Batendo pé em Paris (mas em melhores condições do que George Orwell...)
Creio que foi Walter Benjamin, o conhecido crítico literário alemão que disse que gostava de "flâner" em Paris, ou seja, de percorrer suas ruas a esmo, apreciando a arquitetura, o povo e os costumes.
Eu também. Nesta sequência de minhas crônicas de viagem (confira o post 1389, para ver minhas tribulações para chegar até aqui), apenas posso complementar pouca coisa, posto que Paris não necessita de muitas descrições ou dicas: a cidade mais universal do mundo -- alguns diriam, depois de New York, mas a competição é diferente, e se dá em outra escala -- tem quase tudo do que você humanamente precisa para viver bem, descontando, talvez lugares para estacionar o carro, mas este não era o meu problema desta vez.
Minha única ocupação neste sábado 26 de setembro, ensolarado e suficientemente quente para dispensar o paletó que levei (mais para carregar a carteira, mapa, passaporte, óculos de sol, caderno de anotações, do que por necessidade), foi justamente aquilo que Benjamin recomendava a turistas culturais como nós: flâner dans Paris.
George Orwell também se dedicou a esse esporte, mais ou menos na mesma época que Walter Benjamin, mas ele ainda não se chamava George Orwell, nem tinha vários cartões de crédito, assim que não pode aproveitar como eu os prazeres de uma cidade quase perfeita.
Minha flânerie consistiu, tout simplement, em entrar em todas as livrarias que encontrava pelo caminho (e percorrer as mesas dos sebos nas calçadas), e ler de tudo um pouco, ao gosto do momento: romances, história, filosofia, economia, enfin presque tout ce qu'il peut avoir d'intéressant...
Não esquecer a gastronomia, também: retornamos, depois de praticamente 15 anos, ao mesmo restaurante grego da rue Mouffetard, que frequentamos nos anos 1990, Olympiades, para matar a saudade. Calamares fritos de entrada (mas apenas ligeiramente pannés, comme il faut, sem aquela crosta de chapelure que costuma sobrecarregar demais outros calamares menos felizes por aí), moussaka, poisson du jour, gambas à la grecque (não confundir com gambás gregos, que não sei se existem por lá). Le tout arrosé par un Retsina, que para quem não sabe é o vinho branco grego que bate no céu da boca e deixa um gostosa sensação de quero mais.
Mais tarde, mais um pouco de flânerie, mais livrarias e uma exposição sobre mangas japoneses da mais alta qualidade: a tropa de quatro desenhadoras do grupo Clamp, um must para quem conhece o gênero.
Sim, antes do almoço, na primeira livraria que entrei, comprei o último livro de Stéphane Courtois, Communisme et Totalitarisme (Paris: Perrin, 2009), com uma compilação de seus melhores artigos e contribuições sobre o tema. Para quem também não sabe, o historiador Courtois foi o coordenador do Livre Noir sur le Communisme, com Nicolas Werth, Jean Louis Panné e outros (1997), que teve imenso sucesso em desmascarar os crimes, o terror e a repressão dos regimes comunistas desde sua origem até os nossos dias.
Mais tarde, passei na Fnac e comprei o novo sistema operacional da Apple, o Snow Leopard, que já instalei e ainda preciso testar para ver como funciona (até agora tudo em ordem).
Sim, na primeira hora da manhã, fui alugar um carro, que pretendo pegar neste domingo e viajar ao sul, para a Provence, e depois Itália. Um domingo de viagem em lugares históricos e literários. Depois en conto...
Agora um pouco de Skype e depois dodô...
Paris, 26 de setembro de 2009
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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Um comentário:
Tenho o costume de zanzar por todas as cidades nas quais vou viver por mais de 3 meses, principalmente pra tirar fotos, comer e aproveitar da arquitetura da cidade, sempre pensei que eu fosse meio estranho por causa disso, fico feliz em saber que não sou o único, embora nunca tenha feito isso em Paris. E uma correção, o nome do grupo é Clamp.
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