Também acho que a Argentina é o mais bem sucedido exemplo de fracasso que temos no continente. Existem outros, mas ela ganharia um Prêmio Nobel da involução econômica, do retrocesso e dos equívocos continuados...
Sete receitas para fracassar com sucesso
José Pio Martins
Economista e Vice-Reitor da Universidade Positivo
Administradores e economistas gostam de travar batalhas verbais. Aqueles dizem conhecer os casos de sucesso do passado. Estes se esmeram em montar modelos de fracasso do futuro. Os primeiros lidam com a objetividade do fazer. Os segundos pretendem conhecer as fórmulas de crescer. Os administradores estudam os campeões, que chegam em primeiro. Os economistas gostam de examinar os cadáveres, que terminam em último. Na verdade, tanto economistas quanto administradores falam coisas boas e coisas ruins; coisas certas e coisas erradas. Todavia, tanto uns como outros falham em suas análises. Felizmente, a Constituição Federal protege o direito de enunciar bobagens. Então, aí vai minha contribuição.
Apesar do fracasso das teorias econômicas e de administração em explicar o que deu errado no mundo e qual o modelo seguro para o êxito, ao examinar os cadáveres insepultos das diversas crises é possível senão conhecer o caminho da salvação, pelo menos entender a receita da perdição. Confesso que me atrai, de forma especial, o retumbante fracasso da Argentina, que se transformou do sexto país mais rico do mundo num caso perdido devastado pela inflação.
Não tenho a pretensão de estar certo, mas listei seis receitas aplicadas na Argentina nos últimos 80 anos que, se não foram os únicos tiros no coração da economia portenha, seguramente estão no cerne do fracasso do país vizinho. Promover o desenvolvimento econômico não é tarefa fácil, sobretudo quando se parte do estado natural de pobreza. O que não dá para entender é como um país rico em recursos naturais, e um dos mais ricos do mundo em riquezas artificiais, tenha conseguido a proeza de trilhar o caminho inverso, descendo a ladeira da riqueza para a pobreza vigente, hoje, no país.
Seis são, a meu ver, as principais receitas que fizeram a Argentina fracassar com sucesso:
1) emitir moeda acima do crescimento da produção por anos a fio, criando uma história de inflação e destruição da moeda nacional;
2) eleger, por décadas, governos irresponsáveis e gastadores, fazendo do déficit público uma prática contumaz;
3) estatizar, privatizar e reestatizar importantes setores da infraestrutura nacional;
4) hostilizar sistematicamente o capital estrangeiro, por meio de legislação contra a entrada de empresas e de tecnologias de fora;
5) desenvolver a cultura do calote internacional, deixando de pagar os credores por diversas vezes, tirando o país da rota dos investimentos estrangeiros;
6) dar calotes sistemáticos na dívida pública interna, atirando contra a própria população, destruindo a cultura da poupança e fomentando a fuga de capitais;
7) desenvolver a crença, já enterrada no mundo inteiro, de que o desenvolvimento econômico é obra do governo e não dos empresários e das forças produtivas privadas.
Confesso que a Argentina é um país intrigante. Seria apenas intrigante não fosse trágico. Aquele povo não merece o destino que o país trilhou nos últimos 60 anos, e não é bom para a América do Sul que esse vizinho fracasse. Sobretudo porque quanto mais o país afunda, mais os políticos parecem acreditar que a salvação está exatamente nas teorias e nas receitas que destruíram a economia nacional.
Tenho um amigo Argentino que fez uma irônica piada. A Argentina – diz ele – segue, na economia, a mesma lógica do tango: só é interessante se for trágico, e se alguém morrer no fim. Você pode ver: na maioria dos tangos, sempre morre um argentino – encerrou ele. Ironias à parte, a Argentina é um laboratório de tudo o que não se deve fazer em matéria de gestão macroeconômica de um país.
Fonte:
Prof. José Pio Martins
Vice-Reitor
Universidade Positivo
(41) 3317-3010
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
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