Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.
quinta-feira, 10 de setembro de 2009
1364) Nos pagamos a conta: isto tambem é Brasil...
Janer Cristaldo
Sábado, Setembro 05, 2009
Certa vez eu conversava com a mulher do proprietário do mais antigo restaurante de São Paulo, o Carlino. Mulher jovem, linda e pura simpatia, ela me confessava sua perplexidade. Como é que pode? Há restaurantes onde a conta para cinco ou seis pessoas é sessenta mil e eles ainda brigam para saber quem paga a conta.
É simples, respondi. Eles não pagam a conta. Quem a paga somos nós, os contribuintes. Costumo afirmar que há restaurantes para pessoas físicas e restaurantes para pessoas jurídicas. Estes são os mais conceituados. Já estive em dois ou três deles, sempre como convidado. Jamais iria por minha vontade. Mais ainda: em um deles, um dos templos das pessoas jurídicas, o Massimo, fui a convite de um amigo que naquele dia tivera grandes lucros na Bovespa. É um dos restaurantes diletos dessas flores como Delfim Netto, José Dirceu, José Sarney. Bueno, foi o único restaurante em São Paulo em que tive de devolver um prato. Pedi um coelho. Veio uma carne mal cozida e roxa, mandei de volta. O garçom me ofereceu uma outra opção. Não aceitei. Considero ofensivo, em restaurante com tais preços, receber um prato intragável. Saí sem comer.
Leio hoje no Estadão a confirmação de minha tese, a dos restaurantes para pessoas jurídicas. Consta que esta figura impoluta, o senador Fernando Collor, usa a dita verba indenizatória em restaurantes como o Porcão, em Brasília - onde o rodízio da churrascaria custa R$ 72 por pessoa. Uma das notas do Porcão, apresentada por Collor, é de R$ 841.
Durante o recesso parlamentar de julho, o senador usou R$ 518 da verba em visita à churrascaria Fogo de Chão, cujo preço por pessoa - sem bebida e sobremesa - é de R$ 79. Pelo mesmo restaurante passou o tucano Eduardo Azeredo (MG), mas na unidade de Belo Horizonte. Gastou R$ 763,60.
Já o presidente do Conselho de Ética, Paulo Duque (PMDB-RJ), senador sem voto que engavetou todos os os processos desta outra figura impoluta, o senador José Sarney, gastou R$ 600 no restaurante Lake’s. Ex-primeiro-secretário, Efraim Morais (DEM-PB), assim como Collor, também passou pelo Porcão, onde deixou R$ 560 pagos pela verba indenizatória do Senado. Esteve também no tradicional ponto político Piantella, famoso pelos vinhos e receitas clássicas, onde pagou uma conta de R$ 596.
No dia 30 de julho, uma outra figura impoluta, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (PTB-SP), gastou R$ 1,4 mil da verba indenizatória na churrascaria Park Grill, na zona leste de São Paulo. Candidato em 2010, ele bancou toda a conta de um encontro com delegados do PTB do bairro paulistano. Já Valter Pereira (PMDB-MS) apresentou uma nota do Buffet Campo Grande, referente a junho, no valor de R$ 2,2 mil.
E por aí vai. Em uma de suas visitas a São Paulo, o desempregado ex-ministro José Dirceu abriu uma garrafa de vinho a 16 mil reais no Fasano. Quem paga todas essas contas? Quem as paga somos nós, que jamais comemos por 600 reais nem bebemos por 16 mil reais.
Tudo bem. Isto faz parte da vida nacional. O que me espanta é ver jornais denunciando a gastança e ao mesmo tempo louvando a excelência de tais restaurantes. Como se seus proprietários ou chefs não fossem cúmplices de grossa corrupção.
2 comentários:
Pois é, Professor...quem entender essa cisão fundamental entre "eles", que têm que respeitar as leis (e podem ser os políticos, os favelados, o crime organizado, o MST) e "nós" - a tal sociedade civil, que pode conviver com tudo isso e ainda dar um troco pro guarda - terá a chave pra dar um jeito no Brasil.
O que me desanima na cobertura nacional é que ninguém nunca é responsável pelo que acontece. Aquela coisa: quando você pergunta quem é racista (ou corruptor), ninguém é; quando você pergunta quem já presenciou um ato do tipo, todo mundo já.
Ou seja, todos querem melhorar o Brasil, desde que ninguém tenha que mudar um milímetro da própria conduta ou abdicar de uma mínima vantagem...há sempre um outro que deve pagar a conta, ou ao menos pagar a conta antes que eu pague.
Pois é Glaucia, essa política do "nós" e "eles" está saindo muito cara, sobretudo porque eles insistem em viver à tripa forra (como se dizia antigamente) com o nossos dinheiro, ou seja, os impostos que pagamos.
Em qualquer país normal, representantes do povo, funcionários de alto escalão, vivem com certos cuidados, inclusive para não sofrerem vingança eleitorial.
Aqui no Brasil parece que ja perderam a vergonha de tanto roubar os recursos públicos.
Pessoalmente considero esse tipo de coisa um roubo a mão armada e seus perpetradores deveriam ser processados, obrigados a ressarcir os cofres públicos e ainda serem impedidos de se candidatar a cargos públicos.
Mas é errado dizer que NINGUEM é responsável pelo que acontece. É sim, e isso fica muito claro examinando-se os "autos do processo" (Geralmente, que pratica esse tipo de falcatrua, nos EUA, tem a carreira pública simpldemente cortada). Aqui, pelos muitos recursos processuais, o bandido pode ficar anos sem ser condeanado em última instancia e, se for, quando for, já entrou na prescrição.
Ou seja, alem dos bandidos, temos juizes molengas e os advogados de corruptos, corruptores eles tambem.
Infelizmente, a população é complacente com esse tipo de coisa, a começar por nós mesmos...
Paulo Roberto de Almeida
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