suas capacidades,a cada um segundo suas necessidades":
Sem pretender voltar a uma (aparentemente) inutil discussao sobre essa frase "marxista", e sem pretender desiludir aqueles que continuam acreditando que essa frase é puramente, unicamente de extração marxiana, gostaria de chamar a atencao para o fato de que Marx, um leitor compulsivo de livros de economistas contemporaneos e predecessores, nas suas longas jornadas na British Library, na verdade copiou essa frase do pensador britanico William Goodwin (que morreu em 1836).
De tendencia idealista anarquista, Goodwin já proclamava, desde o final do seculo XVIII, que todo governo era um mal, e que a distribuicao dos bens produzidos deveria ser feita de acordo com as necessidades de cada um.
Como se vê, Marx tambem aderia ao famoso "cut and paste" dos nossos tempos, emprestando ideias de outros filósofos sociais, sem necessariamente pagar direitos autorais por isso, ou sequer "moral rights"...
Sorry, marxianos...
1413) Enquete habitacional: qual a melhor designacao para esta habitacao?
Se trata, simplesmente de como designar os locais que já foram uma embaixada do Brasil, em Tegucigalpa.
O jornalista Augusto Nunes, que mantêm um Blog no site da Veja, lançou a seguuinte enquete, que reproduzo, com os respectivos scores de respostas, da revista desta semana (edição 2.134, ano 42, n. 41, 14 de outubro de 2009):
Enquete
Qual destes quatro nomes deve batizar o prédio onde funcionou a embaixada brasileira em Honduras?
Pensão do Lula: 35%
Cortiço do Chávez: 33%
Zona do Zelaya: 21%
Casa de Tolerância Xiomara: 11%
Pois bem, permito-me acrescentar novas sugestões, como abaixo, e comprometo-me a acolher e incorporar novas ideias e recomendações de leitores, desde que não ofensivas às tradições austeras da utilização original:
Embaixada da Mãe Joana
Albergue da Senectude
Pensão Asilo Al revés
Hotel de Trânsito Diplomático
Tegucigalpa Inn (and no out)
Centro Bolivariano de Agitação Política
Adições, complementos e correções sempre bem-vindos, desde que respeitados os critérios dos bons serviços de hotelaria...
Paulo Roberto de Almeida (12.10.2009)
sábado, 10 de outubro de 2009
1412) Seguro Saude nos EUA: nao existe solucao milagre
REVIEW & OUTLOOK
The Stressed German Model
Wall Street Journal, October 10, 2009
It took the Germans 125 years to figure out that their health-care system doesn't work.
What if the Obama health-care proposal turned out to be the biggest public-policy mistake in 125 years?
Yesterday, these columns discussed the Congressional Budget Office's efforts to push the square peg of the Obama plan through the round hole of affordability. Meanwhile in Germany, often cited by American liberals as the "model" of a well-run health-care plan, the political debate is running in the opposite direction. Chancellor Angela Merkel's new coalition partner, the Free Democratic Party, is pressing her to claw back the state's participation in a system that now insures nine of 10 Germans.
Germany's health-care system was brought to life in 1883 by Otto von Bismarck and became the model for virtually every such state-directed national insurance plan since. Alas, the German system is starting to come apart at the financial seams. Germany's system relies on a handful of state-supported health insurers. This week they informed the government that the system was on the brink of a financial shortfall equal to nearly $11 billion.
Pointedly, the insurers made clear that cutbacks alone won't solve the problem. They said the government would have to consider raising premiums on the insured or, you guessed it, raise taxes. Currently, German workers pay a fixed-rate premium into the insurance scheme; that rate is now set at 14.9% of gross pay.
Chancellor Merkel, something of a political acrobat, was previously allied in coalition with leftist Social Democrats. She's now resisting calls from the Free Democrats to get off the state-pulled health-care train. The FDP's spokesman on health, Daniel Bahr, wants a "shift in direction away from state-run medicine." Why? Because "the current financial figures have showed us that the health-care fund doesn't work."
With Congress inching ever closer to passing a greater federal presence in providing health insurance under ObamaCare, let's hope it doesn't take the U.S. until the year 2134 to figure out it isn't working.
Printed in The Wall Street Journal, page A14
1411) Honduras: a base legal para a remocao de Zelaya
Abaixo extrato do documento, que pode ser lido neste link: http://schock.house.gov/UploadedFiles/Schock_CRS_Report_Honduras_FINAL.pdf
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HONDURAS: CONSTITUTIONAL LAW ISSUES
This report discusses the legal basis under the Honduran Constitution for
President José Manuel Zelaya Rosales’s removal from office.
Directorate of Legal Research for Foreign, Comparative, and International Law
James Madison Memorial Building; 101 Independence Avenue, S.E.; Room LM 240; Washington, DC 20540-3200
www.loc.gov/law/congress
(...)
Was the removal of Honduran President Zelaya legal, in accordance with Honduran constitutional and statutory law?
Available sources indicate that the judicial and legislative branches applied constitutional and statutory law in the case against President Zelaya in a manner that was judged by the Honduran authorities from both branches of the government to be in accordance with the Honduran legal system.
However, removal of President Zelaya from the country by the military is in direct violation of the Article 102 of the Constitution, and apparently this action is currently under investigation by the Honduran authorities.
Prepared by Norma C. Gutiérrez
Senior Foreign Law Specialist
August 2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
1410) Governo do PT pede que EUA sejam imperialistas...
Deixa ver se eu entendi:
O Brasil está pedindo para que os EUA sejam imperialistas?
Implorando por uma intervenção do Império num pequeno país da América Latina?
Com arrogância ou sem arrogância?
Sinto muito, mas a matéria abaixo me parece ser a piada do dia...
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Paulo Roberto de Almeida
Honduras: Brasil pede pressão dos EUA contra golpistas
Do UOL Notícias
EUA devem pressionar
O assessor para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, afirmou hoje que os Estados Unidos devem pressionar mais para que o governo golpista em Honduras permita o restabelecimento do governo constitucional.
"Queremos que a pressão aumente, sobretudo a pressão do governo norte-americano. Vamos aproveitar agora o prêmio Nobel da Paz que o presidente americano (Barack Obama) tão merecidamente recebeu para que ele exerça essa pressão."
Segundo Marco Aurélio, o governo golpista "ainda é muito renitente". "Estamos esperando a avaliação que a missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) fez lá. A posição do governo golpista ainda é muito renitente; eles estão criando uma situação muito difícil. Se a estratégia deles é de empurrar com a barriga até as eleições, vamos ter claro que eleiões com estado de sítio não têm nenhuma possibilidade de se realizar."
"Nós e grande parte da comunidade internacional já não iríamos reconhecer eleições sem o restabelecimento do governo constitucional. Mais ainda com um governo em estado de sítio. Não tem eleições que possam se realizar durante um estado de sítio", disse Marco Aurélio.
Questionado sobre uma possível intervenção da ONU (Organização das Nações Unidas) na política hondurenha, o assessor da presidência disse que a tarefa é "essencialmente da OEA. "Eu acho que a OEA não fracassou nas suas tentativas por deficiência dela. Ela fracassou pela intransigência do governo (golpista). Evidentemente que quando dizemos que a posição dos Estados Unidos é uma posição importante, isso está chamando a atenção para o fato de que os Estados Unidos têm relações econômicas muito fortes (com Honduras)."
Marco Aurélio Garcia afirmou ainda que o governo de Roberto Micheletti fez lobby nos Estados Unidos a seu favor, mas que o esforço não deve ter resultado. "O governo golpista contratou lobbies nos Estados Unidos para pressionar os setores mais conservadores da política americana para tentar manter o status quo lá. Como esses setores foram setores derrotados na eleição passada nos Estados Unidos, nós esperamos que isso se resolva."
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Comentário final PRA:
Pensei que eu já tinha visto tudo em matéria de contradições políticas, mas me parece ser a primeira vez na história que o PT, que sempre reclamou das intervenções dos EUA na América Latina, praticamente imploram para que os EUA voltem a ser imperialistas...
1409) O Comite Nobel se enganou de Premio Nobel
In a surprise move, the Norweigan Nobel Committee awarded the 2009 Nobel Peace Prize to U.S. President Barack Obama.
Bota surpresa nisso. O Comitê Nobel poderia, no máximo, ter dado um prêmio literário, pois o Obama, até aqui, só discursou e escreveu dois livros.
Nobel da Paz por discursos é uma première absoluta...
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
1408) Democracia na Venezuela: pronta para ingressar no Mercosul?
Na verdade, se for por argumentos democráticos, a Venezuela já pode ser admitida, pois a cláusula democrático do Mercosul -- Protocolo de Ushuaia -- apenas fala de ruptura do regime democrático, não de uma ditadura constitucional como parece ser o caso atualmente naquele país.
A Venezuela, portanto, passa no teste, pois como não se cansam de repetir seus apoiadores, ela tem se submetido à prova das urnas e dos plebiscitos desde o início do governo Chávez, que pode se perpetuar legalmente no poder.
Ela não passaria no teste da OEA -- Declaração de Lima, de 2001 --, entretanto, mas parece que isso não parece inquietar os demais países membros.
A matéria abaixo, do Washington Post desta segunda-feira, 5 de outubro, mostra que tipo de democracia a Venezuela é, atualmente.
Politics and Prison in Venezuela
Student Protester's Saga Shines New Light on Chávez's Approach to Dissent
By Juan Forero
Washington Post Foreign Service
Monday, October 5, 2009
CARACAS, Venezuela -- President Hugo Chávez's government says Julio Cesar Rivas is a violent militant intent on fomenting civil war.
Rivas's supporters say the 22-year-old university student is just one of many Venezuelans jailed for challenging a populist government that they contend is increasingly intolerant of dissent.
As the Chávez government approaches 11 years in power, many of its most prominent opponents are in exile in foreign countries or under criminal investigation here.
But human rights and legal policy groups say that even more worrisome is the growing number of government foes in jail for what they allege are politically motivated reasons. There are more than 40 political prisoners in Venezuela, and 2,000 Chávez opponents are under investigation, the groups and human rights lawyers say.
"The government tries to defend itself by saying it has politicians who are prisoners," said Teodoro Petkoff, a newspaper editor critical of Chávez. "But however you label them, they are people who are prisoners for political reasons."
Chávez administration officials contend that politics is not a motivating factor in the arrests and that the prisoners, political opponents or not, violated criminal code.
The arrests come in a year in which the number of anti-government protests has grown dramatically in Caracas, the capital, and other major cities. In the first eight months of this year, 2,079 demonstrations took place, up from 1,602 in 2008, according to a recent study by Provea, a human rights organization, and Public Space, a policy group that monitors free speech issues. Nearly 500 people were hurt and 440 were detained, the study said.
Venezuela's chief prosecutor, Luisa Ortega, warned at the end of August that such demonstrations were "in effect, criminal civil rebellion." She said protesters could be charged with crimes carrying prison terms of up to 24 years.
"People who disturb order and the peace to create instability of institutions, to destabilize the government or attack the democratic system, we are going to charge and try them," she told reporters.
Soon after that, Rivas learned how swift Venezuelan justice could be.
On Sept. 7, two weeks after participating in a demonstration, Rivas was arrested at his home. The main charge against him: inciting civil war.
"I didn't commit any crime. I am a young student who is not a coup plotter," he said in an interview. "I am not a CIA agent as they say I am."
Rivas's lawyers said the evidence against him was flimsy. A video made by a state television crew shows him shaking a police barricade during the protest and then telling a reporter that "we want to go to the Congress because we have a right." The tape was repeatedly shown on state television before Rivas was arrested, his lawyers said.
Rivas also became a target of Mario Silva, host of a state television show, "The Razor," in which Chávez foes are skewered. Silva aired photographs from Rivas's Facebook page and suggested that they demonstrated his culpability in generating unrest.
Among the photos was one of Rivas wearing a gas mask, which drew howls of laughter from Silva, and others of him with well-known opposition leaders. "Look, these are his friends!" Silva said. "This is in his Facebook. How horrible."
Alfredo Romero, who works at a Caracas law firm that represents Rivas and others detained by the government, said the steps taken against Rivas were meant to send a message to others in a budding student movement.
"The government is using Julio Rivas as an example to all the students: If you're a student and you go to a mass protest, you're going to go to prison," Romero said.
But Interior and Justice Minister Tareck El Aissami said Rivas's release Monday, after 22 days in jail, debunked "countless opposition lies" alleging government repression. "Like never before, we say that our government, particularly President Hugo Chávez, respects human rights," he told state media.
Though now free, Rivas still faces charges. But Tuesday, a day after his release, he joined 50 university students on a hunger strike to protest the jailings.
Government critics singled out for prosecution have little right of redress because the Chávez administration controls the Supreme Court and the lower courts, said Carlos Ayala, a Venezuelan constitutional and human rights lawyer who is president of the Andean Commission of Jurists.
"Venezuelan justice has been subservient to political intervention," Ayala said.
Calls to Ortega, the attorney general, were not returned. But Chávez has frequently characterized criticism of Venezuela's human rights credentials -- as well as accusations that he controls the courts -- as the fabrications of CIA-supported coup plotters.
Some of those who have been prosecuted, though, say the government shows little mercy.
Five years ago, three Caracas police commissioners were convicted on charges that they ordered the killings of pro-government protesters in 2002.
"The government needed to blame someone, but it did not look for who was really responsible," said Ivan Simonovis, one of the commissioners, who is serving a 30-year term.
The Due Process of Law Foundation, a Washington group that promotes judicial reform, last year concluded after a six-month study that Venezuela had violated the police officials' rights. The foundation also raised questions about the independence of the judges.
Simonovis said the only way out now is if the opposition wins a majority in Congress next year and names what he calls independent judges to the judiciary.
"For the moment," Simonovis said, "the president controls it all, and uses it like a weapon to make criminals of the opposition."
1407) Petroleo do pre-sal: uma analise sobria e fundamentada
Gunther Rudzit & Otto Nogami
Mundorama, 2 de Outubro de 2009
Nos últimos dois anos a mídia brasileira deu muito destaque às descobertas das novas reservas petrolíferas nas Bacias de Santos e Campos, mais conhecidos como a área do pré-sal. Muito também tem sido falado sobre os interesses estrangeiros, mais especificamente o norte-americano, por esta gigantesca reserva, que até o momento não se sabe ao certo qual o tamanho e conseqüente potencial de produção.
Sem dúvida alguma, esta descoberta terá a capacidade de modificar a percepção acerca do Brasil no sistema internacional, tanto do ponto de vista político, quanto econômico. Contudo, a fim de se elaborar uma análise mais próxima da realidade e não de meras especulações, faz-se necessário examinar as análises do próprio governo americano, para se poder determinar se as nossas análises estão corretas ou não.
A economia capitalista é movida a energia, e, sem dúvida alguma, a americana é baseada no petróleo. Por isso mesmo este tema faz parte das agendas econômica, diplomática e de segurança nacional de Washington. Contudo, partir deste princípio e aludir que os norte-americanos vêem as novas descobertas com a ganância suficiente para tomá-la, é temerário, principalmente quando estas afirmações são dadas por representantes do Estado brasileiro. Em um espaço de tempo de três dias duas afirmações neste sentido se destacaram, como o diretor de exploração e produção da Petrobrás, Guilherme Estrela, diz que a volta da quarta frota pode ser considerado uma ameaça (TEREZA, PAMPLONA e LIMA: 2009), ou então o próprio Presidente da República, que o País tem grandes patrimônios como a Amazônia e o pré-sal e precisa defendê-los.[2]
Diante de tantas insinuações acerca das intenções do governo norte-americano em relação à nova descoberta petrolífera em nossa zona econômica exclusiva (ZEE), há uma forma mais fácil e direta. Para saber se o governo americano realmente percebe as reservas petrolíferas brasileiras como uma fonte de energia estratégica para manter sua economia funcionando, o primeiro órgão que se deve pesquisar é a Energy Information Administration (EIA). [3] Este órgão tem como responsabilidade oferecer dados primários, estatísticas e análises sobre o setor de energia como um todo para o governo americano, tanto para o executivo quanto para o legislativo. Sem dúvida alguma, o setor de petróleo é um dos mais importantes, e representa a grande preocupação da administração do governo norte-americano.
A primeira constatação deste órgão é que o consumo mundial de petróleo deverá passar de 85 milhões de barris/dia para 107 milhões/dia em 2030. [4] Deste crescimento, 80% serão dos países não-membros da OCDE (sigla em inglês da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) na Ásia, principalmente China e Índia. O setor de transportes será o maior responsável por este aumento.
A partir destes dados, a EIA apresenta três cenários prospectivos. O primeiro deles é com o preço do barril chegando ao ano de 2030 com o preço de U$ 200 o barril, o segundo cenário, que é o referencial, chegando à mesma data com preço em US$ 130, e o último cenário com o valor de U$ 50. Seguindo o cenário referencial, a previsão é de que a partir de 2013 o preço mantenha-se sempre acima dos US$ 100 o barril.
Para manter o mercado abastecido, é previsto que tanto os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) quanto os não-membros devem aumentar suas produções. Contudo, dois países membros devem, segundo a EIA, ter problemas para manter este aumento a partir de 2015. São eles o México e a Venezuela, que, devido às políticas setoriais adotadas até agora, não se vislumbram os incentivos necessários para que empresas privadas invistam no aumento de suas produções.
As principais bacias petrolíferas que apresentam condições de aumentar suas produções são as do Mar Cáspio e da América do Sul, sendo que os países não-membros da OPEP que devem ter aumento na sua produção são representados pelo Brasil, Cazaquistão e Rússia. Além disso, os próprios Estados Unidos devem aumentar também sua produção doméstica, principalmente nas águas ultra profundas do Golfo do México. O Canadá também será um grande exportador, mas de petróleo extraído de rochas betuminosas.[5]
Dentro deste contexto, atenção especial é dada ao Brasil, definido como o país que apresentará o segundo maior aumento na produção até 2030, devendo ficar atrás somente dos Estados Unidos. O relatório anual da EIA destaca as recente descobertas no pré-sal, referindo-se diretamente aos campos gigantes de Tupi, Guara e Iara, mas também faz menção às mudanças regulatórias que começam a ser estudadas pelo governo brasileiro.
Assim, a agência americana faz duas projeções em relação ao caso brasileiro. O primeiro tem como premissa o alto preço do barril e grande restrição ao capital privado, o que faria a produção crescer 3% ao ano e chegar em 2030 com 2,1 milhões de barris/dia a mais do que produção atual. Já o segundo cenário tem como premissas preços baixos e a manutenção da abertura ao capital privado, o que faria a produção crescer 5% ao ano e chegar em 2030 com produção adicional de 4,1 milhões de barris/dia.
Além do petróleo, a produção de etanol também é analisada. Para este combustível há o destaque de que o etanol brasileiro é o mais produtivo e competitivo hoje em dia, e que a produção deverá continuar a crescer mais do que o consumo interno, fazendo com que as perspectivas para as exportações cresçam. Mas, novamente, dois cenários são apresentados, o de alto preço do petróleo beneficiaria a produção de etanol, que chegaria em 2030 a 1,3 milhão de barril/dia, enquanto que no cenário de preço do petróleo baixo, a produção chegaria no mesmo ano a somente 0,8 milhão/dia. E para o Brasil há um fato muito importante, nenhuma menção é feita em relação a possíveis exportações para os Estados Unidos.
Outro relatório muito interessante desta mesma agência é a lista dos maiores exportadores de petróleo para os Estados Unidos no mês de agosto de 2009.[6] As importações são cotadas em milhões barris/dia, e em ordem decrescente, são: Canadá com 2.001; Venezuela com 1.119; México com 1.099; Arábia Saudita com 902; Nigéria com 769.
Um fato interessante nesta lista, é que o Iraque só aparece em sétimo lugar, com importações de 374 mil barris/dia. Por outro lado, fica claro também que, mesmo se colocando com o inimigo dos Estados Unidos, a Venezuela é segunda fonte de petróleo dos Estados Unidos, sendo que só o presidente Hugo Chávez é vê ameaça nessa relação. Ainda mais que as exportações de petróleo e refinados ao mercado americano equivalem a 60% do total, além de que, a estatal petrolífera venezuelana a PDVSA (Petróleos de Venezuela, S.A.) é proprietária de quatro refinarias e participação acionária em outras quatro (ALVAREZ e HANSON: 2009).
Portanto, em uma relação econômica tão forte e importante como é a de Estados Unidos e Venezuela, com grande interdependência econômica, é muito pouco provável que um presidente americano tente usar a força a fim de ter acesso ao petróleo venezuelano. Esta ação causaria mais prejuízos econômicos do que qualquer ganho relativo, o que torna tal hipótese muito fraca.
Com a possibilidade de acesso a outra fonte de petróleo de boa qualidade e de um fornecedor estável política e economicamente como o Brasil é, pode-se extrapolar duas hipóteses. Primeira, que haveria o interesse te trocar a dependência parcial em relação à Venezuela pelo petróleo brasileiro; e a segunda, de que a mesma impossibilidade de uso da força seria aplicada à nova relação. E esta não poderá ser ameaçada pela tão propalada quarta frota.
Esta estrutura militar existe somente no organograma do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Ela não tem nenhum navio designado e nem forças expedicionárias permanentemente e muito menos nenhum porta-aviões, como os outros comandos militares têm. Desde que foi relançada, teve aumento de staff de quarenta pessoas, passando a contar com cento e vinte militares. O que mais chama a atenção é que no seu quartel general a quarta frota tem oficiais de ligação do Brasil, Chile, Colômbia, Equador e Peru, além de representantes de Argentina, México e Uruguai na Naval Telecomunications Network (IANTN), o sistema de tráfico de mensagem compartilhado entre todas as marinhas da América latina.[7] Portanto, tendo a presença de militares sul-americanos, e em especial um brasileiro, na sua sede, seria de se supor que estes possam perceber qualquer motivação estratégica no Comando Sul, o que até agora não foi noticiado.
Portanto, se existe uma ameaça, ela está na esfera econômica. Quando toda a gigantesca infra-estruturar de exploração comercial estiver pronta, o que deverá acontecer em dez ou quinze anos, o grande mercado americano poderá estar caminhando para a substituição do petróleo como fonte de energia de transporte.
O presidente Barack Obama tem planos para buscar a independência americana do petróleo, com três ênfases, desenvolvimento de novas formas de energia, estabelecer padrões de eficiência de combustível e regular emissões de fases de efeito estufa (WASHINGTON POST: 2009). E esta nova política já começou, com a discussão sobre a efetividade do plano e, principalmente, pelo aumento de um novo ingrediente, a preocupação com o aquecimento global (MUFSON: 2009). Tanto que, dia quinze de setembro o presidente assinou a nova lei que determina o aumento da economia de combustível em 5% ao ano até 2016 (FAHRENTHOLD & EIPLERIN, 2009).
Estas decisões vão de encontro com uma parte das propostas feitas pela RAND Corporation (RAND:2009, 19). Dentre as políticas propostas destacam-se a de incentivar o surgimento de novas formas de energia a fim dos Estados Unidos aumentarem sua segurança nacional, reduzir o consumo de petróleo e apoiar o bom funcionamento do mercado global de petróleo.
Se existe alguma ameaça ao pré-sal, ela não virá de estruturas militares, ela virá das lógicas política e econômica. A busca pela independência de fornecedores externos de petróleo e seus derivados tem sido um objetivo de várias administrações americanas, mas hoje as alternativas tecnológicas existem ou estão muito próximas, o que fará com que as reservas do pré-sal descobertas na Zona Econômica Exclusiva do Brasil não seja ameaçadas militarmente, mas sim por esta nova realidade. Principalmente levando-se em conta que empresas americanas, através de contratos de risco, tem prospectado a existência de petróleo na camada pré-sal nas costas africanas, a profundidades bem menores que a do Brasil.
Bibliografia
* ALVAREZ, Cesar J. and HANSON, Stephanie. (2009). Venezuela’s Oil Based Economy. New York: Council on Foreign Relations. Disponível em: [http://www.cfr.org/publication/12089/]. Acesso em 20/09/09.
* FAHRENTHOLD, David A. & EIPLERIN, Juliet. (2009). White House Is Prepared to Set First National Limits on Greenhouse Gases. Washington, DC: The Washington Post. Disponível em: [http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/09/15/AR2009091503146.html?wpisrc=newsletter&wpisrc=newsletter&wpisrc=newsletter]. Acesso em 16/09/09.
* MUFSON, Steven. (2009). Will Obama’s Revolution Deliver Energy Independence? Washington, DC: The Washington Post, 2009. Disponível em: [http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/04/03/AR2009040302794.html]. Acesso em: 05/04/09.
* RAND, Corporation. (2009). Imported Oil and U.S. National Security. California: Rand Corporation, 2009.
* TEREZA, Irany, PAMPLONA, Nicola e LIMA, Kelly. (2009). Fornecedor dita ritmo de exploração do pré-sal. São Paulo: Agência Estado, Caderno Economia, 09/09/09, p. B 6.
* ASHINGTON POST, The. (2009). Obama Announces Plans to Achieve Energy Independence. Disponível em: http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2009/01/26/AR2009012601147.html]. Acesso em: 26/09/09.
Gunther Rudzit é Doutor em Ciência Política pela USP. Coordenador do curso de Relações Internacionais da FAAP- SP, Professor de Relações Internacionais das Faculdades Integradas Rio Branco e do MBA do IBMEC-SP (grudzit@yahoo.com).
Otto Nogami é Mestre em Economia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutorando em Engenharia pela Universidade de São Paulo – USP. Professor do IBMEC-SP (OttoN@isp.edu.br).
[2] http://oglobo.globo.com/pais/mat/2009/09/18/lula-defende-que-brasil-aumente-seu-poder-de-defesa-767669637.asp
[3] www.eia.doe.gov
[4] www.eia.doe.gov/oiaf/ieo/pdf/liquid_fuels.pdf
[5] Este processo se dá quando o xisto betuminoso, que é uma rocha sedimentar e tem de 5% a 10% de petróleo na sua composição, é aquecido fazendo com que o óleo se separe e possa ser refinado, fazendo com que seu custo seja muito mais alto do que o petróleo extraído normalmente.
[6]www.eia.doe.gov/pub/oil_gas/petroleum/data_publications/company_level_imports/current/import.html
[7] http://www.southcom.mil/AppsSC/factfiles.php?id=55
from → 1. Boletim Mundorama, Brasil, Política Externa
domingo, 4 de outubro de 2009
1406) Turismo academico: encerrando uma etapa da viagem em Paris, novamente
Hoje foi dia de viagem, e de despedidas. Acordei cedo, tomei um bom café no Best Western Genova, de Torino, e seguimos para a autoestrada do Frejus, o túnel de passagem entre a Itália e França na altura da Haute Savoie, que dá na altura de Chambéry.
Viagem agradável e tranquila, apesar de já estar fazendo frio no alto dos Alpes, o que parece uma banalidade dizer...
Pedágios e tarifa de travessia de tunel são bastante caros na Europa, que aliás se caracteriza pela cobrança de pedágio nas estradas. Creio que com exceção da Alemanha, da Bélgica e da Holanda, todos os demais países cobram pedágio pela utilização das boas estradas que cortam seus países, o que é eminentemente justo e democrático: o usuário é quem deve pagar por serviços de interesse restrito.
Almoçamos já na França, numa parada da rede Courtepaille. Comi um magret de canard, que estava apenas razoável.
Entramos em Lyon em torno das 15h00, e deixei Pedro Paulo e Carmen Lícia no Hotel Le Phenix, à beira do rio, no Quai de Bondy.
De lá segui direto para a autoestrada A6, a caminho de Paris, onde estou agora, depois de ter deixado mala e livros no hotel e ter ido devolver o carro.
Pelo cômputo de minha caderneta de viagem, deixei Paris no último domingo dia 27 de setembro, com o marcador a 7.830 kms. Devolvi-o neste domingo 4 de outubro, com o marcador registrando 10.736kms. Foram, portanto, quase 3 mil kms, mais exatamente 2.906kms, o que parece muito mas não é quase nada nas dimensões do Brasil (com a diferença da qualidade das estradas e dos serviços disponíveis). Basicamente, Provence, Piemonte, Veneza e Torino.
Jantei na estrada, antes de enfrentar pequeno engarrafamento do domingo de rentrée, no pedágio (mas não na entrada de Paris, como era o meu temor).
Amanhã, uma visita a um escritório internacional para uma pesquisa histórica de meu interesse e depois direto para o aeroporto, de volta ao Brasil, via Portugal.
Espero não ter as mesmas tribulações da vinda, quando tive de comprar nova passagem para contornar a greve dos pilotos da TAP.
No resto, foi tudo muito bem, uma viagem praticamente perfeita (mas ainda não fiz a soma de quanto gastei; em todo caso, este não era o critério).
Bye, bye...
Paulo Roberto de Almeida
Paris, Domingo, 4 de outubro de 2009
sábado, 3 de outubro de 2009
1405) Turismo academico: ultima experiencia na Torino gastronomica e alguns passeios livrescos
Helàs, la stada italiana prende fine, senza che il piacere del buon mangiare e gli passegiatte in cità hanno preso fine.
Passeio na cidade, primeiro no Palazzo Madama, museo di arte, um pouco barroco demais para o meu gosto, mas também atinha paratodos os gostos, peças da Idade Média, tapessarias, tecidos (inclusive uma história e a tecnologia do veludo), um bom café (ma questo non è bisogna da dire...).
Depois, pelas galerias, negozzi, restaurantes da cidade. Depois do excelente pranzo da sera, ieri, decidimos não voltar a um restaurante que conhecíamos da tempo, Il Cambio, que vem dos tempos de Cavour e do movimento contra a dominação austríaca, pela liberação e unificação da Itália.
Comemos mais rapidamente no centro, apenas para frequentar por mais tempo as livrarias, numerosas, e o comércio. Compramos mais dois ou três livros, alguns presentes, e voltamos ao hotel, arrumar malas e preparar a viagem de volta à França, neste domingo. Também aproveitar para ler outros livros nas livrarias.
De noite, uma última incursão gastronômica, próxima do hotel onde estávamos, Best Western Genova, na via Paolo Sacchi 14.
Fomos à Trattoria La Conca (ânfora), de cozinha degli Abbruzzi: Linguine ai Frutti di Mare, Pesce Spada ai Ferri, Branzino al forno, patate fritti, vino bianco, macedonia di frutta, café. Eccelenti, como sempre.
Tenho de trabalhar em alguns textos agora, aproveitando as numerosas notas que fiz durante todo o dia, no café do museo, nas livrarias, no próprio hotel...
Addio Torino, 3 de outubro de 2009.
1404) Turismo academico: Torino gastronomica
Uma visita rapida à igreja do santo sudário, pois já conhecíamos a relíquia de passagem anterior, e um détour pela grande basílica de Superga, no alto de uma colina que domina toda a região. Livrarias aqui e ali, com livros de viagens e relatos de viajantes.
De noite, um retorno ao ponto alto da nossa atual estada (e ponto alto das despesas gastronômicas, também): Ristorante Al Gatto Nero, que existe no mesmo lugar desde longos anos, e ao qual tinhamos vindo possivelmente vinte anos atrás. Uma carta bastante variada, mas o ideal, para quem gosta da boa comida italiana, era experimentar o menu assaggini, ou seja, a modalidade da degustação, em que prova de tudo um pouco ao modesto preço de 55 euros por pessoa, sem vinho.
Descrevo a sucessão de pequenos pratos, para uma idéia do que comemos:
1) antipasto: insalata tiepida de frutti di mare (lulas, gamberetti);
2) antipasto: baccalà amantecato com purê de batatas;
3) antipasto: anchovie com alcaparras e tomates em cubos;
4) pasta: tagliolini ai funghi porcini;
5) pasta: rigatone con ragu di carne;
6) principale: chateaubriand con faggiolini
Carmen Licia comeu o bacalà de entrada e um peixe (sogliola) com batatas depois.
Para acompanhar tomou meia garrafa de Soave Pieropan 2008.
Eu e Pedro Paulo fomos de Brunello do Montalcino Riserva, Poggio Al Vento, 1998 (76 euros, como informação).
Sobremesas: gelatto de gianduia con pessegos; eu fui de parmigiano reggiano com peras.
Café; brincadeira total, 261 euros, sans regrets...
Torino, 2 de outubro de 2009.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
1403) Turismo academico: da Venezia a Torino, senza sbagliar niente, tutto piacere...
Despedida de Veneza nesta quinta-feira, 1 de outubro. Acordamos cedo, eu alias, antes das seis, para redigir um trabalho para minha palestra no seminário da UnB sobre a queda do muro de Berlim (ver dois posts abaixo, ou seja, 1401), e depois um café saboroso.
Saimos para nossa última visita antes da partida, desta vez no quartiere ebrei, Vecchio Ghetto, Nuovo Ghetto e Museo Ebraico.
Ao contrário do que muita gente pensa, eles não estão da ilha de Giudeca, cujo nome não vem de judeu, mas sim de giurisdizione, ou seja, uma região atribuída aos judeus na Idade Média, mas que depois se moverem para uma ilha mais ao norte, um verdadeiro pântano, situado longe do centro (Piazza San Marco e o Palácio dos Doges). Por esse pântano, eles pagavam um aluguel acrescido de um terço, apenas porque eram judeus, além de serem obrigados a usar um barrete amarelo, que ficou nos costumes até tempos mais odiosos...
Tudo isso, e muito, muito mais, aprendemos ao visitar o Museo Ebraico, que retoma a história do povo judeu, com especial atenção para os que se instalaram na região de Veneza, vindos tanto da Europa setentrional (askenazis), como da peninsula ibérica (sefardins del ponente), sefardins do Oriente Médio (sefardins del levante) e de outras regiões (norte da África, por exemplo). Todos concentrados no ghetto, que era o local da antiga fundição, de onde vem o nome, cujas portas eram fechadas todas as noites, para serem abertas apenas na manhã seguinte.
Excluídos da maior parte das profissões e de acumularem patrimônio fundiário, os judeus tiveram de concentrar-se, como uma das poucas opções, no comércio de moedas e nas operações usurárias, daí sua identificação equivocada com o capitalismo, preconceito que também Marx exibiu no seu menos conhecido Judische Frage (A Questão Judaica, 1844).
Napoleão libertou os judeus de Veneza e os fez quase cidadãos, mas a história foi madastra com eles, posto que as perseguições continuaram, tanto dos papas quanto, mais tragicamente, dos nazistas.
Comprei um livro de Riccardo Calimani, um engenheiro eletrotécnico, autor de vários livros sobre o povo judaico e sua história italiana, inclusive este: Non è Facile Essere Ebreo: L'ebraismo spiegato ai non ebrei (Mondadori, 2004). Já comecei a ler, no barco de volta ao hotel...
Recuperamos o carro no parchegio (60 euros pelos dois dias e meio) e tocamos para a estrada de Padova, pelo canal della Brenta, para visitar alguns palácios palladianos.
De volta à autostrada, foi tranquilo, com apenas um pouco de concentração de carros na região de Milão.
440 kms de viagem, em pouco mais de sete horas, com várias paradas no começo, para as visitas mencionadas.
Propositalmente, vim para um Best Western Hotel próximo do Corso Felippo Turatti, onde fica um restaurante absolutamente extraordinario. Il Gato Nero (numero 14; telefono 59-0414), onde pretendemos enfrentar um menu degustazzione, nesta sexta ou sábado de noite...
Comemorações absolutamente oficiosas, e aborrecidas, pelo 60. aniversário da revolução comunista na China, e um pouco de tragédias ambientais na TV: terremoto em Sumatra, tsunami em Samoa, terríveis perdas humanas.
Olimpíadas de 2016 ainda não decididas, mas não vou esperar. Prefiro ler...
Torino, 1 de outubro de 2009.
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
1402) La Serenissima Venezia (não mais tão tranquila assim)
Já Francesco Petrarca, em uma carta a um suo amigo seu de Bolonha, em agosto de 1321, descrevia assim a Sereníssima República de Veneza:
« [...] quale Città unico albergo ai giorni nostri di libertà, di giustizia, di pace, unico rifugio dei buoni e solo porto a cui, sbattute per ogni dove dalla tirannia e dalla guerra, possono riparare a salvezza le navi degli uomini che cercano di condurre tranquilla la vita: Città ricca d'oro ma più di nominanza, potente di forze ma più di virtù, sopra saldi marmi fondata ma sopra più solide basi di civile concordia ferma ed immobile e, meglio che dal mare ond'è cinta, dalla prudente sapienza dè figli suoi munita e fatta sicura »
Excelente como instituição de liberdade, e continua assim, tão livre quanto no tempo dos tiranos em outras partes do mundo, mas não sei se tão serena e tranquila como antigamente. Agora, o que se vê pelos canais, vias, viales, becos, impasses e corredores da cidade é uma fauna variada de cidadãos do mundo, cada um com seus trajes e maneiras características, e música barulhenta da per tutti.
Em todo caso, a estada foi gratificante.
Ainda saímos para passear noite adentro, e depois nos instalamos no mesmo Ristoranti de ontem, Gran Canale, pois que a comida era boa e os preços convidativos.
Nesta noite enfrentamos pollo arrosto e fegato alla veneziana, acompanhado de Chianti classico. Apetitoso,d eixou saudade.
Antes, algumas compras pelas lojas ainda abertas pela noite.
Piazza Goldoni, com sua máscara de teatro, e outros locais igualmente memorabili.
Nada como uma cidade sereníssima para inspirar ideias de novos ensaios sobre a liberdade.
Como não sou nenhum Isaiah Berlin, vou mesmo preparar uma palestra sobre a queda do muro de Berlim...
Veneza, 30 de setembro de 2009, 23h40
1401) Muro de Berlim: vinte anos de seu final
Aproveito para informar sobre um seminário que será realizado na UnB, conforme notícia provisória aqui postada:
Seminário “Além do Muro” - UnB
Quinta-feira, dia 12 de novembro de 2009
Auditório da Reitoria
Programa provisório:
9.00: Abertura
9.15: Palestra do Prof. Dr. Edgar Wolfrum, Universidade de Heidelberg:
Breves comentários dos professores Estevão Martins e Wolfgang Döpcke (UnB)
14.30:Mesa Redonda I: Muros simbólicos e reais
Hartmut Günther (UnB): “(I)mobilidade e (des)apego: Reflexões sobre um muro”.
Gustavo Lins Ribeiro (UnB): “A queda de todos os muros”.
16.30: Mesa redonda II: O mundo após a queda
Paulo Roberto Almeida: “Outros mundos possíveis: processos históricos alternativos, antes e depois do muro de Berlim”
Virgílio Caixeta Arraes (UnB); “Estados Unidos: da liderança eufórica à crise de confiança (1989-2009)”.
18.00: encerramento
Berlim 1989-2009: As tragédias do muro
Histórias das travessias proibidas que acabaram bem-sucedidas, e das fugas desesperadas que não tiveram o mesmo destino.
Hugo Souza.
Opinião e Notícia, 29/09/2009
No dia 15 de agosto de 1961 Conrad Schumann foi designado para cuidar que ninguém atravessasse a cerca de arames farpados da Bernauer Strasse, em Berlim, nos idos em que o muro ainda não era muro, mas apenas uma rede de alambrados provisórios, que desde então, e literalmente, dividiam a cidade em metades politicamente antagônicas. Soldado da República Democrática Alemã (RDA), a comunista, Schumann não pensou duas vezes quando se viu sozinho montando guarda na fronteira em construção: jogou seu fuzil para o lado e escapuliu para a metade ocidental. Parece piada, mas foi realmente uma das primeiras fugas da RDA pelo Muro de Berlim, antes mesmo de o muro propriamente dito estar completamente de pé.
Naqueles tempos pré-muro, ou de muro cheirando a cimento fresco, as tensões da divisão de fato da Alemanha em Alemanhas apenas começavam, mas a linha divisória mais famosa da história já servia de palco para algumas das maiores tensões da Guerra Fria, como as semanas a fio em que tanques norte-americanos e soviéticos permaneceram estacionados frente a frente no Checkpoint Charlie, o mais famoso posto de controle do Muro de Berlim.
Em seguida, muitas outras fugas, algumas célebres, repetiram-se ao longo dos 28 anos de 155 quilômetros de concreto que separavam um povo em dois. Em 1963, um grupo começou a construir sob o muro um túnel de 145 metros de extensão e 80 centímetros de diâmetro, pelo qual nos dia 3 e 4 de outubro de 1964 nada menos do que 57 pessoas deixaram a RDA antes que a polícia do regime descobrisse o vazamento, por assim dizer. Muitos anos mais tarde, duas famílias da Alemanha Oriental passaram despercebidas pelos guardas a bordo de um balão de ar quente, cruzando a fronteira pelo céu na noite do dia 16 para o dia 17 de setembro de 1979.
Muitos outros não tiveram a mesma sorte. Pelo menos 136 pessoas foram mortas em incidentes que aconteceram entre 1961 e 1989 junto ao muro de Berlim. A maioria era de homens jovens, com idades entre 16 e 30 anos. Noventa e nove delas foram mortas enquanto tentavam passar do lado oriental para o lado ocidental. Os dados são do Centro de Pesquisa de História Contemporânea de Potsdam.
Assim como as fugas, houve também vítimas célebres dos guardas de fronteira. A primeira vítima fatal dos disparos de soldados da República Democrática Alemã chamava-se Günter Litfin, alvejado no dia 24 de agosto de 1961. Outro caso de maior repercussão foi o de Peter Fechter, que tombou morto perto do Checkpoint Charlie no dia 17 de agosto de 1962, quando tentava ir para o lado ocidental a fim de procurar a irmã. Tinha 18 anos de idade.
Entre os mortos estão também oito guardas de fronteira da RDA, como Reinhold Huhn, assassinado também em 1962, no dia 18 de junho, por um Fluchthelfer (pessoas que ajudavam cidadãos do leste a atravessar a fronteira ilegalmente). Em fevereiro de 1989, nove meses antes da queda, o Muro de Berlim fazia sua última vítima fatal, um jovem de 20 anos chamado Chris Gueffroy, que tentou fugir acreditando na informação passada a ele por um soldado de que a ordem para atirar havia sido suspensa.
Não havia. A Schiessbefehl (”ordem de atirar”, em português) persistia. Esta determinação da cúpula do regime comunista da Alemanha Oriental rendeu processos judiciais que se arrastaram até o ano de 2004. Os chamados “processos de Schiessbefehl”, de responsabilização pelas mortes por disparos saídos dos fuzis dos guardas do muro, terminaram com 11 condenados à prisão e 35 absolvidos, entre militares e políticos da RDA.
Hoje, na frente do museu do Checkpoint Charlie — o posto de controle onde Peter Fechter perdeu a vida enquanto tentava resolver um drama familiar — um berlinense chamado Wolfgang Kolditz ganha a vida se fantasiando de guarda de fronteira e carimbando postais comprados por turistas que visitam aquela que permanecerá para sempre como a mais famosa cidade partida da história, ainda que atualmente os muros pós-Guerra Fria continuem fazendo vítimas que já não gozam de tanto glamour póstumo.
Escrito por: Hugo Souza
1400) Flaneries a Venise (mais, sans mourir apres...)
Em Veneza, não tem muitas alternativas: ou você é milionário, e contrata um gondoliere per la giornatta (e não tenho ideia de quanto poderia custar essa loucura), ou você fica pegando o tragheto de um lado a outro (mas cada bilhete individual custa a tarifa extorsiva de 6,50 euros, um assalto a mão armada sobre turistas ocasionais; existem tarifas mais reduzidas, mas são válidas para vários dias, uma semana talvez), ou então você sobe e desce escadas, cruzando pontes sobre os canais, se enfiando em ruelas e praças para ir de um canto a outro.
Foi o que fizemos, durante a maior parte da giornata di sole, ma non troppo caldo, ótima para caminhar e apreciar a cidade. Fomos a duas exposições, com direito a paradas para café e refrigerantes pelo caminho, e voltamos ao Hotel Marconi cansadíssimos, mas satisfeitos.
Primeiro no Ca' Rezzonico, Museo del Settecento Italiano.
Numa libreria da esquina comprei o último Norberto Bobbio, Etica e Politica: Scritti di Impegno Civile (Mondadori, setembro de 2009, ou seja, acaba de sair do forno), uma coletânea de escritos políticos e filosóficos, a cura di Marco Revelli, que fez uma excelente introdução, uma cronologia completa, e uma bibliografia resumida (uma bibliografia completa seria impossível: Bobbio tem 4.803 escritos catalogados, em todas as categorias -- livros, artigos, conferências, entrevistas -- o que daria 128 volumes, com 944 artigos, 1.452 ensaios, 457 entrevistas, 316 palestras).
Verdade que eu já tenho vários dos escritos coletados, sobretudo "Quale Socialismo?", "Democrazia e Dittatura" e "Destra e Sinistra", além de alguns outros livros de filosofia do direito, mas este volume impressionante (1.718 páginas, com notas completas e aparato referencial), pela sua importância intrínseca, pode ser considerado uma espécie de "essential Bobbio". Preço para quem quiser encomendar via www.librimondadori.it 55 euros (mas o frete, pelo peso do volume, deve sair caro).
Já comecei a ler o livro, inclusive no almoço:
Ristoteca, Osteria e Enoteca Oniga (Campo San Barnaba)
Menu a 18 euros, sem o vinho, aceitável: spaghetti alle cose (mexilhões), pesce alla griglia, polenta e café; à parte um gnocchi, e o vinho, um chardonay da região (Mosole), a 12 euros.
Bem, desde o Brasil eu estava hesitando em dizer que só vim a Itália para duas coisas: comer trufas e tomar café. Agora posso dizer que só vim para uma única coisa, tomar café: inacreditável como não existe nenhuma outra coisa parecida no mundo com o café italiano, irreproduzível, inencontrável, exclusivíssimo e gostosíssimo. Basta isso.
Antes do almoço ainda visitamos uma exposição de maquinas e modelos do Leonardo da Vinci, na Igreja San Barnaba. Interessante, mas achei caro os 8 euros de entrada. Mais caro ainda foi o museu da tarde, no Palazzo Fortuny, uma coleção única de um rico herdeiro espanhol que comprou um palácio em Veneza, como fazem tantos ricos extravagantes de par le monde...
Ruelas e mais ruelas, sobe e desce, com os gondolieri que passam cantando embaixo das pontes, e finalmente atravessamos a Ponte di Rialto, e estamos chez Marconi, outra vez.
Bem, só resta agora decidir onde vamos jantar, e também tem concerto de música, depois.
Veneza, 30 de setembro de 2009, 18h25.
terça-feira, 29 de setembro de 2009
1399) Turismo academico: de Asti a Veneza, em menos tempo que voce possa dizer saperlipopete...
Bem, um pouquinho mais: foram quase 400kms de auto-estradas italianas (pedagiadas), para vir de um almoço gastronômico a um jantar gastronômico, junto a ponte de Rialto, em Veneza.
Em Asti, onde tínhamos chegado na noite de segunda-feira, dormimos num hotel do centro, Via Cavour, uns vinte passos do Ristorante, ou melhor Trattoria Tartuffo d'Oro, que eu tinha localizado na internet, a partir de uma pequena busca efetuada ainda em Dignes-Les-Bains.
Valeu o dispêndio: antipasti di prosciuto i meloni, e bresaola e formaggio parmigiano, seguidos de risottos, acompanhandos de um bom vinho Barbera d'Asti. O ponto alto foram as porções de trufas brancas, que custaram, apenas algumas raspadas sobre os três risottos (o meu era de funghi porcini), mais do que todo o resto da refeição, vinho incluído: nada menos do que 20 euros a porção.
As trufas italianas estão ficando caras: lembro-me que da última vez que estive na região, justamente para comer trufas brancas (mas na região de Alba, não em Asti), paguei algo como 5 dólares as raspadas de trufas sobre o risoto. Inflação, ou demanda aumentada, explicam a progressão inflacionista. Total 117 euros, para os interessados.
Via Cavour 95. Os mais aventureiros podem participar de uma randonné de caça às trufas, na floresta, desde que combinado com o dono (que como todo italiano tem primos em SP), mas eu preferi ficar apenas na gastronomia.
Apesar do vinho, a estrada decorreu tranquilamente, com apenas duas paradas para dois ristretos e abastecimento.
Chegamos a Veneza em torno das 19hs locais, ainda claro (horário de verão, que termina em duas semanas).
Hotel Marconi (sim, o do rádio telégrafo sem fio), ao lado da Ponte do Rialto.
Jantar no Ristorante Canal Grande, bem em frente a ponte, à base de calamari fritti, pesce alla griglia, spaghetti alla pescatora, com um Pinot grigio del Friuli, La Turella, bastante bom, a 28 euros a garrafa. Total, 113 euros, o que me pareceu caro, posto que sem sobremesa. Mas parece que todos os turistas em Veneza são assaltados...
(Sim, o garçon tambem tinha primos em SP...)
De volta ao hotel: internet a 12 euros por 20hs de conexao, sempre a exploração dos carteis, exatamente como no Brasil. Acho que a Itália e o Brasil se parecem muito, sobretudo na corrupção, mas no Brasil não tem as delícias gastronômicas e a oferta cultural da Europa, da Itália...
Termino de ler o Le Monde, depois passo ao La Reppublica, antes de dizer boa noite aos meus fiéis leitores...
Veneza, 29 de setembro de 2009.
1398) Turismo academico: de Nostradamus as trufas, passando por Alexandra David-Neel
Saindo do hotel em Salon-de-Provence, fomos visitar o que a cidade tinha de mais representativo a oferecer: a casa, hoje museu, de Michel de Nostradamus, o mais conhecido e apreciado -- sobretudo dos atuais engajados no setor de serviços hoteleiros e de restauração -- dos habitantes da cidade.
Bastante modernizada internamente, a casa-museu oferece uma visita guiada por audio das principais etapas da vida e da obra daquele que ficou injustamente conhecido apenas como o profeta das predicações futuristas -- a maior parte em estilo catástrofe -- em torno de grandes acontecimentos da história mundial, sobretudo européia.
Corrigindo essa visão redutora, simplista e deformada, o tour audio de sua casa permite um conhecimento mais preciso sobre aquele que foi sobretudo um sábio, e um contemporâneo de grandes intelectuais e reformadores do Renascimento europeu, acompanhando o trabalho de outros eruditos -- filósofos, teólogos e "cientistas" -- de uma época verdadeiramente revolucionária: Erasmo, Thomas Morus, Vesálio e outros.
A cidade tem ainda igrejas do século XII, castelos (ou o que restou de antigas fortificações) e outros vestígios de seu longo passado medieval e moderno.
Depois dessa visita empreendemos uma breve jornadas nos Hautes Alpes, em direção a Digne-les-Bains, onde Alexandra David-Néel, uma famosa exploradora francesa, fez sua casa, hoje fundação e exposição de seus objetos, ainda nos anos 1920. Ela foi a primeira mulher a visitar Lhasa, quando a cidade ainda era fechada aos estrangeiros em geral e às mulheres em particular. Ela o fez disfarçada de mendiga, o que era uma proeza para a época.
A razão da visita situa-se no livro que Carmen Lícia acaba de escrever, e que será publicado no Brasil em março de 2010, sobre a vida e a obra dessa extraordinária mulher aventureira e grande estudiosa das religiões e filosofias do oriente, com destaque para o budismo tibetano. Ela fez longuissimas estadas na China, vivendo como os tibetanos e estudando seus livros religiosos. Morreu às vésperas de completar 101 anos, tendo ainda renovado o passaporte para mais uma viagem ao Oriente...
Mais informações em próxima oportunidade.
Depois subimos pelos Alpes, numa passagem de montanha, para atravessar para a Itália, vindo até Asti, no Piemonte, mais conhecida como a capital das trufas. Chegamos tarde para empreender uma lauta refeição ainda de noite, mas a disposição permanece inteira para enfrentar um desses pratos saborosíssimos, com vinhos da região, nesta terça-feira.
Deixo vocês no appetizer bloguístico. Depois conto como foi...
Asti, 28.09.2009
domingo, 27 de setembro de 2009
1397) Turismo academico: Une journée de voyage, seulement cela...
Foram 7h30 de viagem, incluídas paradas para restauração, pedágio, etc. No total, 754kms, o que dá uma média aparente de 100kms por hora.
Roteiro: Paris, A-6, direção a Lyon, depois A7, direção Marselha, com desvio em Salon de Provence, onde nos encontramos neste momento, num hotel Ibis dos arredores da cidade, conhecida por ser o local de nascimento de Nostradamus, o célebre "científico" do Renascimento, homem de muitas artes, entre elas a astronomia, e um pouco de astrologia.
Ele ficou famoso pelas suas "Centúrias", nas quais fazia algumas "previsões" estapafúrdias, irracionalmente repetidas por muitos, na atualidade, como prenunciadoras de catástrofes e outros acontecimentos fora do comum.
Pedro Paulo me diz que existem controvérsias sobre se seriam, de verdade, previsões quanto ao futuro, quando elas poderiam ser apenas comentários políticos sobre eventos e processos contemporâneos de Nostradamus.
Enfim, amanhã veremos tudo isso, na sua casa, hoje museu e biblioteca.
Salon de Provence, 27.09.2009
sábado, 26 de setembro de 2009
1396) Referencia de estudos: nao estou ganhando nada com isso
Paulo Roberto de Almeida
Paris, 27 de setembro de 2009
Links Úteis (apenas existentes no post original do cursinho, não nesta minha transcrição, que segue a título informativo, apenas)
Instituto Rio Branco - IRBr
Ministério das Relações Exteriores - MRE
Fundação Alexandre Gusmão - Funag
Instituto Brasileiro de Relações Internacionais - IBRI
Centro Brasileiro de Relações Internacionais - CEBRI
Guia de estudos e edital do Concurso de 2009
Organizações Internacionais
Acordo de Livre Comércio da América do Norte - Nafta
Acordo de Livre Comércio entre as Américas - Alca
Anistia Internacional
Associação de Nações do Sudeste Asiático - Asean
Banco Mundial
Fundo das Nações Unidas para a Infância - UNICEF
Fundo Monetário Internacional - FMI
Greenpeace
Mercado Comum do Sul - Mercosul
Organização dos Estados Americanos - OEA
Organização Mundial do Comércio - OMC
Organização Mundial da Saúde - OMS
Organização das Nações Unidas - ONU
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO
Organização do Tratado do Atlântico Norte - OTAN
Pacto Andino
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA
União Européia
Outros
Associação Brasileira de Relações Internacionais
Associação dos Diplomatas Basileiros
Centro Brasileiro de Relações Internacionais
Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília - Cespe
Columbia International Affairs Online - CIAO
FAQ do Candidato a Diplomata
Instituto Brasileiro de Relações Internacionais
Modern History Sourcebook
Mundo RI
O Debatedouro
Observatório Político Sul-americano
OECD Economic Outlook
Paulo Roberto de Almeida (Diplomata)
Laboratório de Análises em Relações Internacionais da UnB - LARI
Portal de Periódicos da CAPES
Rede Brasileira de Relações Internacionais - Relnet
South American Daily
Mundorama
1395) Turismo academico: flaneries em Paris
Creio que foi Walter Benjamin, o conhecido crítico literário alemão que disse que gostava de "flâner" em Paris, ou seja, de percorrer suas ruas a esmo, apreciando a arquitetura, o povo e os costumes.
Eu também. Nesta sequência de minhas crônicas de viagem (confira o post 1389, para ver minhas tribulações para chegar até aqui), apenas posso complementar pouca coisa, posto que Paris não necessita de muitas descrições ou dicas: a cidade mais universal do mundo -- alguns diriam, depois de New York, mas a competição é diferente, e se dá em outra escala -- tem quase tudo do que você humanamente precisa para viver bem, descontando, talvez lugares para estacionar o carro, mas este não era o meu problema desta vez.
Minha única ocupação neste sábado 26 de setembro, ensolarado e suficientemente quente para dispensar o paletó que levei (mais para carregar a carteira, mapa, passaporte, óculos de sol, caderno de anotações, do que por necessidade), foi justamente aquilo que Benjamin recomendava a turistas culturais como nós: flâner dans Paris.
George Orwell também se dedicou a esse esporte, mais ou menos na mesma época que Walter Benjamin, mas ele ainda não se chamava George Orwell, nem tinha vários cartões de crédito, assim que não pode aproveitar como eu os prazeres de uma cidade quase perfeita.
Minha flânerie consistiu, tout simplement, em entrar em todas as livrarias que encontrava pelo caminho (e percorrer as mesas dos sebos nas calçadas), e ler de tudo um pouco, ao gosto do momento: romances, história, filosofia, economia, enfin presque tout ce qu'il peut avoir d'intéressant...
Não esquecer a gastronomia, também: retornamos, depois de praticamente 15 anos, ao mesmo restaurante grego da rue Mouffetard, que frequentamos nos anos 1990, Olympiades, para matar a saudade. Calamares fritos de entrada (mas apenas ligeiramente pannés, comme il faut, sem aquela crosta de chapelure que costuma sobrecarregar demais outros calamares menos felizes por aí), moussaka, poisson du jour, gambas à la grecque (não confundir com gambás gregos, que não sei se existem por lá). Le tout arrosé par un Retsina, que para quem não sabe é o vinho branco grego que bate no céu da boca e deixa um gostosa sensação de quero mais.
Mais tarde, mais um pouco de flânerie, mais livrarias e uma exposição sobre mangas japoneses da mais alta qualidade: a tropa de quatro desenhadoras do grupo Clamp, um must para quem conhece o gênero.
Sim, antes do almoço, na primeira livraria que entrei, comprei o último livro de Stéphane Courtois, Communisme et Totalitarisme (Paris: Perrin, 2009), com uma compilação de seus melhores artigos e contribuições sobre o tema. Para quem também não sabe, o historiador Courtois foi o coordenador do Livre Noir sur le Communisme, com Nicolas Werth, Jean Louis Panné e outros (1997), que teve imenso sucesso em desmascarar os crimes, o terror e a repressão dos regimes comunistas desde sua origem até os nossos dias.
Mais tarde, passei na Fnac e comprei o novo sistema operacional da Apple, o Snow Leopard, que já instalei e ainda preciso testar para ver como funciona (até agora tudo em ordem).
Sim, na primeira hora da manhã, fui alugar um carro, que pretendo pegar neste domingo e viajar ao sul, para a Provence, e depois Itália. Um domingo de viagem em lugares históricos e literários. Depois en conto...
Agora um pouco de Skype e depois dodô...
Paris, 26 de setembro de 2009
1394) Comunismo religioso: a fé é a última que morre...
À ESPERA DE UM MILAGRE
Da esquerda para a direita (com todo o respeito): Ivan Pinheiro, Heloísa Helena, José Maria, Renato Rabelo e Rui Costa Pimenta. O personagem deitado na cama, para quem não sabe, é Marx
O título é meu, claro. Eu também acho que esse pessoal é inofensivo, contrariamente aos que acreditam que eles pretendem implantar o comunismo no Brasil.
Para que?, pergunto eu: eles sobrevivem muito melhor com o capitalismo, pois todos eles estão empregados, ganhando dinheiro do Estado, de empresas, de capitalistas e banqueiros, enfim, gozando do que existe de melhor no capitalismo, coisas que eles nunca teriam se o Brasil fosse socialista ou comunista.
A única coisa que eles conseguem é atrasar um pouco mais o Brasil, pois com todas essas mordomias e transferências de rendas, os capitalistas não conseguem investir pesadamente no crescimento e na criação de empregos.
Mas, para que?, eles já conseguiram os seus empregos e as suas rendas...
Brasil
O socialismo não morreu (para eles)
Para um bloco de partidos nanicos de esquerda, o marxismo
está mais vivo do que nunca e o capitalismo caminha inexoravelmente
para seu fim. Eles são inofensivos, apesar desse delírio
Veja, 30 de setembro de 2009
Um fantasma ronda a América Latina: o fantasma do comunismo. Pelo menos é o que acreditam os militantes de um punhado de partidos nanicos de esquerda que ainda sobrevivem na política brasileira. Para esse pessoal, não há nada mais importante do que impedir que as ideias de Karl Marx sejam devoradas pelo fungo e pelo bolor. Os esquerdistas radicais formam um grupo tão curioso quanto inofensivo. A grande aspiração dessa turma é assistir ao dia em que o socialismo, finalmente, vai se tornar o sistema econômico e político dominante no planeta. E esse dia estaria mais próximo, com o capitalismo perto de seus estertores, como demonstraria a crise financeira do ano passado. Apesar de animados, os nossos marxistas não pretendem se esforçar para acelerar a Grande Revolução Vermelha. Acham que basta sentar e esperar, visto que a marcha da história se encarrega de fazer o trabalho pesado.
O PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), que integra esse bloco, é provavelmente a única agremiação marxista do mundo fundada depois da virada do século. Sua maior estrela é a ex-senadora Heloísa Helena. Com pouco mais de cinco anos de existência, o partido é um balaio de gatos. Abriga socialistas, trotskistas-cristãos, trabalhistas e até brizolistas. Com tantas correntes, é difícil afinar um discurso homogêneo, mas a maioria dos militantes concorda em um ponto: é preciso implantar um regime socialista no Brasil quanto antes. "Achamos que não há condições de fazer isso agora, mas um bom jeito de começar a transição socialista seria reestatizar a Vale do Rio Doce e expulsar o capital privado da Petrobras", diz o secretário de mobilização do PSOL, Roberto Robaina, reproduzindo um pensamento que, infelizmente, ronda o Palácio do Planalto.
Uma das agremiações mais barulhentas é o PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado). Seu líder, José Maria de Almeida, foi candidato duas vezes a presidente da República. Em 1998, teve 0,30% dos votos. Em 2002, alcançou 0,47%. Zé Maria não se preocupa com essa falta de mais-valia nas urnas: "O importante é a revolução. Ela está chegando, e nós estamos preparados. Haverá uma insurreição do povo. Vamos derrubar o governo e mudar o regime". Uma revolução no Brasil? "É isso mesmo. Nos últimos anos houve conflagrações no Equador, na Argentina e na Bolívia. Eles só continuam capitalistas porque quando o povo foi para as ruas não havia partidos capazes de guiar a transição para o socialismo. Esse será o nosso papel quando a hora chegar", acrescenta um Zé Maria animadíssimo.
A foice e o martelo também continuam em riste nas mãos da velha guarda do PCB (Partido Comunista Brasileiro). "Nunca fez tanto sentido ser comunista quanto agora", garante o secretário-geral da legenda, Ivan Pinheiro. Pare ele, a crise econômica dos últimos doze meses é a senha para a ressurreição do modo de vida soviético. "O capitalismo não vai dar conta dessa crise. Digo mais: haverá uma próxima crise, muito maior. Quando isso acontecer, os trabalhadores do mundo todo vão perder seus empregos e terão de voltar a se organizar para lutar. Isso vai acontecer antes do que se imagina", entusiasma-se Ivan, o Terrível.
O giro da roda da história (eles não julgam que seria para trás) é questão prioritária também nas plenárias do PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Renato Rabelo, seu presidente, está convicto de que a queda do Muro de Berlim, em 1989, não representou o fim do marxismo: "Quando a União Soviética desabou, houve quem achasse que o socialismo tinha morrido. Que nada! Só alguém sem visão histórica nenhuma pode pensar assim". Para Rabelo, a aventura socialista mal começou: "O capitalismo levou 300 anos para superar o feudalismo. O marxismo tem pouco mais de 100 anos de existência. Ou seja, podemos precisar de mais 200 anos para tornar o mundo comunista". Nem o senador Eduardo Suplicy aguentaria mais dois séculos desse debate.
Essa confraria esquerdista se completa com uma obscura organização chamada PCO (Partido da Causa Operária). Como se fossem soldados da Coreia do Norte, seus militantes dificilmente saem em público, não dão bom-dia aos vizinhos e soltam a voz ao cantar a Internacional. Sua única face conhecida é o comissário-geral Rui Costa Pimenta, que em todas as eleições aparece na TV repetindo o slogan: "Quem bate cartão não vota em patrão". Uma rima, não uma solução, para continuar no pão com macarrão.
As ideias disparatadas desses partidecos dão certo colorido à democracia brasileira, nada mais. Ao sonharem com o pesadelo da restauração socialista, seus militantes conseguem apenas criar para si próprios uma imagem folclórica. Perderiam menos tempo se dessem ouvidos ao próprio Marx, objeto de sua devoção, que dizia que alguns fatos históricos podem acontecer duas vezes: na primeira, desenrolam-se como tragédia; na segunda, como farsa. O socialismo não voltará à vida. Está morto e enterrado, juntamente com milhões de cidadãos que, ao longo de setenta anos, pereceram sob sua mão de ferro. Ele só sobrevive como alucinação.